PESQUISA COMPROVA O EFEITOS NOCIVOS DA FUMAÇA DAS QUEIMADAS
Resultados de pesquisas comprovam efeitos nocivos das queimadas à saúde humana
Informe Ensp
Avaliação dos efeitos das queimadas para a saúde humana na área do arco do desmatamento: a construção de indicadores para a gestão integrada de saúde e ambiente é o título do estudo que associa os efeitos nocivos da fumaça das queimadas à saúde humana. A população mato-grossense sofre todos os anos com a fumaça das queimadas durante o período de seca. Não é novidade para qualquer cidadão que, nessa época do ano, a saúde, principalmente de crianças e idosos, sofre com a má qualidade do ar. No entanto, conhecer a magnitude dos efeitos da poluição atmosférica dependia de um estudo interdisciplinar com metodologia apropriada. Segundo a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Sandra Hacon, coordenadora da componente Saúde no projeto da Rede Milênio/LBA, somente agora, com os resultados do estudo iniciado em 2006, é possível afirmar que as queimadas causam prejuízos à saúde, reduzindo a capacidade pulmonar de crianças e aumentando o número de consultas ambulatoriais e de internações hospitalares por doenças respiratórias.
Quando começou o trabalho e como foi feito o monitoramento?
Sandra: O projeto teve início em 2006. Durante o período de estudos foram monitorados poluentes atmosféricos liberados pelas queimadas, especialmente o material particulado fino (PM2,5) e o grosso (PM10). O material particulado fino emitido pelas queimadas é constituído por micropartículas menores que 2,5 micrômetros (milésima parte do milímetro), capazes de penetrar profundamente nos pulmões e atingir a corrente sanguínea.
A exposição humana às queimadas não necessariamente ocorre no local onde o foco da queima esta presente, normalmente afastada da área urbana. As altas temperaturas envolvidas na fase de chamas da combustão e a ocorrência de circulações de ar associadas às nuvens favorecem o movimento convectivo ascendente da massa de ar e podem ser responsáveis pela elevação dos poluentes gerados na queima de biomassa até a troposfera, onde podem ser transportados para regiões distantes das fontes emissoras.
Este transporte resulta em uma distribuição espacial de fumaça sobre uma extensa área, que vai influenciar a exposição humana através dos produtos de queima de biomassa, da quantidade de poluentes emitidos, da distância da população em relação à intensidade da queimada, das condições climáticas da região, da frequência da queima. Essas são algumas das razões que justificam a necessidade do monitoramento nos locais com maior aglomerado humano.
Quais os locais em que o estudo foi feito?
Sandra: Foram definidos como áreas iniciais do estudo os municípios de Alta Floresta e Tangará da Serra, em Mato Grosso, em razão do estado ter sido o campeão em números de focos de queimadas na Amazônia nos últimos anos,conforme dados de monitoramento do Inpe, além desses municípios apresentarem as maiores taxas de internação e de mortalidade por doenças respiratórias em crianças menores de 5 anos de idade.
As queimadas na Amazônia ocorrem essencialmente numa área definida como arco do desmatamento, que vai do oeste do Maranhão ao leste e sul do Pará, norte do Tocantins, e em quase todos os estados de Mato Grosso, Rondônia, Acre, além do sul do Amazonas. Os níveis de poluição durante o período de seca, em que os focos de queimadas são mais frequentes e intensos, variam de ano para ano e de estado para estado. Ainda que os níveis de poluentes variem de um município para outro nesta região, sem dúvida esses costumam ser muito mais elevados que em áreas de grandes regiões metropolitanas do Brasil.
Quais os resultados encontrados?
Sandra: Em primeiro lugar, é necessário chamar a atenção que nossa pesquisa teve inicio em 2006. Logo, necessitamos de um período para aprofundar os resultados pesquisando outras faixas etárias, outras agravos à saúde, como as doenças cardiovasculares. O estudo de partos prematuros e absenteísmo escolar fazem parte de estudos de alunos de mestrado e doutorado das universidades integrantes do estudo. Ou seja, não podemos generalizar a situação de saúde verificada nos municípios estudados para toda a Amazônia.
Os principais resultados da pesquisa mostram uma redução da capacidade pulmonar de crianças e adolescentes em cerca de até 0,34 litros por minuto de ar expirado para cada aumento de 10 ?g/m3 de material particulado fino. O grupo de pesquisa verificou também um incremento percentual médio nas internações hospitalares e nas consultas em unidades básicas de saúde por doenças respiratórias de crianças e idosos de até 7% para incrementos de 10 ?g/m3 de material particulado fino.
Foram realizados inquéritos de asma em todos os escolares e adolescentes de 6 e 7 anos e 13 a 14 anos de idade do município de Alta Floresta e Tangará da Serra. Verificou-se prevalência de asma acima da média dos municípios brasileiros entre os escolares 21% em Alta Floresta e 26% em Tangará da Serra. Esses percentuais são também mais elevados do que os verificados em Cuiabá, Manaus e Belém em estudos prévios.
Foi muito difícil fazer o estudo numa região como a Amazônia?
Sandra: A região amazônica abriga um dos ecossistemas mais ricos e complexo do planeta, e estudar efeitos da poluição atmosférica na Amazônia implica em lidar com esta complexidade na área ambiental, social e cultural. A sazonalidade da região, como períodos de seca e chuvas intensas, dificulta o monitoramento continuo da qualidade do ar e consequentemente influencia na obtenção de dados dos poluentes. O mesmo acontece com os dados meteorológicos contínuos necessários para as análises. Outra dificuldade está no porte do município; as populações residentes em municípios de pequeno ou médio porte e a agregação dos habitantes de vários municípios nem sempre é adequada, porque os níveis de poluição são distintos de uma localidade para outra. Esta é uma das razões pela qual ainda não foram analisados os efeitos da exposição em relação à mortalidade. Mas, o grupo vem trabalhando para lidar com esta dificuldade.
Existe algo que possa ser feito para evitar um aumento do problema nessas populações?
Sandra: Considero que estamos caminhando, ainda que atrasados no percurso, para o gerenciamento socioambiental das queimadas, com estudos que já mostram os efeitos das queimadas no ecossistema amazônico e em alguns grupos da população, um reforço na fiscalização por parte do governo federal e políticas públicas voltadas para a preservação da floresta com alternativas socioambientais.
Com relação à legislação vigente, não há distinção pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) quanto ao tamanho da partícula ou considerações a respeito das características da exposição por queima de biomassa na Amazônia. Praticamente durante toda estação seca, nos municípios localizados na área do arco do desmatamento, os níveis de PM2,5 permanecem acima do limite estabelecido como níveis médios diários aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde, de 35g/m3.
Por outro lado, durante as chuvas os níveis de poluição atmosférica (PM2,5) não excedem 15g/m3 de média diária, e a composição do material particulado passa a ser exclusivamente biogênica, ou seja, formada por partículas emitidas pela própria floresta que incluem, grãos de pólen, fungos entre outros elementos. Em outras palavras, a população residente na área do arco do desmatamento tem sido exposta desde o nascimento a níveis elevados de material particulado, durante cerca de três a quatro meses a cada ano.
Quais os próximos passos do grupo?
Sandra: Nós tentaremos organizar um seminário na região Centro-Oeste ainda no primeiro semestre de 2009, com gestores, pesquisadores, estudantes, comunidades e o Ministério da Saúde, Meio ambiente e educação para apresentar e discutir os primeiros resultados dos estudos realizados no período de 2006 a 2008.
Temos que ressaltar que os resultados desta primeira etapa contribuíram para que a Fiocruz passasse a integrar a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas (Rede Clima), e liderasse a sub-rede temática Mudanças Climáticas e Saúde, sob a coordenação de Christovam Barcellos e minha. A rede reúne pesquisas sobre os diversos aspectos das mudanças climáticas e pretende oferecer subsídios aos gestores para a tomada de decisão. Além disso, a Fiocruz está representada no Instituto Nacional de Mudanças Climáticas, récem-aprovado como um dos Institutos Nacionais financiados pelo MCT, CNPq, FNDCT, Capeas, Fapemig, Faperj e Fapesp e coordenado pelo professor e pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e está previsto para iniciar em abril de 2009. O instituto tem como objetivo articular e incentivar pesquisas de inovação e desenvolvimento sobre as mudanças climáticas.
Qual a equipe integrante dessa pesquisa?
Sandra Hacon: O subprojeto Avaliação dos efeitos da queima de biomassa na região do arco do desmatamento à saúde humana tem sua coordenação na Escola Ensp, sendo um dos subprojetos integrantes da Rede do Instituto do Milênio (Milênio/LBA), coordenado pelo professor Paulo Artaxo, que também é o coordenador do Grupo de Estudos de Poluição do Ar (Gepa), do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). O subprojeto tem como principal fonte de financiamento o CNPq. Participam dessa rede de pesquisa várias instituições nacionais e internacionais num trabalho composto de dez subprojetos. A componente Saúde é um subprojeto interinstitucional e interdisciplinar coordenado por mim e integra varias instituições com pesquisadores da USP, Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Inpe/Cptec, da Fundação Ecológica Cristalino (FEC) e da Fiocruz.
Como componente de uma rede de pesquisa, o estudo integra dados produzidos por outros subprojetos da mesma rede, especialmente o monitoramento da qualidade do ar, com medidas de PM 2,5, ozônio, carbono grafítico, monóxido de carbono. Esses dados são gerados pela USP sob a coordenação do Artaxo. Os dados meteorológicos, os registros de focos de queimadas por meio de satélites e do produto de modelagem de poluentes atmosféricos são produzidos pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), sob a coordenação de Karla Longo e Alberto Setzer. Toda a infraestrutura de campo e a supervisão da pesquisa no Mato Grosso esta sob a coordenação da Unemat, por intermédio de Eliane Ignotti, e da Fundação Ecológica Cristalino, por Renato de Farias. Os dados gerados na pesquisa são analisados por vários integrantes do grupo, supervisionados pelos estatísticos Antonio Ponce de Leon e o Washington Junger. A componente Saúde também reúne um grande numero de bolsistas Pibic e TEC-TEC da Ensp e da Unemat.
Na Fiocruz, a pesquisa conta com a participação dos pesquisadores do Departamento de Endemias e do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Ensp, do Icict, por intermédio do Christovam Barcellos, além de alunos de mestrado e doutorado do Programa de Saúde Publica e Meio Ambiente da Escola. O chefe do Cesteh, Hermano Castro, e o técnico Eduardo Pinheiro, também do Cesteh, são os responsáveis pelos estudos de avaliação da capacidade pulmonar em crianças e adolescentes, com a supervisão de campo da pesquisadora Eliane Ignotti (Unemat). Nos municípios de Alta Floresta e Tangará da Serra, o projeto conta com os professores da Unemat, Rivanildo Dallacort, Dionei José da Silva e Antônia Maria Rosa, Beatriz Fátima Oliveira através de um trabalho interinstitucional. O projeto também conta com o apoio das secretarias de Saúde, Educação e Meio Ambiente.
A partir de 2008, o projeto passou a ter o apoio financeiro do FNS/MS, por meio do Programa de Vigilância da Qualidade do Ar em Saúde da CGVAM. Em 2008, o mesmo grupo de pesquisa passou a integrar a projeto CET 18 da USP, sob a coordenação do prof. Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP. Porém, ainda não temos resultados dos estudos em desenvolvimento. Vale ressaltar que todos os resultados das pesquisas serão discutidos com a SVS por meio do Programa de Vigilância da Qualidade do Ar em Saúde, para que políticas públicas voltadas para a questão dos efeitos das queimadas para a saúde humana possam ser implementadas a médio e longo prazos.
(Foto: Virginia Damas/Ensp)
Informe Ensp
Avaliação dos efeitos das queimadas para a saúde humana na área do arco do desmatamento: a construção de indicadores para a gestão integrada de saúde e ambiente é o título do estudo que associa os efeitos nocivos da fumaça das queimadas à saúde humana. A população mato-grossense sofre todos os anos com a fumaça das queimadas durante o período de seca. Não é novidade para qualquer cidadão que, nessa época do ano, a saúde, principalmente de crianças e idosos, sofre com a má qualidade do ar. No entanto, conhecer a magnitude dos efeitos da poluição atmosférica dependia de um estudo interdisciplinar com metodologia apropriada. Segundo a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Sandra Hacon, coordenadora da componente Saúde no projeto da Rede Milênio/LBA, somente agora, com os resultados do estudo iniciado em 2006, é possível afirmar que as queimadas causam prejuízos à saúde, reduzindo a capacidade pulmonar de crianças e aumentando o número de consultas ambulatoriais e de internações hospitalares por doenças respiratórias.
Quando começou o trabalho e como foi feito o monitoramento?
Sandra: O projeto teve início em 2006. Durante o período de estudos foram monitorados poluentes atmosféricos liberados pelas queimadas, especialmente o material particulado fino (PM2,5) e o grosso (PM10). O material particulado fino emitido pelas queimadas é constituído por micropartículas menores que 2,5 micrômetros (milésima parte do milímetro), capazes de penetrar profundamente nos pulmões e atingir a corrente sanguínea.
A exposição humana às queimadas não necessariamente ocorre no local onde o foco da queima esta presente, normalmente afastada da área urbana. As altas temperaturas envolvidas na fase de chamas da combustão e a ocorrência de circulações de ar associadas às nuvens favorecem o movimento convectivo ascendente da massa de ar e podem ser responsáveis pela elevação dos poluentes gerados na queima de biomassa até a troposfera, onde podem ser transportados para regiões distantes das fontes emissoras.
Este transporte resulta em uma distribuição espacial de fumaça sobre uma extensa área, que vai influenciar a exposição humana através dos produtos de queima de biomassa, da quantidade de poluentes emitidos, da distância da população em relação à intensidade da queimada, das condições climáticas da região, da frequência da queima. Essas são algumas das razões que justificam a necessidade do monitoramento nos locais com maior aglomerado humano.
Quais os locais em que o estudo foi feito?
Sandra: Foram definidos como áreas iniciais do estudo os municípios de Alta Floresta e Tangará da Serra, em Mato Grosso, em razão do estado ter sido o campeão em números de focos de queimadas na Amazônia nos últimos anos,conforme dados de monitoramento do Inpe, além desses municípios apresentarem as maiores taxas de internação e de mortalidade por doenças respiratórias em crianças menores de 5 anos de idade.
As queimadas na Amazônia ocorrem essencialmente numa área definida como arco do desmatamento, que vai do oeste do Maranhão ao leste e sul do Pará, norte do Tocantins, e em quase todos os estados de Mato Grosso, Rondônia, Acre, além do sul do Amazonas. Os níveis de poluição durante o período de seca, em que os focos de queimadas são mais frequentes e intensos, variam de ano para ano e de estado para estado. Ainda que os níveis de poluentes variem de um município para outro nesta região, sem dúvida esses costumam ser muito mais elevados que em áreas de grandes regiões metropolitanas do Brasil.
Quais os resultados encontrados?
Sandra: Em primeiro lugar, é necessário chamar a atenção que nossa pesquisa teve inicio em 2006. Logo, necessitamos de um período para aprofundar os resultados pesquisando outras faixas etárias, outras agravos à saúde, como as doenças cardiovasculares. O estudo de partos prematuros e absenteísmo escolar fazem parte de estudos de alunos de mestrado e doutorado das universidades integrantes do estudo. Ou seja, não podemos generalizar a situação de saúde verificada nos municípios estudados para toda a Amazônia.
Os principais resultados da pesquisa mostram uma redução da capacidade pulmonar de crianças e adolescentes em cerca de até 0,34 litros por minuto de ar expirado para cada aumento de 10 ?g/m3 de material particulado fino. O grupo de pesquisa verificou também um incremento percentual médio nas internações hospitalares e nas consultas em unidades básicas de saúde por doenças respiratórias de crianças e idosos de até 7% para incrementos de 10 ?g/m3 de material particulado fino.
Foram realizados inquéritos de asma em todos os escolares e adolescentes de 6 e 7 anos e 13 a 14 anos de idade do município de Alta Floresta e Tangará da Serra. Verificou-se prevalência de asma acima da média dos municípios brasileiros entre os escolares 21% em Alta Floresta e 26% em Tangará da Serra. Esses percentuais são também mais elevados do que os verificados em Cuiabá, Manaus e Belém em estudos prévios.
Foi muito difícil fazer o estudo numa região como a Amazônia?
Sandra: A região amazônica abriga um dos ecossistemas mais ricos e complexo do planeta, e estudar efeitos da poluição atmosférica na Amazônia implica em lidar com esta complexidade na área ambiental, social e cultural. A sazonalidade da região, como períodos de seca e chuvas intensas, dificulta o monitoramento continuo da qualidade do ar e consequentemente influencia na obtenção de dados dos poluentes. O mesmo acontece com os dados meteorológicos contínuos necessários para as análises. Outra dificuldade está no porte do município; as populações residentes em municípios de pequeno ou médio porte e a agregação dos habitantes de vários municípios nem sempre é adequada, porque os níveis de poluição são distintos de uma localidade para outra. Esta é uma das razões pela qual ainda não foram analisados os efeitos da exposição em relação à mortalidade. Mas, o grupo vem trabalhando para lidar com esta dificuldade.
Existe algo que possa ser feito para evitar um aumento do problema nessas populações?
Sandra: Considero que estamos caminhando, ainda que atrasados no percurso, para o gerenciamento socioambiental das queimadas, com estudos que já mostram os efeitos das queimadas no ecossistema amazônico e em alguns grupos da população, um reforço na fiscalização por parte do governo federal e políticas públicas voltadas para a preservação da floresta com alternativas socioambientais.
Com relação à legislação vigente, não há distinção pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) quanto ao tamanho da partícula ou considerações a respeito das características da exposição por queima de biomassa na Amazônia. Praticamente durante toda estação seca, nos municípios localizados na área do arco do desmatamento, os níveis de PM2,5 permanecem acima do limite estabelecido como níveis médios diários aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde, de 35g/m3.
Por outro lado, durante as chuvas os níveis de poluição atmosférica (PM2,5) não excedem 15g/m3 de média diária, e a composição do material particulado passa a ser exclusivamente biogênica, ou seja, formada por partículas emitidas pela própria floresta que incluem, grãos de pólen, fungos entre outros elementos. Em outras palavras, a população residente na área do arco do desmatamento tem sido exposta desde o nascimento a níveis elevados de material particulado, durante cerca de três a quatro meses a cada ano.
Quais os próximos passos do grupo?
Sandra: Nós tentaremos organizar um seminário na região Centro-Oeste ainda no primeiro semestre de 2009, com gestores, pesquisadores, estudantes, comunidades e o Ministério da Saúde, Meio ambiente e educação para apresentar e discutir os primeiros resultados dos estudos realizados no período de 2006 a 2008.
Temos que ressaltar que os resultados desta primeira etapa contribuíram para que a Fiocruz passasse a integrar a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas (Rede Clima), e liderasse a sub-rede temática Mudanças Climáticas e Saúde, sob a coordenação de Christovam Barcellos e minha. A rede reúne pesquisas sobre os diversos aspectos das mudanças climáticas e pretende oferecer subsídios aos gestores para a tomada de decisão. Além disso, a Fiocruz está representada no Instituto Nacional de Mudanças Climáticas, récem-aprovado como um dos Institutos Nacionais financiados pelo MCT, CNPq, FNDCT, Capeas, Fapemig, Faperj e Fapesp e coordenado pelo professor e pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e está previsto para iniciar em abril de 2009. O instituto tem como objetivo articular e incentivar pesquisas de inovação e desenvolvimento sobre as mudanças climáticas.
Qual a equipe integrante dessa pesquisa?
Sandra Hacon: O subprojeto Avaliação dos efeitos da queima de biomassa na região do arco do desmatamento à saúde humana tem sua coordenação na Escola Ensp, sendo um dos subprojetos integrantes da Rede do Instituto do Milênio (Milênio/LBA), coordenado pelo professor Paulo Artaxo, que também é o coordenador do Grupo de Estudos de Poluição do Ar (Gepa), do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). O subprojeto tem como principal fonte de financiamento o CNPq. Participam dessa rede de pesquisa várias instituições nacionais e internacionais num trabalho composto de dez subprojetos. A componente Saúde é um subprojeto interinstitucional e interdisciplinar coordenado por mim e integra varias instituições com pesquisadores da USP, Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Inpe/Cptec, da Fundação Ecológica Cristalino (FEC) e da Fiocruz.
Como componente de uma rede de pesquisa, o estudo integra dados produzidos por outros subprojetos da mesma rede, especialmente o monitoramento da qualidade do ar, com medidas de PM 2,5, ozônio, carbono grafítico, monóxido de carbono. Esses dados são gerados pela USP sob a coordenação do Artaxo. Os dados meteorológicos, os registros de focos de queimadas por meio de satélites e do produto de modelagem de poluentes atmosféricos são produzidos pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), sob a coordenação de Karla Longo e Alberto Setzer. Toda a infraestrutura de campo e a supervisão da pesquisa no Mato Grosso esta sob a coordenação da Unemat, por intermédio de Eliane Ignotti, e da Fundação Ecológica Cristalino, por Renato de Farias. Os dados gerados na pesquisa são analisados por vários integrantes do grupo, supervisionados pelos estatísticos Antonio Ponce de Leon e o Washington Junger. A componente Saúde também reúne um grande numero de bolsistas Pibic e TEC-TEC da Ensp e da Unemat.
Na Fiocruz, a pesquisa conta com a participação dos pesquisadores do Departamento de Endemias e do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Ensp, do Icict, por intermédio do Christovam Barcellos, além de alunos de mestrado e doutorado do Programa de Saúde Publica e Meio Ambiente da Escola. O chefe do Cesteh, Hermano Castro, e o técnico Eduardo Pinheiro, também do Cesteh, são os responsáveis pelos estudos de avaliação da capacidade pulmonar em crianças e adolescentes, com a supervisão de campo da pesquisadora Eliane Ignotti (Unemat). Nos municípios de Alta Floresta e Tangará da Serra, o projeto conta com os professores da Unemat, Rivanildo Dallacort, Dionei José da Silva e Antônia Maria Rosa, Beatriz Fátima Oliveira através de um trabalho interinstitucional. O projeto também conta com o apoio das secretarias de Saúde, Educação e Meio Ambiente.
A partir de 2008, o projeto passou a ter o apoio financeiro do FNS/MS, por meio do Programa de Vigilância da Qualidade do Ar em Saúde da CGVAM. Em 2008, o mesmo grupo de pesquisa passou a integrar a projeto CET 18 da USP, sob a coordenação do prof. Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP. Porém, ainda não temos resultados dos estudos em desenvolvimento. Vale ressaltar que todos os resultados das pesquisas serão discutidos com a SVS por meio do Programa de Vigilância da Qualidade do Ar em Saúde, para que políticas públicas voltadas para a questão dos efeitos das queimadas para a saúde humana possam ser implementadas a médio e longo prazos.
(Foto: Virginia Damas/Ensp)
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home