AIDS: O SENSACIONALISMO DA IMPRENSA NOS PRIMEIROS ANOS
Dissertação aborda luta contra a Aids travada por homossexuais na época em que a doença chegou ao Brasil
Renata Moehlecke
Agência Fiocruz de Notícias
[Manchetes alarmistas e estigmatizantes marcaram a cobertura da imprensa nos anos 80]
Analisar o papel dos homossexuais na luta contra a Aids do início da epidemia no Brasil até 1992: esse é o principal objetivo da dissertação defendida no Programa de Pós-Gradução em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) pelo historiador Gabriel Vitiello. O estudante verificou, a partir da avaliação de matérias publicadas no jornal Lampião da Esquina, editado por gays, como se deu a formação de uma identidade homossexual no Brasil e de que maneira o advento da Aids no país contribuiu para que eles criassem organizações para enfrentar o estigma produzido neles pela doença.
“No final da década de 1970, os homossexuais brasileiros começam a ser influenciados pelos ideais do movimento gay americano, que impulsionaram, por exemplo, a constituição do jornal em questão, e estimularam a formação de diversos grupos e interações que originaram uma identidade gay brasileira”, afirma o pesquisador em seu trabalho. Vitiello acrescenta que, em meio a essa formação identitária, na década de 1980, a Aids chega ao Brasil como uma doença gay, ideia construída a partir do conhecimento médico-científico e divulgada pelas reportagens da imprensa escrita no período.
“A primeira matéria encontrada sobre a Aids no Brasil foi noticiada no dia 3 de setembro de 1981, com o título Câncer em homossexuais é pesquisado nos EUA, no Jornal do Brasil”, comenta o historiador. Ele explica que a enfermidade passa a existir e a ser estudada pela comunidade científica quando ela atingia os homossexuais masculinos, constituindo-se rapidamente uma relação que passa a ser abordada de forma sensacionalista na maioria das matérias de jornais do Brasil e do mundo. “A Aids surge como uma doença que se restringia a um determinado grupo de risco, ou seja, os gays, que foram responsabilizados pela disseminação dessa enfermidade”.
Vitiello aponta que os primeiros grupos de combate à Aids tiveram a participação de muitos gays que procuravam não só informações sobre a doença e, principalmente, suas formas de transmissão como também discutir medidas para enfrentar o preconceito em relação aos doentes e abrir caminho para as questões relacionadas à homossexualidade. “Tais atitudes levaram a sociedade brasileira a um salto significativo nas discussões e debates sobre assuntos ligados à sexualidade na década de 1980”, diz o pesquisador. “Se antes o tema sobre relacionamento sexual era um grande tabu, com o debate sobre a Aids as discussões sobre prevenção sexual passaram a ser tratadas não só nas escolas como também em comerciais de televisão e no ambiente familiar”.
Segundo o historiador, um dos mecanismos de enfrentamento utilizados pelos gays para combater o preconceito que se instaurou na sociedade e para busca por uma melhor política de saúde no tratamento dos soropositivos foi a criação de boletins divulgados por ONGs como a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) e o Grupo Pela Valorização Integração e Dignidade do Doente de Aids (Grupo pela Vidda). “Essas organizações civis criaram espaços de apoio e pressionaram o governo federal por medidas que pudessem controlar a epidemia que estava vitimando milhares de pessoas no Brasil”, destaca Vitiello.
“Foi graças a essas organizações, muitas compostas por grupos ligados a questões da homossexualidade, que o governo brasileiro passou a reconhecer a Aids como uma importante questão de saúde pública, formando o Programa Nacional de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids (PNDST/Aids), a dialogar com as ONGs e a elaborar campanhas de prevenção mais solidárias ao soropositivo e que focassem mais na prevenção da doença no país”.
Renata Moehlecke
Agência Fiocruz de Notícias
[Manchetes alarmistas e estigmatizantes marcaram a cobertura da imprensa nos anos 80]
Analisar o papel dos homossexuais na luta contra a Aids do início da epidemia no Brasil até 1992: esse é o principal objetivo da dissertação defendida no Programa de Pós-Gradução em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) pelo historiador Gabriel Vitiello. O estudante verificou, a partir da avaliação de matérias publicadas no jornal Lampião da Esquina, editado por gays, como se deu a formação de uma identidade homossexual no Brasil e de que maneira o advento da Aids no país contribuiu para que eles criassem organizações para enfrentar o estigma produzido neles pela doença.
“No final da década de 1970, os homossexuais brasileiros começam a ser influenciados pelos ideais do movimento gay americano, que impulsionaram, por exemplo, a constituição do jornal em questão, e estimularam a formação de diversos grupos e interações que originaram uma identidade gay brasileira”, afirma o pesquisador em seu trabalho. Vitiello acrescenta que, em meio a essa formação identitária, na década de 1980, a Aids chega ao Brasil como uma doença gay, ideia construída a partir do conhecimento médico-científico e divulgada pelas reportagens da imprensa escrita no período.
“A primeira matéria encontrada sobre a Aids no Brasil foi noticiada no dia 3 de setembro de 1981, com o título Câncer em homossexuais é pesquisado nos EUA, no Jornal do Brasil”, comenta o historiador. Ele explica que a enfermidade passa a existir e a ser estudada pela comunidade científica quando ela atingia os homossexuais masculinos, constituindo-se rapidamente uma relação que passa a ser abordada de forma sensacionalista na maioria das matérias de jornais do Brasil e do mundo. “A Aids surge como uma doença que se restringia a um determinado grupo de risco, ou seja, os gays, que foram responsabilizados pela disseminação dessa enfermidade”.
Vitiello aponta que os primeiros grupos de combate à Aids tiveram a participação de muitos gays que procuravam não só informações sobre a doença e, principalmente, suas formas de transmissão como também discutir medidas para enfrentar o preconceito em relação aos doentes e abrir caminho para as questões relacionadas à homossexualidade. “Tais atitudes levaram a sociedade brasileira a um salto significativo nas discussões e debates sobre assuntos ligados à sexualidade na década de 1980”, diz o pesquisador. “Se antes o tema sobre relacionamento sexual era um grande tabu, com o debate sobre a Aids as discussões sobre prevenção sexual passaram a ser tratadas não só nas escolas como também em comerciais de televisão e no ambiente familiar”.
Segundo o historiador, um dos mecanismos de enfrentamento utilizados pelos gays para combater o preconceito que se instaurou na sociedade e para busca por uma melhor política de saúde no tratamento dos soropositivos foi a criação de boletins divulgados por ONGs como a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) e o Grupo Pela Valorização Integração e Dignidade do Doente de Aids (Grupo pela Vidda). “Essas organizações civis criaram espaços de apoio e pressionaram o governo federal por medidas que pudessem controlar a epidemia que estava vitimando milhares de pessoas no Brasil”, destaca Vitiello.
“Foi graças a essas organizações, muitas compostas por grupos ligados a questões da homossexualidade, que o governo brasileiro passou a reconhecer a Aids como uma importante questão de saúde pública, formando o Programa Nacional de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids (PNDST/Aids), a dialogar com as ONGs e a elaborar campanhas de prevenção mais solidárias ao soropositivo e que focassem mais na prevenção da doença no país”.
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