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13 setembro 2010

MAIOR 'ADVERSÁRIO' DE SERRA JÁ NÃO É DILMA, É O ELEITOR

ABr


Josias de Souza

Folha de S. Paulo


Depois da muda, ocorrida há coisa de duas semanas, José Serra voa sobre a campanha com aparência renovada.


De tucano, Serra converteu-se em carcará –aquele pássaro malvado que pega, mata e come.

Em sua nova fornada de números, divulgada na noite desta sexta (10), o Datafolha informa: não funcionou.


Serra vive o seu momento pânico. Já experimentou de tudo. Na fase tucana, o bico grande, bonito e doce revelou-se inútil.


Com o bico de carcará –pequeno, pontudo e perverso— serviu veneno a uma platéia que pede a continuidade do pudim.


O vaivém de Serra pode ser visto de dois ângulos. Num, positivo, o observador é tentado a concluir que o candidato não tinha alternativas.


Enquanto deu, posou de oposicionista light. Quando os amigos e a família foram ao caldeirão da Receita Federal, elevou o tom.


Noutro ângulo, negativo, enxerga-se um candidato errático e oportunista. Errático por tentar se apropriar do legado que o dono do testamento diz ser de outra.


Oportunista por ter alardeado só agora uma violação de sigilo que admite conhecer desde janeiro, quando diz ter “alertado” Lula.


Seja como for, independentemente da lupa que se utilize, o resultado é a visão de um Serra batido.

Considerando-se os grandes números do Datafolha, o quadro é estacionário. Na última semana, Dilma reteve seus 50% e Serra escorregou de 28% para 27%.


Mergulando-se no miolo do relatório do instituto, descobre-se a existência de movimento.

O problema é que, nos pontos em que se mexeram, os números sorriram ora para Dilma ora para Marina, jamais para Serra.


Sorriram para Dilma, por exemplo, em Pernambuco e na Bahia. Entre os pernambucanos, ela foi de 64% para 67%. Serra, de 21% para 18%.


Entre os baianos ela subiu de 60% para 64%. Ele desceu de 22% para 18%.


Dilma caiu cinco pontos percentuais na faixa de eleitores com escolaridade superior. Para onde foram os votos? Quatro pontos percentuais engordaram o cesto de Marina.


Dilma despencou sete pontos entre os eleitores de maior renda familiar. Nesse universo, Marina beliscou seis pontos percentuais.


Disseminou-se a percepção de que, em matéria de sucessão presidencial, Serra é mesmo um político azarado.


Em 2002, época em que sopravam os ventos da mudança, cavalgava a continuidade. Em 2010, tempo de continuidade, encarna a mudança.


Numa leitura condescendente do processo, pode-se dizer que, hoje, o adversário de Serra é Lula, não Dilma. Tomado pelo Datafolha, Lula é um eleitor notável.


Quase metade do eleitorado (45%) declara que, “com certeza”, vota em quem o presidente indicar. Outros 18% afirmam que “talvez” votem no indicado de Lula.


Somando-se os dois percentuais chega-se ao potencial de transferência de votos de Lula para Dilma: 63%.


Sobram para Serra os 29% que rejeitam o nome apontado pelo “dedaço” de Lula. Um contingente que ele tem que dividir com Marina.


Numa análise menos edulcorada da campanha, chega-se à conclusão de que o problema de Serra não é Lula nem Dilma, mas o eleitor.


O dono do voto informa, uma pesquisa atrás da outra, que não deseja Serra. É como se dissesse ao pesquisador: "Não me importune mais com suas perguntas. Já decidi".


A 23 dias do fatídico 3 de outubro, vive-se sob a égide da precipitação. Lula antecipara a campanha em mais de dois anos.


E o eleitor, contente com a atmosfera benfazeja em que se misturam as bolsas e o crescimento econômico, parece ávido por antecipar o resultado.


Há uma semana, 69% achavam que Dilma vence. Hoje, compartilham dessa idéia 72%.


Na conta do Datafolha, somados apenas os votos válidos, Dilma fica com 56%. Ou seja, o triunfo pode chegar no primeiro turno.