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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

30 setembro 2006

"Presidente regional do PTC, suplente de senador Walter Damasceno, disse ontem que o candidato da Frente da Cidadania ao governo, ex-deputado federal Marcio Bittar (PPS), disputa a eleição com uma quadrilha e, ao mesmo tempo, com uma organização criminosa."

Jornal o Rio Branco, 30/09/2006

Vale tudo!
Além de achincalhar a justiça eleitoral, acusando-a de parcial, a oposição chama seus adversários de quadrilheiros e criminosos. Eles devem estar certos da vitória. Também devem estar achando que a justiça "está" com eles.
Ninguem faz nada, ninguem reage...quem cala consente!

"Todo mundo sabe que há uma guerra interna na PF, que há uma republicana e outra “reputucana”, que agiu, por exemplo, na divulgação das fotos de dinheiro obtidas no escritório de Roseana Sarney, em 2002, fazendo sua candidatura naufragar em favor da de José Serra.

Pela oportunidade do fim de campanha, a obtenção dessas fotos lembra também a armação de 1989, quando os seqüestradores do empresário Abílio Diniz foram forçados a vestir camisetas do PT, e o partido foi responsabilizado pelo crime, com cobertura espalhafatosa e incriminatória em toda a mídia conservadora nacional."

Sobre como a mídia conservadora conseguiu fotos do dinheiro que serviria para comprar o dossiê Vedoin/Serra/Barjas Negri.

Flávio Aguiar – Carta Maior, 30/09/2006

HELICOPTERO FEZ POUSO FORÇADO. ADIVINHEM DE QUEM É A CULPA?

PARA O PSDB-PFL O CULPADO É O PT!

GRANDES REDES DE COMUNICAÇÃO VÃO DEIXAR A ENTENDER A MESMA COISA!

Eles não desistem. Ontem, o fato para prender a atenção da população foram as fotografias do dinheiro que seria usado para comprar o dossiê em que José Serra aparece confabulando com os deputados sanguessugas e os inventores do esquema, membros da família Vedoin.

Hoje, o novo fato seria o incidente com o helicóptero que levava o presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o candidato ao governo de Alagoas pelo PSDB, senador tucano Teotônio Vilela Filho, e seu vice, José Wanderley Neto.

Sem pestanejar, sujos e assustados com o incidente, os passageiros e piloto, liderados pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, alegaram que irão acionar o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, por suspeita de sabotagem.

Claro que a Globo correu para dar destaque a este fato. A maior esperteza da emissora é que está fazendo os repórteres falarem desse inexpressivo incidente junto com comentários sobre o acidente da Gol. Primeiro falam do helicóptero e depois do acidente com o avião da Gol. É para dar ibope já que todo mundo quer saber o que se passou com o avião da Gol. Só no Brasil...

Alguem precisa avisar a Renan Calheiros (e o resto da imprensa a serviço do PFL-PSDB) que quem investiga acidentes aéreos no Brasil não é o Ministério da Justiça e nem a PF. É o CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão ligado ao Comando da Aeronáutica. Lá não tem político e politiqueiros. Seus técnicos altamente capacitados e sérios têm um único objetivo: mostrar a verdade, para salvar vidas no futuro.
Portanto, politicagem lá não tem vez.

Portanto leitores, esperem para hoje a noite, os cardeias do PFL-PSDB nos principais telejornais e edições em internet dos jornais (ou seus asseclas que se passam por jornalistas escrevendo em Blogs associados), dando amplo destaque, sugerindo que o culpado pelo incidente seria alguem do PT. E que Thomaz Bastos tem que assumir a investigação...

Claro que depois que for descoberta a real fonte do problema, a mesma imprensa não vai dar o mesmo destaque, nem irá pedir desculpas aos telespectadores e leitores pela "barrigada".

A ironia de tudo é que há pouco mais de uma semana, no dia 19, um helicóptero que levava o coordenador da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Ceará, Ilário Marques, e mais três pessoas, caiu em em Guaiúba (região metropolitana de Fortaleza).

Ninguem do PT se arvorou em culpar o PSDB. Nem adiantava pois se tivessem sido maliciosos, não teria dado manchete e chamadas em telejornais...

O azar da imprensa a serviço do PFL-PSDB é que ontem caiu o avião da Gol. Agora vão ter que passar o resto do dia tendo que mostrar fotos, fatos, entrevistas, etc, sobre este acontecimento lamentável. Vão fazer a contragosto.

Devem estar falando - sobre o acidente da Gol estar atrapalhando o plano deles: que m...!

PALMEIRA BACABA

Vinho de bacaba (Oenocarpus mapora H. Karsten) é tão bom quanto o de açai. Vejam que meus amigos desta localidade no Rio das Minas (tributário do rio Juruá), estão "brigando" pelo cacho com frutos madurinhos...

A bacaba é uma palmeira botanicamente classificada no mesmo grupo do "patauá" e do "bacabão". É uma espécie muito abundante nas florestas acreanas, mas a oferta de frutos nos mercados das cidades acreanas é incipiente. Uma pena.

Quantas espécies de bacaba existem?

Quem vive no Amazonas sabe que lá também tem bacaba. No Pará, em Rondônia. Até na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso!

O nome bacaba tem sido aplicado a algumas espécies diferentes de palmeiras pertencentes ao gênero Oenocarpus: Oenocarpus bacaba (distribuida por toda a amazônia), Oenocarpu mapora (ídem), Oenocarpus balickii (Acre e região adjacente no Peru), Oenocarpus minor (sudoeste da Amazônia) e Oenocarpus distichus (toda a Amazônia e cerrado).

Já tive a oportunidade de ver, em seu ambiente natural todas elas. Mas ainda faltam a Oenocarpus makeru, Oenocarpus circumtextus e, a mais nova espécie do gênero: Oenocarpus simplex. As duas primeiras conhecidas de uma única localidade (La Pedreira, Rio Caquetá) na fronteira do Brasil com a Colômbia. A última é encontrada na Colômbia e ao longo do Rio Negro.

Quem quiser conhecer bacaba, informo que existem dezenas de pés plantados em residências de nossa cidade. No PZ da UFAC existe um plantio com mais de 20 plantas adultas e produzindo.

RONDÔNIA - CENAS DE POLÍTICA EXPLÍCITA

Lógica de favores, conexões globais, necessidade de forçar o cumprimento das leis e o ciclo vicioso da ocupação da amazônia que resulta no domínio privado do poder público

Parte 2


Dr. Carlos Walter Porto-Gonçalves (*)

A Amazônia, por ser a região que tem a maior proporção de terras públicas disponíveis é, por isso mesmo, a região onde o conflito é mais intenso. Mas esse não é um problema específico da Amazônia, pois são enormes as extensões de terras públicas sob domínio privado em todos os estados brasileiros, como não se cansa de chamar a atenção o Dr. Ariovaldo Umbelino de Oliveira, geógrafo e professor da USP. A diferença amazônica é que, até recentemente, as terras estavam ocupadas por populações originárias, camponeses e quilombolas que, por serem filhos de ninguém e não filhos de alguém (fidalgos), nunca tiveram suas terras consagradas pelo poder público e, agora, isto é, desde a década de 1960, vem sendo alvo de ocupação por parte de grandes investimentos por parte dos pecuaristas, dos madeireiros, dos agro-negociantes e de outros grandes grupos empresariais da área de minérios, de turismo e dos eco-negociantes. Enfim, ali na Amazônia, a estrutura de poder ainda não está consolidada como nas outras unidades da federação. Ali, na Amazônia, as estruturas de poder ainda estão em construção, mas contém todas as características com que se formou no resto do país e que, ainda hoje, está subjacente às nossas estruturas de poder. Ou, então, como se explica que se estruture de dentro da cadeia um dos mais sofisticados complexos de poder do país, como é o caso do PCC em São Paulo? É o que demonstra a fina análise do sociólogo José Cláudio de Souza Alves em sua tese de doutorado defendida na USP intitulada Dos Barões ao Extermínio[4] que nos dá conta de como na Baixada Fluminense e no estado do Rio de Janeiro foram tecidas as relações sociais e de poder que se reproduzem por meio da violência e sua fonte estrutural a impunidade.


A impunidade, vê-se, não é algo acessório que possa ser eliminada mantendo-se intacta as relações sociais e de poder que se estruturaram com base no poder privado. Eis o dilema em que se encontram tantos que, de boa fé, bradam pelo fim da impunidade. A impunidade não é um fim. É um começo e, por isso, são inócuas as campanhas para acabar com ela sem que enfrentemos as estruturas que por meio dela se conformam. Na Amazônia é como se estivéssemos diante de “cenas de política explícita” para parodiar os filmes pornôs que nos parece a melhor metáfora para entender as relações sociais e de poder entre nós, brasileiros. Mas só tem sentido essa metáfora de “cenas de política explícita” se considerarmos que ela complementa o seu par necessário, qual seja, de que nas demais unidades da federação não-amazônicas temos cenas de política implícitas, isto é, já subjetivadas, incorporadas, naturalizadas.

Se tiver algo de positivo no recente episódio da prisão de autoridades ligadas aos três poderes no estado de Rondônia, isto se deve ao fato de iluminar os limites que, entre nós, temos para por fim à impunidade. Assim, mais do que dizer que a questão social é um caso de polícia, é preciso dizer que no Brasil a política, cada vez mais, se torna um caso de polícia. Talvez por isso, o Ministério da Justiça, o mais republicano dos ministérios do atual governo, em si mesmo um governo pouco republicano como os escândalos do mensalão e o triste fim da CPI do Banestado nos mostram, sob a responsabilidade do Dr. Marcio Tomás Bastos, se destaque tanto através do desempenho da Polícia Federal. A Polícia Federal talvez hoje a instituição brasileira de maior prestígio. Não poderia ser pior o retrato de nossa não-república.

Enfim, parodiando o poeta não só o Haiti é aqui, Rondônia também é aqui se é que queremos não nos esconder de nós mesmos.


(*) Doutor em Geografia e Professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense, Membro do Grupo Hegemonia e Emancipações de Clacso. Ex-Presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (1998-2000). Membro do Grupo de Assessores do Mestrado em Educação Ambiental da Universidade Autônoma da Cidade do México. Ganhador do Prêmio Chico Mendes em Ciência e Tecnologia em 2004 é autor de diversos artigos e livros publicados em revistas científicas nacionais e internacionais, em que se destacam: - “Geo-grafías: movimientos sociales, nuevas territorialidades y sustentablidad”, ed. Siglo XXI, México, 2001; “Amazônia, Amazônias”, ed. Contexto, São Paulo, 2001; “Geografando – nos varadouros do mundo”, edições Ibama, Brasília, 2004; “O desafio ambiental”, Ed. Record, Rio de Janeiro, 2004; “A globalização da natureza e a natureza da globalização”, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2006.



[4] Publicada em livro pelo SEPE-RJ - Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro. É uma pena que uma editora com boa distribuição nacional não tenha se interessado em publicar essa tese-livro.

29 setembro 2006

"Olho vivo, portanto. Essa pré-disposição de tucano-pefelistas-jornalismo conservador mostra que o verdadeiro foco do debate de hoje deve ficar também para amanhã: se trata tanto de saber como será o debate como que uso a frente conservadora fará dele na mídia. Vai se reeditar a vergonhosa manipulação de 1989?"
Flávio Aguiar, Agência Carta Maior, 28/09/2006

DIOGO MAINARDI DISSE: "NÃO SABIA QUE O ACRE TINHA INTERNET..."

"Você enfrenta mais de oitenta processos individuais num tribunal do Acre por ter dito em maio, durante o programa Manhattan Connection, que o Estado não vale um pangaré. Você não superestimou o valor do pangaré?

Mainardi: Consultando o site do tribunal do Acre, descobri que, na verdade, enfrento cento e quarenta processos. Eu nem sabia que o Acre tinha internet".

Trecho da entrevista do colunista para o site Nova Corja, 18/09/2006


Nota do blog: A entrevista foi publicada no dia 18/09, e deve ter sido realizada alguns dias antes. Pelo tom de cahcota, ele não está nem aí com os processos. Retratação jamais? De qualquer forma, acho que cedo ou tarde ele vai ter que tomar uma atitude. Vai que mais 100, 200 pessoas decidam ingressar na justiça? Nos EUA, onde dinheiro é tudo, casos como esse são decididos na base da grana que o perdedor tem que pagar para os ganhadores. O Brasil caminha na mesma direção. Se Mainardi gosta de grana (e acho que gosta), ele vai ter que fazer alguma coisa e logo. A conta do placar financeiro é a seguinte: R$ 7.000,00 x 140=R$ 980.000,00


LULA NÃO FOI AO DEBATE DA GLOBO. FEZ BEM!

O artigo abaixo, de Flávio Aguiar (Agência Carta Maior), deixa mais do que claro que o debate promovido pela rede Globo teria sido, se o presidente Lula tivesse participado, um verdadeiro massacre. Discussão de propostas não estava no script.

Na ausência de Lula, deu para ver o que os outros candidatos pretendem fazer, na improvável hipótese de um deles vir a ser eleito Presidente. Isso foi bom. Mesmo assim eles ainda ensairam um massacre virtual do Lula, mostrando por longos segundos a cadeira vazia com o nome de Lula. A coisa estava tão bem arquitetada que a promotora do debate (Globo) permitiu que se fizessem perguntas a uma pessoa que não estava presente, e deixou, propositalmente, o nome do ausente. Se todos sabíamos que o Lula não iria, porque a Globo insistiu em agir daquela forma. Ai tem coisa.

A resposta: estava tudo armado. O debate seria um palco no qual a direita conservadora do país (PSDB e PFL) pretendia, com apoio massivo da mídia nacional, desqualificar o candidato do PT perante a opinião pública brasileira, induzindo os eleitores a votar em seu candidato na esperança de levar a eleição para o segundo turno.

O fato de Lula não ter ido ao debate vai deixar estes conservadores ainda mais desconcertados. Se pudessem, eles teriam colocado um fantoche ou fariam um judas de Lula para poder apedreja-los durante o debate...Isto não é democracia. Deixem o povo decidir livremente quem ele quer para presidente da república!!!

O ÚLTIMO ESFORÇO

Flávio Aguiar - Carta Maior

SÃO PAULO - Boletim meteorológico de hoje: mídia conservadora continua a martelar imagens e afirmações constrangedoras para petistas. Conteúdo do dossiê Vedoin/Serra/Barjas permanecerá em banho-maria. Tenta-se criar um clima de constrangimento ao Presidente, calcando a possibilidade de erros que venham a favorecer adversários. A questão principal, portanto, é menos o debate em si e mais a manipulação que se fará dele.

Diante dos resultados das últimas pesquisas (Datafolha, Ibope, CNT/Sensus) as partes envolvidas preparam-se para o último esforço.
A direita, seja a coligação PSDB/PFL, seja a de seus arautos na mídia, prepara-se para agir onde se sente mais à vontade: na imprensa. As ações continuadas são:

1) Martelar sem tréguas imagens, afirmações, que comprometam o PT com o caso do dossiê

2) Manter em banho Maria a questão do conteúdo do dossiê;

3) Criar continuadas suspeitas sobre a lisura da ação da PF e focar as iniciativas de procuradores e do Ministério Público que ajudem a criar um clima de prévia condenação dos petistas, como o enigmático pedido de prisão preventiva dos membros da Operação Tabajara por parte do procurador Mário Lúcio Avelar, que primeiro pediu a prisão, depois negou que tivesse pedido, para afinal reconhecer que pediu;

4) Criar ao longo do dia de hoje a expectativa não só em torno do debate da Globo hoje à noite, mas sobretudo já apresentá-lo como o ponto de virada, a partir do qual a eleição pode tornar rumo diferente do que o mais provável: a reeleição de Lula, graças às acusações que terá de enfrentar ou aos (esperadíssimos pela direita) atos falhos que possa cometer.

Olho vivo, portanto. Essa pré-disposição de tucano-pefelistas-jornalismo conservador mostra que o verdadeiro foco do debate de hoje deve ficar também para amanhã: se trata tanto de saber como será o debate como que uso a frente conservadora fará dele na mídia. Vai se reeditar a vergonhosa manipulação de 1989? Vai se fazer chegar ao Presidente, diretamente, seja pela ação de Geraldo Alckmin, seja pela de Heloísa Helena, seja pela de Cristóvam Buarque, ou pela dos três em jogral, o clima de macartismo que reinou no último ano e meio na imprensa brasileira e no show televisivo das CPIs.

Estas são as armas e as disposições da direita em seu último esforço para levar a eleição para o segundo turno. E as esquerdas? Tudo vai depender, também, do comportamento da militância, cujo ânimo a campanha barulhenta da direita tenta abatumar. O fosso que separa o primeiro do segundo turno, de acordo com as pesquisas, oscila em torno de um número entre quatro e dez milhões de votos. Explico: se Alckmin conseguir tirar quatro milhões de votos de Lula e transferi-los para si, o que é difícil, mas não impossível, ainda com mais uma manipulação das imagens do debate, o segundo turno fica certo. Se Alckmin ou os outros candidatos atraírem para si 80% dos votos brancos, nulos e dos indecisos, a eleição também irá para o segundo turno, ainda mais se houver uma grande abstenção de eleitores de Lula, que é a principal esperança da direita.

Portanto o convencimento a comparecer às urnas, por parte da militância e dos eleitores de Lula, é também um fator decisivo na eleição.

MEDICINA INDÍGENA NO ACRE

Medicina indígena no Acre une tradição e ciência

Por André Gardini

19/09/2006

A participação do conhecimento médico tradicional no sistema de saúde indígena é cada vez menor. Entre os inúmeros fatores que podem influenciar esse quadro destaca-se a falta de diálogo entre as ciências médicas e os conhecimentos tradicionais. “O conhecimento produzido pela medicina científica é excludente, pois é entendido como a verdade absoluta”, analisa Maria Evanizia, gerente de planejamento estratégico da Secretaria dos Povos Indígenas do Acre. A Secretaria aposta na valorização da medicina indígena como forma de enfrentar os problemas de saúde dos povos da região.

A legitimidade dos saberes médicos de índios e profissionais de saúde está em jogo nessa questão: “é muito complicado para um médico que passa 10 anos em uma universidade querer respeitar um pajé, por exemplo. Isso tem sido, de certa forma, um empecilho”, afirma Evanizia, e continua, “eu acredito que por conta disso, algumas comunidades e regiões têm se enfraquecido nos usos das práticas tradicionais, pois algumas pessoas preferem usar uma pílula do que ir à floresta e colher uma erva”. A medicina científica ganha ainda mais potência de verdade quando pensada no contexto da globalização econômica e do fortalecimento da indústria farmacêutica.

Evanizia conta que os problemas relacionados à saúde indígena são bastante discutidos. “No Acre somos 14 povos, cada um com uma realidade diferente, cada centro indígena com uma característica própria. Somos aproximadamente 15 mil indígenas só no estado”. Como uma integrante do povo Toyanawa, Evanizia destaca que as políticas públicas de saúde indígena do estado procuram trabalhar respeitando o conhecimento científico e o tradicional. Uma aposta no diálogo entre esses conhecimentos como forma de garantir a permanência das práticas tradicionais entre as comunidades. A união entre cultura e ciência poderia também minimizar a hierarquia que se estabelece entre esses saberes. “Nós entendemos que ambos são conhecimentos e se inter-relacionam, ou seja, o conhecimento científico depende do tradicional e o tradicional do científico”.

O Acre tem em sua história dados preocupantes. Em 2004, o estado registrou o maior número de mortalidade infantil entre os índios. Apenas o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Rio Juruá (AC) chegou a 115 mortes por mil nascidos vivos, enquanto no conjunto da população brasileira, o índice de mortalidade infantil fica em torno de 29 mortos em cada mil crianças nascidas vivas (Censo IBGE 2000).

A Fundação Nacional de Saúde (Funasa), desde 1999, é responsável pela atenção à saúde dos povos indígenas. Nesse sentido, Evanizia dispara algumas críticas quanto à forma de gerenciamento dos recursos pela Funasa. Ela explica que o programa de saúde usado pelos índios é o Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar da Funasa ter um recurso específico para a saúde dos povos indígenas, o atendimento aos índios é feito dentro do SUS. “Estamos sentindo um certo conflito, porque quando foram escolhidos os agentes de saúde para fazerem a capacitação dos agentes da comunidade, não foram levadas em consideração as estruturas que existiam nas aldeias. O pajé era um médico da aldeia, assim como as parteiras. Isso gerou um certo descontentamento dos pajés”, explica. Para ela, a saída para esses problemas é fortalecer a cultura indígena, desde o artesanato e a dança, até as práticas médicas tradicionais, e reconhecê-la como produtora de saberes legítimos. (Leia mais na reportagem Saúde: Índio quer controle social)

No Alto do Rio Negro

O estudo de caso feito na região do Alto Rio Negro pelo pesquisador Renato Athias, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), indica que as mortes entre os índios naquela região podem estar relacionadas à redução da transmissão de saberes médicos tradicionais entre eles. Em sua opinião, a união entre o saber tradicional e o saber científico é necessária e pode trazer benefícios para profissionais da saúde e povos indígenas. “Após todos esses anos de forte presença missionária, pode-se perceber que a medicina indígena não foi de todo destruída ou abandonada. Na realidade, convive até certo ponto pacificamente, e talvez, diríamos, complementa o sistema médico ocidental, isto é, o oficial e biomédico com os sistemas indígenas de cura”.

Athias, da Associação Saúde Sem Limites, informa que existe uma procura crescente dos remédios de farmácia (como medicação analgésica e para verminoses) entre os indígenas. A medicação mais procurada é a dipirona e o AAS. “Muitos dizem que preferem tomar os remédios dos brancos para passar a dor, do que utilizar o que normalmente usam, uma planta conhecida como pinu-pinu, um tipo de urtiga, que passando no corpo, sente-se um alivio das dores”.

A Funasa realizará entre os dias 22 a 24 de novembro (2006), em Brasília-DF, a 1° Mostra Nacional de Saúde Indígena. O objetivo, informa o site da fundação, é colocar em prática as propostas que surgiram da 4° Conferência Nacional de Saúde Indígena, que aconteceu em Rio Quente-GO, em março.

(*) Originalmente publicado na ComCiência - Revista Eletrônica de Jornalismo Científico

Nota do blog
: agradecemos ao colaborador e leitor do blog Luis Soares pelo envio do artigo.

28 setembro 2006

NÃO HAVIA GRAMPO NO TSE. ADIVINHEM QUEM PAGOU O PATO?

Do Blog do Josias de Souza, da Folha Online de hoje:


DONO DA FENCE É INDICIADO PELA PF


Ênio Gomes Fontenelle, dono da empresa Fence, aquela que disse ter detectado grampos em telefones de três ministros do TSE, foi indiciado nesta quinta pela Polícia Federal. Foi acusado de ter feito falsa comunicação de crime.

Antes do indiciamento, a PF promoveu uma acareação do dono da Fence com o diretor-geral do TSE, Athayde Fontoura Filho. Durante o tête-à-tête, "Fontelles reconheceu que pode ter cometido um equívoco ao notificar a existência de grampos no tribunal". Para a PF, pode ter havido má-fé de Fontelles.

Escrito por Josias de Souza às 19h12

DIOGO MAINARDI PROCESSADO NO ACRE

Mainardi não comparece a audiência

"Colunista da revista Veja alega preocupação com sua integridade física. Justiça pode julgá-lo à revelia. Cerca de 80 acreanos participaram ontem da audiência de conciliação"

Whilley Araújo
Jornal Página 20, 28/09/2006

Pelo menos 80 pessoas compareceram ontem ao Juizado Especial Cível para participar de uma audiência de conciliação, em decorrência do processo judicial movido contra o jornalista e colunista da revista “Veja” Diogo Mainardi, que embarcou na polêmica do presidente boliviano Evo Morales afirmando que o Acre não valeria um cavalo “pangaré”.

O réu foi intimado a comparecer à audiência, mas não se fez presente por alegação de que estava preocupado com sua integridade física e mandou dois advogados para representá-lo. Sendo assim, o jornalista será julgado à revelia.

Entre os reclamantes contra Mainardi que compareceram ao juizado estava a deputada federal Perpétua Almeida (PC do B-AC). Ela foi uma das pessoas que participaram da mobilização do povo acreano contra as declarações feitas por Diogo. “Eu alertei o povo sobre o programa de que ele participou ‘avacalhando’ o Acre. A população mostrou sua revolta e levou a causa a sério”, comentou a parlamentar.

O presidente da Câmara de Vereadores de Rio Branco, Jonas Costa, também estava entre os acreanos que se indignaram e entraram com processo contra jornalista. “Se a declaração partisse de uma pessoa que não tivesse acesso às informações, nós até relevaríamos, mas se tratando de um jornalista conceituado, como o Mainardi, não podemos aceitar isso. O nosso objetivo não é conseguir uma indenização, e sim que ele use o mesmo espaço para se retratar com o povo acreano”, destacou Jonas.

Hino Acreano cantado durante audiência
O funcionário público Francisco Carlos, revoltado com as declarações de Mainardi, frisou que era um absurdo as bobagens que o jornalista escreveu sobre o Acre. “Temos que levar esse processo até as últimas conseqüências, ele tem que pagar pelas ofensas que fez ao povo acreano”, ressaltou. Durante a assinatura do processo por parte dos reclamantes, os presentes cantaram o Hino Acreano como forma de mostrar o orgulho que sentem por terem nascido no Estado.

De acordo com a juíza de Direito Solange de Souza Fagundes, o processo será julgado à revelia e o juiz responsável por sentenciar o processo deverá levar em consideração três fatores. “Para comprovar o dano é necessário comprovar a ação - no caso as declarações feitas por Diogo Mainardi -, se os reclamantes foram prejudicados e também averiguar se as palavras ditas pelo réu têm relação com os danos causados”, explicou Solange.

A juíza, responsável apenas pela homologação da sentença, informou que o resultado do processo deve ser conhecido em aproximadamente 20 dias.

NÃO DEU PRISÃO MAS DEU NA MÍDIA

LEGISLAÇÃO ELEITORAL IMPEDE A PRISÃO DE QUALQUER PESSOA. MESMO ASSIM ELA FOI DECRETADA PELA JUSTIÇA FEDERAL. PORQUE?

Todo mundo, eu, você leitor mais esclarecido, as pessoas mais humildes, todos nós sabemos - mesmo porque todos os anos é amplamente divulgado na imprensa - que estão proibidas prisões 5 dias antes das eleições e até 48 horas depois. A exceção são os casos de flagrantes.

Pois bem. Um procurador da república, que deve estar mais do que careca de saber dessa lei, pediu e uma juiza de plantão aceitou, o pedido de prisão para os envolvidos na compra do tal dossiê contra o Serra. O estranho de tudo é que na semana passada, segundo matéria do Estadão de hoje (27/09), o mesmo procurador da república havia feito o mesmo pedido de prisão e o juíz titular não tomou conhecimento do mesmo porque os acusados já haviam comparecido à polícia para dar esclarecimentos. Foi só o titular se ausentar...

Óbvio que foi aquele auê na imprensa. Fotos, flashes, entrevistas, chamadas no Jornal Nacional, capa dos principais diários nacionais...

O mais importante de tudo é saber:

- Porque pedir a prisão se não seria possível cumpri-la em função do impedimento legal? Da falta de tempo hábil para operacionaliza-las? Eles poderiam fazer isso depois da eleição. Ia dar ibope do mesmo jeito pois o Lula vai ganhar de qualquer forma.

Se sou contra a prisão destas pessoas? Nem um pouco. Muito pelo contrário. Espertos como esses devem ser esquecidos na cadeia para aprender a lição e a sociedade se sentir mais confortável com a justiça. O que não dá é se tentar tirar proveito de uma situação como essa.

Enquanto a justiça se "esforça" em casos como esses, centenas de presos - alguns inocentes - estão mofando nas cadeias por falta de despachos que os liberem ou dêm celeridades aos seus casos. Lembram do caso daquela senhora do Rio que ficou quase quatro meses presa por tentar roubar uma lata de manteiga? Pois é...aquele caso não dava ibope, ninguem se interessou...

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Leiam abaixo a matéria do Estadão sobre o assunto.


Justiça decreta prisão de envolvidos na compra de dossiê; lei eleitoral impede prisões

A Justiça determinou a prisão dos petistas Freud Godoy, Jorge Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Afonso Veloso, Gedimar Passos e Valdebran Padilha

Vannildo Mendes e Fausto Macedo, Agência Estado


CUIABÁ - A Justiça Federal de Mato Grosso determinou a prisão do ex-secretário especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Freud Godoy, e de outros cinco petistas diretamente envolvidos na compra e divulgação do dossiê que se destinava a prejudicar candidatos do PSDB.

A Polícia Federal confirmou que recebeu a ordem judicial, mas deixou de cumpri-la porque a lei eleitoral proíbe prisões nos cinco dias que antecedem as eleições e até 48 horas depois do pleito, a não ser em flagrante. Isso significa que a ordem de prisão, se for mantida, somente poderá ser cumprida a partir da zero hora de quarta-feira, 4.

A ordem judicial chegou na madrugada de terça, 26, à Superintendência da PF em Cuiabá, uma hora e meia depois de a proibição entrar em vigor, por imposição da Lei Eleitoral. Os outros alvos dos mandados de prisão foram o ex-chefe do serviço de inteligência da campanha à reeleição de Lula, a chamada Abin do PT, Jorge Lorenzetti; o ex-chefe de gabinete do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas, coordenador da área de trabalho e emprego da campanha de Lula; o ex-diretor de Gestão e Risco do Banco do Brasil Expedito Afonso Veloso; o ex-agente federal Gedimar Passos e o empresário Valdebran Padilha.

As prisões foram solicitadas pelo procurador da República Mário Lúcio Avelar, que acompanha o inquérito sobre o dossiê anti-José Serra. Na semana passada, o mesmo pedido foi rejeitado pelo juiz da 2ª Vara Federal do Mato Grosso, Marcos Alves Tavares, que não viu necessidade da medida. Avelar, no entanto, insistiu no pedido, que acabou caindo nas mãos de uma juíza de plantão

27 setembro 2006

MAINARDI E O ACRE

EM UM DIA FORAM 129 AUDIÊNCIAS. JUIZA INFORMA QUE NOVAS RECLAMAÇÕES CONTINUAM A SER PROTOCOLADAS.

CASO PERCA AS AÇÕES ATÉ AGORA PROTOCOLADAS, ARTICULISTA TERIA QUE PAGAR R$ 903.000,00 AOS RECLAMANTES.



Do site Notícias da Hora 27/09/2006

Com medo de apanhar de acreanos, colunista

da Veja não comparece a audiências na Justiça

Jairo Barbosa

RIO BRANCO, AC - O juizado de pequenas causas de Rio Branco, foi pequeno para comportar todas as pessoas que participaram das audiências de conciliação movidas contra o articulista da revista VEJA, Diogo Mainardi, que durante um programa de TV, em um canal fechado, disse que era melhor trocar com os bolivianos o Acre por um cavalo.

O comentário de Mainardi foi suficiente para que um grupo de pessoas se articulasse, e promovesse uma enxurrada de ações indenizatórias contra o jornalista.

Só nesta quarta feira, foram realizadas 129 audiências. Três advogados, dois do Rio de Janeiro e um do Acre, representaram o jornalista nas audiências, e juntaram ao processo, a justificativa da ausência do reclamado.

De acordo com a juíza Solange Fagundes, em um determinado trecho da justificativa, Mainardi diz que não viria ao Acre, porque teme por sua integridade física. Disse ainda que o fato de desconhecer como andam os ânimos por aqui, preferiu que seus advogados o representassem.

O advogado Alberto Salvático Segundo (Acre) e os cariocas Cristiano Willon Gualberto e João Vitor Murta Bandeira, passaram a manhã inteira, assinando procurações e termos de audiência.

A ausência do reclamado as audiências, de acordo com a juíza, reputam como verdadeiros os fatos alegados nos pedidos. As ações são idenizatórias, e como não houve acordo nesta primeira fase, foi marcada para o próximo mês, a fase de instrução. Em cada ação o pedido de indenização é de R$ 7.000,00(sete mil reais).

Os advogados do jornalista ainda terão muito trabalho pela frente, a juíza Solange Fagundes, confirmou que novos pedidos de indenização estão sendo protocolados na justiça.

CHUVAS EM RIO BRANCO

PELA PRIMEIRA VEZ NO ANO O ACUMULADO EM UM MÊS SUPERA A MÉDIA HISTÓRICA

Segundo o Boletim Diário do IMAC/Defesa Civil do Acre, as chuvas no mês de setembro de 2006 já atingem 101,7 mm (até o dia 25/09). É a primeira vez no ano que isso ocorre. Entre janeiro e agosto o índice de precipitação pluviométrica acumulada mensalmente foi sempre inferior à média histórica, calculada com dados colhidos entre 1970 e 2005.

No ano de 2005, quando vivemos a seca mais severa em nossa história, tivemos 3 meses (fevereiro, abril e outubro) com acumulados de precipitação superiores à média histórica.

Os Boletins Diários do IMAC/Defesa Civil são postados diariamente na página do forum de discussão GTP Queimadas pelo Dr. Foster Brown.

NOVA REVISTA CIENTÍFICA SOBRE CIÊNCIAS AQUÁTICAS
















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A CULTURA, AS CIDADES E OS RIOS NA AMAZÔNIA

José Aldemir de Oliveira (*)
Cienc. Cult. v.58 n.3 São Paulo jul./set. 2006

Parte 2 (clique aqui para ler a parte 1)

DA PAISAGEM NATURAL AO ESPAÇO DA CULTURA
Na Amazônia as espacialidades urbanas, especialmente das cidades localizadas à margens dos rios, foram impostas, o que não significa reconhecer, de um lado, que estas formas não são homogêneas; de outro, que guardam resíduos de relações pretéritas como sinais de resistência. Na verdade, essas espacialidades revelam as diferentes estratégias dos diversos agentes produtores do espaço urbano que buscam, a partir das condições concretas, defender seus interesses, o que leva a compreender a paisagem como o resultado das determinações das políticas do Estado, das relações sociais de produção e, mais que isso, como depositária de vida, sentimentos e emoções traduzidas no cotidiano das pessoas. Tais relações concretizam-se em espacialidades real ou imaginária, quer as cidades estejam na beira do rio, na várzea, quer na terra firme.

A análise das pequenas cidades amazônicas deve levar em consideração a floresta e a água como ponto de partida e não de chegada. Nas pequenas cidades amazônicas, localizadas no meio da floresta e às margens dos rios, o habitante deste espaço pode ser levado inconscientemente a estabelecer a dimensão de espacialidade a partir do encantamento da realidade física.

Entretanto, a generosidade da paisagem natural esvai-se e o que fica é o construído artificialmente. É claro que o conjunto formado pelos sistemas naturais existentes numa região como a Amazônia ainda é muito importante e não pode nem deve ser desconsiderado, porém há que se concentrar as análises no que a elas acrescem os homens. Do ponto de vista geográfico, há uma existência natural, todavia, a existência real somente lhe é dada por causa das relações sociais (4).

AS PEQUENAS CIDADES: ESPACIALIDADES E CONTRADIÇÕES
Está em curso um processo visando tornar essas pequenas cidades da Amazônia cada vez mais iguais, com a tendência de que as suas formas escapem à história e à cultura do lugar, tornando os homens e as mulheres reféns da lógica de um mundo distante, das possibilidades ilimitadas como se fosse possível reinventar formas iguais em qualquer lugar. Busca-se projetar formas espaciais para unificar o ambiente simbólico, visando atender aos interesses de determinados segmentos da sociedade, conseqüentemente substituindo a especificidade histórica de cada lugar (5).

Essas novas temporalidades e espacialidades são alheias ao lugar, visto que o poder, a produção e a riqueza são projetados para o mundo enquanto a experiência, a vivência, a cultura e a história são enraizadas nos lugares. Em decorrência disso, pode-se ter acesso às mais avançadas tecnologias, que são vendidas como sinais de progresso e de crescimento, mas a maioria não tem sequer as necessidades básicas atendidas.

As pequenas cidades amazônicas apresentam essa contradição: são articuladas a relações pretéritas caracterizadas pela inércia e, ao mesmo tempo, articuladas a dinamicidades contemporâneas que as ligam ao mundo, especialmente a partir da biodiversidade e da sociodiversidade. Essa contradição, que de resto não é exclusiva da Amazônia, possibilita as simultaneidades nas inovações e sinais da modernização na paisagem (especialmente ligados à comunicação, mas também aos equipamentos).

Todavia, há resistências, e, como conseqüência, essas pequenas cidades representam, neste início de século XXI, uma das mais raras permanências, refletindo e iluminando miticamente a cultura. Cultura que, como assinala o poeta João Paes Loureiro, continuará a ser uma luz brilhando, e que persistirá mesmo com as chamas das queimadas nas florestas, com a extração dos recursos naturais, com a poluição dos rios e com a mudança das relações dos homens entre si. Nas pequenas cidades amazônicas ainda há um tempo para a vivência de uma forma ilimitada, "com seres sobrenaturais, porque somente a imaginação consegue ultrapassar os horizontes. Foi a boiúna que, ao agitar-se, fez o barranco ruir; o curupira fez o caçador perder-se na mata; a iara fez afogar-se de sedução aquele que, aparentemente, não tinha razões para morrer no rio; a tristeza não veio da alma, mas do canto da acauã"(6). Há nesses aglomerados a inércia caracterizada pelos tempos lentos e, concomitante, a dinamicidade dos tempos rápidos (7), que caracteriza a inserção da Amazônia no mundo. A análise desses dois aspectos (a inércia e a dinamicidade), ao mesmo tempo antagônicos e complementares, necessita de pesquisas de campo acuradas, porque elas podem clarear o papel das cidades ribeirinhas e, especialmente, se esse novo momento da Amazônia representa um processo caracterizado pela dinamicidade ou se, ao contrário, significa a permanência na inércia.

Outra questão a ser considerada é que as estruturas e as dimensões socioespaciais na Amazônia hoje são compartilhadas de modo diferente ao que era até então. Novos sujeitos, indígenas, movimentos sociais, empresas, ONG’s e mídia produzem espacialidades diversas e articulam as estruturas preexistentes quase sempre locais às dimensões globais. No curso dessa articulação, o poder se dilui entre os vários sujeitos, grupos de indivíduos, minorias étnicas, pacifistas, instituições que não se articulam apenas ao Estado nacional e, em alguns casos, já atingiram um grau de relações supranacionais.

Aqui as pequenas cidades amazônicas imersas numa inércia de tempos lentos ganham papel relevante, visto que comportam elementos da natureza ainda não conhecidos e, como esse processo ainda necessita de uma base logística, estas cidades podem representar essa base, visto que estão ligadas ao mundo, por exemplo, pelas telecomunicações. Compreender esse processo em curso, e verificar se ele se conclui, significa a busca de desvendar a Amazônia.

AS PEQUENAS CIDADES COMO ESPAÇO DA ESPERANÇA
As pequenas cidades amazônicas não são apenas produtos do nosso tempo, mas de tempos pretéritos cristalizados na paisagem. Por seu turno, a paisagem urbana não se resume ao conjunto de objetos, pois contém modos de vida os quais, como os primeiros, são resultantes das relações de produção continuamente produzidas, reproduzidas, criadas e recriadas, contendo as dimensões da sociedade de cada tempo. Essa paisagem urbana também comporta as coisas da natureza. As cidades de hoje são lugares bem diversos das cidades pretéritas, não só porque o conjunto arquitetônico e a infra-estrutura foram profundamente modificados. Foram mudados também a terra, a floresta e os rios, mas, sobretudo, e de modo considerável, a cultura, quer pela dinamicidade, quer pela estagnação.

Para compreender esse processo é preciso considerar a paisagem para além do aparente. Para tanto, é preciso atravessar o rio, pois, do outro lado, há sempre a esperança. A complexidade contemporânea não permite compreender as novas cidades apenas relacionando-as à crise, emersa nos diagnósticos das carências, mas também como virtualidades, como possibilidades.

Por isso, é necessária a superação de formas simplistas de interpretações e de intervenções, reconhecendo que essas práticas são engendradas a partir de condições objetivas e estão mediadas pelas contradições e conflitos da sociedade. É preciso apontar para outra visão de Amazônia que não seja apenas naturalizar o que é social, tampouco desconhecer as suas características imanentes, considerando social o que é natural. Ora, esse equívoco foi o que norteou o modo de intervenção na Amazônia que predomina até hoje. Tal intervenção leva à adoção de estratégias para a resolução de questões que, na maioria dos casos, não são as mesmas das populações locais. Concebida dessa forma, a política de Estado ou de governos define, orienta e estabelece mecanismos operativos para a Amazônia, fincados em estratégias que visam ao crescimento econômico, mas não contribuem para o desenvolvimento de sua população, pois que desrespeitam a natureza da Amazônia e principalmente a cultura dos amazônidas.

As novas ações postas para a Amazônia, e especialmente para as pequenas cidades, deveriam contribuir para superar a visão funcional e caricatural de que a Amazônia é só fronteira e fonte de recursos inesgotáveis. A Amazônia é muito mais do que isso; é, em todos os cantos, o lugar de encantos. É uma realidade complexa e contraditória, ultrapassando a paisagem natural ou artificial aparente, para circunscrever-se em sentimentos e emoções.

As ações deveriam buscar as condições da urbanidade, o que significa articular as políticas públicas, visando remir os espaços coletivos como signo da nova cidade, não só como funcionalidade da produção e da circulação, mas como lugar das pessoas. Além disso, deve-se perseguir a busca de um tempo para os encontros que ultrapassassem o encontro para a troca. É preciso criar tempos e espaços para a vida em toda a sua dimensão. Isto passa pelo resgate da cidadania que exige a concretude de uma vida decente, que pressupõe o acesso às condições dignas de vivência. Ainda que a ausência de bens e serviços seja abominável, também são intoleráveis a falta de tempo, de lazer, de informação para os que moram nas pequenas cidades dos beiradões. "Uma vez que o espaço não é o reflexo da sociedade, é sua expressão"(8), as mudanças só ocorrerão a partir das transformações da sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este é um texto sem conclusão, pois pesquisas necessitam ser feitas e, mesmo quando concluídas, revelarão uma verdade, não a verdade. O único ponto a destacar é que as pequenas cidades amazônicas revelam espacialidades que não coincidem com o inventário dos objetos no espaço nem do discurso sobre a sua representação. Neste sentido, pode-se concluir que a espacialidade oculta as conseqüências, o que indica a construção de pesquisas que considerem a Amazônia não apenas como uma área a ser conhecida, mas como conhecimento do lugar, capaz de revelar formas e conteúdos espaciais que foram transformados e/ou permaneceram. Compreender a Amazônia a partir das pequenas cidades é muito mais do que analisar a forma das cidades, significa compreender a vida das pessoas simples, de onde brotam dimensões de espacialidades que quase sempre são desconsideradas, pois estão eivadas por coisas simples, transmutadas numa sensação de extrema obviedade, pela freqüência do estar sempre por aí. Neste sentido, para além das formas das cidades, há homens e mulheres para os quais a história e a geografia das cidades amazônicas é feita e não esperada. Há outro jeito de fazer e outro modo de esperar. Há outros tempos-espaços mediados por outra ordem, outra razão e outros sentimentos.

Nas pequenas cidades amazônicas, a natureza é importante. Porém, muito mais do que pelo fatalismo de uma vida governada pela determinação da natureza, há a cultura amazônica que se estrutura como lógica e como razão, mas também como sonho, esperança e resistência.

(*) José Aldemir de Oliveira é geógrafo, professor titular do Depto. de Geografia da Universidade Federal do Amazonas, líder do Grupo de Pesquisas e Estudos das Cidades na Amazônia Brasileira, bolsista do CNPq.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. Calvino. I. Cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
2. Amorim Filho, O. "Evolução e perspectivas do papel das cidades médias no planejamento urbano e regional". In: Andrade, T.A. e Serra, R. V. Cidades médias brasileiras. Rio de Janeiro: IPEA, 2001. pp. 1-34.
3. Ribeiro, M. A. C. A complexidade da rede urbana amazônica: três dimensões de análise. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. (Tese de Doutorado).
4. Santos M. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1997, p. 51.
5. Castells, M. A sociedade em rede. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. p. 441.
6. Loureiro J. P. "Tradição, tradução, transparências". Somanlu Revista de Estudos Amazônicos. Manaus. PPGSCA – UFAM, ano 2, n. 2. pp 117-126. 2002.
7. Santos M. op. cit. pp 266-267. 1997. 8. Castells, M. op. cit. p. 435. 1999.

26 setembro 2006

"Combate implacável:
A direita já monta a arena de batalha e prepara o arsenal para o combate ainda mais duro e implacável contra Lula, o governo, o PT e a esquerda brasileira. E a mídia conservadora escolheu o lado na batalha".

"Essas vozes perdedoras estão desconcertadas, vivem uma das piores crises de identidade de sua história...Não vão aprender, colocaram culpa no povo, com a esperança de dissolver o povo, de substituir o povo por outro, dos seus sonhos. Quem é essa imprensa, para se reivindicar a missão de fiscalizar os governos? Que moral tem para isso? Quem lhes entregou esse mandato? Pelo voto popular, ninguém. Eles se reivindicam a si mesmos.
Emir Sader, Agência Carta Maior, 17/09/2006

O GRAMPO DO TSE ERA UMA CHUCA!

E agora? O esquema de marketing para levar Alckmin ao 2° turno está fazendo água...chamem os salva-vidas. Será que o Alckmin sabe nadar?

Não houve o tal grampo. O que tinha lá era uma chuca de cabelo. Minha filha tem algumas dezenas aqui em casa. O presidente do TSE disse que tiraram o grampo antes da PF chegar. Não tem mais grampo? Vai de chuca mesmo. Se quiser eu mando uma caixa com algumas chucas, minha filha ficará feliz em doar...de que cor eles vão querer?

Para piorar as coisas, as pesquisas eleitorais insistem em dizer que Lula vence no 1° truno...Até o Noblat ficou mais civilizado...mas recomendou ao Alckmin ir para a briga com o Lula. Calma pessoal. Ele tem que brigar para tomar os eleitores do Lula porque os da Heloisa não serão suficientes. Pudera, rejeitada como ela é...os eleitores vão mesmo correr dela quando virem a foto que ela mandou por na urna eletrônica...vai ser um susto. Heloisa, capricha no visual! Aparência ainda é fundamental...

Vocês viram o "Jornal Tabajara" de hoje? Nem um destaque maior para a última pesquisa. Noblat disse que todo mundo fala em 8, 9, 10 pontos de diferença. Só aquele Instituto que ajudou a eleger o Collor anda insistindo em dizer que são apenas 3...e as Organizações Tabajara fazem a festa com tão pouco...que pobreza. Eles que são tão poderosos...Sei não Lula...debate nas Organizações Tabajara...contrata o Harrison Ford para encarnar o "Indiana Jones" pois antes, durante e depois do debate vão exisitir muitos obstáculos e armadilhas. Você com toda essa barriga não tem chance de vencer - os obstáculos.

Nota do blog: Texto enviado por um leitor que se indentificou como "Acreano Brasileiro do Acre"

DE 3 PARA 10 PONTOS DE DIFERENÇA

GLOBO/IBOPE APERTAM A DIFERENÇA ENTRE LULA E ALCKMIN...

Do Blog do Noblat (26/09/2006 ¦ 00:27):

Sensus dá 10 pontos de vantagem para Lula

Lula tem 10 pontos percentuais de vantagem sobre a soma dos índices de intenção de voto dos seus adversários, segundo pesquisa do Instituto Sensus que será divulgada hoje. Em relação à anterior, aplicada entre 22 e 25 de agosto, ele passou de 51,4% para 51%. Alckmin cresceu de 19,6% para 32% e um quebradinho. Helô ficou onde estava - na casa dos 8%.
Na pesquisa diária do Instituto Vox Populi feita para consumo interno da campanha de Lula, a diferença entre ele e a soma dos índices dos demais candidatos oscila entre 10 e 12 pontos percentuais.
O Vox fazia 500 entrevistas a domicílio até estourar o escândalo do dossiê contra políticos do PSDB. Aumentou a amostra para 1.000.
Quer dizer: até aqui, o estrago do escândalo na imagem de Lula não o impede de vencer no primeiro turno.
A última pesquisa do Datafolha deu 8 pontos de frente para Lula. A do IBOPE, três pontos.
Não encontrei um só analista de pesquisa ligado ao PSDB e ao PFL que acredite na diferença de apenas três pontos. Falei ontem com quatro deles, pelo menos.

Apelem para as Organizações Tabajara...

Alckmin cresceu tomando votos de Heloísa e convertendo indecisos à sua causa. Para ter alguma chance de disputar um eventual segundo turno, estava obrigado a tomar votos de Lula. Não tomou. É improvável que tome até domingo - salvo se a turma das Organizações Tabajara entrar em campo novamente e, dessa vez, botar para quebrar mesmo.

NOTA DO BLOG: Alguem tem dúvida sobre quem é a "Organizações Tabajaras"?

DIA DA ELEIÇÃO PROMETE

Como informamos anteriormente, a maioria dos partidos de oposição solicitou ao TRE a mobilização de forças federais para coibir, no dia eleição, qualquer tentativa de corrupção de eleitores (compra de votos, currais eleitorais, etc). Considerando que o Exército não faz diferença porque não pode exercer o poder de polícia (seus homens ficam parados nas esquinas, "torrando no sol", só se mobilizando mediante ordem de seu comando), resta a estes partidos torcer para que a Polícia Federal coloque todo o seu efetivo de prontidão para dar conta das centenas de denúncias que irão pipocar no domingo.

Digo baseado no comentário de Roberto Vaz, do Notícias da Hora, em sua coluna do dia 25/09:

"Acorda dona Justiça! A compra de votos corre solta. Não é um crime disfarçado. Em alguns bairros mais populosos de Rio Branco só se fala nisso. Pudera. Ali na Estação Experimental, por exemplo, os títulos eleitorais são recolhidos numa velocidade impressionante. Um candidato a federal garante o pagamento de R$ 200,00 por um único voto. Ele tenta a reeleição. Outra candidata, também a federal, autorizou seus comandados a pagar R$ 100,00. Tem outra que paga R$ 70,00. Eu não digo o nome do santo, mas garanto que, pelas informações que nos chegam, os candidatos pertencem a todas as coligações. Tem até governista no meio da sujeira. Á exemplo das outras eleições, os esquemas são muito bem planejados e infalíveis".

Quem vai coibir a concretização desses esquemas?

Denúncias anônimas para a PF poderão ser a melhor opção. Não escaparão esquemas de candidatos da situação e da oposição. Uma pena que o efetivo da PF no Estado seja tão diminuto. Talvez pudesse ser reforçado pelo efetivo da PM e da Polícia Civil do Estado. Entretanto, a paixão do momento político não permite avaliar positivamente a participação da polícia local no combate aos crimes eleitorais que deverão ocorrer no dia da eleição.

Embora seja um conforto para a população saber que a Secretaria de Segurança (Sejusp) colocará aproximadamente 250 homens nas ruas para garantir a tranquilidade do pleito no domingo, o mesmo não se pode dizer em relação ao que devem estar pensando os candidatos da oposição. Muitos devem estar preocupados pois acham que sendo comandada pela situação, a polícia local tenderia a coibir apenas os esquemas dos candidatos da situação. Eu acho que isso não vai ocorrer.
E você?

RONDÔNIA - CENAS DE POLÍTICA EXPLÍCITA

Lógica de favores, conexões globais, necessidade de forçar o cumprimento das leis e o ciclo vicioso da ocupação da amazônia que resulta no domínio privado do poder público

Parte 1


Dr. Carlos Walter Porto-Gonçalves (1)


Houve uma época no Brasil em que se dizia que a questão social era uma questão de polícia. Ainda hoje não são poucos os que ainda pensam assim vendo em cada conflito social uma ameaça à ordem constituída e vendo na polícia a sua solução. Ou, pior ainda, existem aqueles que não vendo como controlar os dissidentes ainda sonham com os generais. Sabemos que são profundas as raízes autoritárias na sociedade brasileira, raízes essas que remontam ao período colonial onde cada fidalgo que recebia a doação de terras estava investido de uma prerrogativa militar de efetivar, pelo sucesso da sua atividade econômica, o domínio territorial para Portugal. Os portugueses sabiam que a conquista do território não podia ser feita com recursos públicos e para garantir a ocupação fez concessões aos senhores de cabedal, entenda-se de capital, que quisessem enriquecer na terra brasilis. Muitos se tornaram, então, brasileiros, isto é, aqueles que vivem de explorar o Brasil (2).

Somente uma visão de nossa história com um forte viés economicista deixou de ver que o objetivo de conquista territorial era o que comandava as concessões de terras. Quando se fez o primeiro ordenamento territorial nessas terras dividindo o território em Capitanias Hereditárias já ali estava inscrito o duplo caráter militar e econômico. Afinal, capitania é coisa de capitão. Além disso, acrescente-se, só os filhos de alguém, ou seja, os fidalgos (3) é que recebiam as doações de terras e, assim, desde o início, o poder público se tornava algo privado. Isso hoje tem o nome pomposo de parceria, privatização e flexibilização, mas na verdade trata-se de uma prática tradicional e, mais que isso, conservadora. No Brasil estas práticas estão na raiz daquilo que se chama “lógica do favor” que é a negação da “lógica do direito”.

O jornalista Marcelo Leite em seu artigo Teleconexões Inesperadas (Caderno Mais, pág 10. Folha de São Paulo de 6 de agosto de 2006) citando o artigo do estadunidense Daniel Nepstad Globalização da Indústria Amazônica da Soja e da Carne Bovina: Oportunidades para Conservação retrata muito bem a lógica da reprodução do desmatamento na Amazônia brasileira. Fala-nos das conexões globais que contribuem para a expansão da soja na esteira das áreas desmatadas pela pecuária citando, entre outras “a demanda por proteína na China (cuja economia cresce 9% ao ano) e na Europa (após o escândalo da vaca louca)”. Fala-nos, ainda, da diminuição do desmatamento depois de 2004 esclarecendo que isso se deve a que “o agronegócio sofre agora com a baixa de preços internacionais e com a valorização do real, que tira a competitividade dos produtos de exportação brasileiros. Tais conexões podem variar, porém. Se os preços voltarem a subir, ou se o real se desvalorizar, entre as conseqüências da moratória da soja poderá estar a elevação da procura das terras amazônicas hoje ocupadas com a pecuária. Vendendo suas terras a sojicultores por preços crescentes, os pecuaristas se capitalizam para devastar novas áreas”. Todavia, essa lógica que Marcelo Leite nos apresenta como tão consistente não dá conta do contexto de relações sociais e de poder que lhes dá sustentação e que o caso da recente prisão das mais altas autoridades dos três poderes do estado de Rondônia nos esclarece.

Em recente diálogo público com Dr.a Berta Becker, geógrafa da UFRJ e da Academia Brasileira de Ciências, no XIV Encontro Nacional dos Geógrafos realizado em Rio Branco – Acre, debatemos essa questão assinalando ainda que, na Amazônia, não é a falta de conhecimento, seja ele o das populações originárias e camponesas, ou o conhecimento científico dos institutos de pesquisa e das universidades da região, do Brasil e do mundo, que impede que haja um modelo de desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Na ocasião a Dr.a Berta Becker lançou mão da expressão enforcement que, em inglês diz respeito ao cumprimento das leis, para expressar o que acreditava ser o X da questão. Mais do que o cumprimento das leis, insisti, se tratava de quem teria força para fazê-lo, sugerindo uma interpretação mais restrita e precisa do significado da palavra inglesa enforcement.

Desde que comecei a me dedicar aos estudos amazônicos, em 1979, aprendi que entender o Brasil a partir dos fundos tem enormes virtudes. Em primeiro lugar porque é como se fosse o Brasil sem os enfeites do salão de recepção. É o Brasil mostrando a sua cara, como nos dissera Cazuza. E, por isso, olhar o Brasil a partir da Amazônia não nos deixa levar por uma espécie de expiação de responsabilidades porque se trataria de um problema da fronteira, conceito que, aliás, mais prejudica que esclarece. O mesmo acontece quando achamos que a violência e o narcotráfico são um problema da Colômbia, um lugar distante e, assim, um problema distante. Quando sabemos que o madeireiro que abre as primeiras sendas na floresta, o pecuarista e os agronegociantes que lhes vêm atrás são os que elegem a maioria dos vereadores, dos prefeitos, dos deputados, dos governadores e dos senadores e, a partir daí, constituem o poder público que, tal como à época da colônia, não existe para o público e, sim, para o poder privado percebemos a conexões profundas das relações sociais e de poder que reproduzem a desigualdade e a devastação.

Artigo continua...

(1) Doutor em Geografia e Professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense, Membro do Grupo Hegemonia e Emancipações de Clacso. Ex-Presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (1998-2000). Membro do Grupo de Assessores do Mestrado em Educação Ambiental da Universidade Autônoma da Cidade do México. Ganhador do Prêmio Chico Mendes em Ciência e Tecnologia em 2004 é autor de diversos artigos e livros publicados em revistas científicas nacionais e internacionais, em que se destacam: - “Geo-grafías: movimientos sociales, nuevas territorialidades y sustentablidad”, ed. Siglo XXI, México, 2001; “Amazônia, Amazônias”, ed. Contexto, São Paulo, 2001; “Geografando – nos varadouros do mundo”, edições Ibama, Brasília, 2004; “O desafio ambiental”, Ed. Record, Rio de Janeiro, 2004; “A globalização da natureza e a natureza da globalização”, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2006.

(2) Foi José Carlos Reis, em seu excelente livro As Identidades do Brasil – de Varnhagen a FHC publicado pela insuspeita Fundação Getúlio Vargas quem nos esclarece sobre o sentido desse adjetivo pátrio terminado em eiro, que é pouco comum. Afinal, ou se é português, francês, holandês ou americano, equatoriano, canadense. Brasileiro é como mineiro – o que vive de explorar as minas ; madeireiro – o que vive de explorar madeiro; garimpeiro – o que vive de explorar o garimpo; enfim, brasileiro é o que vive de explorar o Brasil.

(3) Não esqueçamos que fidalgo é uma palavra que deriva justamente de f´ilho d´alguém, f´d´algo. Filho de (João) ninguém não recebia terras. A mesma sociedade que tem fidalgos numa ponta produz, desde o início, sem–terras na outra ponta.

25 setembro 2006

ELEIÇÕES 2006: FORÇAS FEDERAIS REQUISITADAS

PARTIDOS DA OPOSIÇÃO FIZERAM A SOLICITAÇÃO. MAIS UMA ELEIÇÃO NO ACRE "VIGIADA" PELOS MILITARES

Não vai ser em 2006 que veremos uma eleição sem militares na rua. Já está com o Ministério Público Eleitoral a petição solicitando a presença de forças federais durante o pleito 2006. O pedido foi feito na quinta-feira por nove dos onze partidos que compõem as coligações que fazem oposição ao atual governo do Estado.

Segundo o jornal O Rio Branco, a petição, batizada de “Documento Suprapartidário por Eleições Limpas”, foi entregue nas mãos da presidente do Tribunal Regional Eleitoral, desembargadora Isaura Maia, no final da tarde de quarta-feira (20/09). No dia seguinte o mesmo foi apreciado durante a sessão ordinária do tribunal. O pedido foi autuado e distribuído no dia 22/09 (ver quadro em anexo).

O Rio Branco: grave acusação às instituições envolvidas com a realização das eleições de 2006
Segundo o jornal O Rio Branco (24/09) o pleito de 2006 está ameaçado pela "corrupção eleitoral, abuso do poder econômico e utilização da máquina pública...com a conivência, omissão e parcialidade de instituições". A nota do referido jornal não informa quais as instituições estão sendo coniventes, omissas e parciais. Esta grave acusação deveria resultar em imediata interpelação judicial por parte das instituições relacionadas com a realização do pleito no Acre. Se isso não for feito, será aberto um precedente perigoso. Manipulações nos meios de comunicação poderão levar a opinião pública a pensar que uma eventual vitória da situação (como indicam as pesquisas de opinião pública) só ocorrerá em função de fraudes.

Afastamento de juiza
A nota do jornal O Rio Branco informa ainda que a juiza Solange Fagundes foi desligada da presidência da Comissão de Auditoria de Urnas Eletrônicas do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por haver afirmado em entrevista a uma emissora de televisão que "a Justiça Eleitoral não tem como conter os crimes eleitorais no Estado". Em depoimento ao site Notícias da Hora de ontem (24/09), a juiza afirmou que sua destituição foi uma questão pessoal e que “há ciumeira na justiça eleitoral”. Ela afirmou ainda ser contra a presença dos militares do exército na eleição porque, segundo ela, “o Exército, aquelas armas, intimidam. Eu acho que eles não fazem nada. Não adianta um juiz pedir, pois eles só obedecem ordens dos comandantes deles. A única função deles é ficar em pé com aqueles fuzis na mão".

Forças federais para que mesmo?

OPERAÇÃO SEGUNDO TURNO

A impressão que ficou da observação da mídia neste fim de semana foi a de que pela primeira vez houve uma operação concatenada entre vários órgãos de informação: a “operação segundo turno”. SÃO PAULO - Tudo começou na sexta-feira (22). Uma frase pinçada de um discurso do presidente, em que aludia a uma vitória no primeiro ou no segundo turno, virou manchete e chamada: “Lula admite a possibilidade de segundo turno” ou “pela primeira vez Lula admite segundo turno”, no Estadão e na Rede Globo. Na verdade, desde o começo da campanha, Lula e dirigentes petistas, apesar de almejarem uma decisão em 1º de outubro, sempre falaram em se preparar para a eventualidade de um segundo turno. A novidade foi a falta de luz própria na candidatura de Alckmin, o que levou à suposição de uma possível vitória no primeiro turno. A fala de Lula, portanto, não era novidade.

Depois, inexplicavelmente e contrariando uma tradição longeva, a Folha de S. Paulo antecipou para o sábado (23) a divulgação da pesquisa Datafolha para a eleição presidencial. Nela, as variações eram mínimas: Alckmin subia dois pontos (31), Lula descia um (49), mas Heloisa Helena também descia dois pontos (7). Essa variação permitia a interpretação de que os votos que Heloisa Helena tinha tirado de Alckmin durante sua farta exposição na mídia (na esperança de que ela tirasse votos de Lula) estavam agora retornado a seu lugar de origem.

A partir do sábado à noite e no domingo, foi a vez da divulgação da pesquisa do Ibope, com números menores para Lula(47, queda de 2 pontos) e maiores para Alckmin (33, subida de 3), com Heloisa Helena caindo apenas um ponto (para 8). A pesquisa do Ibope, ao contrário da do Datafolha, acentuava a idéia de que Alckmin começaria a tirar votos diretamente de Lula. A Folha, por seu turno, divulgava uma pesquisa estadual em que Serra subia e Mercadante descia nas intenções voto.

A divulgação das duas , a do Ibope (presidência) e do Datafolha (estado de S. Paulo) no mesmo domingo criava a impressão de que a disputa em torno das questões do dossiê Vedoin/Serra, e de sua compra e venda frustrada, traziam prejuízo só para Lula e potenciavam a candidatura de Serra.

Além disso, e mais importante, a divulgação do Datafolha presidencial no sábado e do Ibope no domingo criava a impressão de uma queda em cascata, denotando desde logo que as oscilações configuravam uma tendência, para quem visse as manchetes.

Um detalhe significativo era o das datas das pesquisas. A do Ibope fora feita entre os dias 20 e 22; a do Datafolha, somente no dia 22. A do Ibope, portanto, fora feita antes da do Datafolha. Mas a antecipação da publicação do Datafolha para sábado criava a impressão de que esta fora feita antes, e a do Ibope logo em seguida.

Este arranjo na divulgação das pesquisas reforçava bastante a possibilidade ou até “a certeza” de que se caminharia para um segundo turno, criando um clima capaz de sugestionar eleitores indecisos ou pouco decididos. Num clima em que trovejam novamente ameaças quanto à governabilidade de um segundo mandato de Lulas, em que o Presidente do TSE já fala em impugnações de uma possível vitória de Lula, a criação dessas impressões pode ser decisiva para abrir o caminho a um segundo turno.

Some-se a isto as mensagens que varam a internet e a telefonia de que nas redações da mídia conservadora reina um clima de “ordem unida”. Ainda que não haja provas cabais nem testemunhos diretos, fica a forte impressão de que houve uma “operação segundo turno” concatenada. E como se sabe, em política a impressão é a última que morre.

CARL VON MARTIUS NO BRASIL

Von Martius: viajante-naturalista-historiador
Por Maria Guimarães e Mariella Oliveira.
Originalmente publicado na revista ComCiência, SBPC

Do azul escuro do mar, elevam-se as margens banhadas de sol e no meio do verde vivo destaca-se a brancura das casas, capelas, igrejas e fortalezas. Atrás levantam-se audaciosos rochedos de formas imponentes, cujas encostas ostentam em toda a plenitude a uberdade da floresta tropical. Odor ambrosiano derrama-se dessa soberba selva, e, maravilhado, passa o navegante estrangeiro por entre as muitas ilhas cobertas de majestosas palmeiras”.

É esta a primeira impressão dos naturalistas Carl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix ao aproximar-se da “grandiosa entrada do porto do Rio de Janeiro”. O botânico e o zoólogo chegavam ao Brasil como parte da comitiva da arquiduquesa Leopoldina, que vinha casar-se com o futuro imperador Dom Pedro I.

Em sua viagem, Martius e Spix percorreram cerca de dez mil quilômetros entre 1817 e 1820. Os pesquisadores partiram do Rio de Janeiro, de onde rumaram para o norte pela Mata Atlântica, com a intenção de devassar o interior, pois o litoral já era bastante conhecido, como conta a historiadora Karen Lisboa, do Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade Livre de Berlim. A partir de Belém do Pará eles atravessaram grande parte da bacia amazônica, e de Belém embarcaram de volta à Europa.

Foi uma viagem longa e minuciosa”, diz Manoel Salgado Guimarães, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As descrições abarcam selva, gente, arquitetura, marés, história, costumes, doenças e muito mais. O livro traz até cantigas, representadas por partituras e versos. Ele explica que, embora fosse botânico por formação, Martius tinha o espírito das viagens filosóficas vigente na época, na tradição de Humboldt. Por isso, o empreendimento não podia ser voltado para questões específicas. “Era um viajante-filósofo”, conclui o historiador da UFRJ. E o relato dos próprios viajantes justificam suas coletas: “O Brasil, fechado durante séculos consecutivos às investigações dos europeus, oferecia farta oportunidade de enriquecer com fatos aquelas ciências, e, quanto aos meios para atingirmos esse alvo, não tínhamos escolha. Pareceu-nos mais acertado colecionar, durante a viagem, exemplares tanto de formações geológicas, quanto de curiosidades etnográficas, e, em particular, de animais e plantas, dar assento em nosso diário, a descrições e notícias minuciosas tanto quanto possível, e com isso preparar uma exposição científica, uma vez de volta à pátria”.

De acordo com Salgado Guimarães a exposição nunca chegou a acontecer. De todo modo, as contribuições de Martius a partir da viagem e do material coletado foram inúmeras. Destaca-se a Flora Brasiliensis, um inventário das espécies vegetais brasileiras que reúne todo o conhecimento existente na época. São quase 23 mil espécies, com cerca de 4 mil ilustrações de imenso detalhe e rigor. Até hoje é esse o único inventário da flora brasileira, embora muitas espécies tenham sido descritas e muita informação acrescida no século que se seguiu à publicação da obra.

Até março deste ano, consultas à Flora Brasiliensis se restringiam a especialistas, pois os exemplares das bibliotecas universitárias são protegidosem salas de obras raras. Mas a iniciativa conjunta de diversas instituições de pesquisa de criar a Flora Brasiliensis On-line mudou a situação. No portal na internet, desenvolvido pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), qualquer pessoa pode ver as ilustrações da obra de Martius ampliadas em grande detalhe sem perda de definição, além de informações sobre o conteúdo das imagens, tais como o nome científico da planta, volume em que se encontra, número, página etc.. As estatísticas disponíveis no site mostram que desde o seu lançamento, a Flora Brasiliensis On-Line tem recebido cerca de 10 mil visitantes por mês.

FLORA BRASILIENSIS: AGORA ON LINE

Entre 1996 e 2001, quanto fiz meu mestrado e doutorado nos EUA, lembro que usei muito o acervo da biblioteca do The New York Botanical Garden, uma das melhores bibliotecas especializadas em botânica do mundo.

Na qualidade de estudante da instituição, tinha o direito de acessar pessoalmente todo o acervo, incluindo as obras raras do 5° andar. Lá, protegidas por um sofisticado sistema de ar-condicionado, desumidificadores e sistemas anti-incêndio, eu podia manusear obras originais publicadas no século XVII, XVIII, XIX. A maioria eram livros grandes e pesados, medindo, algumas vezes, quase 1 m de comprimento. A maioria deles foi produzido artesanalmente, incluindo as ilustrações coloridas.

Entre os livros que usei com mais frequência se encontravam os volumes referentes às palmeiras brasileiras da obra de Carl Martius, a famosa "Flora Brasiliensis". Fui um privilegiado. Consultei a obra original. Cópias do texto e das figuras só consegui apartir de uma reedição brasileira (preto e branco), publicada em tamanho convencional. Era impossível fotocopiar os exemplares originais e câmeras digitais não existiam na époica. Obviamente que as ilustrações xerocadas são horríveis e de pouca ajuda.

Até hoje, por exemplo, a UFAC não dispõe de exemplares da Flora Brasiliensis. E as perspectivas não são favoráveis quanto à aquisição no curto e médio prazo. O mesmo vale para a maioria de outras obras históricas.

Uma alternativa é aguardar que as obras mais relevantes possam ser, eventualmente, digitalizadas e disponibilizadas na internet. Isto ocorreu neste ano de 2006 com a Flora Brasiliensis.

Flora completa na internet

Segundo a Agência FAPESP, no dia Dia da Árvore, comemorado na quinta-feira (21/9), a publicação integral foi disponibilizada. Ela contém o texto integral em latim das quase 23 mil espécies descritas.

Apesar de ter seu último volume publicado há um século, a Flora Brasiliensis é considerado o mais completo e abrangente levantamento da flora nacional já realizado. Produzida entre 1840 e 1906, a obra é resultado da dedicação dos cientistas alemães Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), August Wilhelm Eichler (1838-1887) e Ignatz Urban (1849-1931).

A versão completa da obra on-line está pronta. Além das 3.840 pranchas digitalizadas que estavam disponíveis desde março, temos agora as 10.207 páginas com os textos das descrições das quase 23 mil espécies”, disse Wanderley Canhos, diretor-presidente do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), à Agência FAPESP.

O esforço pela digitalização de todo o conteúdo da Flora Brasiliensis, obra bastante rara e de difícil consulta, partiu de uma parceria entre o Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos, e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O Cria é o responsável pelo gerenciamento do grande banco de dados reunido para o projeto, que tem apoio da FAPESP, Natura e Fundação Vitae.

A obra está disponível para consultas na forma de banco de dados. Associada a cada página e prancha está o nome da espécie e o volume correspondente”, explica Canhos.

Para viabilizar as consultas das imagens, o Cria utilizou o software Zoomify, que divide a imagem de alta resolução em figuras menores e depois faz a remontagem de cada prancha ou página dinamicamente na internet. “Os quase 14 mil arquivos disponibilizados entre pranchas e textos são, na realidade, constituídos por cerca de 5,6 milhões de imagens menores”, disse Canhos.
Desde março de 2006, o site Flora Brasiliensis on-line recebeu mais de 65 mil visitantes únicos. Foram transmitidas mais de 1,8 milhão de páginas, o que gerou um tráfego de mais de 100 gigabytes. “Os principais usuários do sistema são pessoas de instituições de pesquisa do Brasil e do público em geral”, disse Canhos.

Para visitar o site da Flora Brasiliensis on-line:
florabrasiliensis.cria.org.br

24 setembro 2006

AIRTON ROCHA: 1° SUPLENTE INDEFERIDO

A equipe de advogados do candidato a senador Airton Rocha (Frente da Cidadania) perdeu o prazo ou desistiu de recorrer da decisão do TSE que indeferiu o registro de candidatura do primeiro suplente da chapa, Benedito Walter Damasceno. O TSE apenas confirmou decisão do TRE-Acre, que indeferiu o registro de Walter Damasceno por que o mesmo não conseguiu comprovar sua filiação partidária.

Uma consulta ao site do STF também não indica que o mesmo foi acionado para salvar a candidatura de Walter Damasceno. Portanto, resta à equipe do candidato a senador indicar novo nome para compor a chapa.

ALCKMIN PRESIDENTE: A IMPRENSA QUER. O POVO TAMBÉM?

Cerca de uma semana atrás eu já havia alertado que estava em curso uma massiva campanha de marketing, liderada pelos principais órgãos de imprensa do país, para levar Alckmin para o segundo turno da eleição presidencial. Para a direita brasileira isso é uma questão de vida ou morte. Globo, Folha, Grupo Estado, Veja, todos estão empenhadíssimos na campanha de Alckmin nesta reta final.

Vocês notaram que antes do escândalo do dossiê as pesquisas de intenções de votos saiam a cada quinze dias, às vezes até com mais intervalo? Pois bem: se preparem para ver estampadas nestes meios de comunicação diariamente, até a véspera da eleição, pesquisas de intenção de voto. Se não houver resultados do dia, eles vão reciclar pesquisas anteriores, mas vão ter que mostrar Lula caindo e Alckmin subindo...

E tem mais: se o Alckmin não subir como eles querem, a divulgação das pesquisas vai incluir não apenas os números frios de quem está na frente na corrida. Vai valer tudo. Perguntas do tipo: Lula sabia ou não da compra do dossiê? Você acha que ele ordenou ou não a compra? Você acha que o cachorro do Lula também sabia? Eles precisam condenar Lula antecipadamente. Para isso estes questionamentos capciosos terão direito a chamadas de primeira página ou manchetes principais dos telejornais. Esperem e verão...

Tudo isso vai ser feito com um único objetivo: influenciar o voto de quem realmente decide eleição: o povão. Ele não lê jornais e nem acessa a internet. Portanto, a TV Globo vai ser peça chave. É a forma mais escancarada de ajuda que estes órgãos da imprensa podem dar para a campanha de Alckmin, que teve meses para decolar e não decolou. Aos leitores do blog, que apesar de educados e influentes, tenho a dizer que seus votos não decidirão a eleição.

Resta saber o que Alckmin deu em troca de todo este apoio massivo. Alívio tributário? o fim da reforma agrária? alívio de dívidas e multas previdenciárias e trabalhistas? A desvalorização imediata da nossa moeda, o real?

Esta última possibilidade é o sonho do grupo Globo, que está afogado em dívidas externas, impagáveis com o dólar tão valorizado. Nesta situação estão vários conglomerados nacionais.

Então profetizo: se o dólar for desvalorizado num hipotético governo de Alckmin, vai ser usado como desculpa a ajuda aos exportadores, o agronegócio (engraçado é que mesmo com o real valorizado, as exportação estão batendo récordes). Como toda a imprensa vai estar caladinha, o real motivo iria ficar oculto: interesses particulares de alguns grandes conglomerados nacionais que o estão apoiando massivamente nesta reta final de campanha.

O POVO NÃO ACREDITA NA IMPRENSA

Emir Sader
Agência Carta Maior, 17/09/2006

Periodicamente a imprensa publica elogios de si mesma, que expressariam o alto índice de confiabilidade que ela teria, em comparação com o desprestígio de políticos, de governos, de partidos. Pesquisas totalmente inócuas indicariam que os leitores estariam muito satisfeitos com o que lêem nesses jornais. Mas tudo depende da forma de fazer a pergunta, de a quem ela é dirigida e de como é interpretada.

Consultado, várias dezenas de vezes pelas pesquisas eleitorais, neste ano, o povo está opinando de forma totalmente contraditória com o que a imprensa disse e segue reiterando diariamente. Ninguém têm dúvidas de que jornais como a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo, o Globo, entre outros, assim como uma revista como a Veja e uma rede televisão como a Globo, apóiam claramente a Alckmin. Se não conseguem encontrar excelências no seu candidato – por maior capacidade de mistificação que tenham, não conseguem tirar água de pedra -, se concentram em atacar diariamente a Lula, a seu governo, ao PT e à esquerda. Mas não encontram eco algum no povo.

Não fosse assim, os artigos de alguém como Clóvis Rossi, que expressam o ceticismo/cinismo típico da FSP, atacando a Lula todo o tempo, com um ar de desencanto de quem nunca esteve deste lado, teriam ampla repercussão. Mas nem a classe média paulista deixa de votar majoritariamente em Lula.

Não fosse assim, as diatribes raivosas de Miriam Leitão, de Dora Kramer, de Merval Pereira, de Eliane Catanhede, de Arnaldo Jabor, entre outros, teriam eco imediato, senão no povo, que não lê esses jornais, pelo menos entre a classe média brasileira, que insiste em votar majoritariamente em Lula.

As pesquisas eleitorais, caso se confirmem na eleição presidencial do dia primeiro de outubro, são a melhor pesquisa sobre o que pensa o povo brasileiro da imprensa: não acredita nela, não lhe tem confiança, não aceita seus argumentos, sua informação editorializada, suas manchetes sensacionalistas, seus colunistas identificados com a direção – reduzida a 6 famílias – dos órgãos da grande mídia monopolista privada. O povo pensa uma coisa do governo Lula, a grande mídia pensa outra.

Se acreditasse no que a imprensa diz, se tivesse confiança nela, seria Alckmin quem estaria por triunfar no primeiro turno e não Lula. Mas o povo acredita em Lula e não nesses colunistas, nos editorais desses jornais, na cobertura da Rede Globo e sim no PT e no governo.

Essas vozes perdedoras estão desconcertadas, vivem uma das piores crises de identidade de sua história. É certo que todos esses órgãos da imprensa propagaram o golpe militar antes de 1964, depois apoiaram a ditadura militar, reproduzindo seus comunicados falsos que acobertavam as prisões ilegais, os seqüestros, as torturas, os fuzilamentos, os “desaparecimentos” – de que o filme Zuzu Angel recorda, em parte. Mas tentaram se reciclar sem qualquer tipo de autocrítica, de arrependimento ou de justificativa que buscasse distanciá-los do pior momento vivido pela história brasileira desde o fim da escravidão. Nada isso levou-os à crise de identidade atual, em que se sentem impotentes – ao contrário do que acreditavam ser.

Não vão aprender, colocaram culpa no povo, com a esperança – como disse Lula – de dissolver o povo, de substituir o povo por outro, dos seus sonhos. Quem é essa imprensa, para se reivindicar a missão de fiscalizar os governos? Que moral tem para isso? Quem lhes entregou esse mandato? Pelo voto popular, ninguém. Eles se reivindicam a si mesmos.

Com que direito se reivindicam o direito de organizar debates públicos, com as pessoas que lhes interessam, no cenário que preferem, com as perguntam que privilegiam? Como pode a TV Globo, depois daquele debate final Lula/Collor de 1989, ter moral para organizar um debate poucos momentos antes do final da campanha publica – de forma similar ao que fizeram em 1989 – querer ter o direito de impor um debate aos candidatos? Existirá algo similar, com tentativas de criminalização do ausente, em estados onde seus candidatos são favoritos e não aparecerão nos debates?

Tentam utilizar desesperadamente uma representação que ninguém lhes atribuiu, para buscar encontrar um espaço de influencia sobre o eleitorado, que se dão conta que perderam, diante das políticas sociais e o instinto social consolidado no voto do povo – em que mais de 80% dos que escolheram Lula afirmam que não mudarão sua opção.

O povo não acredita na imprensa. (As exceções são conhecidas: Carta Capital, Carta Maior, Caros Amigos, Brasil de Fato e várias outras vozes dissonantes, alternativas, embora minoritárias em termos de circulação e de leitores.). Vota contra os que tentam inculcar diariamente na sua cabeça idéias alheias a seus interesses e valores. Se não se pode dissolver o povo, que tal democratizar a imprensa? Assim o povo teria a imprensa que merece, com os valores pelos quais vota, que pode representá-lo e em que poderá vir a confiar.