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16 abril 2009

PRAIAS E BARRANCOS DOS RIOS ACREANOS SÃO LIVRES DE ANOMALIAS GEOQUÍMICAS E GEOLÓGICAS

José de Arimatéia Rodrigues do Rego*

O Estado do Acre localiza-se no extremo sudoeste da Amazônia brasileira, ocupando uma área de 153.149 km², com baixa densidade populacional (3,66 hab/km²). O estado é cortado pelas bacias dos rios Purus e Juruá, que drenam sedimentos síltico-argilosos da Formação Solimões.

No período de cheia transportam grandes quantidades de sedimentos por tração e em suspensão, que são depositados em praias (barras em pontal) formadas ao longo dos rios. No período de estiagem, as praias são expostas nos seus meandros, que além do lazer os ribeirinhos as usam para a agricultura de pequeno ciclo. As praias são cultivadas com milho (Zea-Mays) e feijão (Vigna unguiculata (L) Walp) ou não. Essas praias também apresentam uma sucessão de vegetação com capim canarana (Costus spicatus) e capim de orvalho (Brachiaria decumbes).

Esse estudo avalia a alta fertilidade dos sedimentos (solos) das praias e a afinidade geoquímica entre seus sedimentos, os cultivares e finalmente o cabelo de ribeirinhos, com o objetivo de avliar o ciclo dos elementos até o homem, bem como a importância ambiental desse ciclo. Para isto, selecionaram-se os principais rios que constituem a bacia do Juruá, a brangendo as cidades de Feijó, Tarauacá, Cruzeiro do Sul e Rodrigues Alves. Ao longo dos rios, foram estabelecidas nove estações para coleta de amostras de sedimentos de praia, folhas de capim canarana, folhas de capim de orvalho e grãos e folhas de feijão, além da medição dos parâmetros físico-químicos em campo das águas dos rios. Nas cidades ribeirinhas, foram coletadas amostras de cabelo humano.

A mineralogia dos sedimentos foi analisada por difração de raios X (DRX) e caracterização química (elementos maiores e traço) por ICP-MS. Nos cultivares foram determinados Ca, Fe, K, Na, Ba, Zn, Mo, Co, Cr, Cu, Pb, Hg, As e Se por ICP-MS e ativação neutrônica com o objetivo de determinar as concentrações desses elementos bem como sua transferência sedimento (solo) - cultivar. Nas amostras de águas, foram feitas medidas de parâmetros físico-químicos e quantificação dos suspensatos.

As praias estudadas são constituídas, essencialmente, de sedimentos de granulometria fina a silte. Apenas as praias do rio Moa não cultivadas é que são arenoquartizozas. Os sedimentos dessas praias são formados, em ordem decrescente, por quartzo, feldspato e minerais de argila (esmectita, illita e caulinita) e são, assim, ricos em SiO2 (68,0 a 98,9 % em peso), com baixos teores de Al2O3 (0,41 a 11,9%), Fe2O3 (0,13 a 4,375), MgO (0,02 a 1,03 %), K2O (0,16 a 1,94 %), CaO (0,02 a 1,05 %) e Na2O (0,02 a 1,03 %). A composição química desses sedimentos pode ser comparada com aquela do PAAS (folhelhos australianos pós-arqueanos) e, por conseguinte, com a Crosta Superior, embora ligeiramente empobrecidos em Al, Fe, Mg, K, Ti e, mais ainda, em Ca e Na, certamente diluídos pelos altos teores de SiO2.

De um modo geral, as águas dos rios da bacia do Juruá são barrentas do tipo águas brancas devido à elevada concentração de material inorgânico em suspensão (suspensatos). O critério de suspensatos e parâmetros físico-químicos (pH, OD, TDS, temperatura, resistividade, condutividade elétrica e salinidade) delimitam três zonas geográficas (sub-bacias): rio Envira-Tarauacá, Juruá e Moa. A sub-bacia Envira-Tarauacá apresenta os mais elevados valores de todos os parâmetros físico-químicos analisados, exceto resistividade. A área da sub-bacia Envira-Tarauacá coincide com a área de terras mais férteis do Estado Acre.

Dos vegetais aqui estudados, as folhas de capim canarana mostram-se mais enriquecidas em K, S, Ca, Mg, P do que as folhas de capim de orvalho. Capim canarana e capim de orvalho apresentam similaridade química com relação aos elementos K, P, S, Mg e Ca, apenas o capim canarana coletado nos sedimentos do rio Juruá tende a enriquecer-se mais em Ca e S. A transferência de elementos químicos sedimento (solo)-vegetal apresenta a seguinte ordem de absorção pelo vegetal K>P>Ca>P. Essa ordem apresenta os maiores valores para os vegetais coletados nos sedimentos do rio Envira, ressaltando a importância desse rio como o de maior potencial de transferência de macronutrientes e sendo, possivelmente, um indicador de sua fertilidade superior aos demais rios da bacia do Juruá.

O ciclo do Hg na cadeia sedimento-cultivar-humano mostra que, nos sedimentos de praia dos rios Juruá, Envira e Tarauacá, a concentração média desse elemento nos sedimentos (27 ppb) está abaixo da faixa de background (50 ppb) e nas plantas estão na faixa considerada normal (< 500 ppb) para plantas que crescem em solos com baixas concentrações de Hg; em cabelos, a concentração média de Hg nas cidades de Tarauacá, Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves e Feijó é de 3992 ppb. A menor concentração (média: 1680 ppb) foi encontrada em Feijó e a maior (6240 ppb) em Cruzeiro do Sul. São valores normais a ligeiramente indicadores de impacto, não observado na região. Os valores ligeiramente anômalos de Hg em cabelos não devem estar relacionados ao cultivares e, por conseguinte, também não devem estar relacionados aos sedimentos. Outras fontes de disponibilização de Hg para o homem devem ser avaliadas, sejam elas peixes ou carnes de animais domesticados ou selvagens. As praias e os barrancos dos rios de água branca da região central e ocidental do Acre (bacia do Juruá) são de fato férteis, adequados à agricultura de pequeno ciclo, e seus nutrientes e outros elementos são assimilados plenamente pelos vegetais e cultivares. A química dos sedimentos e a química dos cultivares, assim como de cabelos humanos, mostram que a região não apresenta anomalias geoquímicas sugestivas de impacto antropogênico, nem mesmo geológica.

*Estudante do curso de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica da UFPa. Título da dissertação: "Afinidades geoquímicas entre sedimentos (solos) e vegetação (gramíneas e cultivares), além de cabelo de ribeirinhos, ao longo das praias de rios da bacia do Juruá, no Estado do Acre e sua importância ambiental".

1 Comments:

Blogger Terra said...

Seria importante analisar também os rios da bacia do Purus. Pois casos de contaminação por metais pesados ocorrem no Acre.
Se não a causa não é a água do Purus e do Juruá, poderia ser dos peixes consumidos no Acre, mas provenientes de outras bacias hidrográficas.

17/04/2009, 16:50  

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