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07 outubro 2009

A SAGA DOS BANDEIRANTES: GUERRA AOS INDÍOS TAPUIAS

Na Bahia, a conquista dos sertões esbarrou na forte resistência indígena.

Erivaldo Fagundes Neves
Revista de História da Biblioteca Nacional

Mais de um século depois do início da colonização, a presença portuguesa na Bahia continuava restrita a uma faixa ao longo do litoral, com alguns avanços de no máximo 60 quilômetros para o interior. A secura das caatingas dificultava a ocupação dos sertões e forçava as expedições que por elas se aventurassem a margear os rios. Isso quando a resistência dos povos indígenas, identificados como tapuias, não impedia a marcha.

Com o tempo, além de atrapalhar os avanços pelo interior, os índios passaram a atacar povoações e fazendas no Recôncavo e no litoral sul. Na segunda metade do século XVII, os colonizadores lançaram-se em expedições de guerra contra os tapuias. As ofensivas desdobraram-se em várias frentes: do Orobó (1657-1659), de Aporá (1669-1673) e do São Francisco (1674-1679).

Diante da forte resistência indígena, Francisco Barreto de Menezes, governador-geral do Brasil (1657-1663), recorreu aos paulistas, que afinal já eram experientes no combate aos índios. Contratados em uma expedição sob comando do capitão-mor Domingos Barbosa Calheiros, eles também fracassaram. Menezes determinou, então, uma ofensiva geral contra os indígenas: que se queimassem suas aldeias, degolassem os homens e escravizassem as mulheres e as crianças.

Os bandeirantes contratados para combater os índios palmilharam as margens do Paraguaçu e Jequiriçá, nas quais estabeleceram engenhos e fazendas, em sesmarias que lhes foram doadas como pagamento pelas matanças. O sertanista João Maciel Parente, por exemplo, recebeu uma sesmaria com seis léguas de extensão e a posse da vila de João Amaro, no atual município de Iaçu. Outros buscavam apenas encontrar minérios. Fixavam-se temporariamente, plantando roças para abastecer a tropa, e seguiam pelos “matos” (caatingas) sem deixar pistas.

As descobertas de ouro nos sertões da Bahia, no início do século XVIII, aceleraram o seu povoamento. O último bandeirante baiano, Joaquim Quaresma Delgado, percorreu, entre 1731 e 1734, caminhos que ligavam fazendas e minas nos sertões de Inhambupe, Itapicuru, de Contas, Pardo, Jequitinhonha, do São Francisco — desde as nascentes do Verde Grande à foz do Paramirim — e do Paraguaçu, em quase toda a sua extensão.

Curioso é que, nos compêndios iniciais de História do Brasil, as “bandeiras” sejam definidas como empreendimentos de bravos aventureiros paulistas. E as “entradas”, como expedições que partiam da Bahia ou de outras capitanias. A diferença é que, a estas, não se atribui a mesma bravura. Talvez porque a contratação de paulistas como matadores de índios na Bahia tenha sido fartamente exaltada por cronistas da época e dos séculos seguintes.

Erivaldo Fagundes Neves é professor da Universidade Estadual de Feira de Santana e autor do livro Estrutura fundiária e dinâmica mercantil: Alto sertão da Bahia, séculos XVIII e XIX (Salvador: EdUFBA, 2005).

Saiba mais - Bibliografia:

BARROS, Francisco Borges de. Bandeirantes e sertanistas baianos. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1919.
NEVES & MIGUEL (org.). Caminhos do sertão: ocupação territorial, sistema viário e intercâmbios coloniais dos sertões da Bahia. Salvador: Arcádia, 2007.
PUNTONI, Pedro. A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão do Nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: HUCITEC, EDUSP, FAPESP, 2002.
VIANNA, Urbino. Bandeiras e sertanistas baianos. São Paulo: Nacional, 1935.

* Artigo originalmente publicado na edição 34 da Revista de História da Biblioteca Nacional