ESTUDO IDENTIFICA ESTRATÉGIAS PARA COMUNICAÇÃO DE DIAGNÓSTICO DE HIV
Fernanda Marques
Agência Fiocruz de Notícias
Uma pessoa descobre ser portadora do HIV e, em meio a todos os desafios impostos por esta condição, ela tem a difícil tarefa de contar a seu parceiro que está infectada. Essa tarefa, no entanto, não é apenas do paciente: ele a compartilha com o profissional de saúde, que tem uma responsabilidade técnica nessa comunicação. Afinal, a comunicação ao parceiro pode ser fundamental na interrupção da cadeia de transmissão do HIV. Esse tema – que envolve não só aspectos biomédicos, mas também psicológicos e sociais – foi alvo de uma pesquisa publicada na edição de agosto do periódico Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.
O artigo – assinado por Neide Emy Kurokawa e Silva, do Serviço Especializado em DST/Aids Santana da Prefeitura de São Paulo, e José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) – descreve um estudo para o qual foram ouvidos, coletiva ou individualmente, profissionais de saúde e pacientes de serviços paulistanos especializados em DST/Aids. O objetivo da pesquisa era conhecer as estratégias usadas pelos profissionais de saúde para a comunicação de diagnóstico de HIV a parceiros sexuais. “Oscila-se entre estratégias de ameaça e de cumplicidade e o principal foco é minimizar o estigma que cerca o portador do vírus”, afirmam os pesquisadores no artigo.
Foram entrevistados profissionais de diferentes áreas, tais como educação em saúde, enfermagem, fonoaudiologia, medicina, nutrição, psicologia, serviço social e terapia ocupacional. As entrevistas revelaram que esses profissionais, frequentemente, lidavam com situações em que os pacientes se negavam a contar aos parceiros sobre o diagnóstico de HIV ou não conseguiam fazê-lo. “A partir do momento em que tomam conhecimento de que a condição sorológica para o HIV não foi comunicada aos parceiros, os profissionais têm como medida geral aconselhar os pacientes a fazê-lo”, dizem os autores. “Embora possam acolher e se compadecer da dificuldade dos pacientes nessa comunicação, raramente os profissionais abrem mão da prerrogativa de insistir na necessidade de que os parceiros sejam informados da situação”.
Em outras palavras, “os profissionais assumem o dever de tomar alguma iniciativa quando os pacientes não conseguem, não querem ou não podem comunicar seus diagnósticos aos parceiros”. Os profissionais de saúde lançam mão de estratégias variadas para que a comunicação do diagnóstico de HIV seja feita. Tendo como referência a Teoria da Ação Comunicativa, de Jürge Habermas, os pesquisadores identificaram cinco categorias de estratégias: ameaça, campanha, conselho, cumplicidade e comunicação.
“Uma das estratégias mais drásticas é a ameaça, entendida como um modo de tentar coagir o paciente a revelar o seu diagnóstico, anunciando possíveis sanções, caso essa comunicação não seja feita”, explicam os pesquisadores no artigo. As sanções vão desde a comunicação ao parceiro à revelia do paciente até as possíveis implicações legais e judiciais da omissão do diagnóstico. Entretanto, “via de regra, a ameaça tem muito mais o intuito de intimidar o paciente do que a intenção de cumpri-la”, completam os autores.
Outra estratégia é a campanha, na qual os profissionais insistem, em seus discursos com os pacientes, sobre a importância e a necessidade de que aquele diagnóstico de HIV não seja ocultado dos parceiros. Já o conselho, de acordo com os pesquisadores, é caracterizado por uma relação ainda mais direta e intensa entre profissional e paciente. “A interação produz um ativo esforço interpessoal com intuito de solucionar o problema da revelação, atravessado por racionalidades e afetos”, dizem os autores. “Os conselhos também são marcados por máximas em torno das relações conjugais, que contrastam o amor e o afeto com as reações diante da revelação do diagnóstico de HIV ao parceiro”, completam.
A cumplicidade, por sua vez, segue na mesma linha do conselho, isto é, trata-se de uma estratégia fortemente baseada na relação interpessoal. “Ela se manifesta tanto quando o profissional se oferece para participar do processo de comunicação, ou mesmo responsabilizar-se pela sua realização, quanto no compartilhamento de um ‘teatro’ visando criar condições favoráveis para que ela seja feita”, pontuam Neide e José Ricardo no artigo.
Por fim, os pesquisadores identificaram a estratégia de grupo de discussão, em que os profissionais compartilharam a tarefa da comunicação do diagnóstico, não sob a forma de tutela do paciente, mas promovendo um ativo diálogo entre ambos, a partir do qual foi possível não apenas a explicitação das dificuldades envolvidas, mas também um ”exercício de posicionamento diante da infecção, de si mesmo e do outro“. O grupo de discussão foi acompanhado pelos pesquisadores em duas sessões de um grupo educativo dirigido a mulheres com HIV/AIDS e que tinha como objetivo debater a comunicação desse diagnóstico a parceiros presentes, passados e potenciais. “Ao organizarem esse grupo, a expectativa dos profissionais foi enriquecer o repertório argumentativo das mulheres com dificuldades para fazer a revelação aos seus parceiros, por meio da explicitação de suas experiências e temores”, resumem os autores.
As conclusões do estudo apontam para a dupla responsabilidade dos profissionais – com o parceiro, em risco de ser infectado pelo HIV, e com o paciente, em meio a seus medos e anseios, buscando evitar estigmas. “O que vimos, antes de qualquer coisa, foi a diversidade das estratégias adotadas frente a essas tensões e particularidades, com os méritos e dificuldades de cada uma delas”, concluem no artigo.
Para ler a íntegra do artigo, clique aqui.
Agência Fiocruz de Notícias
Uma pessoa descobre ser portadora do HIV e, em meio a todos os desafios impostos por esta condição, ela tem a difícil tarefa de contar a seu parceiro que está infectada. Essa tarefa, no entanto, não é apenas do paciente: ele a compartilha com o profissional de saúde, que tem uma responsabilidade técnica nessa comunicação. Afinal, a comunicação ao parceiro pode ser fundamental na interrupção da cadeia de transmissão do HIV. Esse tema – que envolve não só aspectos biomédicos, mas também psicológicos e sociais – foi alvo de uma pesquisa publicada na edição de agosto do periódico Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.
O artigo – assinado por Neide Emy Kurokawa e Silva, do Serviço Especializado em DST/Aids Santana da Prefeitura de São Paulo, e José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) – descreve um estudo para o qual foram ouvidos, coletiva ou individualmente, profissionais de saúde e pacientes de serviços paulistanos especializados em DST/Aids. O objetivo da pesquisa era conhecer as estratégias usadas pelos profissionais de saúde para a comunicação de diagnóstico de HIV a parceiros sexuais. “Oscila-se entre estratégias de ameaça e de cumplicidade e o principal foco é minimizar o estigma que cerca o portador do vírus”, afirmam os pesquisadores no artigo.
Foram entrevistados profissionais de diferentes áreas, tais como educação em saúde, enfermagem, fonoaudiologia, medicina, nutrição, psicologia, serviço social e terapia ocupacional. As entrevistas revelaram que esses profissionais, frequentemente, lidavam com situações em que os pacientes se negavam a contar aos parceiros sobre o diagnóstico de HIV ou não conseguiam fazê-lo. “A partir do momento em que tomam conhecimento de que a condição sorológica para o HIV não foi comunicada aos parceiros, os profissionais têm como medida geral aconselhar os pacientes a fazê-lo”, dizem os autores. “Embora possam acolher e se compadecer da dificuldade dos pacientes nessa comunicação, raramente os profissionais abrem mão da prerrogativa de insistir na necessidade de que os parceiros sejam informados da situação”.
Em outras palavras, “os profissionais assumem o dever de tomar alguma iniciativa quando os pacientes não conseguem, não querem ou não podem comunicar seus diagnósticos aos parceiros”. Os profissionais de saúde lançam mão de estratégias variadas para que a comunicação do diagnóstico de HIV seja feita. Tendo como referência a Teoria da Ação Comunicativa, de Jürge Habermas, os pesquisadores identificaram cinco categorias de estratégias: ameaça, campanha, conselho, cumplicidade e comunicação.
“Uma das estratégias mais drásticas é a ameaça, entendida como um modo de tentar coagir o paciente a revelar o seu diagnóstico, anunciando possíveis sanções, caso essa comunicação não seja feita”, explicam os pesquisadores no artigo. As sanções vão desde a comunicação ao parceiro à revelia do paciente até as possíveis implicações legais e judiciais da omissão do diagnóstico. Entretanto, “via de regra, a ameaça tem muito mais o intuito de intimidar o paciente do que a intenção de cumpri-la”, completam os autores.
Outra estratégia é a campanha, na qual os profissionais insistem, em seus discursos com os pacientes, sobre a importância e a necessidade de que aquele diagnóstico de HIV não seja ocultado dos parceiros. Já o conselho, de acordo com os pesquisadores, é caracterizado por uma relação ainda mais direta e intensa entre profissional e paciente. “A interação produz um ativo esforço interpessoal com intuito de solucionar o problema da revelação, atravessado por racionalidades e afetos”, dizem os autores. “Os conselhos também são marcados por máximas em torno das relações conjugais, que contrastam o amor e o afeto com as reações diante da revelação do diagnóstico de HIV ao parceiro”, completam.
A cumplicidade, por sua vez, segue na mesma linha do conselho, isto é, trata-se de uma estratégia fortemente baseada na relação interpessoal. “Ela se manifesta tanto quando o profissional se oferece para participar do processo de comunicação, ou mesmo responsabilizar-se pela sua realização, quanto no compartilhamento de um ‘teatro’ visando criar condições favoráveis para que ela seja feita”, pontuam Neide e José Ricardo no artigo.
Por fim, os pesquisadores identificaram a estratégia de grupo de discussão, em que os profissionais compartilharam a tarefa da comunicação do diagnóstico, não sob a forma de tutela do paciente, mas promovendo um ativo diálogo entre ambos, a partir do qual foi possível não apenas a explicitação das dificuldades envolvidas, mas também um ”exercício de posicionamento diante da infecção, de si mesmo e do outro“. O grupo de discussão foi acompanhado pelos pesquisadores em duas sessões de um grupo educativo dirigido a mulheres com HIV/AIDS e que tinha como objetivo debater a comunicação desse diagnóstico a parceiros presentes, passados e potenciais. “Ao organizarem esse grupo, a expectativa dos profissionais foi enriquecer o repertório argumentativo das mulheres com dificuldades para fazer a revelação aos seus parceiros, por meio da explicitação de suas experiências e temores”, resumem os autores.
As conclusões do estudo apontam para a dupla responsabilidade dos profissionais – com o parceiro, em risco de ser infectado pelo HIV, e com o paciente, em meio a seus medos e anseios, buscando evitar estigmas. “O que vimos, antes de qualquer coisa, foi a diversidade das estratégias adotadas frente a essas tensões e particularidades, com os méritos e dificuldades de cada uma delas”, concluem no artigo.
Para ler a íntegra do artigo, clique aqui.
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