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12 março 2012

ESTUDO DO INPA PREVÊ CHEIA SEVERA NO AMAZONAS

A previsão de cheia deste ano, de 29,67 m, deverá ser apenas 10 cm abaixo da maior cheia já registrada em 2009

Por Josiane Santos

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) em parceria com o Instituto Max Planck de Química (MPIC) a cheia deste ano será das mais severas já registradas no Amazonas, com média prevista para 29,67m (margem de erro de 29,29-30,05 m), apenas 10cm abaixo que a maior cheia já registra em 2009 (29,77m).

Previsões de cheia são realizadas desde 2005 pelo pesquisador Jochen Schöngart do MPIC em parceria com o Inpa. O estudo prevêcom antecedência média de 100 dias o nível máximo com um erro médio de 38 cm. Os dados foram baseados em um modelo publicado no Journal of Hydrology que prevê cheia para a região de Manaus e arredores utilizando dados do nível d’água atual e a situação no Pacífico Equatorial (indicado pelo Índice da Oscillação Sul).

No início de março até agora, o Rio Negro registrou níveis recordes para este período do ano desde que os dados são levantados no Porto de Manaus (ano de 1903). “Nunca no início de março o rio foi tão alto quanto esse ano. Como temos uma La Ninã moderada estabelecida no Pacífico Equatorial, este fenômeno contribuiu para o aumento das chuvas na região. Isso fez o rio encher de uma forma muito rápida. O nível do rio no início do ano estava na média histórica e atingiu em dois meses um recorde”, explica Schöngart.

“O aumento de chuvas (durante La Niña) e diminuição de chuvas (durante El Niño) nas amplas cabeceiras do Rio Solimões e seus afluentes resulta, consequentemente, em cheias mais severas (La Niña) e cheias mais fracas (El Niño) na região da Amazônia Central”, alerta Jochen Schöngart.

Ciclo hidrológico

A Amazônia Central possui um ciclo hidrológico caracterizado por uma cheia, que ocorre geralmente na segunda quinzena de junho, e uma vazante, que ocorre no final de outubro e início de novembro.

Segundo Schöngart, analisando a série temporal do Porto de Manaus, observa-se que nos últimos 25 anos as cheias indicam uma leve tendência de aumento e as secas tendem ser mais severas. As diferenças calculadas entre cheia e seca (amplitude anual) aumentaram durante este período resultando na maior amplitude anual registrada ano passado com 14,99 m.

Com 110 anos de dados da série temporal em Manaus, o pesquisador Schöngart afirma que esse tempo ainda não é suficiente para entender a variabilidade natural do ciclo hidrológico e dos fatores externos que influenciam o regime.

“Existe uma grande preocupação à respeito de futuras cheias e secas no contexto das mudanças climáticas, devido ao aquecimento previsto das águas superficiais dos oceanos Pacifico Equatorial e Atlântico Tropical, que tem um impacto significativo no regime pluviométrico e hidrológico na Amazônia. Porém, as séries de dados instrumentais são curtas demais para avaliar se estas tendências recentes podem ser explicadas pela variabilidade natural do regime ou se já manifestam mudanças climáticas. Além disso, o regime hidrológico na maior bacia hidrográfica do mundo é muito complexo. Comparando bacias de rios na Amazônia existem grandes diferenças em termos de amplitudes e da ocorrência temporal de cheias e secas nos regimes hidrológicos e suas associações com anomalias de temperaturas superficiais dos oceanos tropicais”, explica Schöngart.

Por isso o Inpa, MPIC e o Grupo de pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de áreas Úmidas (Maua) liderado pela pesquisadora do Inpa, Maria Teresa Piedade, estão trabalhando na reconstrução do regime hidrológico utilizando anéis de crescimento de árvores das florestas alagáveis.

“É importante fazer reconstruções do regime hidrológico utilizando os anéis de crescimento de árvores que registram esses eventos de cheias grandes e cheias mais fracas, com isso queremos ter mais conhecimento sobre a variabilidade natural dos regimes. Porque só com esse conhecimento podemos fazer cenários aprimorados para o futuro, se só se basearmos em séries curtas de dados instrumentais, não podemos fazer previsões acuradas”, destaca o pesquisador.

O pesquisador ressalta que essas mudanças interferem, principalmente, no modo de vida das comunidades residentes nos locais sofridos por esses fenômenos. “O pulso de inundação controla os ritmos de crescimento, ciclos de vida de espécies de fauna e flora nas áreas alagáveis e as atividades econômicas das populações ribeirinhas como pesca, agricultura e extração de madeira”.