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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

11 outubro 2007

MUDANÇA DO FUSO HORÁRIO DO ACRE

Ainda estou confuso

Moisés Diniz*

Devo dizer que sinto uma inveja sadia dos belos textos do Toinho Alves e da Leila Jalul. Eles exalam a força da irreverência acreana, filha predileta das colocações insatisfeitas e dos tapiris "encrenqueiros", que ousavam se levantar contra o barracão.

Mas eles se levantavam sem sair do chão. Não pegavam em armas ou faziam rebelião. Colocavam barro e pilhas velhas dentro das pélas, como forma de combater o preço abusivo da estiva, o pagamento da “renda” e o valor degradante do suor e dos calos de suas mãos.

Era uma espécie de guerra de guerrilhas contra o barracão. E o dono da terra, dos rios e dos cipoais não sabiam como reagir. Assim escrevem, com beleza e maestria, os magos Toinho e Leila. Somente eles, com a sua teimosia e a sua irreverência, para me fazer voltar a escrever sobre fuso horário, um tema obtuso, sobre qual o povo não está nem aí.

Sobre esse tema, quero fazer uma promessa. Uma confissão.

Não vou lutar para mudar o horário em que canta o galo, nem o galo velho, o de briga, nem o pintinho que não sabe cantar. Não vou ajudar numa mudança que implique deixar a coruja piando mais cedo, só porque o piado é triste e sonoriza a ‘boca da noite’.

Não ajudarei a adiantar o canto do grilo, o pingo da chuva não pode cair mais cedo, tão pouco subir aos céus o mágico orvalho. Não vou mexer no beijo da adolescente, pois ela tem o seu horário para beijar, escondido, carente.

Não vou me intrometer no orgasmo da prostituta, nem mexer no vento da biruta, tampouco reduzir o tempo do porre, trocar o horário da pinga, na ginga da capoeira, na ladeira da Maternidade. Não vou calar o choro da criança que nasce.

Deus me livre de mexer no horário da homilia. Como vou controlar o horário da dor, do abraço, do cansaço e da hemorragia? Não vou induzir o caminho do vento, a fumaça, o fogo, a multa, não adiantarei nenhuma faixa da melodia.

Como é confuso esse negócio de fuso! Imagine se eu falasse de novela, violência vespertina, gravidez precoce, pornografia. Transação bancária, avião? Isso não! Eu vou é fazer do fuso uma poesia...

*Moisés Diniz é deputado estadual do PC do B e era o principal defensor da mudança do nosso fuso horário. Seu belo texto abdicando da luta pela mudança do fuso horário do Acre foi publicado no Blog do Altino Machado.