A DEMISSÃO DE MARINA SILVA
Sapos amazônicos
Eliane Catanhêde*
Lula se disse surpreso com a decisão de Marina Silva de abandonar o barco e o governo. Como sempre, disse que não viu nada, não sabia de nada, nem que a ministra do Meio Ambiente estava cansada de engolir um sapo amazônico atrás do outro. O pedido de demissão era só questão de tempo. Foi agora.
Até que Marina resistiu bem. Digamos que bem mais do que se supunha já desde o início do primeiro mandato, quando ficou claro que o PT --como, de resto, o PSDB e os grandes partidos-- é extremamente urbano e acha esse negócio de desenvolvimento sustentável uma chatice. Coisa para inglês ver. E, claro, para moldar a aura do partido politicamente correto.
Marina é uma cabocla que cresceu descalça, foi alfabetizada já mocinha, fez faculdade de história na marra e enveredou pela política no grupo do ambientalista Chico Mendes, no Acre. Magrinha e frágil, sofre com a contaminação de mercúrio.
Com essa história de vida, foi uma das figuras mais, senão a mais, aplaudida na posse de Lula em primeiro de janeiro de 2003. Mas já era, ali, o que foi durante todos os cinco anos e pouco de governo: mais um símbolo do que uma ministra no poder.
Marina perdeu, uma atrás da outra, as batalhas dos transgênicos, do licenciamento ambiental para a transposição do Rio São Francisco, do avanço das hidrelétricas na Amazônia e da decisão política de tocar a usina nuclear de Angra 3 adiante, até amargar o aumento do desmatamento.
Perdeu para Palocci, para Gushiken, para Furlan, para Stephanes, para Dilma. Por fim, perdeu o PAS (Plano da Amazônia Sustentável) para o ministro do tudo e do nada, Roberto Mangabeira Unger, que cuida da Amazônia, das leis trabalhistas, de compra de aviões com a França, de negócios de satélites com os russos...
Entre o PAC e o PAS, adivinha com o que Lula ficou? Mas ele fez pior: anunciou que a coordenação ficava com Unger já na própria solenidade de lançamento. Marina foi a última a saber. E soube em público, no meio de governadores, sem poder reagir.
Marina, portanto, perdeu tudo. O Ministério do Meio Ambiente perdeu tudo. A discussão sobre quem será o novo ministro não tinha a mínima importância, porque o novo ministro não terá a mínima importância também. Qualquer um que aceitasse já entraria perdendo.
A única preocupação era escolher bem a marca, o símbolo. Daí a decisão pelo secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, que é ligado à área. Mas... a Amazônia não é a sua praia e é aí que mora todo o problema. Por isso, seu nome pode ser insuficiente para amenizar a reação internacional.
É só para inglês ver? Ou é para virar rainha da Inglaterra?
*Eliane Cantanhêde é colunista da Folha de São Paulo
Eliane Catanhêde*
Lula se disse surpreso com a decisão de Marina Silva de abandonar o barco e o governo. Como sempre, disse que não viu nada, não sabia de nada, nem que a ministra do Meio Ambiente estava cansada de engolir um sapo amazônico atrás do outro. O pedido de demissão era só questão de tempo. Foi agora.
Até que Marina resistiu bem. Digamos que bem mais do que se supunha já desde o início do primeiro mandato, quando ficou claro que o PT --como, de resto, o PSDB e os grandes partidos-- é extremamente urbano e acha esse negócio de desenvolvimento sustentável uma chatice. Coisa para inglês ver. E, claro, para moldar a aura do partido politicamente correto.
Marina é uma cabocla que cresceu descalça, foi alfabetizada já mocinha, fez faculdade de história na marra e enveredou pela política no grupo do ambientalista Chico Mendes, no Acre. Magrinha e frágil, sofre com a contaminação de mercúrio.
Com essa história de vida, foi uma das figuras mais, senão a mais, aplaudida na posse de Lula em primeiro de janeiro de 2003. Mas já era, ali, o que foi durante todos os cinco anos e pouco de governo: mais um símbolo do que uma ministra no poder.
Marina perdeu, uma atrás da outra, as batalhas dos transgênicos, do licenciamento ambiental para a transposição do Rio São Francisco, do avanço das hidrelétricas na Amazônia e da decisão política de tocar a usina nuclear de Angra 3 adiante, até amargar o aumento do desmatamento.
Perdeu para Palocci, para Gushiken, para Furlan, para Stephanes, para Dilma. Por fim, perdeu o PAS (Plano da Amazônia Sustentável) para o ministro do tudo e do nada, Roberto Mangabeira Unger, que cuida da Amazônia, das leis trabalhistas, de compra de aviões com a França, de negócios de satélites com os russos...
Entre o PAC e o PAS, adivinha com o que Lula ficou? Mas ele fez pior: anunciou que a coordenação ficava com Unger já na própria solenidade de lançamento. Marina foi a última a saber. E soube em público, no meio de governadores, sem poder reagir.
Marina, portanto, perdeu tudo. O Ministério do Meio Ambiente perdeu tudo. A discussão sobre quem será o novo ministro não tinha a mínima importância, porque o novo ministro não terá a mínima importância também. Qualquer um que aceitasse já entraria perdendo.
A única preocupação era escolher bem a marca, o símbolo. Daí a decisão pelo secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, que é ligado à área. Mas... a Amazônia não é a sua praia e é aí que mora todo o problema. Por isso, seu nome pode ser insuficiente para amenizar a reação internacional.
É só para inglês ver? Ou é para virar rainha da Inglaterra?
*Eliane Cantanhêde é colunista da Folha de São Paulo
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