RECUPERAÇÃO DE ÁREAS EXPLORADAS POR MINERADORAS NA AMAZÔNIA
Desbravadores de novas florestas
Colonização por anfíbios e répteis ajuda a monitorar áreas reflorestadas na Amazônia
[A perereca Osteocephalus oophagus, que tem hábitos noturnos, foi identificada em reflorestamentos na Amazônia. A colonização dessas áreas, que haviam sido usadas para a extração de bauxita, indica sua recuperação. Fotos: Ulisses Galatti.]
Áreas desmatadas por empresas de mineração podem voltar a ser um bom lugar para os animais viverem. É o que mostra um estudo que analisou a ocorrência de anfíbios e répteis em reflorestamentos no platô Sacará, em Porto de Trombetas (PA). Os locais haviam sido usados para a extração de bauxita no final da década de 1970 e hoje apresentam uma comunidade estabelecida destes animais, o que indica a tendência de recuperação das áreas.
O estudo, financiado pela Mineração Rio do Norte (MRN) e desenvolvido por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e da Universidade Federal do Pará (UFPA), avaliou oito áreas de reflorestamento plantadas nas décadas de 1980 e 1990 pela MRN, que explora a região desde 1974. A equipe de biólogos analisou a composição e riqueza de espécies de anfíbios e répteis observadas ali e comparou com áreas de floresta nativa da região.
“A colonização das áreas reflorestadas por algumas espécies de anfíbios e répteis indica que elas já apresentam certa reconstituição da cobertura vegetal”, conta o biólogo Ulisses Galatti, do MPEG, um dos autores do estudo. “A presença desses animais também indica sua capacidade de se dispersar a partir da floresta nativa do entorno e de colonizar áreas em diferentes estágios de sucessão.”
[Entre as muitas espécies de lagartos encontradas está o Gonatodes humeralis. O número de répteis nos reflorestamentos só foi menor que o das matas nativas por causa da baixa densidade da população de serpentes.]
Ao todo, foram encontradas nos reflorestamentos 16 espécies de répteis e 14 de anfíbios, entre elas a rã Allobates femoralis, a perereca Osteocephalus oophagus e o lagarto Gonatodes humeralis. Já nas florestas nativas, foram identificadas 32 espécies de répteis e 17 de anfíbios. Galatti explica que a diversidade muito maior de répteis nas áreas nativas se deve ao baixo número de serpentes nas áreas reflorestadas. “É possível que esse grupo tenha mais dificuldade em ocupar os reflorestamentos devido às baixas densidades de suas populações”, supõe.
Como a cobertura vegetal dos reflorestamentos ainda não foi completamente reconstituída, as camadas superficiais do solo não apresentam quantidades suficientes de matéria orgânica, como folhas e galhos, para a construção de abrigos. Isso dificulta a colonização por algumas espécies, como o sapo Dendrophryniscus minutus e o lagarto Coleodactylus amazonicus. “Esses animais se abrigam, se reproduzem e se alimentam em microhábitats como a serapilheira, ou folhiço, que ainda estão em processo de formação nas áreas reflorestadas”, explica o biólogo.
Técnicas mais eficazes
[A rã Allobates femoralis foi uma das espécies de anfíbios mais abundantes identificadas nas áreas reflorestadas.]
À medida que a diversidade de espécies de anfíbios e répteis nas áreas reflorestadas se assemelhar à encontrada nas florestas nativas, a equipe poderá verificar a eficácia das técnicas usadas nos reflorestamentos. Uma delas, que começou a ser aplicada em 1985, é a devolução das camadas superficiais do solo que foram retiradas e estocadas durante o período de mineração. A técnica havia sido usada em todos os locais analisados e mostrou bons resultados em relação à evolução da vegetação e da umidade relativa das áreas.
Os pesquisadores ressaltam que o monitoramento dos reflorestamentos deve continuar. “Pretendemos nos aprofundar no estudo das características biológicas das espécies colonizadoras em comparação às das não-colonizadoras e verificar se são possíveis ações de manejo que favoreçam a reabilitação das áreas reflorestadas pela colonização”, informa Galatti. “Os reflorestamentos devem passar a ser áreas importantes para a conservação da fauna local”, conclui.
Barbara Marcolini
Ciência Hoje On-line
Colonização por anfíbios e répteis ajuda a monitorar áreas reflorestadas na Amazônia
[A perereca Osteocephalus oophagus, que tem hábitos noturnos, foi identificada em reflorestamentos na Amazônia. A colonização dessas áreas, que haviam sido usadas para a extração de bauxita, indica sua recuperação. Fotos: Ulisses Galatti.]
Áreas desmatadas por empresas de mineração podem voltar a ser um bom lugar para os animais viverem. É o que mostra um estudo que analisou a ocorrência de anfíbios e répteis em reflorestamentos no platô Sacará, em Porto de Trombetas (PA). Os locais haviam sido usados para a extração de bauxita no final da década de 1970 e hoje apresentam uma comunidade estabelecida destes animais, o que indica a tendência de recuperação das áreas.
O estudo, financiado pela Mineração Rio do Norte (MRN) e desenvolvido por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e da Universidade Federal do Pará (UFPA), avaliou oito áreas de reflorestamento plantadas nas décadas de 1980 e 1990 pela MRN, que explora a região desde 1974. A equipe de biólogos analisou a composição e riqueza de espécies de anfíbios e répteis observadas ali e comparou com áreas de floresta nativa da região.
“A colonização das áreas reflorestadas por algumas espécies de anfíbios e répteis indica que elas já apresentam certa reconstituição da cobertura vegetal”, conta o biólogo Ulisses Galatti, do MPEG, um dos autores do estudo. “A presença desses animais também indica sua capacidade de se dispersar a partir da floresta nativa do entorno e de colonizar áreas em diferentes estágios de sucessão.”
[Entre as muitas espécies de lagartos encontradas está o Gonatodes humeralis. O número de répteis nos reflorestamentos só foi menor que o das matas nativas por causa da baixa densidade da população de serpentes.]
Ao todo, foram encontradas nos reflorestamentos 16 espécies de répteis e 14 de anfíbios, entre elas a rã Allobates femoralis, a perereca Osteocephalus oophagus e o lagarto Gonatodes humeralis. Já nas florestas nativas, foram identificadas 32 espécies de répteis e 17 de anfíbios. Galatti explica que a diversidade muito maior de répteis nas áreas nativas se deve ao baixo número de serpentes nas áreas reflorestadas. “É possível que esse grupo tenha mais dificuldade em ocupar os reflorestamentos devido às baixas densidades de suas populações”, supõe.
Como a cobertura vegetal dos reflorestamentos ainda não foi completamente reconstituída, as camadas superficiais do solo não apresentam quantidades suficientes de matéria orgânica, como folhas e galhos, para a construção de abrigos. Isso dificulta a colonização por algumas espécies, como o sapo Dendrophryniscus minutus e o lagarto Coleodactylus amazonicus. “Esses animais se abrigam, se reproduzem e se alimentam em microhábitats como a serapilheira, ou folhiço, que ainda estão em processo de formação nas áreas reflorestadas”, explica o biólogo.
Técnicas mais eficazes
[A rã Allobates femoralis foi uma das espécies de anfíbios mais abundantes identificadas nas áreas reflorestadas.]
À medida que a diversidade de espécies de anfíbios e répteis nas áreas reflorestadas se assemelhar à encontrada nas florestas nativas, a equipe poderá verificar a eficácia das técnicas usadas nos reflorestamentos. Uma delas, que começou a ser aplicada em 1985, é a devolução das camadas superficiais do solo que foram retiradas e estocadas durante o período de mineração. A técnica havia sido usada em todos os locais analisados e mostrou bons resultados em relação à evolução da vegetação e da umidade relativa das áreas.
Os pesquisadores ressaltam que o monitoramento dos reflorestamentos deve continuar. “Pretendemos nos aprofundar no estudo das características biológicas das espécies colonizadoras em comparação às das não-colonizadoras e verificar se são possíveis ações de manejo que favoreçam a reabilitação das áreas reflorestadas pela colonização”, informa Galatti. “Os reflorestamentos devem passar a ser áreas importantes para a conservação da fauna local”, conclui.
Barbara Marcolini
Ciência Hoje On-line
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