AMANHECER DAS MATAS
Isaac Melo*
Amanhece.
Raios de sol viajam por entre as copas das árvores, indo deitar-se sobre o húmus úmido da floresta.
Dos igapós levantam-se leves cortinas de névoa.
Sobre as águas, turvas e silenciosas, se estampam viçosas vitórias-régias, belas e puras.
Ciganas voam das moitas, em alardes cantos, a procura do galho da embaúba.
Despenca do alto de uma sumaumeira, em movimento circular, uma folha amarelada.
Fios de luz beijam um botão de maracujá silvestre que mansamente se desnuda em flor.
Do orvalho da noite resta apenas um glóbulo que escorre vagarosamente por sobre a folha da sororoca até esvair-se.
Na clareira natural de um sapequeiro uma cotia se coça fogosamente.
Japiins encenam o canto de outras aves.
Aventuram-se alguns sagüis a pular de galho em galho, em busca das elevadas copas.
O canto, inebriante e misterioso, do uirapuru explode na sinfonia da natureza, a tornar a mata silente, por um breve instante.
Formigas, enfileiradas, retornam ao formigueiro com seus enormes fardos.
Sol a pino.
No barreiro inúmeros periquitos se amontoam, em algazarras ensurdecedoras.
No alto do cumaru o casal de papagaios tagarela, efusivamente.
A mata se desdobra em vida que não cessa.
Acontece.
* Dedico os singelos versos a Evandro Ferreira, grande botânico acreano.
Fotos: Sérgio Vale/Secom e Gleilson Miranda/Secom (Agência de Notícias do Acre)
NOTA DO BLOG AMBIENTE ACREANO: Agradeço sinceramente ao Isaac pela poesia. O blog Alma Acreana se torna, a cada dia, referência sobre o Acre E suas coisas e sua gente.
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