FORMAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL
“Pragas da universidade velha: conteudismo, curriculismo, primarismo, fragmentação, profissionalização”
Radis Comunicação em Saúde no 7º Congresso Brasileiro De Epidemiologia
Não ficou esquecido o papel do profissional de saúde nesse contexto de mudanças radicais. “A epidemiologia e a formação em saúde no Brasil: uma universidade nova para um mundo em transformação” foi o tema da palestra do reitor da UFBA, o epidemiologista Naomar de Almeida Filho, que iniciou sua fala analisando os quatro modelos de universidade vigentes no mundo: o americano, o europeu unificado, o europeu mediterrâneo (e de Argentina e Uruguai) e o brasileiro. Sua apresentação mostrou os três primeiros esquematizados de forma organizada e clara; somente o brasileiro apareceu representado por uma profusão de setas que se cruzavam. “Parece e é muito mais confuso”, afirmou.
Nosso modelo é caracterizado por filtro externo (vestibular), entrada nas profissões, acesso restrito, estrutura fixa e sem mobilidade, com pós-graduação dissociada da graduação, enumerou; o americano tem entrada geral, acesso regulado, estrutura flexível, boa mobilidade e pós-graduação integrada à graduação. O europeu unificado: entrada geral, acesso direto, estrutura semi-flexível, alta mobilidade e doutorado como terceiro ciclo de formação; o argentino: filtro interno, entrada nas profissões, acesso livre, estrutura fixa, imobilidade, pós não-articulada.
Paulo Henrique Martins, da UFPE: “O que mobiliza as pessoas? A política, não. A militância também não. As festas, sim. É preciso repensar os critérios de avaliação a partir da ótica do usuário e descobrir como ele está construindo a sua saúde”
O reitor apontou como problemas do modelo brasileiro a precocidade da escolha da carreira, a seleção limitada e traumática, a submissão ao mercado de trabalho e o fosso entre graduação e pós. Também criticou a monodisciplinaridade — “com currículos estreitos e bitolados” — e o foco na técnica — “que leva à formação de sujeitos culturalmente empobrecidos”. Para ele, são “pragas da universidade velha” o conteudismo, o curriculismo, o primarismo (ensino simplificado), a aditividade (pré-requisitos), a linearização, a fragmentação e a profissionalização.
A essas distorções se opõe o projeto “Universidade Nova”, baseado na transdisciplinaridade e no pensamento complexo. Em termos práticos, eis a proposta do epidemiologista: na rede pública, um regime curricular de três ciclos (integrado por bacharelados, cursos profissionalizantes, mestrados acadêmico e profissional e doutorados); novas modalidades de curso superior capazes de evitar a profissionalização e a especialização precoce; graduação alinhada à pós-graduação, em novas formas de processo seletivo.
Chamou atenção a enorme bandeira do estado do Rio Grande do Sul que tremulava aos fortes ventos no prédio da Fiergs. O visual foi escolhido para cenário de fundo de nove entre 10 fotos de recordação
O bacharelado interdisciplinar duraria três anos, seguido de licenciatura de mais um ou dois anos que habilitaria o interessado a lecionar no ensino básico, ou de cursos profissionais de mais dois a quatro anos, dependendo da carreira. No lugar do vestibular, a seleção para o bacharelado seria em teste de capacidade nos moldes do Enem. A passagem do bacharelado aos cursos profissionais dependeria do desempenho nos módulos anteriores, em seminários de aptidão e em teste de conhecimento da carreira escolhida.
Na cerimônia de encerramento, no começo da noite de quarta-feira, coube ao médico-sanitarista Moises Goldbaum, professor da Faculdade de Medicina da USP, a leitura da “Carta de Porto Alegre” — documento que sintetiza as reivindicações dos participantes do evento. O texto destaca o amadurecimento da epidemiologia no Brasil, “ao demonstrar presença segura e consequente no estudo de todas as questões relevantes e atuais que demarcam a saúde no país, seja do ponto de vista analítico e metodológico, seja da formulação de propostas de atuação”. Mas ressalva que, para que essa atuação seja efetiva, é necessária a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29 e a provisão de condições dignas e justas de trabalho aos profissionais de saúde.
“Os epidemiologistas reconhecem que o enfrentamento dos desafios postos pelo processo saúde-doença implica a organização de um novo pacto, demarcado pela solidariedade entre povos deste e de outros continentes, para que se possa dar consequência ao lema de que a saúde, menos do que gasto, é condição essencial para o digno e pleno desenvolvimento das sociedades”, encerra a carta.
Radis Comunicação em Saúde no 7º Congresso Brasileiro De Epidemiologia
Não ficou esquecido o papel do profissional de saúde nesse contexto de mudanças radicais. “A epidemiologia e a formação em saúde no Brasil: uma universidade nova para um mundo em transformação” foi o tema da palestra do reitor da UFBA, o epidemiologista Naomar de Almeida Filho, que iniciou sua fala analisando os quatro modelos de universidade vigentes no mundo: o americano, o europeu unificado, o europeu mediterrâneo (e de Argentina e Uruguai) e o brasileiro. Sua apresentação mostrou os três primeiros esquematizados de forma organizada e clara; somente o brasileiro apareceu representado por uma profusão de setas que se cruzavam. “Parece e é muito mais confuso”, afirmou.
Nosso modelo é caracterizado por filtro externo (vestibular), entrada nas profissões, acesso restrito, estrutura fixa e sem mobilidade, com pós-graduação dissociada da graduação, enumerou; o americano tem entrada geral, acesso regulado, estrutura flexível, boa mobilidade e pós-graduação integrada à graduação. O europeu unificado: entrada geral, acesso direto, estrutura semi-flexível, alta mobilidade e doutorado como terceiro ciclo de formação; o argentino: filtro interno, entrada nas profissões, acesso livre, estrutura fixa, imobilidade, pós não-articulada.
Paulo Henrique Martins, da UFPE: “O que mobiliza as pessoas? A política, não. A militância também não. As festas, sim. É preciso repensar os critérios de avaliação a partir da ótica do usuário e descobrir como ele está construindo a sua saúde”
O reitor apontou como problemas do modelo brasileiro a precocidade da escolha da carreira, a seleção limitada e traumática, a submissão ao mercado de trabalho e o fosso entre graduação e pós. Também criticou a monodisciplinaridade — “com currículos estreitos e bitolados” — e o foco na técnica — “que leva à formação de sujeitos culturalmente empobrecidos”. Para ele, são “pragas da universidade velha” o conteudismo, o curriculismo, o primarismo (ensino simplificado), a aditividade (pré-requisitos), a linearização, a fragmentação e a profissionalização.
A essas distorções se opõe o projeto “Universidade Nova”, baseado na transdisciplinaridade e no pensamento complexo. Em termos práticos, eis a proposta do epidemiologista: na rede pública, um regime curricular de três ciclos (integrado por bacharelados, cursos profissionalizantes, mestrados acadêmico e profissional e doutorados); novas modalidades de curso superior capazes de evitar a profissionalização e a especialização precoce; graduação alinhada à pós-graduação, em novas formas de processo seletivo.
Chamou atenção a enorme bandeira do estado do Rio Grande do Sul que tremulava aos fortes ventos no prédio da Fiergs. O visual foi escolhido para cenário de fundo de nove entre 10 fotos de recordação
O bacharelado interdisciplinar duraria três anos, seguido de licenciatura de mais um ou dois anos que habilitaria o interessado a lecionar no ensino básico, ou de cursos profissionais de mais dois a quatro anos, dependendo da carreira. No lugar do vestibular, a seleção para o bacharelado seria em teste de capacidade nos moldes do Enem. A passagem do bacharelado aos cursos profissionais dependeria do desempenho nos módulos anteriores, em seminários de aptidão e em teste de conhecimento da carreira escolhida.
Na cerimônia de encerramento, no começo da noite de quarta-feira, coube ao médico-sanitarista Moises Goldbaum, professor da Faculdade de Medicina da USP, a leitura da “Carta de Porto Alegre” — documento que sintetiza as reivindicações dos participantes do evento. O texto destaca o amadurecimento da epidemiologia no Brasil, “ao demonstrar presença segura e consequente no estudo de todas as questões relevantes e atuais que demarcam a saúde no país, seja do ponto de vista analítico e metodológico, seja da formulação de propostas de atuação”. Mas ressalva que, para que essa atuação seja efetiva, é necessária a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29 e a provisão de condições dignas e justas de trabalho aos profissionais de saúde.
“Os epidemiologistas reconhecem que o enfrentamento dos desafios postos pelo processo saúde-doença implica a organização de um novo pacto, demarcado pela solidariedade entre povos deste e de outros continentes, para que se possa dar consequência ao lema de que a saúde, menos do que gasto, é condição essencial para o digno e pleno desenvolvimento das sociedades”, encerra a carta.
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