O PT PRECISA APRENDER A PERDER*
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
Tenho um filho de seis anos muito serelepe. Já está lendo e seu desenvolvimento físico e mental é normal, graças a Deus. Como toda criança, já passou por várias fases que, de uma forma ou de outra, ajudarão a moldar o seu caráter. E muitas outras fases virão pela frente.
Na fase que meu filho está vivendo, a gente precisa ficar atento para corrigir os rumos, incentivar ou reprimir coisas boas e ruins que afloram. E de uns meses para cá ele está passando por uma fase que todos nós experimentamos quando criança - aquela de sempre querer ganhar ou levar vantagem nas brincadeiras ou outras atividades que pratica. Nesse aspecto, o meu garoto é exagerado: quando perde uma disputa, mesmo a mais boba delas, chora, esgoela e grita que detesta perder. Mas tenho agido para mostrar a ele que ganhar e perder faz parte da nossa vida e que às vezes a derrota nos ensina lições valiosas.
Com todo o respeito que um senador da República merece, não consigo enxergar na iniciativa do senador Anibal Diniz (PT-AC), de propor uma nova consulta popular sobre o fuso horário acreano, algo típico de um adulto, sobretudo de um senador da República. Só consigo ver na iniciativa a preponderância, o reflexo da fase infantil um dia vivida pelo senador.
É incrível que a gente esteja testemunhando isso acontecer nos dias de hoje, mais de 25 anos após o restabelecimento da democracia no nosso país. E pior: a luta pela volta do estado democrático no Brasil foi uma luta de Anibal Diniz e seus companheiros da Frente Popular do Acre, nos quais me incluo como simpatizante e militante da causa desde o início dos anos 1980, quando me envolvi no movimento estudantil ao lado de Marina Silva, Marcos Afonso, Binho Marques, Carioca, Gerson Albuquerque e tantos outros.
Acreditem leitores, no seio do movimento estudantil durante o período da ditadura militar as decisões nunca foram monocráticas. Tudo era decidido na base de muito discurso, tratativas de convencimento e, principalmente, voto, eleição. Daí o meu espanto com a iniciativa do senador Anibal Diniz de propor essa nova consulta para que o povo acreano decida sobre algo que já decidiu em votação no referendo realizado em 2010, de forma soberana, em eleições limpas e honestas: a volta do fuso horário que fora mudado de forma arbitrária.
Indiretamente, ajudei a colocar Anibal Diniz no cargo que hoje ocupa, pois votei em Tião Viana, o titular da cadeira no Senado que ele assumiu no ano passado. Como democrata, respeito as regras do estado de direito que prevalecem no país e considero Anibal Diniz um senador legítimo. Ponto. Entretanto, afirmo que a atitude dele em relação a sua proposta de nova consulta popular, embora juridicamente possível sob o ponto de vista legislativo, além de atentar contra princípios democráticos arraigados – resultado de eleição tem que ser acatado –, faz pouco caso do valor dos votos dos acreanos. Ao propor uma nova consulta popular antes mesmo que os efeitos da anterior tenham entrado em vigor, Aníbal Diniz desconsidera a vontade de 56,87% dos eleitores que votaram favoravelmente pelo retorno do antigo fuso horário acreano.
Tenho certeza que muitos acreanos pensam assim. Mesmo os que votaram pela permanência da mudança do atual fuso horário acreditam que em primeiro lugar deve-se respeitar a decisão do povo, ou seja, a volta do fuso horário. Já conversei com muitas pessoas e li muitas opiniões e esse princípio democrático não é questionado por ninguém.
Na democracia em que vivemos, é possível uma nova votação para saber se a população acreana, mais uma vez, quer ou não mudar o seu fuso horário. Na qualidade de senador, Anibal Diniz tem o poder para propor tal consulta, pois seu cargo lhe faculta tal prerrogativa. Entretanto, antes de fazer tal proposta, ele deveria, atento a princípios democráticos, esperar que em primeiro lugar a vontade legítima da maioria dos acreanos fosse consumada, ou seja, o antigo fuso horário entrasse em vigor, conforme já foi decidido. Somente após isso ele deveria propor uma nova consulta.
De outra forma, e ele fez exatamente isso, como podemos interpretar a atitude do senador Anibal Diniz?
Na angústia que vivo quando penso nessa questão do fuso horário acreano, só posso achar que o senador agiu exatamente como meu filho, de seis anos, agiria em caso de derrota: chorou, reclamou, se revoltou e quer, a qualquer custo, mudar resultados desfavoráveis a ele.
Se essa é uma iniciativa pessoal do Senador, se ele tomou a decisão de propor uma nova consulta popular para atender interesses político-eleitorais, a interesses empresariais ou uma demanda popular, só ele pode esclarecer. Mas é bom que fique claro que ela vai causar muitos estragos eleitorais ao grupo político que ele integra: o Partido dos Trabalhadores e a Frente Popular.
Afirmo isso com autoridade, pois havíamos, eu, Altino Machado, Toinho Alves e outros, alertado o então senador Tião Viana do custo político de persistir no erro de mudar de forma autoritária o fuso horário. As eleições de 2010 foram a prova e as perspectivas para a eleição de 2012 confirmam o estrago.
Ainda existe tempo para o senador Aníbal Diniz se redimir desse grave equívoco, fazer uma autocrítica, olhar para o passado recente e aprender com os erros cometidos por alguns de seus colegas. A derrota, como tenho dito a meu filho, traz lições valiosas.
Na qualidade de eleitor que o ajudou na sua caminhada até o Senado, só posso pedir uma coisa a Anibal Diniz: pense e aja como um autêntico democrata. Só isso.
*Texto originalmente publicado no Blog do Altino. Esta versão aqui publicada é corrigida e ampliada.
Blog Ambiente Acreano
Tenho um filho de seis anos muito serelepe. Já está lendo e seu desenvolvimento físico e mental é normal, graças a Deus. Como toda criança, já passou por várias fases que, de uma forma ou de outra, ajudarão a moldar o seu caráter. E muitas outras fases virão pela frente.
Na fase que meu filho está vivendo, a gente precisa ficar atento para corrigir os rumos, incentivar ou reprimir coisas boas e ruins que afloram. E de uns meses para cá ele está passando por uma fase que todos nós experimentamos quando criança - aquela de sempre querer ganhar ou levar vantagem nas brincadeiras ou outras atividades que pratica. Nesse aspecto, o meu garoto é exagerado: quando perde uma disputa, mesmo a mais boba delas, chora, esgoela e grita que detesta perder. Mas tenho agido para mostrar a ele que ganhar e perder faz parte da nossa vida e que às vezes a derrota nos ensina lições valiosas.
Com todo o respeito que um senador da República merece, não consigo enxergar na iniciativa do senador Anibal Diniz (PT-AC), de propor uma nova consulta popular sobre o fuso horário acreano, algo típico de um adulto, sobretudo de um senador da República. Só consigo ver na iniciativa a preponderância, o reflexo da fase infantil um dia vivida pelo senador.
É incrível que a gente esteja testemunhando isso acontecer nos dias de hoje, mais de 25 anos após o restabelecimento da democracia no nosso país. E pior: a luta pela volta do estado democrático no Brasil foi uma luta de Anibal Diniz e seus companheiros da Frente Popular do Acre, nos quais me incluo como simpatizante e militante da causa desde o início dos anos 1980, quando me envolvi no movimento estudantil ao lado de Marina Silva, Marcos Afonso, Binho Marques, Carioca, Gerson Albuquerque e tantos outros.
Acreditem leitores, no seio do movimento estudantil durante o período da ditadura militar as decisões nunca foram monocráticas. Tudo era decidido na base de muito discurso, tratativas de convencimento e, principalmente, voto, eleição. Daí o meu espanto com a iniciativa do senador Anibal Diniz de propor essa nova consulta para que o povo acreano decida sobre algo que já decidiu em votação no referendo realizado em 2010, de forma soberana, em eleições limpas e honestas: a volta do fuso horário que fora mudado de forma arbitrária.
Indiretamente, ajudei a colocar Anibal Diniz no cargo que hoje ocupa, pois votei em Tião Viana, o titular da cadeira no Senado que ele assumiu no ano passado. Como democrata, respeito as regras do estado de direito que prevalecem no país e considero Anibal Diniz um senador legítimo. Ponto. Entretanto, afirmo que a atitude dele em relação a sua proposta de nova consulta popular, embora juridicamente possível sob o ponto de vista legislativo, além de atentar contra princípios democráticos arraigados – resultado de eleição tem que ser acatado –, faz pouco caso do valor dos votos dos acreanos. Ao propor uma nova consulta popular antes mesmo que os efeitos da anterior tenham entrado em vigor, Aníbal Diniz desconsidera a vontade de 56,87% dos eleitores que votaram favoravelmente pelo retorno do antigo fuso horário acreano.
Tenho certeza que muitos acreanos pensam assim. Mesmo os que votaram pela permanência da mudança do atual fuso horário acreditam que em primeiro lugar deve-se respeitar a decisão do povo, ou seja, a volta do fuso horário. Já conversei com muitas pessoas e li muitas opiniões e esse princípio democrático não é questionado por ninguém.
Na democracia em que vivemos, é possível uma nova votação para saber se a população acreana, mais uma vez, quer ou não mudar o seu fuso horário. Na qualidade de senador, Anibal Diniz tem o poder para propor tal consulta, pois seu cargo lhe faculta tal prerrogativa. Entretanto, antes de fazer tal proposta, ele deveria, atento a princípios democráticos, esperar que em primeiro lugar a vontade legítima da maioria dos acreanos fosse consumada, ou seja, o antigo fuso horário entrasse em vigor, conforme já foi decidido. Somente após isso ele deveria propor uma nova consulta.
De outra forma, e ele fez exatamente isso, como podemos interpretar a atitude do senador Anibal Diniz?
Na angústia que vivo quando penso nessa questão do fuso horário acreano, só posso achar que o senador agiu exatamente como meu filho, de seis anos, agiria em caso de derrota: chorou, reclamou, se revoltou e quer, a qualquer custo, mudar resultados desfavoráveis a ele.
Se essa é uma iniciativa pessoal do Senador, se ele tomou a decisão de propor uma nova consulta popular para atender interesses político-eleitorais, a interesses empresariais ou uma demanda popular, só ele pode esclarecer. Mas é bom que fique claro que ela vai causar muitos estragos eleitorais ao grupo político que ele integra: o Partido dos Trabalhadores e a Frente Popular.
Afirmo isso com autoridade, pois havíamos, eu, Altino Machado, Toinho Alves e outros, alertado o então senador Tião Viana do custo político de persistir no erro de mudar de forma autoritária o fuso horário. As eleições de 2010 foram a prova e as perspectivas para a eleição de 2012 confirmam o estrago.
Ainda existe tempo para o senador Aníbal Diniz se redimir desse grave equívoco, fazer uma autocrítica, olhar para o passado recente e aprender com os erros cometidos por alguns de seus colegas. A derrota, como tenho dito a meu filho, traz lições valiosas.
Na qualidade de eleitor que o ajudou na sua caminhada até o Senado, só posso pedir uma coisa a Anibal Diniz: pense e aja como um autêntico democrata. Só isso.
*Texto originalmente publicado no Blog do Altino. Esta versão aqui publicada é corrigida e ampliada.
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