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11 junho 2010

FAVEIRA CANAFÍSTULA NA APA IRINEU SERRA

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Estamos no começo do mês de junho e por toda a cidade, em pequenos e grandes fragmentos florestais, a faveira canafístula, ou simplemsmente canafístula, está em flor (veja fotos que ilustram este texto).

Também conhecida fora do Acre como paricá, esta espécie nativa rivaliza no colorido das flores com o ipê amarelo, que só deverá florescer em meados de setembro.

Abaixo apresentamos um resumo de um trabalho sobre a espécie que realizamos na Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra. O poster do mesmo foi apresentado durante a 61a Reunião Anual da SBPC realizada entre 12 e 17 de julho passado em Manaus-AM.

ABUNDÂNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE CANAFÍSTULA (Schizolobium amazonicum) EM UM FRAGMENTO FLORESTAL SECUNDÁRIO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL RAIMUNDO IRINEU SERRA, RIO BRANCO, ACRE

Janice Ferreira do Nascimento [1, 3]
Evandro José Linhares Ferreira [2, 3]
Anelena Lima de Carvalho [3, 4]
Edmilson Santos Cruz [5]

1. Mestranda em Engenharia Florestal, UFLA
2. Núcleo de Pesquisas no Acre do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA
3. Herbário do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre-UFAC
4. Mestranda em Ciências de Florestas Tropicais, INPA
5. Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da UFAC

INTRODUÇÃO:

A canafístula (Schizolobium amazonicum Huber ex Ducke. Caesalpinaceae) é uma espécie de porte elevado e rápido crescimento encontrada em florestas primárias e secundárias de terra firme da Amazônia, cuja madeira é usada na fabricação de compensados, forros, palitos e papel. Nas florestas secundárias em estádio avançado de regeneração da região é comum a ocorrência de essências madeireiras de rápido crescimento e alto valor econômico, factíveis de exploração econômica. Esta situação acontece em alguns fragmentos florestais da Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra (APARIS), localizada no perímetro urbano de Rio Branco, Acre, onde se observa a ocorrência frequente de canafístula. A APARIS, que possui uma área de 843 hectares, tem entre os seus objetivos, além da proteção da biodiversidade, a promoção da exploração equilibrada dos recursos naturais. Portanto, além de cumprir importante papel ecológico promovendo o acúmulo de biomassa, controle de erosão, conservação da rede hidrológica e manutenção da biodiversidade, seus fragmentos florestais podem ter utilidade econômica para os moradores locais. O presente estudo objetivou a avaliação da abundância, distribuição espacial e estrutura diamétrica da canafístula na APARIS em razão do seu potencial de exploração econômica.

METODOLOGIA:

O estudo foi conduzido no maior fragmento florestal da APARIS (Figura 1), que possui cerca de 200 hectares. Originalmente, toda a região onde se localiza a APARIS era coberta por uma floresta primária classificada como Floresta Ombrófila Aberta com Bambu e Palmeiras no sub-bosque. Hoje, apenas 30% da área apresenta cobertura florestal, a maioria floresta secundária em variados estádios de regeneração. A coleta dos dados foi feita em seis parcelas de 20 m x 250 m (0,5 ha) alocadas de forma sistemática, resultando em uma área total estudada de 3 ha. Todos os indivíduos arbóreos, inclusos os de canafístula, com 10 ou mais centímetros de diâmetro a altura do peito (DAP) foram marcados com placa de alumínio e tiveram o diâmetro medido com auxílio de trena diamétrica. A altura comercial e total foi estimada pelo mesmo observador durante a realização do trabalho. A identificação botânica foi realizada com o auxílio de um identificador botânico prático com larga experiência em trabalhos similares na região. A análise dos dados foi feita com o software Mata Nativa versão 2.0, a partir de dados tabulados no programa Microsoft Office Excel 2007. Para a análise da distribuição espacial foi utilizado o índice de McGuinnes.

RESULTADOS:

Foram inventariados 856 indivíduos arbóreos com mais de 10 cm de DAP, classificados em 143 espécies, 98 gêneros e 43 famílias botânicas. Canafístula apresentou o maior valor de importância (VI) em razão da sua dominância (20,8 m²/ha) (Tabela ao lado). Comparada com outras espécies, em canafístula há uma relação inversa entre a densidade e a dominância. Enquanto ela apresentou apenas 28 indivíduos, Erythrina verna e Sapium glandulosum, a segunda e a terceira posição em ordem de VI, apresentaram 54 e 53 indivíduos. A razão foi o elevado diâmetro observado em canafístula, com indivíduos medindo até 130 cm de diâmetro.

A distribuição espacial observada para a espécie foi uniforme, sendo a mesma encontrada em todas as parcelas levantadas (Figura ao lado).

A estrutura diamétrica do fragmento estudado seguiu o padrão usual de florestas tropicais inequiâneas (J-invertido), sugerindo a existência de um balanço entre o recrutamento e a mortalidade. A estrutura diamétrica, com 13 classes distintas, mostrou que 60,4% dos indivíduos estão na primeira classe (15 cm), 23,83% na segunda (25 cm), 9,11% na terceira (35 cm) e 3,39% na quarta classe (45 cm). Os demais, totalizando 3,27%, dividem-se em classes acima de 50 cm. Canafístula é a única espécie com representantes na última classe de diâmetro (DAP > 130 cm) (Figura abaixo).

CONCLUSÃO:

Embora a canafístula não seja a espécie mais abundante, ela é, graças ao grande porte da maioria dos seus indivíduos, a espécie dominante no fragmento florestal. Uma possível explicação para esta situação, além do fato de ser uma espécie pioneira, deve estar relacionada com a existência de indivíduos remanescentes de outros estádios de sucessão inicial surgidos pela abertura de clareiras usadas em exploração seletiva realizada anteriormente. A distinção na relação entre a densidade e dominância observada entre a canafístula e outras espécies, deve-se, principalmente, ao fato de ocuparem diferentes estádios sucessionais, e às características próprias de cada uma delas. A distribuição uniforme de canafístula pode ser explicada pela sua dispersão anemocórica, que favorece uma distribuição mais homogênea da espécie em uma área com características aparentemente propícias ao seu crescimento, como parece ser o caso do fragmento florestal da APARIS. A exploração de canafístula nos fragmentos florestais da APARIS parece ser factível em razão de suas excelentes características silviculturais, especialmente a alta taxa de regeneração e rápido crescimento, e da ocorrência de um grande número de indivíduos de grande porte com dimensão adequada para a extração.

Instituição de Fomento: ZEAS/Prefeitura de Rio Branco e Secretaria Municipal de Meio Ambiente/PMRB

Palavras-chave: inventário florestal, Schizolobium amazonicum, Acre .