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21 fevereiro 2006

ESTRANHA ALAGAÇÃO* NÃO ANUNCIADA!

QUEM DIRIA QUE IRIA ALAGAR DEPOIS DE UM MÊS DE JANEIRO TÃO SECO?

Estava ansioso para comentar isso, mas aguardei um especialista se pronunciar inicialmente. O Dr. Alejandro Duarte da UFAC deu hoje depoimento ao site Notícias da Hora onde deixa claro seu espanto pela fúria de uma "alagação não anunciada". Como entender uma coisa dessa?

É isso mesmo! Os que vivem em Rio Branco sabem que uma grande alagação é precedida de muita chuva e por subidas e baixas rápidas do nível do rio Acre. Antes das grandes alagações sempre temos os problemas com os balseiros que se prendem nas pilastras da ponte metálica. Alguem viu isso acontecer esse ano? Eu não vi.

E o mais incrível é o fato do rio Acre estar se mantendo há mais de 24h no nível acima de 16,50m - e subindo alguns centímetros - quando em Xapurí e Brasiléia o mesmo já baixou para níveis quase normais a normais há muito mais tempo! Como entender isso? Será apenas o riozinho do rola? O Purus está represando o rio Acre em Boca do Acre?

Segundo Alejandro Duarte “Sempre um mês muito chuvoso antecede a ocorrência de uma alagação. Assim foi na alagação de fevereiro de 1974, quando em janeiro choveu 391mm. Foi assim também na alagação de 1988, quando janeiro e fevereiro foram muito chuvosos, com acumulados de 448,20 e 465,10mm, respectivamente. Aconteceu também na alagação de março de 1997, quando em fevereiro choveu 405,20 mm e em março 467,30mm” (Jornal Página 20, 2.02.2006).

"O pesquisador afirma que os dias que definiram a alagação no Acre transcorreram entre 31 de janeiro e 13 de fevereiro e foram influenciados pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e também da Alta da Bolívia (AB). O sistema ZCAS gerou chuvas intensas no Brasil e algumas chuvas no leste do Acre. O sistema AB trouxe intensas chuvas nos países vizinhos, Bolívia e Peru, e na região da fronteira sudeste e sul do Acre, gerando fluxos de água na bacia do Acre e na bacia do Purus” (Jornal Página 20, 2.02.2006).

Dá para se observar que, ao contrário de secas, o prazo para se saber do perigo de uma provável enchente é muito curto.

Como sugerimos anteriormente, após a cheia deve-se realizar um grande encontro de avaliação para se entender o que aconteceu realmente. De concreto esperamos que a Agência Nacional de Águas (ANA), o Governo do Estado e a UFAC assumam a implantação de um sistema mais abrangente de informação hidrológica ao longo do rio Acre e do riozinho do rola. Hoje temos na calha do rio Acre, acima de Rio Branco, 3 estações: Brasiléia, Xapurí e Fazenda Santo Afonso. É preciso triplicar esse número de estações de coletas de dados. Em situações como essas, informação vale ouro.

Tá certo que alagações no rio Acre não são súbitas, mas um estimativa correta da elevação das águas do rio Acre com 2-3 dias de antecedência seria muito importante para que a Defesa Civil local pudesse se preparar. Além disso, as famílias que vivem em áreas de risco poderiam se prevenir e promover sua mudança para locais seguros antes da chegada das águas. Aliviaria também a intensa mobilização de recursos materiais e humanos que hoje estão empenhados em atender os desabrigados.

Informação relacionada:
Pesquisador diz que enchentes no Acre podem ser reflexo de desequilíbrio ambiental do planeta, Notícias da Hora, 20.02.2006

Enchente de 2006 pode ser uma das maiores da história do Estado, Página 20, 21.02.2006

*Aos não nativos do Acre: aqui alagamento é o mesmo que alagação. É assim que se fala é assim que escrevo.