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30 abril 2009

EVOLUÇÃO DAS FOCAS E LEÕES MARINHOS

Da terra para o mar: Fóssil de 24 milhões de anos preenche lacuna na evolução da família de focas e leões-marinhos

Reconstituição artística do Puijila darwini, que marca uma transição dos mamíferos terrestres para ambientes aquáticos. Seus membros mais curtos e achatados facilitavam a busca de alimentos em rios e lagos
(arte: Mark A. Klingler / Museu Carnegie de História Natural).


Focas e leões-marinhos têm de fato um ancestral terrestre, conforme sugeriu Charles Darwin há 150 anos. A confirmação veio com a descoberta no Canadá de grande parte do esqueleto de um animal que viveu há cerca de 24 milhões de anos. A espécie, batizada de Puijila darwini, representa provavelmente uma transição dos mamíferos terrestres para o mar.

Os fósseis desse animal foram descobertos em uma cratera na ilha Devon, no distrito de Nunavut, extremo norte canadense. A descrição da nova espécie, feita por pesquisadores do Canadá e dos Estados Unidos, foi publicada esta semana na revista Nature.

Embora o Puijila tivesse o corpo mais parecido com o de uma lontra do que com o das focas e leõs-marinhos modernos, sua descoberta confirma a hipótese de que a família desses animais (denominados pinípedes) teria um ancestral que passou a maior parte da vida em terra. Até hoje, o fóssil mais antigo da família dos pinípedes conhecido era o Enaliarctos, que já apresentava boa adaptação à vida marinha. Essa espécie viveu no início do Mioceno, entre 20 e 24 milhões de anos atrás.

Ilustração do esqueleto do Puijila darwini; os ossos em tom escuro foram encontrados no norte do Canadá. O esqueleto estará exposto até maio no Museu Canadense da Natureza, em Ottawa (arte: Alex Tirabasso / Museu Canadense da Natureza).

“O Puijila é importante por nos fornecer uma primeira visão sobre os estágios mais remotos de uma importante transição na evolução das espécies”, diz à CH On-line a paleontóloga Natalia Rabczynski, do Museu Canadense da Natureza, primeira autora do trabalho. Ela explica que, embora o esqueleto do animal tenha características adequadas à vida em terra, como a cauda longa e músculos dos membros bem desenvolvidos, as patas eram achatadas e curtas, o que facilitaria a locomoção em rios e lagos.

Rabczynski lembra que as evidências disponíveis até agora de que os pinípedes teriam um ancestral terrestre eram contraditórias. Um outro animal (o Potamotherium) cujos fósseis foram descobertos há mais de 150 anos gerava discussões no meio científico. “Esse mamífero poderia ser um pinípede, mas diversos pesquisadores achavam que ele seria da família das lontras e fuinhas”, diz a pesquisadora. “Nossa descoberta sugere que ambos – Potamotherium e Puijila – são pinípedes, ainda que o último seja anatomicamente mais primitivo.”

Hipótese de Darwin confirmada
Os pesquisadores supõem que os pinípedes tenham migrado, inicialmente, da terra para águas doces e, dali, para o mar aberto – no atual oceano Ártico. Fósseis de plantas e outros animais encontrados no norte do Canadá indicam que, durante o Mioceno, a área apresentava clima temperado. “Os invernos severos, que incluem o congelamento de rios e lagos, teriam feito com que estes animais procurassem comida no litoral, e então em alto-mar”, acrescenta Rabczynski.

O novo mamífero foi batizado de Puijila darwini, já que sua descoberta confirma a hipótese proposta por Darwin no livro A origem das espécies, publicado em 1859. O naturalista britânico sugeriu que animais terrestres que ocasionalmente caçavam em rios e lagos teriam se tornado semiaquáticos e puderam, com isso, explorar os oceanos em busca de alimento. Puijila, na língua da população esquimó nativa da região de Nunavut, significa “jovem mamífero do mar”.


Barbara Marcolini
Ciência Hoje On-line