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22 setembro 2011

FLORESTAS ACREANAS TRANSFORMADAS EM TABOCAIS?

Pode soar exagerado, mas existe a possibilidade da exploração madeireira em curso na região central e no leste do Acre transformar extensas e ricas áreas florestais em tabocais empobrecidos, com baixos índices de biodiversidade vegetal e animal.

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

No sudoeste da Amazônia ocorrem extensas áreas de florestas nativas com o sub-bosque dominado pelo bambu, conhecidas popularmente como tabocais. Estas florestas ocupam cerca de 180.000 km² na região e incluem uma pequena porção do sudoeste do Estado do Amazonas, cerca de 38% da superfície do Acre, grande parte da região sul da Amazônia peruana e uma escassa área no norte da Amazônia boliviana (1, 2).

São quatro as espécies de bambus nativos nas florestas acreanas: Guadua weberbaueri e G. sarcocarpa, que apresentam uma distribuição mais ampla, G. superba, espécie de grande porte restrita às florestas temporariamente alagadas ou áreas de drenagem deficiente, e G. angustifolia, que apresenta a distribuição mais restrita.

Uma das principais características dos bambus encontrados no Acre, especialmente G. weberbaueri e G. sarcocarpa, é o rápido crescimento e uma grande agressividade na ocupação das florestas nativas do tipo abertas, que representam a maior parte das florestas encontradas no Acre. Isto ocorre porque o bambu se multiplica por meio de rizomas subterrâneos, em um processo similar ao observado nas gramíneas usadas na formação de pastagens.

De uma maneira geral florestas dominadas por bambus apresentam-se estruturalmente alteradas, com uma menor densidade das árvores e uma redução de 30-50% do potencial de armazenamento de carbono. A presença do bambu pode afetar ainda o influxo de espécies arbóreas, enfraquecer a habilidade competitiva de espécies com baixa capacidade de adaptação e alterar a composição florística, reduzindo em quase 40% o número de espécies na amostra de um hectare (2, 3).

Em outras palavras: florestas com bambus são consideradas mais pobres sob o ponto de vista da biodiversidade vegetal, fato comprovado por diversos inventários florestais realizados no Acre que mostram que um hectare de floresta com bambu raramente apresenta mais de 300 árvores com diâmetro superior a 10 cm (DAP). Em contraste, nas florestas onde o bambu não ocorre esse número pode atingir até 600 árvores.

Apesar da importância biológica dos tabocais, pela sua localização restrita ao sudoeste da Amazônia, e de sua grande abrangência na mesma região, poucos estudos científicos tem sido realizados para compreender a dinâmica dessas florestas. Segundo os pesquisadores americanos Griscom & Asthon (4), “a ecologia das florestas dominadas por bambus na Amazônia continua a ser um mistério”. Neste contexto de desconhecimento, é preciso saber como e sob quais condições o aparecimento do bambu é favorecido em uma determinada área, qual a sua velocidade de crescimento e o tempo que leva para dominar o local onde cresce, e qual o seu ciclo de vida.

Para o Acre, a resposta a estas questões é importante porque é na região central e leste do estado, onde se encontram os maiores tabocais, que o desmatamento e a exploração madeireira são mais acentuados. O caso da exploração madeireira é o mais emblemático de todos.

Não se sabe o que acontecerá nas florestas dominadas por bambus após a retirada seletiva das milhares de árvores pelos exploradores da madeira. As áreas exploradas seguirão seu curso natural de regeneração ou o bambu, com sua agressividade exagerada, irá promover mudanças estruturais e biológicas com resultados imprevisíveis?

De concreto, sabe-se que a exploração seletiva de madeira provoca o aparecimento de clareiras na floresta e estas clareiras são áreas extremamente favoráveis à expansão do bambu, pois aumentam a disponibilidade de luz e espaço físico para o crescimento da espécie.

Griscom & Asthon, que realizaram estudos sobre o bambu em florestas peruanas similares às encontradas no Acre, sugerem que a invasão e a dominância do bambu são favorecidas pela abertura de clareiras na floresta causadas pela queda de árvores em razão de ventos fortes. A invasão do bambu reduz a taxa de crescimento e de sobrevivência das árvores (juvenis e adultas), retarda o processo natural de regeneração da floresta e garante a dominância do bambu por períodos que podem durar cerca de 30 anos, ou o ciclo completo de vida da espécie.

No Acre as clareiras que estão sendo abertas na floresta não são causadas por ventos fortes, mas pelos exploradores de madeira. Embora menos drásticas que as aberturas feitas para a implantação de áreas de pastagens, as clareiras decorrentes da exploração madeireira em áreas de florestas dominadas por bambu são favoráveis à invasão desta espécie, permitindo a expansão da mesma para locais aonde ela não existia anteriormente.

Outro fator que tem contribuído para a invasão do bambu em florestas locais foi a ocorrência de incêndios florestais durante a grande seca de 2005, que alteraram de forma drástica a estrutura das florestas afetadas. O fogo eliminou as ervas, arbustos e arvoretas que compunham o sub-bosque da floresta, abrindo espaço para o estabelecimento do bambu.

A invasão do bambu pode por em cheque a eficácia de algumas técnicas consagradas e indispensáveis para a sustentabilidade da exploração madeireira praticada na região, como é o caso do plantio de mudas de espécies madeireiras de alto valor comercial nas clareiras abertas na floresta durante a exploração.

Teoricamente, este plantio serve para repor ou incrementar o estoque das espécies exploradas. Entretanto, na presença do bambu é provável que apenas mudas de espécies de rápido crescimento e menor valor comercial, como samaúma, tatajuba e canafístula, consigam se desenvolver. Espécies nobres e de alto valor comercial, mas de crescimento muito lento, como mogno, amarelão e cerejeira, provavelmente não se estabelecerão, inviabilizando sua futura exploração comercial nas áreas afetadas.

Pode soar exagerado, mas existe a possibilidade da exploração madeireira em curso na região central e no leste do Acre transformar extensas e ricas áreas florestais em tabocais empobrecidos, com baixos índices de biodiversidade vegetal e animal.

A realização de estudos para entender e manejar de forma eficiente os tabocais acreanos é uma emergência científica que deve ser tratada com prioridade pelos governantes, empresários e pesquisadores preocupados com o futuro do estado.


Para saber mais e referências


1. Nelson, B.W. 1994. Natural forest disturbance and change in the Brazilian Amazon. Remote Sensing Reviews, 10: 105 - 125.

2. Silveira, M. 2005. A floresta aberta com bambu no audoeste da Amazônia: padrões e processos em múltiplas escalas. Rio Branco, EDIUFAC. 127 pp.

3. Lima, R. A. F.; Rother, D. C.; Araujo, L. S.; Gandolfi, S. & Rodrigues, R. R. 2007. Bamboo-dominated gaps in the Atlantic rain forest: impacts on vegetation structure and species diversity. Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, 23 a 28 de Setembro de 2007, Caxambu – MG.

4. Griscom, B.W.; Ashton, P.M., 2003. Bamboo control of forest succession: Guadua sarcocarpa in Southeastern Peru. For. Ecol. Manag., 175, pp. 445-454.

21 setembro 2011

LUIGI TENCO - HO CAPITO CHE TI AMO

17 setembro 2011

AUMENTO DO IPI PARA AUTOMÓVEIS IMPORTADOS

Enfim, a sinceridade

Miriam Leitão
O Globo

O governo optou pelo protecionismo. No final das contas, há um mérito nisso: há mais sinceridade nesta política do que em qualquer outra que os governos Lula e Dilma tenham adotado na área econômica. Eles realmente acreditam em mercados fechados, em protecionismo, barreiras ao comércio, controle de preços. Até que enfim, a sinceridade.

Metas de inflação, Lei de Responsabilidade Fiscal, autonomia do Banco Central, agências reguladoras independentes, incentivo à competição, comércio internacional livre, câmbio flutuante, tudo isso é estrangeiro às crenças do partido do governo e dos seus mais notórios economistas. Eles sempre defenderam nos seus programas: controle do Estado, subsídio a empresas nacionais, proteção até para as empresas estrangeiras, especialmente se forem montadoras de veículos.

A elevação do IPI do carro importado em espantosos 30 pontos percentuais é apenas mais um passo. O governo está, desde a segunda administração Lula, saindo à francesa dos compromissos assumidos na Carta aos Brasileiros. Aumentou fortemente a estatização da economia, enfraqueceu as agências, manipulou o superávit primário do ano passado, ameaça a credibilidade do Banco Central e quer relativizar as metas de inflação. Fechar as portas aos carros importados por outras montadoras que não as instaladas no país é apenas uma das medidas.

A política foi formatada sob medida para as montadoras instaladas no Brasil que sempre tiveram muita influência e poder de persuasão sobre eles. De tudo do setor que entra no Brasil 75% são importados pelas próprias montadoras. E de onde vêm? Principalmente da Argentina. Dos US$ 10,9 bilhões importados dos argentinos de janeiro a agosto, US$ 2,7 bilhões foram de automóveis de passeio. De veículos de carga, outros US$ 890 milhões. A Argentina é a principal origem dos carros importados e eles são das próprias montadoras aqui instaladas. Fica fora da barreira porque a medida de proteção não se aplica a quem tenha 65% de conteúdo nacional "ou regional". O segundo lugar está com a Coreia, com US$ 1,5 bilhão. O terceiro é o México, com US$ 1,03 bilhão, que também é importação das montadoras, e está dentro de um regime próprio. A China que é apresentada como grande ameaça é o sexto na lista, depois de Alemanha e Japão, com apenas US$ 267 milhões.

Essa nova etapa da chamada política industrial pode bater com os burros n’água por falta de cálculo. Ontem já havia dúvida sobre como calcular os 65% de conteúdo nacional-regional. Da mesma forma que não deu certo o que foi anunciado no Brasil Maior, que era a redução do IPI das montadoras locais até 2016 desde que elas cumprissem conteúdo nacional e exigência de inovação.

O total dos carros comercializados no país por importadoras que não têm fábrica no Brasil aumentou recentemente, mas é menos de 7% do mercado. Não está criando risco de "destruir" a indústria nacional, cuja qual, a propósito, é toda estrangeira. O ministro Guido Mantega disse que o Brasil está sofrendo "assédio". A competição ajuda quando empurra as produtoras locais para menores preços e melhor qualidade dos carros. A competição é necessária nesse setor, que é concentrado. Normalmente, quem vende muito aqui acaba instalando fábrica. Foi assim que vieram para o Brasil as montadoras mais recentes. Com a abertura, elas venderam e ganharam mercado. Num segundo momento, abriram fábricas.

O problema com as antigas montadoras que dominam o mercado brasileiro há décadas é que elas se acostumaram com a reserva de mercado que foi muito boa para elas enquanto durou. O país derrubou as tarifas, mas não muito. Elas ainda são altas. Na época que o Brasil era só delas, eram feitos aqui apenas modelos velhos. Nunca foi hábito, em mais de 60 anos de indústria automobilística no Brasil, o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Tanto que elas estão agora recebendo incentivo para investir em P&D 0,5% do seu faturamento. É um espanto que não investissem isso há muito mais tempo.

Os fabricantes de caminhões adiaram ao máximo o cumprimento de normas ambientais que já seguem há anos em seus países. Só agora está sendo exigido no Brasil o motor com menor emissão de gases de efeito estufa.

O importante é entender a lógica dos fatos. Cada agravamento da crise externa é aproveitado como pretexto para adoção de mais uma das medidas do velho ideário dos economistas do governo. Assim jorraram subsídios para grandes empresas, concedidos através de endividamento público. O Estado se endivida para emprestar a juros mais baixos para os grandes grupos empresariais. Quando nem isso é bom o suficiente, o Estado vira sócio em aventuras cada vez mais perigosas. Tudo em nome de uma interpretação ultrapassada de nacionalismo.

Houve um momento da apresentação em que um ministro mais entusiasta dessa volta ao passado disse que será exigido que as empresas não subam os preços apesar de estar reduzindo a competição do produto importado. "Vamos controlar os preços", ameaçou. Eles realmente acreditam que isso é possível. Eles não falam por mal. Eles acreditam em políticas adotadas no passado. São uns saudosistas.

PROTECIONISMO NO SETOR AUTOMOBILÍSTICO E O RISCO DO JUMENTO CHIFRUDO

Reinaldo Azevedo
Revista Veja

Imaginem um cruzamento ideal entre a vaca e o jumento: o híbrido seria exímio para puxar carroça e ainda daria litros de leite. Mas e se acontecesse o contrário: nem dar leite nem servir para a tração? Seria só um jumento com chifres! É o que costuma acontecer quando uma economia aberta (ou quase) adota medidas para proteger um determinado setor, sob o pretexto de proteger empregos nacionais ou sei lá o quê.

O governo anunciou nesta quinta que vai elevar em 30 pontos percentuais o IPI de carros e caminhões que não cumprirem as novas exigências estabelecidas pelo governo: as montadoras vão ter de utilizar ao menos 65% de conteúdo nacional ou do Mercosul nos veículos, investir em pesquisa etc. — há 11 requisitos; para que não haja o aumento, será necessário cumprir pelo menos 6.

“É uma medida que garante a expansão dos investimentos no Brasil, o desenvolvimento tecnológico e a expansão da capacidade produtiva no Brasil”, afirmou Guido Mantega. É mesmo? Era o que se dizia no tempo de um clássico do protecionismo, que fez milionários e deixou o Brasil nas cavernas: a chamada Lei da Informática, de triste memória. Pode acontecer o contrário do que diz Mantega: novas empresas desistem de investir no Brasil; as que já estão aqui aproveitam para aumentar o preço e não se vêem obrigadas a concorrer; o lucro é garantido, e o brasileiro passa a pagar caro por carro meio vagabundo… É o jumento de chifres.

É evidente que o governo decidiu escolher mais um setor para “proteger”. Por que não os outros? A rotina para responder ao desequilíbrio macroeconômico será, então, essa, revestindo a concessão de privilégios de interesse estratégico? O presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotoras (Abeiva), José Luiz Gandini, fornece uma informação importante. Ele não tem motivos para gostar da medida, é evidente, mas dado é dado: em 2010, foram comercializados 120 mil carros estrangeiros num mercado de 2,5 milhões de automóveis — 4,8% do total apenas.

Mantega e o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) alegaram que isso vai proteger os empregos brasileiros etc e tal. É um argumento clássico do protecionismo, não é? O fato é que o que está exportando empregos é o câmbio. Mercadante, grandiloqüente como sempre, afirmou que quem quiser se aproveitar do mercado brasileiro vai ter de investir aqui: “Mesmo porque, lá fora, não tem muitas opções”.

Vamos ver. De imediato, uma coisa é certa: o consumidor vai pagar o pato. E também vai se dar mal aquele setor da economia que investiu no mercado de carros importados segundo as regras então vigentes. Se os empregos vão ser mesmo protegidos, o tempo dirá. Medidas semelhantes, em outros momentos, só geraram atrasos e alimentaram pançudos. Nem leite nem tração. Só jumento de chifres.

02 setembro 2011

FUMAÇA SOBRE O LESTE DO ACRE SE ORIGINA NA BOLÍVIA

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

As imagens dos satélites da NASA/MODIS não deixam dúvida: a fumaça que estacionou sobre Rio Branco desde ontem (01/09) vem, majoritariamente da Bolívia. Esta situação é favorecida pela direção do vento, que sopra no sentido noroeste.
Com isso praticamente todo o Acre está encoberto por uma densa camada de fumaça de queimadas que estão sendo realizadas nas cercanias de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia.



Para piorar a situação, existe uma camada de nuvens estacionada sobre a nossa cidade, o que reforça a impressão de fumaça excessiva no ar.



Não é possível estimar o percentual de contribuição da fumaça de origem boliviana. Mas é certo que parte da fumaça que encobre Rio Branco também tem origem no leste do Acre. A primeira semana de setembro tem sido, historicamente, elegida por nossos agricultores como o período ideal para realizar queimadas. Nesta semana o número de focos de calor detectados no Acre sempre são mais elevados do que em outros períodos do ano.