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16 janeiro 2008

PRONTUÁRIOS MÉDICOS ILEGÍVEIS COMPROMETEM ATENDIMENTO DE PACIENTES

Qualidade dos prontuários médicos está em xeque. A maioria é ilegível

Paula Lourenço, Agência Fiocruz

O atendimento prestado nos serviços de saúde pode ser comprometido por uma simples falha: a má qualidade dos prontuários médicos. Pesquisa feita no Recife indica que 94% desses documentos foram preenchidos de forma incompleta ou com letras ilegíveis, o que interrompe o acompanhamento do paciente e impede um planejamento mais adequado na saúde pública. Isso pode acontecer, por exemplo, com a aquisição de medicamentos e na elaboração campanhas preventivas. O estudo aponta também que 30% dos prontuários só com dados cadastrais da pessoa atendida. E, pior, nenhum dos 1.381 documentos analisados estava bom, no máximo, regular.

Os dados constam do livro Avaliação do preenchimento de prontuários e fichas clínicas médicas no IV Distrito Sanitário – Recife/PE, organizado por Adriano Cavalcante Sampaio e Maria Dilma de Alencar Barros. A pesquisa teve como base prontuários preenchidos por médicos das áreas clínica, pediátrica e tocoginecológica. Esses profissionais prestam atendimento no Programa de Saúde da Família, nos centros de saúde Caiara, Joaquim Cavalcanti e Lessa de Andrade, todos da Prefeitura do Recife, e dos hospitais públicos Getúlio Vargas e Barão de Lucena, além do Hospital das Clínicas da UFPE.

“Ensinamos na graduação e na pós-graduação de medicina. Sabíamos que o problema do prontuário existia, mas o resultado foi bem pior do que imaginávamos”, relatou o médico sanitarista Adriano Sampaio, que realizou o estudo com o apoio do CPqAM e da Universidade de Pernambuco (UPE). “No entanto, essa realidade não é pernambucana. É uma realidade nacional. Dessa forma, não temos condições de acompanhar o enfermo adequadamente, porque o atendimento é interrompido. O paciente, por sua vez, não tem condições de reclamar na Justiça qualquer problema que houver com ele, pois seu documento é o prontuário, que está preenchido erroneamente ou incompleto”, disse.

O problema da péssima qualidade do prontuário é causado por uma série de fatores. “Um deles é a cultura da rapidez no preenchimento dos dados. Outra questão está na falta de prontuários padronizados. Há, ainda, um excesso de demanda e uma cultura de descrédito da informação científica”, detalhou o médico, lembrando que o levantamento foi realizado em um ano e três meses, tendo início em 2004.

Sampaio informou que a Prefeitura do Recife e o Conselho Regional de Medicina já se reuniram com a equipe autora do livro em busca de soluções. “Uma das nossas idéias é fazer um senso com os médicos da capital pernambucana, para que eles digam que informações devem constar no prontuário. Nossa sugestão é que haja pelo menos cinco informações básicas e legíveis. Seriam elas: a queixa, ou seja, o que levou o paciente a procurar o médico; a suspeita da doença, o que foi prescrito de exames e medicamos e o resultado”, enumerou o pesquisador.