Google
Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

31 agosto 2006

CURSO "MUDANÇAS CLIMÁTICAS"

O curso visa prover aos participantes um amplo conhecimento sobre fenômenos relativos à mudança climática, suas dimensões internacionais (convenções, protocolos e mercado de carbono), as dinâmicas e os efeitos da emissão de gases de efeito estufa (GEEs), as relações entre mudança climática e biodiversidade, desertificação, sistemas produtivos humanos e saúde, a necessidade de reduzir os GEEs, assim como estimular a discussão sobre políticas públicas em torno do tema. Como muitas populações já se vêem afetadas pelas conseqüências da mudança climática, o curso dará atenção especial aos temas da adaptação e do desenvolvimento sustentável na Amazônia. Ao disseminar diferentes aspectos relativos à mudança climática, o curso pretende estimular discussões e influenciar boas práticas na sociedade, ampliando o conhecimento, modificando - na medida do possível - a percepção de importantes setores da sociedade brasileira sobre as questões relativas à mudança climática, e estimulando a inclusão do tema da adaptação nos debates sobre o desenvolvimento sustentável.

Público

Dirige-se, especialmente, para formadores de opinião, responsáveis por decisões de políticas públicas e privadas, gerentes, diretores executivos, educadores, estudantes, profissionais da imprensa, membros de organizações da sociedade civil, técnicos de organizações governamentais, não-governamentais e privadas, cujas atividades estejam relacionadas com o tema das mudanças climáticas e que se interessem em ampliar a compreensão sobre este tema. O curso é voltado para pessoas da região amazônica ou que atuem em projetos e iniciativas voltados ao bioma Amazônia.

Data e Local: O curso será realizado em Manaus, AM, no período de 29 de outubro a 05 de novembro de 2006.

Inscrições: O prazo máximo para inscrições é 25 de setembro de 2006. A inscrição é obrigatória e poderá ser feita de dois modos:
(1) em cadastro on line pelo site do IEB (http://www.iieb.org.br/); ou(2) via fax para (61) 3248-7440.

Número de vagas: Serão selecionados, no máximo, 24 (vinte e quatro) candidato(a)s. Serão priorizados candidato(a)s da região amazônica ou que atuem em projetos e iniciativas voltados ao bioma Amazônia.

Divulgação do resultado: A partir do dia 04 de outubro 2006, a lista dos candidatos selecionados e a lista de espera estarão disponíveis no site do IEB (http://www.iieb.org.br/). Os selecionados deverão confirmar sua participação por fax ou e-mail, até o dia 11 de outubro de 2006.

Despesas cobertas pelo curso: materiais didáticos, alojamento, alimentação, traslado de ida e volta entre o aeroporto e local do curso, demais traslados previstos durante a realização do curso.

Gastos com transporte até Manaus serão de responsabilidade dos participantes.

Veja o Edital completo clicando aqui

RIO ACRE ESTÁ SECANDO MESMO!

Foster Brown, em post para o Forum GTP Queimadas:

As cotas mínimas do Rio Acre em Rio Branco neste ano de 2006, em comparação com o ano 2005 e o periodo 1971-2006, foram os seguintes, em metros:

Porém, as cotas do Rio Acre em Rio Branco em 2006 foram acima dos mêses de 2005, elas ficam bem abaixo das médias dos mínimos/mês deste
período de 36 anos.

Para este periodo de 36 anos, as cotas mais baixas para junho, julho e agosto foram as dos anos 2005 e 2006.

Em outras palavras, a água do subsolo da bacia do Rio Acre tem pouca água, apesar das chuvas recentes.

Nota do blog: Foster é um otimista ao falar apenas isso. Vamos providenciar um gráfico do nível médio, mês a mês, do rio Acre entre 1971 e 2006. É surpreendente que a curva é sempre descentende. O mesmo vale para o nível de chuvas.

30 agosto 2006

CORRUPÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL (2)

Polícia Federal Prende 32 por crimes ambientais na Mata Atlântica

Infelizmente 25 são funcionários do Ibama

Ontem havia publicado post sobre a esperança de que a corrupção ambiental no Brasil pudesse diminuir no futuro. Hoje, lamentavelmente, a PF desencadeou operação no Sudeste do país e efetuou 32 prisões, das quais 78% foram servidores públicos. Os crimes vão de falsificação de laudos para permitir a ocupação ilegal de reservas e outras áreas de preservação da mata atlântica, até a permissão para a extração ilegal do palmito de uma palmeira em extinção naquele bioma, a "jussara" (Euterpe edulis). Aliás foi do nome científico desta palmeira que a PF buscou a inspiração para batizar a operação.

Leiam abaixo a matéria completa publicada no site da Agência Brasil:


Polícia Federal prende 25 servidores do Ibama acusados de corrupção

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Dos trinta e dois presos pela Polícia Federal, na manhã de hoje (30), durante a Operação Euterpe, de combate a crimes ambientais, 25 são servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os outros sete são empresários dos ramos imobiliário, pesqueiro e da construção civil.

“O Ibama está cortando a própria carne, como a Polícia Federal já teve que fazer também, mas é um processo para o bem das instituições públicas e do meio ambiente”, afirmou a ministra Marina Silva, que foi ao Rio para acompanhar a operação, ao lado do presidente do Ibama, Marcus Barros. Segundo a ministra, a operação, batizada com o nome de uma espécie de palmito, foi a maior já realizada no país ligada a crimes ambientais fora da Amazônia.

Marina Silva destacou que servidores de outras regiões serão deslocados para o Rio de Janeiro, já que, dos 25 funcionários presos temporariamente, 13 são do município do Rio, o que representa cerca de 20% de efetivo local.
De acordo com o delegado Alexandre Saraiva, que comandou a operação, as investigações tiveram início em julho do ano passado, após a denúncia de um servidor recém-concursado do próprio órgão ambiental sobre extração irregular de palmito na reserva ambiental do Tinguá, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Saraiva explicou que a evolução das investigações indicou a existência de uma rede de corrupção envolvendo funcionários federais. Eles são acusados de extorquir dinheiro de empresários em troca de licenças e pareceres técnicos favoráveis à construção de empreendimentos localizados em áreas de proteção ambiental nos municípios de Angra dos Reis, no sul do estado, Cabo Frio, na Região dos Lagos, e área litorânea de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro.

De acordo com o delegado, as investigações mostram também que os servidores atuariam recebendo propina para não autuar pescadores de sardinha que realizassem a atividade em período de procriação, proibido por lei.

Além dos mandados de prisão, os cerca de 200 agentes da Polícia Federal dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo também cumpriram 36 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Federal de São João de Meriti, no Rio de Janeiro.

A Euterpe é a 12ª operação realizada em parceria entre os ministérios do Meio Ambiente e da Justiça, através do Ibama e da Polícia Federal.

Segundo a Polícia Federal, os acusados poderão responder pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva, corrupção ativa, violação de sigilo funcional e crimes ambientais.

A FLORESTA AMAZÔNICA E O FUTURO DO BRASIL

Charles R. Clement & Niro Higuchi (INPA)
Cienc. Cult. v.58 n.3 São Paulo jul./set. 2006

Parte 2
(clique aqui para ler a Parte 1)

A JANELA E A AMAZÔNIA

Segundo a Avaliação dos Recursos Florestais Globais (FRA 2005) (9), a cobertura florestal do Brasil corresponde a 477,7 milhões de hectares, dos quais, 89% estão na Amazônia, ou seja, 426,5 mi ha. Inventários realizados em 21 sítios diferentes mostram que o volume médio das florestas naturais na Amazônia é 262 ± 54 m3/ha, dos quais 10% são considerados comerciais. Isto é um estoque enorme, mas atualmente contribui pouco para o desenvolvimento da Amazônia.

Analisar a produção de madeira na Amazônia é uma tarefa muito difícil. As estatísticas mais organizadas são fornecidas por duas organizações multilaterais: ITTO, que congrega produtores e consumidores de madeira tropical e FAO (Food and Agriculture Organization) da Organização das Nações Unidas. O problema é quem abastece essas organizações, pois o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) nunca sistematizou a coleta e análise dos dados sobre a produção de madeira tropical no país. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mantém, com relativa atualização, a dinâmica da produção de madeira (10), com as limitações conhecidas devidas à amostragem.

Ocasionalmente, há trabalhos individuais, como os de Nepstad et al. (11) sobre a safra de 1996-97 e de Lentini et al. (12) sobre a safra de 2004. Apesar das dificuldades, é possível observar um crescimento na produção de madeira entre 1975 e 1991, e uma tendência de queda após 1991 (Tabela 1). Acreditamos que seja razoável adotar um valor de 25 milhões de m3 como a produção anual atual de madeira em tora.

A contribuição da Amazônia ao mercado internacional tem sido muito modesta apesar de produzir aproximadamente 25 milhões m3 por ano. As razões para isso são várias, incluindo a exploração concentrada em poucas espécies conhecidas pelo mercado, a falta de infra-estrutura apropriada, e, principalmente, a baixa qualidade da madeira produzida na Amazônia devido ao baixo nível tecnológico, o que resulta em grande desperdício; apenas 30% de uma tora é aproveitado, ou seja, 70% vira lixo urbano e rural no ato de processamento.

O quesito de qualidade é crítico e explica porque a maior parte da madeira da Amazônia é vendida no mercado interno e não tem uso nobre (enormes quantidades são usadas na construção civil e jogadas fora após um único uso). Essa falta de qualidade é devida ao uso de tecnologias e equipamentos ultrapassados, pois as empresas do setor não têm acompanhado a evolução tecnológica dos países concorrentes. Sem esses investimentos, até o mogno não capta todo o valor possível. Sem atingir os padrões de qualidade exigidos pelo mercado internacional, principalmente Japão, Europa e Estados Unidos, não é possível ocupar o espaço que Grainger (8) previa para o país.
Os fatores mencionados aqui são resultados do subdesenvolvimento da Amazônia e da falta de políticas públicas dirigidas ao setor florestal. Então, como aproveitar a janela de oportunidades e tentar garantir água para o Sudeste do país ao longo deste século?

A FLORESTA AMAZÔNICA E O FUTURO DO BRASIL

A Alemanha medieval e o Japão da era Tokugawa podem servir como modelos para o Brasil. Ambos países mudaram dramaticamente suas políticas públicas e os investimentos de seus governos federais e estaduais, estimulando o setor privado a investir. As memórias de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek foram recentemente ressuscitadas na televisão e lembram que alguns governos brasileiros também foram capazes de mudanças audaciosas.
A Lei 11.284/06, sobre a exploração sustentável de florestas para a produção de madeira, foi promulgada em março de 2006. Apesar de ser um passo importante, é polêmico, porque o tipo de concessão proposto não tem funcionado no mundo tropical. No caso brasileiro, sua eficácia é mais duvidosa ainda porque a lei será implementada apenas pelo Ministério de Meio Ambiente (MMA), via Serviço Florestal Brasileiro (a ser criado), quando deveria ser implementada pelo conjunto dos ministérios para alcançar o resultado pretendido: a produção sustentável de madeira na Amazônia com a conservação de grandes áreas florestais. Para o Brasil aproveitar essa janela é necessário muito mais do que uma lei e um ministério.

A visão que apresentamos neste artigo é de uma Amazônia desenvolvida com base na floresta, com indústrias madeireiras usando tecnologia de ponta para produzir produtos acabados para o mercado internacional e nacional e usando madeira oriunda de florestas manejadas, enriquecidas e certificadas. Quanta floresta será necessária? As estimativas de área e volume apresentadas na FRA 2005 incluem florestas primárias densas, manejadas, capoeiras e cerrados. Propomos uma área de floresta amazônica igual a 250 milhões de hectares, com uma média de 250 m3/ha (10% comercial), como razoável e conservador. Com este pressuposto, o estoque atual de madeira comercial na Amazônia é de 6,25 bilhões de m3, que daria para atender os mercados de madeira tropical (internacional = 52 milhões m3/ano e nacional = 20 milhões m3) durante 87 anos, movimentando US$ 22 bilhões por ano. Isso é tempo suficiente para desenvolver um modelo econômico baseado na floresta – se usarmos o tempo apropriadamente – e o desenvolvimento pagará sua própria conta após uma década.

Para começar, num espaço de 10 anos, teremos que inverter a relação aproveitamento e desperdício, passando de 30% versus 70% para 70% versus 30% e, principalmente, colocar no mercado não apenas 10 m3/ha e sim 50 m3/ha de madeira em tora. Isso pode ser conseguido usando os estudos de tecnologia de madeira já realizados pelos laboratórios da antiga Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, em Santarém, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus, da Fundação Tecnológica do Acre, em Rio Branco, do Ibama, em Brasília, e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, em São Paulo. Depois de resgatar essas informações sobre espécies menos conhecidas no mercado, mas abundantes na floresta amazônica, como as várias espécies das famílias Lecythidaceae, Sapotaceae, Burseraceae e Leguminosae, o passo seguinte é introduzi-las no mercado, o que seria mais fácil no futuro porque o Brasil seria o principal fornecedor.

Essa visão oferece a possibilidade de gerar riqueza suficiente para pagar salários justos e gerar dividendos nas bolsas de valores, bem como garantir o ciclo hidrológico e, conseqüentemente, a chuva no Sudeste do Brasil. No entanto, essa visão somente pode ser alcançada se todos os ministérios do governo federal, todos os estados da Amazônia e todos os estados do Sudeste trabalharem juntos porque a floresta já está bastante fragmentada (2). A seguir, listamos algumas das mudanças nas políticas públicas que acreditamos necessárias em nível federal, as quais, logicamente, necessitam ter reflexo no âmbito estadual.

Moratória ao desmatamento O MMA expandirá a moratória com o apoio da Presidência da República, do Ministério de Justiça (MJ, Polícia Federal), do Ministério da Fazenda (MF, Receita Federal, Polícia Rodoviária Federal), e do Ministério de Defesa (MD, Serviço de Proteção da Amazônia – Sipam). Somente a madeira certificada estará isenta da moratória, o que funcionará como estímulo para que as empresas do setor busquem a certificação. Esta ação é essencial para permitir que outras ações tenham o tempo necessário para serem viabilizadas.
Zoneamento econômico-ecológico da Amazônia Legal Os Ministérios de Integração Regional (MIR), Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e MMA combinarão para convencer os estados a expandir a área destinada a floresta em todas as áreas originalmente florestadas. De preferência, todas essas áreas deverão ser garantidas, pois o alvo é 250 milhões de hectares. Adicionalmente, ecossistemas especialmente críticos para a conservação da biodiversidade amazônica serão identificados para serem transformados em unidades de conservação. O objetivo é criar um mosaico com pelo menos 35% em unidades de conservação (existem 32% em áreas protegidas hoje (14), algumas das quais são florestas nacionais), 50% em florestas manejadas privadas, e o resto em agricultura e pecuária intensiva. Esse mosaico deverá manter 80-85% da floresta, superando o mínimo de 70% necessário para manter o ciclo hidrológico (15).
Regularização fundiária O MJ assumirá a supervisão minuciosa dos cartórios da Amazônia Legal para evitar grilagem de terras públicas e proteção aos direitos de propriedade na região, tanto para particulares, como para as florestas de produção, as unidades de conservação, as terras indígenas e as outras terras públicas. Titulação regular será essencial para garantir empréstimos bancários e de agências de fomento, e certificação. Todos os ministérios precisam apoiar as garantias de propriedade após a regularização, pois florestas precisam ser consideradas terras produtivas e não podem ser invadidas como aconteceu no Rio Grande de Sul em fevereiro de 2006.
Investimentos na indústria florestal Os Ministérios de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC, Suframa), MIR (Sudam), MF (BNDES, BASA) direcionarão seus investimentos na Amazônia para a atividade florestal, eliminando investimentos no agronegócio (que poderá captar financiamento na rede bancária privada); deverão manter os investimentos na pesca e aqüicultura (fonte de proteína para a maioria da população amazônida). Os investimentos se concentrarão na atualização tecnológica de empresas existentes, na viabilização de novos empreendimentos com tecnologias avançadas (especialmente a abertura de filiais de empresas do setor florestal com tecnologias modernas e fábricas atualmente localizadas fora da Amazônia), na criação de arranjos produtivos locais (como o pólo moveleiro que a Suframa está criando no Amazonas), e no adensamento da cadeia produtiva florestal em geral.
Tecnologias de ponta A incorporação de tecnologias de ponta na indústria florestal é essencial para o sucesso dessa visão, pois os europeus, japoneses e norte-americanos pagarão bem para produtos bem feitos com madeira nobre, e até os chineses pagarão bem para produtos bem feitos com madeira nobre ou comum. Um exemplo a ser seguido é da empresa Ikea, a maior varejista do setor florestal nos países desenvolvidos. A Ikea comercializa móveis e outros produtos feitos de madeira certificada, com cada móvel numa caixa pequena preparado para ser montado em casa. Produzir móveis montáveis como esses requer alta tecnologia e qualificação da mão-de-obra – e logicamente a mão-de-obra precisa ser bem paga. Tecnologias de ponta também reduzirão o desperdício de madeira, aumentando a eficiência das fábricas, reduzindo a geração de dejetos, e melhorando a razão custo/benefício da operação. Tecnologias de ponta incluem equipamentos, técnicas e desenho industrial e comercial. A Fundação Centro de Análises, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi, Suframa, MDIC) em Manaus oferece orientação e capacitação na identificação e desenvolvimento dessas tecnologias.
Investimentos em produção florestal Seguir rigorosamente o que consta na legislação florestal é o primeiro passo em direção a sustentabilidade do manejo florestal. Os sistemas clássicos de silvicultura tropical (malaio uniforme – desenvolvido em Malásia na época colonial -, bosque abrigado e seletivo), utilizados em manejo de florestas tropicais do mundo todo, não produziram os resultados esperados(16). Na Amazônia, o sistema mais usado é o seletivo. Propomos um modelo misto, utilizando o sistema seletivo com faixas de enriquecimento com espécies valiosas e conhecidas do ponto de vista silvicultural, p.ex., cedrorana e castanha do Brasil. Dessa forma, será possível aumentar o volume comercial por unidade de área no primeiro ciclo de corte. Do ponto de vista florestal e econômico, os ciclos subseqüentes serão mais seguros por conta da disponibilidade de mais espécies comerciais introduzidas no primeiro ciclo.
Certificação Existem diversos tipos de certificação que poderiam ser úteis nessa perspectiva, especialmente a certificação de produção sustentável e a de qualidade (ISO). Para que essa visão gere benefícios na Amazônia, componentes sociais e laborais precisam ser incluídos como partes fundamentais dos processos de certificação, para que o Brasil e a Amazônia possam desenvolver-se no sentido mais completo da palavra. Uma outra vantagem da certificação é que ela exige fiscalização contínua e independente, o que, teoricamente, reduz as oportunidades para o tipo de corrupção que tem encharcado os projetos de manejo florestal na Amazônia.
Pesquisa e desenvolvimento Muitas das tecnologias e práticas necessárias para implementar essa visão já existem, mas outras precisarão ser geradas nas instituições de ensino e pesquisa na Amazônia e no Brasil. Os ministérios de Ciência e Tecnologia (MCT), MAPA e de Educação (MEC) possuem mecanismos para incentivar P&D na Amazônia. As Embrapas da Amazônia, o Inpa e as universidades federais e estaduais incrementarão suas pesquisas florestais para recuperar áreas degradadas por meio de projetos de silvicultura, bem como incrementarão suas pesquisas em enriquecimento de florestas em pé. Novas tecnologias de processamento e novos desenhos de produtos e processos serão de fundamental importância para garantir qualidade e atrair compradores nos países desenvolvidos.
Educação A educação sobre a Amazônia é deficiente no país e na própria região, particularmente em assuntos que ensinam a história, as tradições, os estilos de vida, os alimentos dos amazônidas, quase ao ponto de fazer crer que esses brasileiros não existem. A educação ambiental é igualmente pobre. Se a Amazônia espera se desenvolver com base na floresta, como na visão que aqui se apresenta, o MEC e as secretarias estaduais de Educação precisam revisar as grades curriculares de primeiro grau à universidade para refletir a nova base da economia regional – atualmente a agricultura convencional é considerada a base da economia brasileira e permeia as grades curriculares.

A visão apresentada é factível e contribuirá para o desenvolvimento da Amazônia com a floresta em pé, embora gradualmente a floresta deva ser transformada em termos de sua densidade econômica, mas mantendo a maior parte de sua biodiversidade. É a única proposta que tem as escalas geográfica e econômica necessárias para enfrentar o agronegócio, hoje em franca expansão. Deixará espaço abundante para as outras idéias sobre o uso da biodiversidade e das florestas, como a bioprospecção, os projetos de manejo comunitário e a estocagem de carbono para atender os compromissos brasileiros frente ao Protocolo de Kyoto. A visão contribuirá para garantir o ciclo hidrológico que abastece a região agrícola do Sudeste do Brasil, bem como os principais centros urbanos do país. A principal questão é a vontade política em fazer as mudanças necessárias de forma completa e rápida. Sabemos que essa vontade não virá de um só ministério – terá de vir da próxima geração de Getúlios e Juscelinos, apoiada em todos as agências dos governos federal e estaduais.

Charles R. Clement é pesquisador titular da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Manaus, Amazonas.

Niro Higuchi é pesquisador titular da Coordenação de Pesquisas em Silvicultura Tropical do Inpa, Manaus, Amazonas.

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. J. Diamond, Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. São Paulo: Editora Record. 2006.
2. W.F. Laurance et al., Science 291, 438. 2001.
3. P.M. Fearnside, Ciência Hoje 34, 63. 2004.
4. J.A. Guimarães Júnior, ComCiência, 2004: http://www.ifi.unicamp.br/~knobel/radar/newspro/fullnews.cgi?newsid1084158000,16737,
5. ITTO. Annual Review and Assessment of the World Tropical Timber Situation. http://www.itto.or.jp/
6. "A floresta pagou a conta do PT". Veja, 01/03/2006.
7. http://www.rainforests.mongabay.com/
8. A. Grainger, Tropform: A model of future tropical timber hardwood supplies. In Symposium in Forest Sector and Trade Models. University of Washington, Seattle. 1987.
9. Global Forest Resources Assessment (FRA 2005), Food and Agriculture Organization, http://www.fao.org/documents/show_cdr.asp?url_file=/docrep/008/a0400e/a0400e00.htm
10. IBGE. Anuário Estatístico. http://www.ibge.gov.br/
11. D.C. Nepstad et al., Nature 398, 505. 1999.
12. M. Lentini et al., O Estado da Amazônia, vol. 2, p.1. 2005.
13. R. Deusdará Filho, "Diagnóstico e avaliação do setor florestal brasileiro – Região Norte". Relatório preliminar (Sumário Executivo). Brasília: Ibama. 1996.
14. B.S. Soares-Filho et al., Nature 440, 520. 2006.
15. M.A.F. Silva Dias et al., Journal of Geophysical Research 107, 8072. 2002.
16. N. Higuchi et al., Revista Silvicultura 83, 32. 2000.

29 agosto 2006

CORRUPÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

CASO PERDIDO? NÃO PARECE

O jornal Folha de São Paulo (28.08.2006), ao fazer um um balanço das 10 maiores operações de combate a crimes ambientais nos últimos três anos, concluiu que de todas as pessoas presas, cerca de 33% são servidores públicos. É um número altíssimo. Mas não deveria surpreender ninguem já que a corrupção em instituições públicas no Brasil parece ser algo sistêmico, talvez até mesmo genético. A impressão que dá é que quem quer que passe a fazer parte do sistema vai, cedo ou tarde, ser cooptado pela "força" que move a corrupção.

O aspecto trágico da corrupção ambiental é que, ao contrário dos desvios de condutas ligados ao mercado financeiro - que podem ser facilmente reparados via multas, expropriações, etc, ela dificilmente pode ser reparada. Uma árvore derrubada ou um animal morto não podem simplesmente ser ressucitados. No máximo podem ser repostos, mas o papel crucial que desempenhavam na natureza os substitutos dificilmente vão poder executar.

Como resolver a questão da corrupção ambiental no Brasil?

Uma saída talvez fosse pagar os fiscais por produtividade, ou seja, por ilegalidades que eles pudessem verificar e notificar oficialmente. É uma forma similar à estratégia que muitas secretarias estaduais de fazenda adotaram para acabar com a corrupção dos fiscais fazendários: eles ganham um percentual sobre os valores sonegados que eles conseguem identificar.

Faz sentido: quanto mais casos de crimes ambientais eles fossem capazes de identificar mais eles ganhariam. É claro que o risco representado pelos corrompedores de plantão nunca deixaria de existir. Segundo a Folha, os extratores ilegais de madeira têm um lucro estimado de R$ 3oo milhões por ano. Como costumamos dizer: é muita munição para corromper corações e mentes. Entretanto acreditamos que cedo ou tarde a consciência dos servidores públicos iria ser "convencida" de que o caminho da legalidade é mais justo, satisfatório e, principalmente, o que garante a estabilidade no longo prazo ao mesmo e sua família.

Aliás, o Governo Federal tem dado passos no sentido de garantir número suficiente de servidores e salários adequados: nos dois últimos anos, o Ibama contratou 1.400 funcionários com salário inicial de R$ 3.500. Já são 6.400 servidores distribuídos em 435 unidades por todo o país.

Apesar de tudo isso, meu medo reside na criatividade do brasileiro. Nos corações e mentes de muitos de nós as Leis são feitas para serem burladas. Como todos sabem, dificilmente uma deles resiste ao nosso famoso "jeitinho".

FORMAÇÃO E FIXAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS NA AMAZÔNIA

AÇÕES ESSENCIAIS PARA A AMAZÔNIA

Adalberto Luis Val (INPA)
Cienc. Cult. v.58 n.3 São Paulo jul./set. 2006

DA HISTÓRIA DISTAL AOS NOSSOS DIAS A necessidade de recursos humanos qualificados para o desenvolvimento da Amazônia se faz sentir desde os tempos coloniais. Ainda no reinado português de D. José I (1750-1777), Marques de Pombal deixava clara a importância estratégica de atrair capitais para o desenvolvimento de atividades econômicas no extenso território que o Tratado de Tordesilhas havia consagrado à Espanha, mas que Portugal aos poucos e pacificamente foi incorporando aos seus domínios. Sabiam todos os governantes da época que não bastava demarcar os novos limites consagrados por meio do novo Tratado de Madri (13 de janeiro de 1750) que reconhecia, então, a soberania lusitana nesse imenso e cobiçado mundo anfíbio, a Amazônia: era preciso vencer distâncias e se fazer presente para melhor aproveitar as riquezas da região. É preciso ter em conta que os países europeus eram ávidos por produtos tropicais, aliás, como ainda o são. Hoje, mais do que os produtos, ao mundo interessam informações acerca da complexa relação que permite a existência da própria Amazônia, nos seus mais diversos matizes.

Contudo, a avidez européia pelos produtos da região tropical não foi compensada por ações que possibilitassem o seu desenvolvimento. E assim tem sido. Com a subordinação das duas principais capitanias, Grão-Pará e São José do Rio Negro, ao Império do Brasil em 1823, a destinação das riquezas do Norte passou a ser o Sul do Brasil: pirarucu seco, salsaparrilha, tabaco, café, cacau, castanha, manteiga de tartaruga, entre outras. No período de 1844 a 1889, a contribuição do Norte para a receita imperial era de 35%, mas as despesas brutas eram de 16% no Norte e 68,8% no Sul, sendo que 15% das receitas eram repassadas a Londres a título de pagamento da dívida externa (1). No período seguinte, a exportação de borracha cresceu de forma estupenda. Por exemplo, entre os anos de 1890 e 1895, as receitas orçamentárias do Amazonas apresentaram crescimento maior que 350% o que possibilitou, à época, arrojados projetos urbanísticos (2). Em 10 de outubro de 1940, o presidente Vargas ressaltava em seu Discurso do Rio Amazonas: "Todo o Brasil tem os olhos voltados para o Norte, com o desejo patriótico de auxiliar o surto do seu desenvolvimento". Mais uma vez, os investimentos não contemplaram fundamentos para o desenvolvimento científico e tecnológico. A região continuou contribuindo mais como um almoxarifado do que como uma oportunidade de desenvolvimento calçado no conhecimento da sua gente, da sua flora e da sua fauna.

A constituição de 1946, em seu artigo 199, define que "Na execução do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, a União aplicará, durante pelo menos vinte anos consecutivos, quantia não inferior a três por cento de sua renda tributária". A execução desse plano esteve a cargo da SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia) e não foi capaz de romper com o abandono pelo qual a região passava e nem mesmo propor soluções para superar as dificuldades impostas pela falta de opção econômica e de comércio nacional e internacional para nossos produtos. A SPVEA, sem pessoal qualificado e sem recursos suficientes, se transformou em mais um órgão burocratizado e inoperante (3). Saliente-se que a quantia constitucional "não inferior a três por cento" jamais foi empregada na reativação da economia regional, finalidade precípua da SPVEA. Com outra finalidade, nessa mesma época, é criado o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), uma resposta do governo brasileiro de Getúlio Vargas à tentativa de se instalar em Manaus um instituto internacional de pesquisa, denominado Instituto Internacional da Hiléia Amazônica, originada na Unesco.

O Decreto 31.672 de 29 de outubro de 1952 criou o Inpa e sinalizou a preocupação do estado brasileiro com o homem, a ciência e a segurança nacional. Esse decreto definiu como finalidade do Inpa "o estudo científico do meio físico e das condições de vida da região, tendo em vista o bem estar humano e os reclamos da cultura, da economia e da segurança nacional". Esse texto claramente ressalta a importância da informação para a segurança nacional, isto é, para a soberania nacional na perspectiva mais moderna. Contudo, a região ainda vivia imersa no subdesenvolvimento. Em 1960, a SPVEA foi remodelada e reinaugurada com o nome de Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) e, praticamente em conjunto, nasceram projetos desenvolvimentistas como a construção de rodovias (Transamazônica, Belém-Brasília, Brasília-Acre e Perimetral Norte) e usinas hidrelétricas (Tucuruí, Samuel e Balbina), bem como programas voltados para o desenvolvimento da pesquisa (Programa do Trópico Úmido e Pólo Noroeste). A cidade de Humboldt, ao lado da cachoeira de Dardanelos, no município de Aripuanã, noroeste do estado do Mato Grosso, também foi uma iniciativa dessa época. A idéia era ver a floresta transformada no "Eldorado" sustentável. Como faltava gente, foram firmados convênios com universidades e institutos de outras regiões do país que idealizaram, a partir de suas bases, sem conhecer a realidade, uma cidade modelar amazônica auto-sustentável. Após consumir uma significativa quantidade de recursos, a utopia acabou engolida pela realidade e o projeto que tinha suporte financeiro do CNPq e da Sudam foi repassado para o governo do estado do Mato Grosso. Várias rodovias que nasceram nessa época tiveram o mesmo destino de Humboldt.

Ainda nessa década de 1960, dois projetos foram importantes: a criação da Universidade Federal do Amazonas que, a rigor, nasceu bem antes, e a criação da Suframa (Zona Franca de Manaus), com a finalidade de formar recursos humanos e de dar uma opção econômica para a banda oeste da Amazônia legal. Contudo, enquanto os recursos foram generosos para a Zona Franca, foram sempre acanhados para as universidades e institutos de pesquisa da região.
A Declaração da Amazônia, de 11 de dezembro de 1966, feita em conjunto pelo governo federal, pelos governos dos estados amazônicos, pelas confederações nacionais da indústria e da agricultura, evidencia claramente o desejo de todos na "mobilização de todas as forças vivas da nação visando atrair para a Amazônia empreendimentos de qualquer natureza, indispensáveis à sua valorização". Além disso, nessa declaração é manifesto o desejo de que "a Amazônia contribua, através de sua perfeita e adequada incorporação à sociedade brasileira sob sua soberania inalienável, para a solução dos grandes problemas da humanidade" (4). Contudo, os recursos para formar e fixar pessoal qualificado para a consecução dos múltiplos desejos explicitados no âmbito dessa infinidade de iniciativas foram sempre insuficientes.

Como podemos depreender a partir desses diferentes momentos, a formação e a fixação de recursos humanos na Amazônia sempre fez parte da pauta de intenções para com a região, mas nunca ocorreu de fato. Se no passado, pessoal capacitado era necessário em número reduzido, hoje a sociedade do conhecimento está em plena atividade e envolve uma forte interação entre novas tecnologias e capital humano, ambos só possíveis a partir de um elevado grau de educação (5). A ampliação das oportunidades de renda e emprego associada a um uso adequado do meio ambiente, à melhoria da produtividade de empresas, ao uso de novas tecnologias para o aproveitamento dos recursos naturais da região e à diminuição das desigualdades sociais, entre outros, dependem em larga escala de educação de alto nível. Na Amazônia, além dos desafios nacionais, há aqueles decorrentes das condições singulares do ambiente amazônico e da situação imposta à região ao longo dos tempos.

DESAFIOS AMPLIADOS O sistema educacional na Amazônia, em particular a educação superior, além da reestruturação e consolidação requeridas pelo sistema educacional brasileiro como um todo, precisa expandir-se de forma acentuada. Somada a um investimento maciço nas universidades existentes para que suas curvas de crescimento se descolem das previsões talhadas a partir de equações que têm como base os seus índices históricos, a expansão do sistema deverá ser realizada por meio da criação de novas universidades federais e estaduais na região. É preciso que a mesma ação política que tem resultado na criação de várias novas universidades no país se volte para a Amazônia, não como benesse, mas como resultado da convicção de que é preciso dotar a Amazônia de condições infra-estruturais para que ela possa integrar-se à sociedade do conhecimento. Há na Amazônia dez universidades federais (duas no estado do Pará e uma em cada um dos outros estados amazônicos), número que contrasta fortemente com o de outros estados: em Minas Gerais, por exemplo, temos onze universidades federais – UFV, Unifal, Unifei, UFJF, Ufla, UFMG, Ufop, UFSJ, UFU, UFTM, UFVJM (6).

Mais desafiador ainda, entretanto, é ampliar o número de doutores nas instituições de ensino e pesquisa da Amazônia. Recente levantamento, por meio dos grupos de pesquisa e corpo docente e técnico das IES da Amazônia, indica uma contagem de pouco mais de 1,3 mil doutores, fixados na região. Desses, apenas 931 estavam envolvidos com atividades docentes em nível de pós-graduação no final de 2004. Esse número contrasta fortemente com o perfil das outras quatro regiões do Brasil que, conjuntamente, somam 33.936 docentes atuando na pós-graduação (7). Nesse mesmo portal da Capes, consta que no final do ano de 2004 havia na região Norte apenas 65 programas de pós-graduação, 17 em nível de doutorado, ou seja, apenas 3,4% dos 1.898 programas existentes no país.

Contudo, há uma "luz no fim do túnel": novos programas de pós-graduação vêm sendo instalados na Amazônia. A aprovação do programa de mestrado em desenvolvimento regional da Universidade Federal do Amapá, com o apoio do programa Acelera Amazônia, apaga do nosso mapa uma última exceção no que se refere à distribuição da pós-graduação – a partir da Portaria 679 de 15/03/2006 do CNE, todos os estados brasileiros passam a ter pelo menos um programa voltado à formação pós-graduada (8). Porém, estamos muito longe da base ideal para a formação pós-graduada na Amazônia. Em recente seminário na Universidade do Estado do Amazonas, o professor Luiz Antonio Barreto de Castro demonstrou claramente que o Ministério da Ciência e Tecnologia tem conhecimento do enorme fosso que separa a Amazônia das outras regiões do país – há na região cerca de 350 grupos de pesquisas que somados aos que existem no Nordeste brasileiro perfazem apenas 18% do total existente no país. Esses números, segundo Castro, estão de acordo com o PIB dessa parte do país (9). Enfatize-se que em praticamente todas as análises, mundo afora, o PIB está fortemente correlacionado com o número de doutores, variável independente, atuando na região considerada; isto é, a riqueza e a qualidade de vida estão na razão direta do número de pessoas qualificadas que, a cada momento, ajudam a pensar e conceber estratégias sólidas para o desenvolvimento sustentado.

É evidente que, com essa base instalada, não há como acelerar o processo de capacitação de pessoal em nível de pós-graduação na e para a Amazônia. É preciso mais do que o discurso que vem ocorrendo ao longo dos tempos. São necessárias políticas para além do aqui e agora. São necessárias políticas de Estado, duradouras, que tragam no seu seio a preocupação com a soberania do país sobre a região e da região para com ela mesma. Ressalte-se que a concepção dessas políticas deve considerar as feições próprias da região – não há como concebê-las de fora para dentro, como a subordinar a periferia ao centro. Na Amazônia vive uma população de 20 milhões de pessoas, metade delas sem acesso ou com acesso precário à energia elétrica. Essa população inclui cerca de 180 povos indígenas, algumas centenas de quilombolas e um sem número de comunidades de ribeirinhos que atuam em diversos setores da economia regional. Além disso, ainda que alguns setores da economia tenham atingido um bom grau de desenvolvimento, este está centrado em Manaus e Belém, o que limita ações mais amplas e leva a um círculo vicioso que acentua ainda mais os desequilíbrios internos: é preciso investimentos maciços também nos demais estados para que possam pensar seus próprios caminhos.
Como o exercício da pesquisa requer interação entre os pares, as distâncias que separam as diferentes instituições instaladas na região e estas de suas parceiras nas demais regiões do país representam um desafio adicional. O custo dos deslocamentos internos torna o exercício pleno da interação técnico-científica proibitiva a tal ponto de tornar vulnerável a já reduzida comunidade científica da Amazônia face à demanda lícita da sociedade brasileira, e em particular aquela da sociedade local, e face às pressões internacionais de todas as ordens. A título de exemplo, contaram-se mais de uma centena de expedições científicas estrangeiras na Amazônia na década de 1990 a 1999 (10). Contudo, a falta de pessoal qualificado afigura-se mais e mais preocupante quando percebemos que não estamos conseguindo sequer nos apropriarmos das informações que vêm sendo geradas acerca da Amazônia em outros países que, enfatize-se, não é desprezível. Uma rápida consulta ao Portal de Periódicos da Capes revela que cerca de 2/3 dos trabalhos publicados, em todas as áreas do conhecimento, que envolviam assuntos relacionados à Amazônia, não tinham autores brasileiros (11).

UMA CONVERGÊNCIA DESEJÁVEL Após décadas buscando um novo momento para a Amazônia, presencia-se hoje uma convergência política com vistas a essa finalidade. As principais agências federais alinham-se com a demanda social por uma Amazônia capaz de se pensar. Os representantes da sociedade da região procuram articular o apoio nacional necessário para a concepção de uma agenda para a Amazônia. Os governos locais, com destaque para o estado do Amazonas, instalam e dotam de recursos suas fundações estaduais de amparo à pesquisa. A reforma universitária proposta impõe a necessidade das IES, públicas e privadas, incluírem pessoal graduado em nível de doutorado em seus quadros, bem como oferecer cursos de pós-graduação stricto sensu. A sociedade do conhecimento requer educação e a transforma num produto de alto valor não só social, mas econômico, como mencionado acima. Além disso, no âmbito das instituições que produzem informações, mais e mais está claro que o apoio à pesquisa está relacionado à ampliação da capacidade de formação de pessoal pós-graduado (12).

Considerando que não há espaço para imposições acerca dos rumos que a Amazônia deve tomar e que esses rumos precisam ser concebidos pela própria região, é preciso rapidamente dotá-la de uma capacidade de reflexão ampliada. A ampliação dessa capacidade passa efetivamente pela fixação de recursos humanos qualificados. Para isso, não há perspectivas evidentes no curto prazo. Por isso, precisamos de pronto trabalhar com o que temos e, nesse aspecto, há um amplo contingente de professores e técnicos já contratados e fixados nas principais universidades federais e institutos de pesquisas da região: em média por volta de 20% dos quadros docentes das dez universidades federais da Amazônia têm doutorado; ou seja, potencialmente quatro em cada cinco docentes dessas instituições estariam aptos a receber treinamento em nível doutoral. A mesma perspectiva há para as instituições de pesquisas da região. É preciso que as novas contratações busquem doutores para grupos de pesquisa. Aqui cabe destacar a recente ação adotada pela Capes: o programa Acelera. Esse programa busca apoiar a ampliação dos grupos de pesquisas na região e, por consegüinte, a capacidade de formação de pessoal em nível de pós-graduação e a concepção de um amplo programa para a mobilidade entre os cientistas das diferentes regiões do país. Enfatize-se que tal ação foi concebida a partir de uma ampla discussão com as IES, fundações e institutos da região, o que está permitindo uma ação coordenada conjunta.

O sucesso de programas de fixação estará, contudo, na razão direta do envolvimento das várias instâncias da sociedade para a abertura de concursos públicos para a contratação definitiva de pessoal. Bolsas de estudo para os diversos níveis se constituem num instrumento de vital importância para uma ação imediata, mas não conduzem, em longo prazo, na consolidação de grupos permanentes de pesquisa na região. Há, mesmo neste quesito, uma luz no fim do túnel. A convergência de esforços resultou, recentemente, no envolvimento mais efetivo da SBPC na articulação de uma agenda para a Amazônia que prevê, entre outros, esforços efetivos para a fixação de pessoal qualificado (13, 14). Sabemos todos, que o fundamento para o exercício da pesquisa científica recai, sem dúvida, numa duradoura capacidade de reflexão.

UMA ÚLTIMA MENSAGEM Nós temos hoje a opção de continuar tendo uma Amazônia verde, que ao longo do tempo se vem esmaecendo por falta de oportunidades para sua gente, ou ajudar a construir um momento em que as múltiplas cores escondidas no verde se desabrochem e permitam uma desconcentração econômica de fato, com eixos articulados de desenvolvimento para a região. Sem dúvida, a ciência, a tecnologia e a inovação estão na base deste momento e a formação e a fixação de pessoal na região são as condições para o seu pleno exercício.

Adalberto Luis Val é diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e professor da Universidade do Estado do Amazonas – UEA

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Villela, A. apud Mello, E.C. "Raízes da desigualdade". Folha de S. Paulo, 3 de abril de 2005, Caderno Mais, p 3. 2005.
2. Garcia, E. Zona Franca de Manaus: história, conquistas e desafios. Norma Editora. Suframa. Manaus, AM. 2004.
3. Fonseca, O.J.M. & Val, A.L. (s/d) Recursos para pesquisa e desenvolvimento. Inpa.
4. Declaração da Amazônia de 11 de dezembro de 1966.
5. Guedes, P. Revista Época de 20 de março de 2006. p. 30
6. Portal do MEC, 07 de Abril de 2006
7. Portal da Capes, 07 de Abril de 2006
8 .Val & Guimarães "Novo momento para a pesquisa e pós-graduação na Amazônia". Jornal da Ciência, 561. 2006.
9. Castro, L.A.B. "Os avanços da biologia diante dos grandes desafios do novo milênio". Seminário apresentado na Universidade do Estado do Amazonas em 31 de março de 2006.
10. Fujiyoshi. Ciência e Cultura 56 (1): 9-11. 2004.
11. Val, A.L. Amazônia. III Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Brasília, DF.2005.
12. CNPq Relatório técnico anual. 2005.
13. Abreu Sá, T.D. "Mudar a Amazônia é mudar o Brasil". Jornal da Ciência, 570. 2006.
14. Anônimo Carta de Manaus: Itens e essenciais. Jornal da Ciência. 2006

28 agosto 2006

TIJOLO FEITO COM GARRAFA "PET"

CRIATIVIDADE É TUDO - ISTO É BRASIL!

Toneladas de garrafas plásticas produzidas de poli (tereftalato de etileno), ou PET, foram retiradas nos últimos cinco anos dos igarapés que cortam a cidade de Manaus e deságuam no rio Negro. Incomodados com essa situação, alunos do curso de graduação de engenharia civil da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) de Manaus, sob a coordenação do professor Newton Lima,
desenvolveram um tijolo composto de argamassa e garrafa PET de 2 litros descartada. Cimento e areia de quartzo são a base da argamassa que envolve inteiramente a garrafa. “Os testes de resistência mecânica apontaram que, se a garrafa estiver com a tampa, o tijolo agüenta esforços enormes sem se romper”, diz Lima. O tijolo é moldado em fôrma de madeira com dobradiças laterais. Em cerca de sete dias já pode ser usado na construção civil. Ensaios realizados mostraram que o tijolo com PET promove o isolamento térmico em casas populares. O próximo passo do projeto é repassar o conhecimento para os interessados. Para que isso ocorra, está em fase final de produção uma cartilha, que ensina de forma simples e direta como fabricar os tijolos. Também está sendo construído um módulo na universidade para orientar as pessoas como colocar a fiação elétrica e a parte hidráulica nas casas sem comprometimento da estrutura. São necessários cerca de 1.500 tijolos para construir 25 metros quadrados.

Imagem: Fôrma de madeira usada para moldar tijolo feito de PET, cimento e areia (© ULBRA MANAUS)
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp Edição Impressa 126 - Agosto 2006

A FLORESTA AMAZÔNICA E O FUTURO DO BRASIL

Charles R. Clement & Niro Higuchi (INPA)
Cienc. Cult. v.58 n.3 São Paulo jul./set. 2006

A floresta amazônica está sendo derrubada de forma acelerada porque tem pouco valor na percepção da sociedade brasileira atual, apesar de uma parte dos formadores de opinião afirmarem o contrário. Esta contradição entre o discurso e a realidade sócio-político-econômica é comum no mundo e ajuda a entender muito a respeito dos problemas de degradação ambiental que estão minando a sustentabilidade do empreendimento humano.

Na realidade, o único "valor" aceito pela sociedade atual é o valor econômico-financeiro presente, ou seja, aquele contabilizado pelo Produto Interno Bruto (PIB) do ano em curso ou do próximo, pois é esse valor que pode reduzir a pobreza de uma parcela da população, dar ao país o "status" de desenvolvido e, logicamente, enriquecer os responsáveis pelo desmatamento. Os demais valores da floresta beneficiam poucos (e.g., o valor estético – que beneficia principalmente os moradores e os eco-turistas), levarão mais tempo para serem realizados (e.g., o uso da biodiversidade que exige investimentos em pesquisa e desenvolvimento) ou simplesmente não são contabilizados no PIB (e.g., os serviços ecológicos – conservação de água e solo, filtragem de poluentes, polinização, etc. – e o valor ético – os direitos à vida dos outros seres vivos da floresta). É evidente que essa visão míope do valor da floresta não reflete seu valor real, nem em curto prazo e muito menos a longo prazo, especialmente se o país pretende ser um membro do primeiro mundo.

Recentemente, Jared Diamond (1) publicou Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso, sobre o que podemos aprender dos fracassos e sucessos de 14 sociedades grandes e pequenas ao longo dos últimos 3000 anos para reverter as tendências de colapso sócio-ecológico global. As florestas sempre foram e são recursos naturais essenciais para todas as sociedades discutidas, e seu manejo ou desmatamento tem sido vital para o sucesso ou fracasso de cada sociedade (embora raramente tenha sido o principal motivo). Em grandes sociedades, como a do Brasil, o governo precisa tomar a iniciativa para organizar o manejo e a conservação das florestas, como aconteceu na Alemanha medieval (1500s), no Japão da era Tokugawa (1635-1853) e na China moderna. Uma diferença entre estes três exemplos e o nosso país é que o Brasil é uma democracia, e o governo e os formadores de opinião precisam convencer a população que as medidas tomadas são para o benefício de todos. Outra diferença é que nos dois exemplos históricos ainda não havia os benefícios do comércio livre da era de globalização e a sociedade teve que aprender a replantar e manejar ao mesmo tempo em que continuava a usar a floresta, enquanto que a China simplesmente proibiu o desmatamento e começou a comprar madeira, especialmente tropical, no mercado global. Embora a China atualmente tenha um programa nacional de reflorestamento, compra sua madeira nos países tropicais, que ficam com a degradação ambiental resultante do desmatamento, o que é uma das grandes vantagens da globalização para os compradores.

Observe que dois dos três exemplos são de países desenvolvidos, e a China recentemente passou à frente do Brasil na corrida desenvolvimentista. O Japão e a Alemanha possuem uma maior cobertura florestal em relação ao que tinham quando se tornaram conscientes da importância de suas florestas e são democracias cujos cidadãos estão convencidos da importância das florestas e do ambiente. A China está diminuindo sua taxa de desmatamento rapidamente com base na tomada de consciência da importância da floresta para seu desenvolvimento futuro.

E o Brasil? A Mata Atlântica quase desapareceu ao longo do século XX e o Cerrado é o bioma brasileiro mais ameaçado de todos. Ainda que o regime militar (1964-85) tenha editado uma Lei Florestal que exigia uma parcela de conservação em cada propriedade e um plano de manejo florestal para a comercialização de produtos da floresta, a Floresta Amazônica começou a ser desmatada aceleradamente durante esse regime. Desde então, os governos federais adotaram discursos conservacionistas conforme aumentavam as pressões por governos e ONGs do Primeiro Mundo, mas não revisaram a maioria dos incentivos ao desmatamento. O atual governo decretou uma quase moratória ao desmatamento no chamado "arco de desmatamento", ao sul da bacia amazônica, e investiu na diminuição da taxa de desmatamento em 2005. No entanto, a maioria dos incentivos continua a existir na Amazônia Legal (2), especialmente para a construção de rodovias federais e outros tipos de infra-estrutura, necessários para o "desenvolvimento".

Num país ainda subdesenvolvido, como o Brasil, a contradição entre discurso e realidade exige que os formadores de opinião demonstrem claramente a existência de outros valores de importância para a própria sociedade para que a floresta passe a ter valor na percepção da grande maioria, pois não bastam leis e decretos que proíbam se a população não está de acordo. Isto é especialmente importante e ainda mais difícil num país agrícola como o Brasil, pois, por definição, a agricultura é o cultivo dos campos. Em nível mundial, toda sociedade bem sucedida é agrícola (1), embora as florestas sejam recursos essenciais para o sucesso da sociedade. Além da orientação agrícola da sociedade brasileira, um outro fator dificulta a valorização da floresta: sua diversidade. Esta diversidade é a razão pela qual o Brasil está incluído entre os países mega-diversos, mas o corolário dessa diversidade é a baixa densidade econômica, o que significa que existem poucos recursos naturais com valor econômico-financeiro imediato num hectare qualquer de floresta.

A nosso ver, a questão essencial é: como aumentar a densidade econômica da floresta para que seu valor seja percebido pela população brasileira? Queremos discutir duas opções para alcançar esse objetivo e sugerir sua utilização simultânea. A primeira é a importância dos serviços ecológicos da floresta, especialmente o ciclo da água. A segunda é a transformação da própria floresta para aumentar sua densidade econômica no PIB brasileiro num futuro imediato. Mostraremos que uma janela de oportunidades está prestes a se abrir para o Brasil, que precisa estar preparado para aproveitá-la. Sugerimos que o Brasil tome a mesma decisão da Alemanha medieval e do Japão da era Tokugawa, e mostraremos algumas das principais ações necessárias para a implementação de políticas públicas federais e estaduais.

O PRINCIPAL SERVIÇO ECOLÓGICO DA AMAZÔNIA PARA O SUDESTE: ÁGUA

A manutenção do ciclo hidrológico da Amazônia é considerada crítica pela comunidade científica mundial e nacional, pois a Amazônia tem uma enorme importância no clima mundial, especialmente conforme avançam as mudanças climáticas causadas pela ação humana. A estiagem amazônica, que ocorreu em 2005 e secou os rios da Amazônia Central em níveis raramente vistos, chamou a atenção da população brasileira. Alguns cientistas acreditam que esse tipo de estiagem tornar-se-á mais comum conforme avançam as mudanças climáticas durante o século XXI. Além das estiagens, as previsões sobre o desmatamento da Amazônia sugerem que o futuro da floresta será "cinzento", especialmente se não houver mudanças nas políticas públicas (2). Caso essa previsão se concretize, a população da maior cidade brasileira vai sentir sede. A razão é que entre 25 e 50% das chuvas que caem no Sudeste do Brasil são oriundas da Amazônia (3), o que é sempre visível nos mapas climáticos usados nos telejornais durante o verão.

Imagine se a cidade de São Paulo tivesse que enfrentar um racionamento de água, como quase aconteceu em 2004. Uma grande cidade que passou por isso no século XX foi Los Angeles, na Califórnia, EUA, e os governos resolveram o problema construindo um aqueduto desde o rio Colorado. Os gastos estimados para transpor uma parte da água do rio São Francisco para abastecer algumas partes do Nordeste nos permite imaginar o quanto mais seria necessário para abastecer São Paulo nas próximas décadas. As estimativas sobre os custos da transposição do São Francisco variam enormemente, parcialmente devido a decisões a serem tomadas no futuro, mas um total de R$ 20 bilhões em 4 ou 5 anos é o valor mais utilizado, embora muitos dos custos de distribuição local, manutenção do sistema, garantias de qualidade de água, entre outros, ainda não tenham sido adequadamente dimensionados (4). Um dos grandes pressupostos é que haverá água suficiente no rio São Francisco no futuro, o que não pode ser confirmado, pois as mesmas chuvas que abastecem a cidade de São Paulo abastecem o alto rio São Francisco. Outro pressuposto é que os estados de Minas Gerais e da Bahia estarão sempre dispostos a ceder essa água e isso ainda não está claro e, certamente, poderá mudar conforme a aceleração das mudanças climáticas resultantes do desmatamento na Amazônia, caso este continue no ritmo atual.

Na necessidade de um aqueduto para a cidade de São Paulo, onde poder-se-ia captar água? A lógica sugere a Serra da Mantiqueira, nascente de muitos dos rios que fluem para o rio Paraná, bem como para o rio São Francisco. Essa escolha permitiria o uso da gravidade para o transporte da água sendo a própria Serra responsável pela captação das chuvas oriundas da Amazônia. A hidroelétrica de Marimbondo, no rio Grande, seria ideal, embora sua água já tenha donos em abundância. Para a cidade e o estado mais rico do país, certamente será possível negociar ou comprar direitos sobre a água, mesmo que as regiões mais propícias sejam bem desenvolvidas e povoadas, mas o custo pode ser bem maior que os custos do aqueduto.

Antes de chegar ao racionamento, no entanto, existe outra possibilidade: os governos do Sudeste, com ênfase no de São Paulo, com a colaboração imprescindível das empresas da região, poderiam investir na conservação da floresta amazônica, apoiando a expansão de unidades de conservação e a transformação do setor florestal da região que garantiriam a manutenção da floresta e seu principal serviço ecológico para o Sudeste. Ou seja, é de interesse do Sudeste, especialmente de São Paulo, atuar na minimização do desmatamento na Amazônia e proteger um recurso essencial para sua população, sua indústria e seus agronegócios: a água. O mais importante é que isso pode ser feito imediatamente e gerando desenvolvimento na Amazônia e riqueza para o Sudeste, senão vejamos.

TRANSFORMANDO A FLORESTA – A JANELA DE OPORTUNIDADES

A lei de procura e oferta determina o preço dos produtos básicos, como a madeira. Portanto, a valorização da madeira da Amazônia passa pelo entendimento de sua oferta e procura nos mercados locais, regionais, nacionais e internacionais. Estamos na eminência de uma importante mudança na oferta de madeira tropical e o Brasil é o único país em condições de aproveitar essa mudança. Vamos examinar esse mercado e traçar algumas tendências importantes para entendê-lo no momento atual e no futuro próximo.
As estatísticas sobre a produção de madeira tropical no mundo são razoavelmente confiáveis (5). A produção anual do mundo tropical, ao longo do período (1988-2004), tem se mantido estável, igual a 134,4 ± 2,4 milhões de m3 em toras. As produções anuais de serrado, compensado e laminado foram, respectivamente, 40 ± 1,35 milhões de m3, 14,7 ± 0,75 mi m3 e 2,2 ± 0,26 mi m3. A região Ásia/Pacífico, apesar de uma queda de produção de 7,5% de 1988 para 2004, é ainda a maior produtora de madeira dura tropical (67%). América Latina/Caribe (25%) e África (8%) mantiveram-se quase estáveis.
Os três maiores produtores no período foram a Indonésia (66,14 milhões m3/ano – 27% da produção mundial), a Malásia (52,17 mi m3/ano – 21%) e o Brasil (48,60 mi m3/ano – 20%). Ao nível mundial há uma clara tendência de queda em relação ao pico de produção da Indonésia (28%) e Malásia (35%), e um aumento (em relação ao mínimo – 1988) do Brasil (47%).

Em geral, os países tropicais exportam 50% de sua produção, principalmente na forma de serrados, compensados, laminados e, ocasionalmente, toras sem nenhum beneficiamento. Em contraste, o Brasil exporta apenas 6-9% de sua produção anual, por razões que vamos examinar em breve. Com base na exportação média anual do período 1988-2004, a região Ásia/Pacífico participou com 81% de toda a exportação do mundo tropical, enquanto que as regiões América Latina/Caribe e África participaram com 6% e 13%, respectivamente. Os dois maiores exportadores individuais foram Malásia com 23,88 ± 2,72 mi m3 e Indonésia com 16,77 ± 1,54 mi m3, contribuindo sozinhos com 70% do total exportado pelos países tropicais.

A importação anual média do período foi de 51,76 ± 1,42 milhões de m3 equivalentes em tora. Os principais importadores individuais foram: Japão (33,3%), União Européia (21,3%), China (17,5%), Coréia do Sul (9,2%), Taiwan (8,7%) e EUA (6,4%), que juntos representam mais de 90% das importações de madeira tropical. Essas médias escondem uma tendência importante: a China superou o Japão em 2001, passando a ser o maior importador individual de madeira tropical; a UE se mantém estável. Já explicamos porque a China entrou nesse mercado com tanto peso, e o crescimento da economia chinesa sugere que essa nova tendência deverá se manter.

Em 1995, os países tropicais faturaram US$ 12 bilhões com a exportação de madeira, o que equivale a aproximadamente US$ 376 / m3. Malásia e Indonésia faturaram US$ 3,96 bilhões (35%) e US$ 4,02 bilhões (35%), respectivamente. O Brasil faturou apenas US$ 710 milhões (6%). Em 2003, os países associados à organização ITTO (International Tropical Timber Organization) faturaram US$ 7,4 bilhões com a exportação, o que equivale a aproximadamente US$ 310 / m3. Nesse ano, Malásia e Indonésia diminuíram suas participações no mercado, de 35 para 24% e de 35 para 33%, respectivamente. A participação do Brasil subiu de seis para 9%.

Até agora a situação parece de um típico mercado de commodity tropical com demanda principalmente nos países desenvolvidos. O que transforma essa situação típica em uma janela de oportunidades para o Brasil são os estoques de madeira tropical na região Ásia/Pacífico e a continuação da instabilidade política na África. Contrariando a lei de oferta e procura, o volume de exportação diminuiu de 1995 para 2003, assim como o preço por unidade. A explicação pode estar na quantidade de madeira ilegal, junto com a legal, colocada no mercado. Na Amazônia, 80% da madeira produzida não tem origem definida (6).

A situação da Malásia é típica(7): Durante as últimas duas décadas de exploração das florestas da Malásia, o manejo florestal tem sido inexistente. A política florestal, por meio do Ato Florestal Nacional de 1984, falhou completamente por falta de aplicação da lei. As florestas primárias da Malásia Peninsular já foram completamente dizimadas e as secundárias cobrem apenas uma fração das antigas áreas de florestas tropicais úmidas. Nas partes da Malásia na Ilha de Borneo, Sabah e Sarawak, ainda há florestas primárias que devem desaparecer em 5–8 anos. Isso explica a queda na produção e, especialmente, nas exportações da Malásia.

A situação da Indonésia pode ser similar, pois em 1995 o país teve 63 milhões de hectares sob concessões florestais, com exploração autorizada de 700 mil ha por ano e pelo menos 500 mil ha por ano de exploração não-autorizada. No entanto, sua taxa de desmatamento anual foi 5,4 milhões de ha (7). Hoje, em 2006, é quase certo que as reservas florestais nativas da Indonésia estejam praticamente dizimadas, pois a matemática é simples e confirmada pela tendência discutida acima.

Todo o exposto até agora não é novidade no setor florestal. Em 1987, o cenário do setor de madeira dura tropical era conhecido (8) "...a produção do sudeste asiático alcançará o seu pico em meados dos anos 1990, sendo, a seguir, substituída pela América Latina, especialmente a Amazônia, para suprir os mercados da Europa, Japão e América do Norte...". É evidente que esse cenário da dinâmica de produção de madeira tropical pelos maiores produtores mundiais se concretizou em sua maior parte. Somente o papel do Brasil no mercado internacional não foi confirmado. Por que? Examinaremos esta pergunta em breve.

O cenário acima, com a informação estatística apresentada, permite algumas extrapolações, mesmo que o risco de extrapolar seja conhecido. Ajustando os dados de exportação dos três principais produtores atuais (Malásia, Indonésia e Brasil) e de importação (demanda do mercado internacional), durante o período 1988-2004, é possível examinar as tendências. Em termos de exportação de madeira, o Brasil poderá superar a Malásia em 2012 e a Indonésia em 2017. Em 2018, a Malásia poderá deixar de exportar e a Indonésia poderá estar fora do mercado em 2030. Esse cenário sugere que o mercado internacional começará a entrar em colapso a partir de 2010. Esta é a janela de oportunidades. Mas, a mesma figura sugere que o Brasil só conseguirá atender a demanda internacional em 2097. Por que a demora? Agora é hora de examinar o Brasil e a Amazônia.

Artigo continua...

26 agosto 2006

CURSO DE ECOLOGÍA TROPICAL Y CONSERVACIÓN DE ECOSISTEMAS AMAZÓNICOS

CURSO ACONTECE ENTRE 30 DE OUTUBRO E 12 DE NOVEMBRO NA ESTAÇÃO BIOLÓGICA TAHUAMANU (PANDO, BOLÍVIA)

REALIZAÇÃO UNIVERSIDADE AMAZÔNICA DE PANDO E FIELD MUSEUM (CHICAGO)

INSCRIÇÕES ATÉ 8 DE SETEMBRO - BRASILEIROS PODEM PARTICIPAR!


Generalidades del Curso

Ecología Tropical y Conservación de Ecosistemas Amazónicos será un curso intensivo de campo, a nivel de especialización, impartido en idioma español. Las actividades se llevarán a cabo en la Estación Biológica Tahuamanu (EBT) ubicada en el departamento de Pando, en plena amazonía boliviana durante dos semanas completas (equivalentes a 280 horas académicas de trabajo), del 30 de octubre al 12 de noviembre del 2006.

Estudiantes de último curso, investigadores y docentes de la UAP, profesionales interesados en la actualización de conocimientos y estudiantes e investigadores de otras universidades nacionales o extranjeras, y que tengan bases en ecología y estadística, serán los que puedan postular y participar de este Curso intensivo de Campo.

El Curso tendrá una capacidad de 22 participantes, los cuales serán seleccionados a través de un concurso altamente competitivo.
Debido a que este es un curso intensivo de campo, con actividades normalmente entre 6:30 a.m. y 10 p.m., los siete días de la semana, los estudiantes deben venir preparados para un trabajo fuerte y poco tiempo libre.

El curso será dictado en español, pero un conocimiento de lectura en inglés es recomendable para poder utilizar plenamente la bibliografía de apoyo.
Los objetivos principales del curso
· Entrenar al estudiante en la planificación, desarrollo y divulgación de proyectos de investigación en ecología tropical.
· Exponer al estudiante a la teoría y práctica del estudio de las comunidades de plantas y animales en condiciones naturales.
· Lograr una mejor integración entre la teoría ecológica y los experimentos y observaciones en el campo.
· Entrenar al estudiante en la formulación, diseño, puesta en práctica, y divulgación de proyectos de investigación, integrando el contexto teórico en experimentos y observaciones de campo.
· Familiarizar a los estudiantes con las comunidades naturales terrestres y acuáticas del bosque amazónico
· Estimular el uso de criterios ecológicos en la conservación y el manejo sostenible de los recursos naturales.

Algunas de las actividades del Curso

El programa general incluye la visita a la Estación Biológica Tahuamanu, localizada en el río del mismos nombre, en la región de bosque alto en el Departamento de Pando. En la primera parte se dará énfasis en la ecología de los bosques inundables y los sistemas acuáticos asociados. En la segunda parte el enfoque será hacia los estudios sobre los bosques de tierra firme y su fauna asociada.

Se iniciará cada sección del curso con caminatas de reconocimiento a cargo de los coordinadores y profesores invitados, en donde se discutirán temas relacionados con la historia natural de los animales y plantas de cada lugar y planteando preguntas de relevancia ecológica.

Los días siguientes estarán dedicados a la realización de problemas de campo en pequeños grupos, los cuales estarán a cargo de los profesores invitados. Estos proyectos grupales tendrán como objetivo poner a prueba alguna pregunta de relevancia ecológica en 2 días de trabajo de campo. Luego se realizarán los proyectos independientes, en los cuales los estudiantes plantearán sus propias preguntas biológicas y desarrollarán su investigación de manera independiente.

Todas las noches serán ocupadas para conferencias de los profesores invitados, coordinadores y asistentes, sesiones de trabajo y discusiones, o se preparan informes de los trabajos realizados. Algunos días serán designados para presentaciones de estudiantes y minisimposios en los cuales se harán presentaciones orales de los resultados de los proyectos. Tanto en los proyectos de grupo como en los independientes, se dará énfasis a la concepción teórica del problema, el análisis estadístico de los datos y su interpretación biológica.

Costos y Becas para el Curso

Este primer curso Ecología Tropical y Conservación de Ecosistemas Amazónicos esta siendo desarrollado por la Universidad Amazónica de Pando – UAP y The Field Museum of Natural History, y los costos del Curso (transporte a la EBT, alimentación y hospedaje en el campo) serán cubiertos por la Universidad. Por lo que la UAP otorgará becas para este curso. Estas becas serán distribuidas de acuerdo a los méritos profesionales, potencial académico y grado de utilización que la becaria o el becario dará a los conocimientos adquiridos. Se velará también por la equidad con respecto a disciplinas, género y los países representados.

El transporte hasta la ciudad de Cobija corre por cuenta del estudiante en todos los casos, así como otros gastos personales y hospedaje.
Los estudiantes seleccionados deberán estar por lo menos un día antes del inicio al curso para coordinar aspectos logísticos y técnicos.
Todos los estudiantes seleccionados deberán realizar un pago de 20 $us para gastos administrativos y trámites; además, deberan traer equipo para acampar.

Solicitudes

Únicamente se considerarán las solicitudes que lleguen completas hasta el 8 de septiembre del 2006. La notificación de resultados de la selección se realizará a más tardar el 18 de septiembre del 2006.

INSTRUCCIONES DE SOLICITUD DE ADMISIÓN

1. La fecha límite de recepción de solicitudes es el 8 de septiembre del 2006.
2. Solicitud electrónica: Toda solicitud deberá hacerse llegar vía electrónica a las siguientes direcciones: cvriesendorp@fieldmuseum.org y jrojasguaman@yahoo.es Para esto deberá enviar como documentos adjuntos :

· Formulario de Solicitud de Admisión (debidamente llenado),
· Una carta amplia que describa su proyección académica/profesional y razones para tomar el curso,
· Curriculum vitae corto (máximo cuatro páginas).

Tanto el formulario de solicitud, como los otros documentos deberán ser enviados como anexos a los correos electrónicos , con el siguiente nombre: CURSO ECO TROP PANDO.

Importante: El estudiante seleccionado deberá comprobar mediante el envío de copias, la validez de sus Curriculas y realizar un pago de 20 $us para gastos de administrativos y trámites

3. Si tiene alguna pregunta sobre el proceso de selección, por favor escriba a <>, o comuniquese a al centro de Investigación y Preservación de la Amazonia (CIPA) de la Universidad Amazónica de Pando (UAP) al teléfono (591 – 3) 842 3958

25 agosto 2006

Os Katukina e o Kampô

Homero Moro Martins, estudante de pós-graduação do Departamento de Antropologia da UNB, concluiu em maio passado sua tese de doutorado. Com o título de "Os Katukina e o Kampô: Aspectos etnográficos da construção de um projeto de acesso a conhecimentos tradicionais", a mesma já foi disponibilizada na internet em sua integridade.

Abaixo apresento o resumo da tese:

Os Katukina, grupo indígena de língua pano que habita o alto vale do rio Juruá, no estado do Acre, estão atualmente envolvidos no Projeto Kampô. Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, o projeto visa o acesso a um conhecimento tradicional indígena associado a recursos genéticos: trata-se do uso da secreção do anuro Phyllomedusa bicolor, a que os Katukina chamam de kampô. Este trabalho visa analisar alguns aspectos do campo de relações e disputas interétnicas que sustentam a construção do Projeto Kampô. Com este objetivo, são abordados: o contexto político internacional que propicia aos povos indígenas a possibilidade de controlarem o acesso a seus saberes; os aspectos históricos e sociológicos dos Katukina e as tensões com outros grupos pano que compartilham o conhecimento sobre o kampô; os caminhos que levam a "vacina do sapo" a ser conhecida e utilizada além das fronteiras indígenas, propiciando o surgimento do projeto; e, finalmente, as estratégias políticas e culturais dos Katukina na atualização dos usos e propriedades usuais do kampô sob a linguagem dos "conhecimentos tradicionais". Assim, o Projeto Kampô, quando observado sob o ponto de vista nativo, se apresenta como um evento que reafirma o potencial katukina de instrumentalizar vantajosamente sua cultura, a partir de seus referenciais cosmológicos e de seus interesses políticos, para, deste modo, socializar o exterior - elemento indispensável à constituição do universo social pano -, representado pelo branco.

IMAZON: LICENÇA PARA DIVULGAR INFORMAÇÕES

Prezados Senhores,

Meu nome é Evandro Ferreira e sou responsável pelo blog AMBIENTE ACREANO (www.ambienteacreano.blogspot.com), onde procuro divulgar notas, resumos e informações científicas relacionadas ao meio ambiente local, regional e nacional.

Tenho acompanhado o trabalho do IMAZON, que sempre tem disponibilizado artigos com qualidade e pertinentes com a nossa realidade. Desta forma, gostaria de solicitar ao IMAZON permissão formal para DIVULGAR no blog AMBIENTE ACREANO os resultados de pesquisas do IMAZON disponibilizados em sua página web.

Na certeza de contar com v. colaboração, subscrevo-me atenciosamente.

Evandro Ferreira

.........................
Prezado Evandro,

Ficamos contentes com seu interesse em nossos produtos científicos. Todas as informações contidas em nosso site estão disponíveis para uso público, desde que haja referência ao Imazon e citação de autoria quando pertinente.

Atenciosamente,

Brenda Brito
Imazon - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
Pesquisadora Assistente e Vice-Secretária Executiva/
Assistant Researcher and Vice-Executive Director
Fone/ Phone: 55 91 31824000 Fax: 55 31824027
Visite/Visit: www.imazon.org.br

PECUÁRIA EM RESERVA EXTRATIVISTA!

Nestas duas últimas semana tivemos a oportunidade de visitar várias comunidades na RESEX Cazumbá-Iracema com o objetivo de explicar um projeto pesquisa e desenvolvimento que deverá ser executado pela UFAC, Ibama, Embrapa, Seprof e INPA. O apoio financeiro é do governo Italiano.

Durante as visitas os pesquisadores e extensionistas das instituições acima apresentavam, de forma breve, seu plano de trabalho usando como único auxílio didático um flip-chart. Entre todos os que "se apresentaram", sem a menor dúvida o mais criativo foi o Barrinhos (Professor Raimundo Barros, hoje na Embrapa), que era o responsável pela ação relativa à reordenação da pecuária na Reserva.

Vejam na imagem ao lado um desenho no qual ele retrata com extrema precisão, e humor, a situação da pecuária na Reserva. Na parte de cima do desenho o boi - super magro - está usando um óculos verde para enxergar pasto verde, que na prática não existe. Na parte de baixo do desenho é retratada a situação que se quer chegar: pasto de qualidade, consorciado com leguminosas, o gado gordo.

Vejam nas imagens abaixo o estado atual das pastagens que encontramos na Reserva. Não existe mais pasto para o gado. A saída é vender todo o plantel. De outra forma o mesmo vai morrer de fome.

Parece irracional criar boi em Reserva Extrativista. Mas é uma necessidade. Mas ninguem por lá vai ter a chance de virar fazendeiro. Isso ficou bem claro durante nossas reuniões quando o IBAMA, através dos técnicos Missias e Vilani, disseram em alto e bom som que vai ser imposto um limite na quantidade de cabeças que cada família extrativista da reserva vai poder criar:

- A reserva foi criada para abrigar extrativistas! Aqueles que discordarem serão convidados a sair caso insistam em virar fazendeiros!

É um dilema para muitos destes extrativistas. Logo ao lado, digo, do outro lado de um ramal de acesso à Reserva, o INCRA criou um projeto de assentamento agrícola. Lá os pequenos agricultores podem abrir áreas para criar gado, sem a pressão que os extrativistas sofrem dentro da Reserva.

Torço para que os extrativistas não desistam de ser extrativistas e se mudem para o projeto do INCRA.

24 agosto 2006

DE ONDE VEM A FUMAÇA QUE COBRE RIO BRANCO?

De Rondônia e da Bolívia! Trazidos pela frente fria que sobe do cone sul.

Uma foto (ou imagens de satélite) vale por mil palavras. As três imagens abaixo foram obtidas pelo satelite da NASA (Modis Terra) no dia 23 de agosto.

Rondônia

Como sempre levando o prêmio do destaque negativo, ou como eles interpretam: derrubando, queimando e levando o "progresso" para a terra deles.

Vejam como o vento empurra a fumaça das centenas de focos de calor de lá para o sul do Amazonas e Acre. Um detalhe: uma grande quantidade de focos são registradas na região de Guajará-Mirim.

Bolívia

Focos de calor na região central do País produzem fumaça que é enviada para o Acre e Rondônia.








Acre

Vejam como esse ano os focos de calor no Acre se cotam "literalmente" nos dedos das mãos.





22 agosto 2006

RONDÔNIA, TERRA SEM LEI MESMO!

Essa eu ouvi em uma roda de amigos e desconhecidos neste final de semana.

Um fazendeiro que estava de visita em Rio Branco comprou uma área "virgem" na região do Abunã e resolveu abrir uma "pequena" clareira de 100 hectares para construir a sede da futura fazenda. Obviamente que tudo feito "por cima da pausada", como costumamos dizer aqui pelo Acre. Sendo claro: sem qualquer tipo de licença.

Confiando no isolamento e dificuldade de acesso à área, ele achou que poderia fazer lá o que se costuma fazer em outros lugares: contratar um time de peões e mandar ver: derrubar e queimar sem dar bola para ninguem. Desta vez não colou. Os satélites não deixam passar mais nada desapercebido, nem mesmo uma pequena derrubada de 100 hectares.

Resultado. Polícia Federal e Ibama foram ao local para as providências de praxe. Os desmatadores foram pegos no flagra, digo, os badecos que apenas cumprem as ordems para desmatar. Obviamente que a terra está em nome de terceiros e o dono "verdadeiro" dificilmente vai ser penalizado. Até pensei que ele iria sair impune. Mas ao final da conversa ouvi algo diferente, inédito: segundo os presentes os homens do estado não apenas lavraram as multas. Eles derramaram centenas de litros de gasolina, confiscaram as motosserras, um motor de luz, etc.

Fiquei pensando sobre o porque de tal ação. Cheguei à conclusão que mesmo os homens da lei ficam frustrados. Imagine, andar horas em ramais esburacados, caminhar floresta adentro correndo todo tipo de riscos para simplesmente preencher um formulário, entregar a alguem (que nunca é o dono e nunca vai ser responsabilizado por nada) e dizer:

- Tá multado!

Na prática isso é como um teatro, com a diferença que desta vez a TV Globo não estava lá para mostrar o duro serviço que eles cumpriram. Enquanto eles se matavam lá no mato, o verdadeiro responsável provavelmente estava na cidade, passeando em sua caminhote de luxo.

Levando motores, motosserras e outros bens de alto valor pode até ser ilegal, mas parece sensato. Cedo ou tarde o verdadeiro dono vai ter que aparecer para tentar reavê-los. Ai sim, ele vai ter que pagar pelo que fez.

Mesmo assim, era consenso entre os que conversavam ao meu lado que a ação dos homens da lei foi brutal, ilegal...afinal o amigo deles estava apenas abrindo a clareira para a sede da fazenda dele...

21 agosto 2006

CÉU DE BRIGADEIRO

As chuvas, a crise econômica, a pressão das autoridades, tudo tem contribuído para que, até o presente momento, o ano de 2006 não apresente o quadro desastroso que testemunhamos no ano passado. Vejam no gráfico ao lado a evolução dos focos de calor detectados no ano passado.

O que temos visto este ano é "nada" perto do que vimos em 2005...melhor assim.

Para finalizar, um detalhe que vale a pena comentar. No ano passado, quando a situação ficou fora de controle, o governo resolveu proibir as queimadas. Observem no gráfico que após a proibição a quantidade de queimadas aumentou ainda mais. Ninguem deu bola para a ordem "estatal". Este ano a ordem veio antes da temporada de queimadas.

O "teste" da ordem estatal deste ano vai ser daqui a duas semanas, quando iniciar o mês de setembro. É entre 1-15 de setembro que os acreanos "da gema" tradicionalmente queimam. Vamos esperar para conferir, mas não vamos esperar sentados. Devemos estar vigilantes e denunciar derrubadas e queimadas ilegais. IMAC, SEMEIA e IBAMA estão a postos.

Fonte: Sumaia Vasconcelos. Quando e onde as queimadas ocorrem no Acre. Palestra proferida em 13 de feveiro de 2005. Rio Branco-Ac.

19 agosto 2006

ONDE ESTÃO OS RESULTADOS?

Abaixo reproduzo nota publicada no jornal Página 20 de hoje, 19-08. A nota informa que 34 teses de mestrado foram concluídas na Fundhacre no ano passado. São 34 dissertações! É mais do que muitas universidades de pequeno porte conseguem produzir Brasil afora...Para quem milita no meio científico podemos dizer, com todo o respeito, que são quilos e quilos de material científico...mas onde foi parar tudo isso? Onde estão os resultados para serem divulgados? Quais os benefícios que os projetos de pesquisa desenvolvidos com apoio financeiro do Estado estão efetivamente trazendo?

É óbvio que o título de mestre atende muitas vezes mais o interesse pessoal dos mestrandos pois geralmente significa aumento de salário, mas nesse caso, considerando a carência de informações científicas na área de saúde no Acre, é relevante os responsáveis pelo programa de pós-graduação divulgarem os resultados de forma mais ampla para a nossa sociedade. Aliás, se bem planejado, esta quantidade enorme de dissertações teria um efeito grande nas políticas de saúde pública do Estado.

Não tenho idéia dos temas desenvolvidos, mas imagino que ninguem perdeu tempo estudando coisas do tipo: ...“Avaliação autônoma cardiovascular em indivíduos portadores de lesão medular”. Temas como esse não contribuem muito para resolver os graves problemas de saúde pública do Acre. Por outro lado, estudos de temas do tipo..."Razões do curto periodo de aleitamento materno praticado pelas mães de Rio Branco...", "Eficiência do atendimento ambulatorial prestado pelas unidades de saúde instalados na zona rural dos municípios acreanos..."Morbimortalidade por acidentes de trânsito e sua
associação com variáveis sociodemográficas e comportamentais
...". Quero dizer o seguinte: os temas dessas dissertações deveriam ser decididos em função das necessidades de informações para subsidiar políticas estatais.

Se alguem souber como se pode ter acesso a esse material favor me informar que gostaria de publicar no blog.

................................................
Fundhacre oferece dez vagas para mestrado e oito para doutorado

Cristiane Ávila
Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre) recebe inscrições para o exame de seleção dos cursos de mestrado e doutorado para o programa de qualificação do quadro pessoal do governo do Estado do Acre, restrita a funcionários da Secretaria de Estado de Saúde/Fundhacre. O curso será voltado à área de biologia de agentes infecciosos e parasitários, com provas marcadas para o dia 14 de setembro.

O convênio oferecerá dez vagas para o mestrado e oito para o doutorado. De acordo com o gerente de ensino da Fundhacre, Osvaldo Leal, o programa tem o intuito de reforçar o setor de medicina tropical, fazendo pesquisas focadas nas doenças comum na região da Amazônia, para que dessa forma possam trazer respostas as epidemias como chagas, hepatite, leishmaniose, malária e micoses.
A seleção terá três etapas: prova escrita - com nota mínima sete -, entrevista e avaliação de currículo. Os cursos terão início em outubro, com a duração de três anos para o doutorado e dois para o mestrado, sem contar com a apresentação da defesa da tese, lembra Osvaldo.

Há seis anos o convênio vem abrindo oportunidade para o campo de pesquisa, dessa forma ajudando na qualificação dos funcionários. Sua primeira parceria foi com a Universidade de Brasília (UnB), no setor de Medicina Tropical, formando seis mestres. O segundo foi com a Universidade da Bahia (UFBA) na área de Medicina e Saúde, concluído no ano passado com 34 mestres. Este ano o programa fez parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), abrindo dez vagas para o mestrado e oito para o doutorado, explica Leal.

18 agosto 2006

ATIVIDADES ANTIMICROBIOLÓGICAS DOS EXTRATOS E FRAÇÕES OBTIDOS ATRAVÉS DE SOLVENTES ORGÂNICOS DA CASCA DA Himatanthus cuuba DO VALE DO ACRE

SUCUUBA: DE ONDE VEM O PODER MEDICINAL DESTA PLANTA?

INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata de um estudo fitoquímico e atividade antimicrobiológica dos extratos e frações da casca do tronco da espécie Himatanthus sucuuba realizado entre o período de 01 de agosto de 2005 a junho de 2006. A H. sucuuba pertence à família Apocynaceae e é usado popularmente contra diversos males estomacais. O conhecimento das atividades antimicrobiológicas dos extratos podem indicar o uso mais racional na posologia desta espécie Uma vez que o seu uso inadequado pode causar efeitos colaterais.

Este trabalho foi realizado com duas amostras da casca do caule da planta, sendo que uma coleta foi próximo ao município de Porto Acre e a outra na fazenda Guarany, localizada na BR-317 Km30, próxima ao município de Capixaba. Após serem pesadas, as amostras foram secas em estufa à temperatura de até 50ºC e, posteriormente, triturada e novamente pesada. Foram colocadas em infusão em etanol 98ºGL, o material foi filtrado e o liquido filtrado foi evaporado, retendo assim o extrato bruto etanólico. O etanol condensado na evaporação foi reaproveitado para nova extração, repetindo a extração etanólica exaustivamente. A partir do extrato etanólico bruto e seco da planta, foram realizados os fracionamentos com solventes em ordem crescente do seu gradiente de polaridade (hexano, clorofórmio, éter etílico, acetato de etila). Com a fração etérea da primeira coleta e da fração clorofórmica da segunda coleta, foram realizadas cromatografias em coluna, que é uma técnica utilizada para isolamento de constituintes de extratos vegetais. Após obtenção das frações da cromatografia em coluna foram realizadas cromatografias em camada delgada. Nas placas cromatográficas observou-se sinais da presença das substâncias HS7, HS8 e HS5 já observadas em pesquisas anteriores. O isolamento destas substâncias na sua forma pura ainda não foi possível. Com as frações obtidas a partir do extrato etanólico bruto foram realizados testes microbiológicos, através do método de difusão em meio sólido frente a bactérias Gram positivas (Bacillus subtilis; Staphylococcus aureus), Gram negativas (Klebsiella pneumaniae; Escherichia coli), álcool-ácido-resistentes (Mycobacterium phlei) e um fungo leveduriforme (Candida albicans).

RESULTADOS

Os resultados demonstraram que as bactérias testadas foram resistentes a todas as frações analisadas, com exceção de K. pneumoniae que apresentou sensibilidade à fração clorofórmica com um halo de 9mm nas primeiras 24 h, mantendo a sensibilidade após 48 h de crescimento. O fungo leveduriforme apresentou sensibilidade à maioria das frações analisadas, exceto a de acetato de etila, na fração hexânica observou-se um halo de 9mm, na fração clorofórmica um halo de 9mm e na fração etérea um halo de 8mm nas 24 h, e mantendo após 48 horas. Como controle, o antibiótico Imipinem é usado como padrão de comparação por apresentar sensibilidade às bactérias.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos na realização deste trabalho sugerem que a planta em estudo realmente apresenta algum poder medicinal. Mas, fazem-se necessários maiores estudos para podermos afirmar se é apenas uma substancia que tem poder medicinal ou um sinergismo das frações da planta Himatanthus sucuuba como um todo. É importante a continuidade da pesquisa no sentido da eficiência da casca do caule ou se outras partes da planta são tão eficientes quanto a casca. Isto deduziria que os famosos chás também poderão ser feitos com as outras partes da plantas não sendo somente da casca.

Autores: Dymile Gonçalves Moreira (Bolsista do PIBIC/CNPq/UFAC–2005/2006) e Ilmar Bernardo Graebner (Orientador, Departamento de Ciências da Natureza). ATIVIDADES ANTIMICROBIOLÓGICAS DOS EXTRATOS E FRAÇÕES OBTIDOS ATRAVÉS DE SOLVENTES ORGÂNICOS DA CASCA DA Himatanthus cuuba DO VALE DO ACRE. Anais do XV Seminário de Iniciação Científica PIBIq-CNPq , Universidade Federal do Acre, Rio Branco-Acre, 2006.
Financiador: CNPq / PIBIC / UFAC.

17 agosto 2006

EFEITOS DA SUCESSÃO FLORESTAL SOBRE A FLORA E A ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO

INTRODUÇÃO

Sucessão secundária é o fenômeno pelo qual, a vegetação sofre transformações na sua estrutura e composição ao longo do tempo e espaço. Ela tem sido abordada de duas formas principais: amostragens em séries temporais e cronosseqüências. Cronosseqüência é um conjunto de áreas que se encontram em diferentes estágios sucessionais dentro de um gradiente. Existe uma relação entre perturbação, sucessão e estrutura da vegetação. Dois elementos associados à estrutura da vegetação são a complexidade e heterogeneidade. Há um aumento na riqueza florística no transcurso do processo de sucessão. Estas abordagens fornecem suporte para estudos sobre a relação entre a estrutura da vegetação e outros componentes bióticos e abióticos do ecossistema. Poucos estudos foram feitos no Brasil dentro desta abordagem no Acre apenas dois estudos foram realizados. Assim, esse trabalho tem como objetivo verificar a riqueza, composição florística e estrutura geral da vegetação de áreas íntegras e experimentalmente perturbadas que se encontram em diferentes estágios sucessionais.

O trabalho foi realizado na Reserva Experimental Catuaba, localizada em Rio Branco/ Acre, no período de agosto de 2005 a maio de 2006. Os dados foram coletados em unidades amostrais constituídas por quatro tipos de ambientes (tratamentos): sucessão (área experimentalmente desmatada e queimada), capoeira, mata e matriz (entorno da reserva). Estes foram repetidos três vezes. A amostragem foi realizada nos períodos seco e chuvoso.

RESULTADOS

Foram identificadas 61 famílias de plantas e registradas 223 morfoespécies. Desde as primeiras amostragens em 2002 até maio de 2006 foram registradas, ao todo, 69 famílias e 341 morfoespécies. Nas áreas de sucesssão 1, 2 e 3 foram encontradas, 16, 31 e 26 famílias e 25, 56 e 47 morfoespécies, respectivamente. Em Capoeira 1, 2 e 3 foram encontradas 31, 38 e 30 famílias e 52, 61 e 52 morfoespécies, respectivamente. Nas matas 1, 2 e 3 foram encontradas 39, 36 e 39 famílias e 87, 78 e 105 morfoespécies, respectivamente. Nas matrizes 1, 2 e 3 foram encontradas 14, 12 e 23 famílias e 21, 16 e 23 morfoespécies, respectivamente. Dentre as espécies registradas, 35,4% são madeireiras. As famílias mais especiosas foram Caesalpiniaceae e Moraceae, ambas com 20 morfoespécies. As áreas que apresentaram maior valor de área basal foi a mata 3 (x = 74,67 m2/ha) e com menor valor a sucessão 1 (x = 2,24 m2/ha). As áreas que apresentaram maior variação de área basal foi a mata 2 (s = 38,54) e mata 3 (s = 91,26).

CONCLUSÃO

As áreas de capoeira apresentaram maior riqueza florística e maior área basal em relação as áreas que estão no início do estágio sucessional (sucessão), mas valores inferiores em relação as áreas clímax (mata). Este resultado tem sido encontrado em outros estudos. As áreas de mata que estão num estágio sucessional mais avançado apresentaram maior riqueza florística e maior área basal. Sendo assim, essas áreas devem apresentar uma maior complexidade estrutural e funcional.

Autores: Clívia Bezerra Araújo (Bolsista do PIBIC/CNPq/UFAC–2005/2006) e Elder Ferreira Morato (Orientador, Departamento de Ciências da Natureza). EFEITOS DA SUCESSÃO FLORESTAL SOBRE A FLORA E A ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO. Anais do XV Seminário de Iniciação Científica PIBIq-CNPq , Universidade Federal do Acre, Rio Branco-Acre, 2006.

Financiador: CNPq / PIBIC / UFAC.

16 agosto 2006

ESTUDO ETNOLINGÜÍSTICO DO VALE DO ACRE, JURUÁ E PURUS

INTRODUÇÃO

A pesquisa Estudo Etnolingüístico do Vale do Acre, Juruá e Purus visa contribuir com os estudos dialectológicos do Acre, colaborar na elaboração do Atlas Lingüístico do Acre - ALAC e do Atlas Lingüístico do Brasil - ALiB. Recolheu-se, através desse estudo, dados a respeito da vida e dos costumes do seringueiro acreano em seu dia-a-dia e as dificuldades enfrentadas por ele na floresta.

Para tal, utilizou-se dezoito inquéritos do questionário geral (já publicados) que descreve a linguagem falada pelo seringueiro acreano nos três Vales delimitados pela pesquisa nas nove Zonas a saber: Vale do Acre (Rio Branco, Plácido de Castro e Xapuri); Vale do Purus (Sena Madureira, Manuel Urbano e ­­­Assis Brasil); Vale do Juruá (Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul). Foram entrevistados informantes dos sexos masculino e feminino, todos acreanos, filhos de pais acreanos, analfabetos e nas faixas-etárias A (18 a 25 anos), B (26 a 35 anos) e C (36 a 80 anos). A confecção e análise das cartas léxicas foram baseadas nos pressupostos teóricos da Dialectologia Social, da Lexicografia e da Lexicologia. Para tal, delimitou-se os seguintes campos semânticos: 1) palavras relativas ao corte da seringa; 2) palavras relativas aos utensílios usados no corte da seringa; 3) palavras relativas à comercialização da borracha; 4) palavras relativas aos locais da atividade extrativista; 5) palavras relativas aos meses, estações do ano e fases da lua propicias para a extração e plantação do látex; 6) palavras relativas aos remédios e doenças do seringueiro; 7) palavras relativas à religião, fé e crença do seringueiro; 8) palavras relativas à estrada de seringa; 9) palavras relativas ao trabalho do seringueiro com a borracha; 10) palavras relativas aos hábitos alimentares do seringueiro; 11) palavras relativas à plantação; 12) palavras relativas à caça; 13) palavras relativas à pesca; 14) palavras relativas à moradia; 15) palavras relativas aos meios de transporte; 16) palavras relativas à qualificação (adjetivos); 17) palavras relativas aos advérbios terminados em – mente; 18) palavras relativas à diversão do seringueiro. Na elaboração das cartas léxicas seguiu-se o método cartográfico utilizado pelo Atlas Lingüísticos já publicados e o programa computacional AUTO-CAD.

RESULTADOS

Obteve-se da pesquisa um total aproximado de 490 lexias, a maioria simples como lamparina, suador, estopa, mastruz e bandeira, outras compostas como quina quina, vento caído, pano virgem, perna direita, estrada bruta, e algumas complexas cara-de-gato, mãe-da-seringueira e boca-da-estrada. Fez-se também, uma análise comparativa diatópica, diafásica e diastrática nas Zonas de pesquisa, através de planinhas específicas para este fim.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a linguagem do seringueiro acreano está intrinsecamente ligada ao meio físico-social ao qual ele pertence, pois seu vocabulário reflete seus hábitos, costumes, modo de viver e de ver as coisas. Verificou-se, ainda, que a linguagem do seringueiro do Vale do Acre, próxima da capital Rio Branco é mais inovadora que a do seringueiro que vive nos Vales do Purus e Juruá que é mais conservadora.

Autores: Iva Carla Pinto da Silva (Bolsista do PIBIC/CNPq/UFAC – 2005/2006) e Adailton de Sousa Galvão (Orientador, Departamento de Geografia), Márcia Verônica Ramos de Macêdo Sousa (Professora Colaboradora), Wiema Kédila Barbosa de Sousa (Aluna Colaboradora, Departamento de Geografia). ESTUDO ETNOLINGÜÍSTICO DO VALE DO ACRE, JURUÁ E PURUS. Anais do XV Seminário de Iniciação Científica PIBIq-CNPq , Universidade Federal do Acre, Rio Branco-Acre, 2006.

Financiador: CNPq / PIBIC / UFAC.