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15 janeiro 2013

ESTUDO REVELA ALTA PREVALÊNCIA DE ANEMIA EM CRIANÇAS DE RIO BRANCO

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

A anemia é um problema de saúde pública de alcance global que atinge, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 293 milhões de crianças menores de 5 anos em todo o mundo e sua prevalência mundial é estimada em 47,4%. No Brasil, a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, realizada pelo Ministério da Saúde em 2006, revelou prevalência em 20,9% das crianças brasileiras. Para a região Norte, este relatório indicou apenas 10,4% de crianças anêmicas.

Entretanto, pesquisas científicas mais recentes realizadas em várias regiões do país revelaram prevalências maiores de anemia infantil. No Acre, um estudo revelou uma alarmante prevalência de 57,3% no município de Jordão. Outro estudo realizado em Acrelândia e Assis Brasil revelou prevalências de anemia de 24,5% e 36,3%, respectivamente. Os números de Assis Brasil são 50% superiores à média nacional. É importante ressaltar que prevalências de anemia acima de 40% indicam, segundo a OMS, um problema grave em saúde pública.

Em razão da importância da anemia em contexto mundial e nacional e da carência de informações relacionadas ao problema na capital acreana, um grupo de pesquisadores do Centro de Ciências da Saúde e Desporto da Universidade Federal do Acre (UFAC), liderados pelo professor Orivaldo Florêncio de Souza, investigou a prevalência e os fatores associados à anemia em crianças menores de 5 anos residentes em Rio Branco.

Para o estudo foram avaliadas 610 crianças e o diagnóstico de anemia foi positivo quando os participantes do estudo apresentavam teor inferior a 110 g/l de hemoglobina no sangue. Para determinar os principais fatores associados com a prevalência de anemia foram coletadas informações sobre as crianças, práticas alimentares adotadas por suas famílias e informações sobre a condição sócio-econômica das mães.

O resultado da pesquisa indicou que a prevalência de anemia foi de 51,8%. Na faixa etária dos 6 aos 11 meses, a prevalência foi ainda mais elevada, sendo de 65,7% e 87,8% para os sexos masculino e feminino, respectivamente. Dentre os fatores associados à anemia, os mais significativos foram idade das crianças inferior a 2 anos, mães com escolaridade inferior a 8 anos, histórico de anemia entre as mães, e frequência de consumo de carnes e frutas inferior a uma vez por semana.

A pesquisa revelou ainda a pouca efetividade e baixa cobertura (49,6%) do Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF) em Rio Branco. O PNFS é um programa criado pelo Ministério da Saúde em 2005 que consiste na suplementação profilática com xarope de sulfato ferroso para crianças entre 6 e 18 meses de idade.

A conclusão do estudo é de que a prevalência de anemia em crianças de Rio Branco é um problema grave de saúde pública. As crianças cujas mães tinham baixa escolaridade e estavam acometidas por anemia mostraram-se mais suscetíveis à mesma. Práticas alimentares inadequadas com frequência de consumo de carnes e frutas inferior a uma vez na semana favorecem significativamente a ocorrência de anemia nas crianças avaliadas.
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O artigo “Anemia em crianças de Rio Branco, AC: prevalência e fatores associados” de autoria de Orivaldo Florencio de Souza, Lucas Felipe de Macedo, Cristieli Sérgio de Menezes Oliveira, Thiago Santos de Araújo, e Pascoal Torres Muniz foi publicado na revista científica Journal of Human Growth and Development volume 22, número 3, páginas 307 a 313.

12 janeiro 2013

PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS*

"...Considere, como exemplo, uma área de mil hectares da Amazônia que é desmatada para a implantação de projetos de pecuária extensiva. As contas nacionais irão registrar a produção anual ou trimestral de grãos e de carnes durante o período da operação dos projetos. Mas nada dirão sobre o valor econômico do capital natural destruído: a madeira de lei, a biodiversidade, a bioenergia, o banco genético, etc." 

Paulo R. Haddad**

No ano 1600 a.C., o imperador chinês Yu dizia que, para proteger as nossas águas, era preciso proteger as nossas montanhas. A afirmativa estabelecia com clareza a diferença entre o que é uma variável estoque e o que é uma variável fluxo, assim como as interdependências entre elas. A variável estoque é estimada num dado momento do tempo e expressa o valor da riqueza ou do patrimônio acumulados até então. A variável fluxo é estimada ao longo de um período de tempo e expressa o valor da renda, da demanda e dos serviços nesse período.

No Brasil, o sistema de contas nacionais está estruturado para medir os fluxos de produção, de consumo, de investimentos, etc., que ocorrem ao longo do ano e do trimestre. Não se referem ao capital nacional, seja ele o capital físico (infraestrutura, máquinas e equipamentos, etc.) ou o capital natural (florestas, bacias hidrográficas, biodiversidade, etc.) acumulado ou depreciado até determinado ponto no tempo.

Essa lacuna no sistema leva a imprecisões e equívocos muito significativos sobre o que está ocorrendo com a realidade econômica do País e de suas regiões. Considere, como exemplo, uma área de mil hectares da Amazônia que é desmatada para a implantação de projetos de pecuária extensiva. As contas nacionais irão registrar a produção anual ou trimestral de grãos e de carnes durante o período da operação dos projetos. Mas nada dirão sobre o valor econômico do capital natural destruído: a madeira de lei, a biodiversidade, a bioenergia, o banco genético, etc.

Estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre situações como essa, considerando desmatamentos feitos por queimadas, mostram que o valor econômico do que se produz, em regime de produtividade declinante dos recursos naturais, é bem inferior ao valor do que se destrói. Ademais, a história da colonização de nossas fronteiras agrícolas mostra que esse processo de destruição de valor econômico ocorreu por meio de intensos incentivos fiscais e financeiros oficiais.

Na busca de mecanismos de mercado que possam criar estímulos para equacionar essas questões do ponto de vista da sociedade, complementares aos mecanismos de comando e controle, o governo federal pretende instituir no País um sistema de pagamentos por serviços ambientais, por meio de um Projeto de Lei encaminhado ao Congresso Nacional em 2009. Os serviços ambientais são benefícios derivados da natureza que podem ser diretos (alimentos, por exemplo) ou indiretos (filtragem das águas) e tangíveis (matérias-primas) ou intangíveis (prazer estético). Podem ser providos localmente (turismo) ou em escala global (sequestro de carbono). Podem ser dispersos (serviços medicinais da floresta tropical) ou importantes para as futuras gerações (manutenção da biodiversidade).

A elaboração e a implementação de sistemas de pagamentos por serviços ambientais passam por diferentes fases ou etapas e há muitas lições a serem aprendidas a partir de um número crescente e diversificado de experiências internacionais. Sem dúvida, um dos desafios mais complexos é a avaliação econômica dos serviços ambientais, uma vez que ainda não há luzes que possam vir do sistema de contas nacionais do País. Documentos do Ministério do Meio Ambiente mostram que muitos valores dos serviços ambientais, especialmente os relacionados com os benefícios locais, são específicos de cada contexto ecossistêmico, refletindo a inquestionável diversidade do ambiente natural e que os valores econômicos não são uma propriedade implícita dos ecossistemas, mas são integralmente vinculados ao número de beneficiários e ao contexto socioeconômico.

De qualquer forma, é preciso intensificar a mobilização política para a criação de um sistema de pagamentos por serviços ambientais no Brasil a fim de melhor preservar, conservar e restaurar os nossos ativos ambientais. Basta lembrar que os ciclos dos recursos naturais e os ciclos de nossa vida constituem o mesmo conjunto para os viventes e para os que vão nascer.

*Artigo publicado no diário ‘O Estado de S. Paulo’ em 02 de janeiro de 2013


**Paulo R. Haddad, professor do IBMEC/MG, foi ministro do planejamento, da fazenda no governo Itamar Franco.

Ilustração: CI Florestas

10 janeiro 2013

MÉTODOS DE AMADURECIMENTO ARTIFICAL DE BURITI

Sâmara Regina Santana Albuquerque (1), Janice Ferreira do Nascimento (2), Elessandro Santiago Oliveira (1), Anelise Maria Regiane (3), e Evandro J. L. Ferreira (5).

Introdução

O buriti (Mauritia flexuosa) é uma palmeira de grande porte que costuma formar grandes populações oligárquicas em regiões alagadas e de solo ácido. Possui distribuição ampla, tendo sido registrada a sua ocorrência na Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Trinidad, Venezuela e Brasil (Acre, Amazonas, Rondônia, Mato Grosso, Goiás, Pará, Minas Gerais, São Paulo, Piauí e Maranhão). No Acre é encontrado na maioria dos Municípios, mas as maiores populações ocorrem nas cercanias da cidade de Cruzeiro do Sul e ao longo de rios e outros cursos de água da bacia do rio Juruá [1]. 3.7-5.3cm de comprimento e 3-5.2cm de diâmetro

Os frutos do buriti apresentam aspecto escamoso, formato oblongo e coloração vermelho-escuro, quando maduros. Possuem comprimento médio de 3.7-5.3cm e diâmetro de 3-5.2cm. Pesam em média 32,6g, sendo constituídos de 50% de polpa, 45,2% de semente e 7,8% de casca [2]. A polpa, que possui entre 3 e 30 vezes mais Unidades Internacionais-I.U. de provitamina A do que a “cenoura” (Daucus carota), é de cor laranjada quando madura [3].

As folhas podem ser usadas para cobertura de habitações rústicas e as fibras da epiderme servem para a confecção de tecidos, cordas, redes, chapéus e bolsas. Além disso, os frutos têm grande utilização na culinária regional, no preparo de doces e geléias e na extração do óleo [4].

O óleo extraído da polpa, além de possuir características físico-químicas adequadas para uso em cosméticos, também tem potencial para ser usado na produção de Biodiesel. Entretanto, seu melhor aproveitamento qualitativo e quantitativo requer que os frutos usados apresentem maturação homogênea, garantindo alto rendimento na operação de despolpamento dos mesmos.

Material e métodos 

Foram colhidos 10 cachos com frutos não amadurecidos de uma população natural da espécie localizada no km 7 da BR 317, no município de Senador Guiomard, Acre. Os cachos foram transportados para a Unidade de Tecnologia de Alimentos (UTAL) da Universidade Federal do Acre, onde foram selecionados os frutos e estabelecidos os experimentos de maturação artificial. Teve-se o cuidado de usar apenas frutos intactos para evitar contaminação por microorganismos.


Os tratamentos usados foram os seguintes:

a) Método do carbureto: sete lotes de 100 frutos foram pesados e distribuídos em cestos plásticos previamente numerados. Os lotes foram colocados em uma câmara rudimentar feita com lona de polietileno e expostos ao gás acetileno, obtido através da reação de 350g de carbureto e 2 litros de água mantidos em recipiente de alumínio. Diariamente foi feita a reposição da água e do carbureto, retirados e pesados 100 frutos. Destes, 10 eram separados para detalhada análise visual. Os demais eram processados em despolpadeira elétrica para analisar o grau de maturação do mesocarpo.

b) Maturação em água: 500 frutos foram pesados e submergidos em uma caixa d’água fechada exposta ao sol. A água foi trocada diariamente para evitar a fermentação precoce dos frutos e a cada 24 horas foram retirados e pesados 100 frutos, dos quais dez eram separados para detalhada análise visual. Os demais eram processados em despolpadeira elétrica para analisar o grau de maturação do mesocarpo.

c) Método do sol: cinco lotes de 100 frutos foram pesados e distribuídos em bandejas de aço inoxidável (previamente enumeradas), cobertas com lona de polietileno e expostas ao sol. A cada 24 horas uma bandeja foi retirada e seus frutos pesados. Em seguida 10 frutos eram separados para detalhada análise visual e os demais eram processados em despolpadeira elétrica para analisar o grau de maturação do mesocarpo.

Para todos os tratamentos, a análise visual detalhada consistiu na avaliação dos seguintes critérios: cor da casca, desprendimento da casca, cor da polpa, consistência da polpa e aderência do pedúnculo. Depois disso os frutos maduros foram descascados e despolpados manualmente com facas e colheres de aço inoxidável. Os frutos verdes ou de vez foram colocados em béquer com água aquecida (80°C) a fim de facilitar o despolpamento manual. Para verificar a eficiência dos diferentes métodos de amadurecimento, foi realizada a análise centesimal da polpa de cada uma das amostras obtidas de cada dia e método. A quantificação dos teores de umidade foi feita em estufa a 90°C, até peso constante. O Lipídio foi obtido por extração com éter de petróleo em extrator de Soxhlet. O índice de acidez do óleo foi determinado por titulação com solução 0,1N de hidróxido de Sódio (NaOH) utilizando o óleo extraído decorrente da análise de lipídios. Os procedimentos realizados estão de acordo com as normas do Instituto Adolfo Lutz [5].

Resultados e Discussões 

A reposta dos frutos aos três métodos de maturação artificial são observados nas tabelas 1, 2 e 3. A análise visual permite concluir que conforme ocorre a maturação a casca do fruto torna-se cor de vinho e fica mais desprendida da polpa. Esta, por sua vez, torna-se mais tenra e escura, alcançando cor laranja, tem a umidade diminuída e o teor de lipídios aumentado. O fruto maduro desprende-se facilmente do pedúnculo. O método de exposição ao sol (método tradicional de maturação) não mostrou-se eficiente pois não houve maturação e sim desidratação dos frutos. O método de imersão em água leva à maturação não-uniforme dos frutos. Ou seja, os frutos podem ou não estar maduros no tempo proposto para este fim (até 5 dias). O método do carbureto mostrou-se mais indicado, uma vez que os frutos mostraram estágio de maturação uniforme. Na utilização do carbureto são necessários 5 dias para maturação completa.

Agradecimentos 

Ao CNPq, Unidade de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Acre e Fazenda Nichteroy. Referências

[1] FERREIRA, E. J. L. F. Manual das palmeiras do Acre, Brasil. Disponível em: www.nybg.org/bsci/acre/www1/manual_palmeiras.html. Acesso em: 10 Agosto 2005.

[2] ALBUQUERQUE, S. R. S., REGIANE, A. M., Estudo do fruto do buriti (Mauritia flexuosa) para obtenção de óleo e síntese de biodiesel. 29a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia, São Paulo.

[3] ALTAMAN, R.R.A., CORDEIRO, M. M. C, A industrialização do fruto do buriti( mauritia Vnifera ou Mauritia flexuosa). 5 ed. Manaus: Sergio Cardoso & CIA. LTDA. 1964.

[4] ALMEIDA, S. P. de.; SILVA, J. A. da. Piqui e buriti: importância alimentar para a população dos cerrados. Planaltina: Embrapa-CPAC, 1994. 38 p.


[5] INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz: Métodos físicos e químicos para análise de alimentos. 3. ed. São Paulo: Instituto Adolfo. 1985.

Tabela 1. Avaliação das características visuais do fruto de buriti (Mauritia flexuosa) maturados pelo método do carbureto. N. d. – não determinado











Tabela 2. Avaliação das características visuais do fruto de buriti (Mauritia flexuosa) maturados pelo método de imersão em água.










Tabela 3. Avaliação das características visuais do fruto de buriti (Mauritia flexuosa) maturados pelo método de exposição ao sol. N. d. – não determinado