PROBLEMAS FONOAUDIOLÓGICOS EM CRIANÇAS: DIAGNÓSTICO TARDIO É COMUM
Pesquisa feita na USP, em Bauru, aponta que pediatras diagnosticam e encaminham tardiamente, para fonoaudiólogos, crianças com problemas no desenvolvimento da linguagem
Diagnóstico tardio
Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – Um estudo, feito na Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP), aponta que grande parte dos pediatras não realiza encaminhamento no período adequado nos casos de crianças que apresentam alterações no desenvolvimento da linguagem.
O trabalho, publicado na Revista Cefac – Atualização Científica em Fonoaudiologia e Educação, investigou conhecimentos e atitudes práticas de pediatras em relação à comunicação oral de crianças. De acordo com Luciana Paula Maximino, uma das autoras do trabalho, a ideia surgiu a partir da experiência na prática clínica.
“Comecei a deparar com muitos relatos de pais sobre o problema dos filhos em relação ao desenvolvimento da linguagem. A maior preocupação é que isso ocorria tardiamente, depois dos três anos de idade das crianças, o que torna a terapia mais longa e custosa”, disse Luciana, professora do Departamento de Fonoaudiologia, à Agência FAPESP.
Foram entrevistados 79 pediatras de São Paulo e Minas Gerais que responderam a um questionário com informações específicas sobre conhecimento das etapas do desenvolvimento da comunicação infantil, conduta diante de queixas de alterações da comunicação, encaminhamentos profissionais e método utilizado como avaliação.
O estudo apontou que 93,67% dos entrevistados mostraram “preocupação” com a idade que a criança deve falar corretamente nas consultas de rotinas, mas, no entanto, relataram que usualmente são os pais que questionam sobre o desenvolvimento da comunicação oral.
A procura pelo médico se dá por iniciativa dos próprios pais ou por indicação da escola. “Atraso na aquisição da linguagem e distúrbios fonológicos – como troca de fonemas que impossibilitem a comunicação – são os problemas mais comuns e mais simples”, explicou a fonoaudióloga.
Quando a criança apresenta distúrbios mais sérios, dificuldade de interação ou patologia mais grave, os casos são detectados mais rapidamente. Mas, segundo a pesquisadora, os exemplos tidos como simples não podem ser negligenciados.
“Até os três anos, a criança tende a falar 50% de todos os sons da língua portuguesa. É possível entender metade de tudo do que ela fala. Mas esse diagnóstico deveria ser feito antes. O período de um ano, para a criança, em termos de desenvolvimento da fala, é muito tempo”, alertou Luciana.
Segundo a fonoaudióloga, por volta de um ano ou um ano e meio, se a criança não começar a produzir nenhum tipo de palavra ou som, os pais podem começar a suspeitar. Mas nem todos os sintomas são sinais, como a gagueira, por exemplo.
“A gagueira não se constitui um problema em si. Crianças que gaguejam é bastante comum nessa fase. Existe um período que é bastante normal”, disse.
Os pediatras, segundo o estudo, tendem a encaminhar pacientes para outra avaliação médica especializada, como otorrinolaringologista (45,56%) e neurologista (30,38%), mas apenas 15,19% dos entrevistados relataram encaminhar o paciente diretamente para o fonoaudiólogo.
Quanto aos procedimentos que utilizam durante a consulta de rotina para avaliar o desempenho da comunicação da criança, os pediatras relataram que esses procedimentos dependem da “queixa da família” (37,97%).
O estudo aponta ainda que os pediatras que trabalham ou trabalharam com um fonoaudiólogo, em sua maioria (64%), demonstram maior conhecimento da área, ao passo que os que não trabalham não têm conhecimento abordado.
“O médico pediatra que trabalha com o fonoaudiólogo acaba tendo um desempenho diferente. E nos questionários víamos muito essa diferença em relação àqueles que não tinham esse contato”, disse Luciana.
O artigo foi escrito em conjunto com Ana Carulina Pereira Spinardi, Marina Viotti Ferreira, Dionísia Aparecida Cusin Lamônica, Mariza Ribeiro Feniman e Simone Aparecida Lopes-Herrera, da FOB-USP, e por Danielle Tavares Oliveira, do Programa de Bases Gerais da Cirurgia da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista.
Integração entre médicos
Uma das possíveis explicações para a falta de conhecimento dos pediatras em relação ao trabalho dos fonoaudiólogos, segundo a professora do Departamento de Fonoaudiologia da USP em Bauru, esbarra na formação. “Eles apontam que não tiveram nada específico durante a formação que abordasse o conhecimento da linguagem infantil”, disse.
Outro ponto seria a falta de informações disponíveis sobre o trabalho dos fonoaudiólogos. “Pudemos perceber pelos questionários respondidos que, mesmo entre os pediatras mais experientes, é comum focar na doença e não se preocupar com questões básicas do desenvolvimento da criança, como na fala, que, a longo prazo, podem ser tão prejudiciais quanto qualquer outro problema de saúde”, afirmou.
Luciana conta que muitos dos pediatras entrevistados solicitaram que se divulguem mais dados sobre a atuação dos fonoaudiólogos para que possam agir em conjunto. A ideia é dar um retorno a partir desse diagnóstico.
“Por isso, estamos elaborando um site que contenha informações sobre o desenvolvimento da linguagem infantil e que sirva não apenas para o pediatra, mas também para a orientação de pais e professores”, contou.
Luciana destaca a necessidade de projetos multimídias, de acesso mais amplo, que possam possibilitar maior integração entre pediatras e fonoaudiólogos. Ela cita um projeto orientado por ela e recém-concluído, intitulado “Teleducação Interativa em Fonoaudiologia”, de autoria da Ana Carulina, que teve apoio da FAPESP na modalidade Bolsa de Mestrado.
“Ana Carulina criou um software para orientar fonoaudiólogos a distância sobre como fazer terapias para o desenvolvimento da comunicação em crianças. O objetivo é atingir um público maior de profissionais e em outras regiões do Brasil”, disse.
Para ler o artigo Conhecimentos, atitudes e práticas dos médicos pediatras quanto ao desenvolvimento da comunicação oral , disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.
Diagnóstico tardio
Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – Um estudo, feito na Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP), aponta que grande parte dos pediatras não realiza encaminhamento no período adequado nos casos de crianças que apresentam alterações no desenvolvimento da linguagem.
O trabalho, publicado na Revista Cefac – Atualização Científica em Fonoaudiologia e Educação, investigou conhecimentos e atitudes práticas de pediatras em relação à comunicação oral de crianças. De acordo com Luciana Paula Maximino, uma das autoras do trabalho, a ideia surgiu a partir da experiência na prática clínica.
“Comecei a deparar com muitos relatos de pais sobre o problema dos filhos em relação ao desenvolvimento da linguagem. A maior preocupação é que isso ocorria tardiamente, depois dos três anos de idade das crianças, o que torna a terapia mais longa e custosa”, disse Luciana, professora do Departamento de Fonoaudiologia, à Agência FAPESP.
Foram entrevistados 79 pediatras de São Paulo e Minas Gerais que responderam a um questionário com informações específicas sobre conhecimento das etapas do desenvolvimento da comunicação infantil, conduta diante de queixas de alterações da comunicação, encaminhamentos profissionais e método utilizado como avaliação.
O estudo apontou que 93,67% dos entrevistados mostraram “preocupação” com a idade que a criança deve falar corretamente nas consultas de rotinas, mas, no entanto, relataram que usualmente são os pais que questionam sobre o desenvolvimento da comunicação oral.
A procura pelo médico se dá por iniciativa dos próprios pais ou por indicação da escola. “Atraso na aquisição da linguagem e distúrbios fonológicos – como troca de fonemas que impossibilitem a comunicação – são os problemas mais comuns e mais simples”, explicou a fonoaudióloga.
Quando a criança apresenta distúrbios mais sérios, dificuldade de interação ou patologia mais grave, os casos são detectados mais rapidamente. Mas, segundo a pesquisadora, os exemplos tidos como simples não podem ser negligenciados.
“Até os três anos, a criança tende a falar 50% de todos os sons da língua portuguesa. É possível entender metade de tudo do que ela fala. Mas esse diagnóstico deveria ser feito antes. O período de um ano, para a criança, em termos de desenvolvimento da fala, é muito tempo”, alertou Luciana.
Segundo a fonoaudióloga, por volta de um ano ou um ano e meio, se a criança não começar a produzir nenhum tipo de palavra ou som, os pais podem começar a suspeitar. Mas nem todos os sintomas são sinais, como a gagueira, por exemplo.
“A gagueira não se constitui um problema em si. Crianças que gaguejam é bastante comum nessa fase. Existe um período que é bastante normal”, disse.
Os pediatras, segundo o estudo, tendem a encaminhar pacientes para outra avaliação médica especializada, como otorrinolaringologista (45,56%) e neurologista (30,38%), mas apenas 15,19% dos entrevistados relataram encaminhar o paciente diretamente para o fonoaudiólogo.
Quanto aos procedimentos que utilizam durante a consulta de rotina para avaliar o desempenho da comunicação da criança, os pediatras relataram que esses procedimentos dependem da “queixa da família” (37,97%).
O estudo aponta ainda que os pediatras que trabalham ou trabalharam com um fonoaudiólogo, em sua maioria (64%), demonstram maior conhecimento da área, ao passo que os que não trabalham não têm conhecimento abordado.
“O médico pediatra que trabalha com o fonoaudiólogo acaba tendo um desempenho diferente. E nos questionários víamos muito essa diferença em relação àqueles que não tinham esse contato”, disse Luciana.
O artigo foi escrito em conjunto com Ana Carulina Pereira Spinardi, Marina Viotti Ferreira, Dionísia Aparecida Cusin Lamônica, Mariza Ribeiro Feniman e Simone Aparecida Lopes-Herrera, da FOB-USP, e por Danielle Tavares Oliveira, do Programa de Bases Gerais da Cirurgia da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista.
Integração entre médicos
Uma das possíveis explicações para a falta de conhecimento dos pediatras em relação ao trabalho dos fonoaudiólogos, segundo a professora do Departamento de Fonoaudiologia da USP em Bauru, esbarra na formação. “Eles apontam que não tiveram nada específico durante a formação que abordasse o conhecimento da linguagem infantil”, disse.
Outro ponto seria a falta de informações disponíveis sobre o trabalho dos fonoaudiólogos. “Pudemos perceber pelos questionários respondidos que, mesmo entre os pediatras mais experientes, é comum focar na doença e não se preocupar com questões básicas do desenvolvimento da criança, como na fala, que, a longo prazo, podem ser tão prejudiciais quanto qualquer outro problema de saúde”, afirmou.
Luciana conta que muitos dos pediatras entrevistados solicitaram que se divulguem mais dados sobre a atuação dos fonoaudiólogos para que possam agir em conjunto. A ideia é dar um retorno a partir desse diagnóstico.
“Por isso, estamos elaborando um site que contenha informações sobre o desenvolvimento da linguagem infantil e que sirva não apenas para o pediatra, mas também para a orientação de pais e professores”, contou.
Luciana destaca a necessidade de projetos multimídias, de acesso mais amplo, que possam possibilitar maior integração entre pediatras e fonoaudiólogos. Ela cita um projeto orientado por ela e recém-concluído, intitulado “Teleducação Interativa em Fonoaudiologia”, de autoria da Ana Carulina, que teve apoio da FAPESP na modalidade Bolsa de Mestrado.
“Ana Carulina criou um software para orientar fonoaudiólogos a distância sobre como fazer terapias para o desenvolvimento da comunicação em crianças. O objetivo é atingir um público maior de profissionais e em outras regiões do Brasil”, disse.
Para ler o artigo Conhecimentos, atitudes e práticas dos médicos pediatras quanto ao desenvolvimento da comunicação oral , disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.
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