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11 outubro 2009

O PAPEL DOS ÍNDIOS NA CRIAÇÃO DA IDENTIDADE BRASILEIRA

Livro aborda papel do indígena no processo de criação de uma identidade nacional no Brasil

Renata Moehlecke


Agência Fiocruz de Notícias

Analisar como se deu a criação da Seção de Etnografia e Arqueologia no Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB) pelos homens da elite letrada imperial oitocentista, comprometidos em originar um projeto político de desenho da nação brasileira que considerasse o papel que caberia ao indígena nesse processo de gestação. Esse é o principal objetivo da historiadora Kaori Kodama no livro Os índios no Império do Brasil – a etnografia do IHGB entre as décadas de 1840 e 1860, recém-publicado pela Editora Fiocruz. Fruto de sua tese de doutorado, a obra é baseada em uma sólida pesquisa documental e apresenta uma bibliografia atualizada e faz parte da coleção História e Saúde, que reúne trabalhos originais e reedita estudos clássicos relacionados à história da saúde pública, da medicina e das ciências da vida.

Índios botocudo e puri é uma das raras imagens encontradas em jornais de época que mostram índios que ainda viviam nos sertões (Arte: Ostensor Brasileiro. Jornal Literário e Pictorial (1845-1846), IHGB) " border="0">
Índios botocudo e puri é uma das raras imagens encontradas em jornais de época que mostram índios que ainda viviam nos sertões (Arte: Ostensor Brasileiro. Jornal Literário e Pictorial (1845-1846), IHGB)

“O leitor que se debruçar sobre este volume poderá visitar a identidade nacional do Brasil no século 19 – em um dos seus aspectos mais complexos, a questão indígena – por uma trilha ainda não explorada e que estava à espera de uma pesquisa, partindo de uma problemática eminentemente histórica”, afirma o historiador Manuel Salgado Guimarães, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) no prefácio do livro. “Aliando reflexão sobre a constituição de um campo de conhecimento às demandas políticas de um Estado em formação, Kaori Kodama explora adequadamente a relação entre esses dois campos e seus especialistas, indicando a importância do papel que a etnografia poderia desempenhar para a possibilidade de se fundar um ‘povo brasileiro’”.

A autora dividiu seu trabalho em três partes. A primeira trata de um apanhado das diversas representações do índio brasileiro, que passou de um componente da natureza do país a personificação da ex-colônia portuguesa na América no processo de independência. Na segunda parte, Kaori aponta os pressupostos implícitos na criação de um campo etnográfico no Instituto em diálogo com o problema da nação no Império do Brasil, enfatizando uma estreita ligação entre a etnografia realizada e a história nacional. Por fim, na terceira e última parte, ela associa a criação do Instituto a certas práticas etnográficas levadas a diante em nome do próprio governo imperial, que traçava diversas políticas direcionadas as populações indígenas.


“O livro é uma bela operação historiográfica: dialogando tanto com os trabalhos sobre história da geografia e da etnologia como com os autores que se dedicam ao próprio IHGB e lidando igualmente com artigos da sua revista, textos literários, debate parlamentar e relatórios de presidentes de província, a autora estabelece um quadro do modo como os índios passam a fazer parte da nação, seja a imaginada, seja a vivenciada”, comenta o sociólogo Robert Wegner, professor do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), na orelha do livro.