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04 agosto 2009

MOTIVO FINANCEIRO DIFICULTA ACESSO DO IDOSO A TRATAMENTO MÉDICO

Motivo financeiro dificulta acesso de idoso a tratamento

Fernanda Marques
Agência Fiocruz de Notícias

Quais os motivos pelos quais os idosos não usam os medicamentos prescritos pelo médico ou usam apenas parcialmente? Para responder a esta pergunta, pesquisadores do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fiocruz e da Universidade Federal de Minas Gerais investigaram cerca de mil idosos, residentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Confirmaram que dificuldades financeiras podem prejudicar o uso dos medicamentos, mas há outras questões importantes. Quando a comunicação entre o médico e o idoso é ruim e o paciente não recebe orientações apropriadas sobre o tratamento prescrito, aumenta o risco de o mesmo não ser seguido. Os resultados do estudo estão na edição de julho da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.

Treze em cada cem idosos subutilizavam os medicamentos prescritos pelo médico por motivos financeiros. A prevalência de subutilização por motivos financeiros foi perto de 80% maior no grupo de indivíduos que raramente ou nunca obtinham esclarecimentos sobre o tratamento prescrito (Foto: Peter Ilicciev/CCS)

Treze em cada cem idosos subutilizavam os medicamentos prescritos pelo médico por motivos financeiros. Esta subutilização foi mais frequente entre idosos que apresentavam duas ou mais doenças crônicas, avaliavam a própria saúde como ruim ou muito ruim e raramente ou nunca recebiam do médico esclarecimentos sobre sua saúde e o tratamento prescrito. Por outro lado, a subutilização foi menos comum entre os idosos que tinham renda mensal superior a dois salários mínimos e contavam com plano de saúde.

De acordo com o artigo, assinado por Tatiana Chama Borges Luz, Antônio Ignácio de Loyola Filho e Maria Fernanda Lima-Costa, ainda são escassos os estudos sobre os fatores associados à subutilização de medicamentos entre idosos nos países em desenvolvimento, embora estes países concentrem 60% da população mundial idosa. “No Brasil, não existem outros estudos examinando a influência da renda do idoso na subutilização de medicamentos, todavia existem fortes evidências indicativas da importância da situação financeira para o consumo de produtos farmacêuticos por esta parcela da população”, dizem os pesquisadores. “O gasto médio mensal com medicamentos, por exemplo, chega a comprometer um quarto da renda de metade dos idosos do país”, completam.

No entanto, juntamente com a questão da renda, existem outros fatores que comprometem o uso dos medicamentos pelos idosos. “Outra associação observada em nosso estudo diz respeito à qualidade da relação médico-paciente, aqui medida pela freqüência com que o médico, ou outro profissional de saúde, esclarece o usuário sobre sua saúde e tratamento”, dizem os autores. “A prevalência de subutilização por motivos financeiros foi perto de 80% maior no grupo de indivíduos que raramente ou nunca obtém tais esclarecimentos”, destacam. Estes resultados demonstram a importância de aspectos como a comunicação, a confiança, a compreensão e o cuidado na relação entre médicos e pacientes, especialmente idosos.

O estudo evidencia, ainda, uma situação de risco: idosos com piores condições de saúde estariam mais sujeitos a subutilizar os medicamentos necessários ao seu tratamento. “Esses achados apontam para a necessidade de que os profissionais de saúde, ao prescreverem medicamentos, considerem a capacidade de custeio do usuário e preocupem-se em esclarecer seus pacientes sobre o tratamento e os riscos que a prática da subutilização embute, particularmente entre os idosos em piores condições de saúde”, ressaltam os pesquisadores. “Os planejadores de saúde, por sua vez, devem desenvolver ações para reduzir os obstáculos financeiros ao uso de medicamentos, seja pelo aumento da disponibilidade dos mesmos na rede pública, seja pelo desenvolvimento de mecanismos que resultem na redução dos preços dos produtos na rede privada”, recomendam.

Para ler o artigo científico original, clique aqui.