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05 agosto 2009

IMIGRAÇÃO ÁRABE PARA O BRASIL

Casa de árabes

Inicialmente temporária, a imigração árabe se instalou de vez no Brasil durante o século XX e conseguiu superar os confiltos com a adaptação religiosa.


Bernardo Camara
Revista de História da Biblioteca Nacional

“O árabe tem verdadeira simpatia pelo Brasil”. Da plateia do auditório da Biblioteca Nacional, quem garante isso é um autêntico filho da terra. O que só comprova os números dessa população que, desde o século 19, se espalha por aqui. Hoje, nada menos que 12 milhões de árabes fazem a vida no Brasil. Na última terça-feira, os historiadores Mauricio Parada, da PUC-Rio, e Paulo Hilu, da UFF, citaram alguns motivos que fizeram de nosso país território fértil para esse povo. Que, diga-se, não para de chegar.

Organizado pela Revista de História da Biblioteca Nacional, o debate resgatou aspectos que impulsionaram a imigração dos árabes nos três últimos séculos. O professor Mauricio Parada abordou dois momentos distintos do império turco.

O primeiro deles, de meados do século XIX ao início do XX, foi um período em que a população local cresceu muito, pelo maior controle de doenças e diminuição da fome. Em 50 anos, o número de habitantes já aumentava em mais de 60%. “Entre 1860 e 1914, a população do império turco passava de 18 milhões para 30 milhões”, citou Parada.

Paralelamente, o governo turco passava por uma forte crise financeira. E uma das formas de superar isso foi controlando as propriedades rurais mais de perto. A posse de terras se concentrou e o controle fiscal foi facilitado, com taxações pesadas. O resultado foi um imediato excedente populacional no campo, que acabou transbordando para os centros urbanos. Com o inchaço demográfico, a emigração se apresentava como um caminho possível.

Já na primeira metade do século XX, dois fatores criaram tensões que também contribuíram para o deslocamento dos árabes. Logo nas primeiras décadas, surgia no império turco um movimento que almejava a criação de uma sociedade secular, moderna. Uma sociedade que se desvencilhasse da antiga identidade religiosa à qual estava acostumada. A mobilização foi ganhando força até se tornar projeto político, ao longo da 1ª Guerra.

No pós-guerra, Síria e Líbano permanecem sob mandato francês, num colonialismo agressivo e desarticulador. “Isso gera uma maior fratura das comunidades, aprofunda tensões entre grupos e dificulta a tolerância”, ressalta o professor da PUC. “Todos esses acontecimentos estimularam o processo migratório”.

De temporário a permanente

Apesar de ser, em sua maioria, camponeses, os árabes geralmente seguiam para os centros urbanos quando chegavam ao Brasil. A vinda, a princípio, era temporária. “Eles vieram em busca de dinheiro, e não de terra. Queriam dinheiro rápido para depois voltar”, disse Paulo Hilu.

O vaivém tinha razão de ser. Na década de 1860, algumas regiões montanhosas do império turco permitiram a chegada e o crescimento da indústria de seda. A economia monetária invadiu as áreas rurais, e com a renda complementar os camponeses tiveram acesso a outros bens. Em 1910, a criação do fio sintético de seda fez a indústria desmoronar e, com ela, as economias dos camponeses.

“Quando vieram, o comércio se tornou um nicho possível para eles, pois necessitava de pouco capital inicial”, disse Hilu, para em seguida desmentir o mito de que o mascate é “criação” dos árabes. “Os árabes realmente fizeram sucesso no comércio de tecidos. Mas antes deles, havia portugueses e até alemãs mascates”.

O professor da UFF também falou sobre a resistência que os imigrantes encontraram aqui em termos culturais. Ainda que 85% fossem cristãos, a pluralidade e peculiaridades de suas manifestações esbarravam no tradicional catolicismo daqui. “A cultura árabe maometana, por exemplo, foi rejeitada pelo Brasil. Havia uma pressão para que os imigrantes adotassem o catolicismo romano”.

Esses percalços fizeram com que, até a década de 80, as expressões típicas dos árabes, seja na culinária ou na religião, fossem mais vivenciadas em lugares restritos, como o próprio ambiente doméstico. No entanto, Paulo Hilu destacou que hoje a cultura de lá já convive muito mais harmoniosamente com a de cá. “Tem muitos brasileiros que se convertem às religiões árabes”, exemplificou ele. “É uma cultura que conseguiu se estabilizar por aqui”.

E a julgar pelo número de imigrantes, que só faz crescer, essa íntima ligação não vai acabar tão cedo. Palavra de árabe. “O Brasil não é hegemônico e é um país que luta pela paz”, concluiu a mesma voz da plateia que confessou a simpatia de seu povo por essas terras.

1 Comments:

Anonymous Restaurante Arábia said...

Muito interessante seu post sobre a imigração árabe!
Somos do Arábia, restaurante árabe de São Paulo que valoriza ao máximo os aspectos desta cultura.
Quando estiver pela terra da garoa, passe por aqui que será muito bem recebido!

Até!

22/03/2010, 13:33  

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