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07 setembro 2010

61 CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Desde domingo (05/09) e até a próxima sexta (10/09), estarei em Manaus participando do 61. Congresso Nacional de Botânica.

Fui convidado pelos organizadores do evento para apresentar uma palestra sobre João Barbosa Rodrigues, o mais famoso botânico brasileiro.

Estarei ao lado do Dr. William Rodrigues e da Dra. Ariane Luna Peixoto, que também falarão sobre o polivalente cientista brasileiro.

Fiz questão de abordar na palestra que irei ministrar, um evento que se passou com Barbosa Rodrigues em 1879 e que deixou claro que a mania brasileira de achar que 'santo de casa não faz milagra' é coisa muito antiga. Me refiro ao imbróglio que envolveu o pesquisador brasileiro e o médico escocês James Trail.

Em um discurso que fez perante representantes da corte imperial no Rio de Janeiro em 1879, Barbosa Rodrigues acusou publicamente o britânico de ter roubado suas espécies novas de palmeiras. Segundo Rodrigues ele se aproveitou do fato do brasileiro ter mostrado os resultados de suas pesquisas - incluindo seus desenhos coloridos (verdadeiras obras de arte), por ocasião do encontro que tiveram no interior do Pará no início de 1874.

O protesto do Brasileiro foi publicado em 1879, logo após Barbosa ter tido acesso a revistas científicas inglêsas publicadas em 1876-1877 nas quais James Trail descreveu e publicou 72 novas espécies, variedades e sub-espécies de palmeiras.

No seu texto (Protesto appendice ao Enumeratio novarum palmarum), o botânico brasileiro desdenha do britânico de forma explícita, conforme se pode ler em parte do texto que reproduzo abaixo:

“O Sr. Trail não sabia correr matto...”

“...Na matta [ele] tomou a minha dianteira ...quando avistei uma palmeira, que à primeira vista, conheci ser inteiramente nova...O Sr. Trail passou junto, com a mão arredou a folha para que os espinhos não lhe ferissem o rosto e seguiu...”

“Mostrei-lhe a novidade...elle...desesperou, metteu as mãos aos cabelos e só me perguntava:


- É nova? É nova?”

Inesperado encontro na Amazônia

Quando veio para a Amazônia em 1872, coletar palmeiras e outros artefatos de interesse científico a mando do imperador D. Pedro II, e com patrocínio financeiro do Barão de Capanema, Barbosa Rodrigues já era um botânico experiente, tendo realizado excursões botânicas no sudeste e sul do Brasil.

James Trail veio para o Brasil na condição de médico de uma missão científica inglesa e nunca tinha participado de excursão botânica ou coletado sequer uma amostra de 'mato'.

Orientado por Hooker, então diretor do Kew Garden, em Londres, Trail chegou a Belém e demorou cerca de 3 meses para encontrar o pesquisador brasileiro. O agora histórico encontro aconteceu em janeiro de 1874 em Óbidos-PA.

Como bom brasileiro, logo após ser apresentado ao britânico, Barbosa Rodrigues se abriu completamente, mostrando uma generosidade impar: deixou o inglês ver suas coletas, desenhos e diagnósticos de novas espécies de palmeiras que vinha coletando desde 1872, e que deveria levar de volta para o Rio de Janeiro.

Essas conversas iniciais despertaram em Trail o interesse pelas palmeiras. Tanto que o inglês o convidou, e Barbosa Rodrigues aceitou, para fazerem juntos uma viagem de 11 dias pelo rio Trombetas.

Depois desse encontro, cada um seguiu seu caminho.

Barbosa Rodrigues retornou ao Rio em 1875 e de imediato publicou suas espécies no Enumeratio palmarum Novarum. Trail viajou para diversos lugares da Amazônia sempre coletando amostras botânicas de palmeiras e retornou para a Inglaterra em 1875. Os resultados de seu trabalho no Brasil foram publicados entre 1876 e 1877.

A “revolta” de Barbosa Rodrigues

Nas publicações de Trail a maioria das espécies de Barbosa Rodrigues foi desconsiderada e em alguns casos Trail tomou para si a prioridade que deveria ser de Barbosa Rodrigues, como foi o caso coma a palmeira Bactris elegans.

Felizmente o julgamento da história foi favorável ao brasileiro. Depois de suas publicações, Trail caiu no anonimato. Nunca mais retornou à Amazônia e nem publicou qualquer outra espécie nova de palmeira.

Barbosa Rodrigues, por seu lado, foi reconhecido como um grande naturalista. Retornou à Amazônia para ser diretor do Museu Botânico do Amazonas (1883-1890), e depois assumiu a direção do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Apesar disso, as leis e convenções botânicas garantiram a perpetuidade das espécies publicadas por Trail. Nesse ponto, Barbosa Rodrigues ficou no limbo, pois muitas de suas espécies nunca foram reconhecidas como válidas.

Culpa do excesso de zelo dos seus pares brasileiros, que eram extremamente críticos e rigorosos quando um brasileiro tentava publicar novidades botânicas. Sem contar as dificuldades financeiras para a publicação das revistas e livros científicos.

A tardia publicação (1903) do excepcional Sertum Palmarum Brasiliensium não resolveu o problema.

2 Comments:

Blogger Terra said...

Caro Evandro:
Sobre o grande botânico Barbosa Rodrigues gostaria de lembrar a descrição do Purussaurus brasiliensis, Barbosa Rodrigues 1892.
O exemplar tipo desapareceu, mas ficou a descrição e desenhos na revista Vellosia. Por muitos anos foi considerado inválido. A reabilitação (confirmação) aconteceu em 1967 pelo Dr. Llewellyn Ivor Price no Volume I das Atas do Simpósio sobre a Biota Amazônica.
Sucesso e um abraço.
Alceu

07/09/2010, 20:29  
Blogger Evandro Ferreira said...

Alceu,

Existe uma remota possibilidade desse material ainda estar em alguma prateleira de algum orgão publico em Manaus.

Quando BR coletou o material do Purussaurus? Se foi entre 1883-1890, quando foi diretor do Museu Botanico aqui em Manaus pode ser que exista.

Todos os depoimentos sobre esse misterioso museu sugerem que as plantas se perderam - os tipos de BR são as pranchas do seu livro - mas os artefatos resistentes, como ossos, andaram bolando de um lado para outro e pelo menos até a década de 60 estavam no porão de uma escola pública daqui. Depois disso ninguem sabe ao certo para onde o acervo foi mandado. Os livros e correspondencias de BR da epoca do Museu estão na biblioteca do INPA - mais de 800 itens.
Esperança é a última que morre.

Evandro

07/09/2010, 22:14  

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