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07 março 2007

Warwick Kerr: a Amazônia, os índios e as abelhas


Entrevista a Marco Antônio Coelho

Estud. av. vol.19 no.53 São Paulo 2005: DOSSIÊ AMAZÔNIA BRASILEIRA I



Parte 2

A política de Lula


Estudos Avançados – Professor Kerr, qual sua opinião a respeito da política governamental em relação aos problemas educacionais e às atividades científicas e tecnológicas?

Warwick Kerr – Do ponto de vista da economia, o regime nunca esteve tão bem como está agora, desde que nasci. O real frente ao dólar melhorou nesses dois anos e meio. O dólar baixou de preço. Todavia, para os pobres a situação não está tão boa assim. O Lula se distanciou de professores como eu. Desejei conversar com ele e dar-lhe algumas sugestões, inclusive sobre como criar empregos, porque ele me conhece e já foi meu hóspede quando eu era o reitor da Universidade Estadual do Maranhão. Mas o presidente Lula está fechado numa torre e cercado por meia dúzia de pessoas. Recebe os milionários mas não procura os professores. Essa reforma universitária que está sendo proposta, na verdade, é uma contra-reforma, porque é um absurdo entregar recursos públicos às universidades particulares, cujo ensino é comprovadamente de má qualidade, além de não fazerem pesquisa, nem extensão. Logo, não tem as características de universidade e a mim parecem ser um negócio rendoso que vai ficar ainda mais rendoso com as bolsas.

Recebo do CNPq apenas um pequeno auxílio para minhas pesquisas. O senhor mesmo testemunhou como vou pagando os empregados que me auxiliam plantando centenas de mudas de pequi. Sei que o CNPq está com pouco dinheiro, mas não estou satisfeito com a situação atual. Outro dia, desesperado, telefonei para um de seus diretores solicitando um auxílio de oito mil reais para pagar algumas despesas, pois minhas pesquisas foram paralisadas devido a um roubo de nossas colméias. Ele consultou o prof. Erney Camargo (presidente do CNPq) e este liberou cinco mil reais, por ser esse o limite de uma despesa emergencial. Resolvi, então, assumir a responsabilidade pelo restante e, assim, trouxemos 48 colméias de abelhas de Venda Nova do Emigrante para Uberlândia e já estão sendo pesquisadas por meus alunos. Isso para demonstrar que as universidade federais estão pobres e o MCT deveria prestigiar mais o CNPq, quando este, agora, tem um presidente competente.


Também acho que as verbas para a educação, nos três níveis, teriam de ser duplicadas, e na Amazônia, se quisermos salvá-la, quadruplicadas.


Estudos Avançados – Professor Kerr, qual sua opinião a propósito do asfaltamento da rodovia Cuiabá-Santarém?

Warwick Kerr – Conheci a rodovia Brasília-Belém quando estava sendo construída. Era mata fechada dos dois lados da estrada. Agora, o que vemos nela é o desmatamento de vinte a cinqüenta quilômetros de cada lado. Como não há fiscalização do governo, o quadro é dramático. E não tenho notícia de que pelo menos um fazendeiro ou madeireiro esteja preso por dez anos por desmatar uma floresta, e por quinze anos se for um Parque Nacional. O mesmo vai acontecer com a Cuiabá-Santarém.


O caso do Pontal do Paranapanema, em São Paulo, é uma vergonha. O Ademar de Barros deixou que seus amigos invadissem as terras do Parque como se fossem áreas devolutas e agora os sem-terra querem invadir aquelas áreas. Ótimo – invasão em cima de invasão; poderiam pelo menos dividir em partes iguais...


Na verdade, não temos uma política para salvar as florestas. Na Alemanha, quando é construída uma rodovia numa floresta, se alguém atropela um animal silvestre, recebe uma penalidade elevada. Aqui, nada acontece quando um motorista pratica um desses crimes, liquidando veados, tamanduás e emas. Sei de casos de pessoas que, ao vislumbrarem um animal silvestre, sacam o revólver e atiram por mero prazer. Por isso sou contra o asfaltamento dessa rodovia até que a sociedade aprenda a cuidar das reservas florestais e haja leis mais fortes contra os invasores. Conservação da natureza é uma questão de educação, das escolas primárias até as universidades.


A questão dos transgênicos

Estudos Avançados – Como devemos agir para impedir o prosseguimento da devastação florestal na Amazônia? O ecoturismo poderia auxiliar a defesa do meio ambiente?

Warwick Kerr O ecoturismo, se não for bem feito, acarreta sérios problemas. Na Suíça, que realiza um excelente ecoturismo, não permitem que os suíços se misturem com os turistas. Somos uma vergonha internacional por não prendermos os organizadores do turismo sexual. O manejo controlado do corte de madeiras (madeiras certificadas) tem um defeito gravíssimo e por isso considero estranho o fato de uma organização que admiro como a WWF aceitar esse plano, porque afeta a biodiversidade. Pois bem, então, em vez de pegar uma coisa séria como a descaracterização e o empobrecimento de nossas florestas, a ministra Marina Silva engajou-se de forma equivocada na questão dos transgênicos. Eu admirava e admiro essa ministra, mas ela vem se opondo erradamente aos transgênicos, pois essas pesquisas são indispensáveis, pois nada mais são que um método de melhoramento. Mas será que vamos ter algum transgênico ruim? Claro que vamos! Já houve o caso de uma cultivar de milho em que só nela aconteceu um problema na produção de linhagens masculinas estéreis. Tivemos também outras coisas terríveis com seleção de mandioca (macaxeira). O pesquisador quis fazer uma mandioca rica em proteína e em quatro anos fez a mandioca mais venenosa, rica em HC rica em ácido cianídrico (HCN). Como bom pesquisador, jogou tudo fora. E outras ainda vão acontecer. No entanto, o método de melhoramento dos vegetais e animais não deve ser impedido e sim bem controlado. Não podemos deixar que firmas estrangeiras controlem nossa produção de sementes para não haver a falta de sementes de hortaliças como sucedeu em 1940, poucos meses depois do início da Segunda Grande Guerra.


Estudos Avançados – O que deve ser feito para preservarmos a biodiversidade em nossas florestas?

Warwick Kerr A primeira coisa fundamental é não deixar cortar. Agora estão querendo tirar madeira até mesmo em florestas do governo, o que é uma loucura, como o que pretendem fazer no Mamirauá, no rio Juruá. Tem gente até afirmando que o efeito das caçadas nessas reservas não é pernicioso. E os destruidores estão começando uma campanha de difamação dos conservacionistas.


O índio caça de qualquer maneira, assim como o pobre. O importante é que eles respeitem o limite de 3% que os especialistas dizem que é o suportável. Caso contrário acontecerá o que sucede na África. Estão acabando com a fauna da África (inclusive de gorilas e elefantes), porque em muitos países daquele continente não são fixados limites para caçadas.


Relacionamento com os índios

Estudos Avançados – Qual é a vivência do senhor em relação às etnias?

Warwick Kerr Os índios são muito maltratados. Sempre que trabalhei com eles só fiz amizades. Nunca passei fome numa aldeia indígena. Em qualquer uma delas eles compartilharam sua comida comigo. Há três anos (2002), numa reunião de chefes e representantes de mais de cinqüenta etnias, em Manaus, eles elegeram David Yanomame e eu como o índio e o branco que mais trabalharam pelos índios e que mais os defenderam. Penso que no meu caso tal opinião decorreu de uma série de denúncias feitas por mim contra um massacre de Ticuna, há cinco anos. Esse fato ocorreu num lugar chamado Capacete, perto de Benjamim Constant e de São Paulo da Olivença. Foi quando houve um ataque, liderado por um fazendeiro contra um grupo pacífico de Ticuna, quando mataram catorze índios. Cheguei a viajar até Benjamin Constant para pressionar a Justiça, pois até então não se conseguia marcar o julgamento, porque todas as pessoas naquela região tinham receio de contribuir para que os criminosos fossem punidos. Escrevi mais de uma vez sobre esses fatos e dei os nomes dos mortos, dos assassinos e do mandante.


Cada etnia é diferente das outras – costumes, adereços, alimentos. Dou um exemplo. Entre os povos do Amazonas, de Santarém até Tabatinga, todos comem ariá assada ou cozida. Já entre os Palikura (no norte do Amapá), ariá é somente consumida por mulher que deseja engravidar. Quando fui tocar na planta, três índios impediram-me e o tradutor disse-me: "doutor, se o senhor tocar nisso vai ficar grávido e os soldados do Pará virão nos matar". Não toquei...


Estudos Avançados – Em que medida os ensinamentos dos povos da selva são úteis e devem ser aproveitados?

Warwick Kerr – Nestes últimos dez a doze mil anos os índios acumularam um conhecimento fabuloso sobre a floresta amazônica. Um dos chefes Ticuna, Adir Aldemicio Bastos, com quem sempre mantive e mantenho um bom relacionamento, ensinou-me uma coisa que nunca esqueci. "Veja – foi dizendo – um menino Ticuna de uns cinco a seis anos, se for perdido do grupo a uma longa distância da aldeia, acaba achando o caminho de volta; isto porque ele sabe que as águas de um rio só vão para um lado; então, ele desce, vai até um igarapé (riozinho) para encontrar um rio maior e chegar à aldeia. Quando tem fome, sabe que frutas pode comer e que o palmito de açaí é fácil de tirar; conhece plantas tóxicas que não pode pôr na boca. Então, um indiozinho perdido na mata sempre acha sua aldeia e não passa fome".


Os conhecimentos dos índios são notáveis, pois acumularam experiências de vários séculos, como é o caso de terríveis venenos: capahaça, mata-calado(Ryania speciosa) Mas esse conhecimento está sendo passado para livros, que nada informam sobre quais pessoas transmitiram as informações. Para mim, isso é uma informação incompleta. Por isso, publiquei dois artigos, mas os índios que colabo-raram no trabalho apareceram como co-autores. Farei o mesmo quando escrever o artigo sobre o pequi sem espinho.


Os índios entendem rapidamente aquilo que ensinamos. Mas é impressionante o que eles sabem a respeito das frutas. Por exemplo, eles é que nos transmitiram o uso do abiu, da sapota, do araçá-boi, e de centenas de fruteiras. Observo, porém, que normalmente o branco se apodera dessas lições dos índios mas nada lhes dá em troca. Quando visito uma aldeia sempre levo um saco com sementes. No entanto, precisamos avaliar bem o que devemos entregar a eles, porque equívocos podem ser cometidos. Por exemplo, uma vez quando eu estava em Aripuanã, perguntei aos Cinta-larga o que desejavam. "Querem sementes? Eles responderam: "Não. Queremos calças compridas para homens e mulheres". "Por quê?" Perguntei. "Porque nas nossas andanças arranhamos muito as pernas e os pés em espinheiros e em capim navalha". Era um grupo de 22, então, dei-lhes vinte e duas calças e malhas.


Estudos Avançados – Recordo que, no passado, os salesianos que vieram para esta região desejaram catequizar os índios. Com os protestantes era a mesma coisa. Além disso, há esse problema em Roraima com as etnias que vivem na região da Raposa do Sol. Qual deve ser nossa postura em relação a tudo isso?

Warwick Kerr – Respeitar o índio na sua inteireza, considerando que ele não tem mentalidade capitalista. Tem espírito de compartilhamento das coisas, o que é emocionante. Sei do caso daquele Kaiapó que deflorou uma professora. Esse índio devia estar é na cadeia, porque os Kaiapó não fazem essa besteira. Os Kaiapó eram índios guerreiros mas, agora guerreiros não têm mais lugar em parte alguma. Para fazer sua própria comida, cabe às índias o plantar e semear. Como fazem? Os homens derrubam a floresta e fazem a coivara (queimada) e esse lugar é utilizado durante três ou quatro anos. Mas as plantações são feitas pelas mulheres, pois são elas que são paridoras, sabem parir e cuidar das crianças, sabem plantar milho, mandioca, batata doce etc. Dona Teroko foi minha maior informante sobre a metodologia agronômica dos Kaiapó.


As áreas na Raposo do Sol devem ser demarcadas a favor dos índios, mas é indispensável levar em conta a segurança nacional. O Exército tem razão em defender a margem da fronteira. Por exemplo, não devemos aceitar que os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, nem os fazendeiros colombianos ou qualquer outro grupo estrangeiro controlem aquela parcela de nosso país, assim como também não podemos concordar que seus inimigos entrem em nosso território. Os antiguerrilheiros são latifundiários tão ruins ou piores que os guerrilheiros. Aqueles que se dizem de esquerda têm pouca coisa de esquerda e muito de cocaína; os que são da direita apenas têm vontade de matar para ficar com as terras. Naquela disputa nenhum dos lados merece nosso apoio. Os índios sabem disso e têm receio de que os seus rapazes sejam seqüestrados para serem utilizados como soldados, apesar de sua baixa idade (doze a dezessete anos). Em resumo, o Exército brasileiro deve controlar uma faixa de nossa fronteira.


As violências da ditadura


Estudos Avançados – Durante a ditadura, a SBPC foi muito pressionada pelas autoridades militares. O que sucedeu com o senhor?

Warwick Kerr – Tanto eu como o Simão Matias fomos ameaçados muitas vezes, ameaças extensivas às nossas famílias. Fui preso duas vezes. Na segunda, isso aconteceu no dia da apuração de votos na eleição em que fui reeleito presidente da SBPC. O que motivou essa prisão foi meu protesto contra a tortura de uma freira católica, a madre Maurina Borges, uma pessoa muito querida que dirigia o melhor orfanato de Ribeirão Preto. É bom recordarmos aquele acontecimento. Estava eu na Faculdade de Medicina daquela cidade quando fui procurado pelo monsenhor Angélico Sândalo (hoje bispo auxiliar de São Paulo). Esse prelado solicitou-me que fizesse um exame de corpo-delito na madre Maurina, porque ela estava muito machucada em conseqüência das torturas. Respondi-lhe que não poderia atendê-lo porque esse exame só pode ser feito por um médico legista e que eu era um engenheiro agrônomo. Contudo, prometi ao monsenhor Angélico que, no dia seguinte, em minha aula de Genética na Faculdade, eu iria fazer um relato minucioso a respeito das violências sofridas por madre Maurina.


Pois bem, no dia seguinte, quando normalmente apenas 108 alunos assistiam às minhas aulas de Genética, apareceram cerca de duzentas pessoas no salão da Faculdade. Após dar uma hora de Genética, afirmei que iria tratar também de um assunto tão importante para eles quanto a Genética. Transmiti, então, as informações que me foram dadas por dom Angélico, relatando os sofrimentos daquela freira, sobre a covardia da tortura, e dei-lhes endereços onde essa notícia poderia ser enviada. Solicitei aos ouvintes que divulgassem ao máximo a ocorrência daqueles fatos. Ao sair da aula já havia um carro da polícia aguardando-me. Levaram-me ao delegado Lamano para um longo interrogatório e me soltaram por ordem do Comando do II Exército, porque exatamente naquele dia eu havia sido reeleito presidente da SBPC, com 97% dos votos, e minha prisão poderia repercutir mal para o governo. Entretanto, o delegado que me liberou fez questão de advertir que se eu continuasse a criticar o governo meus filhos sofreriam as conseqüências.


Estudos Avançados – Professor Kerr, como o senhor vê a atuação da Funai e do Conselho Indigenista Missionário, o Cimi?

Warwick Kerr – Meu avô Quirino sempre me dizia que aquilo que beneficia uma pessoa para o resto da vida é a cultura e a educação, afirmando que "o conhecimento não ocupa lugar". Em Manaus, perguntei a alguns Ticuna se eles estavam satisfeitos com um curso de Liderança Indígena que freqüentavam na universidade. Eles responderam: "Não, não estamos contentes. Queremos cursos de engenharia, medicina, agronomia e veterinária!"

Eu criticava muito as atividades do Cimi (católico) e do New Tribe (protestante). No entanto, quando os índios começaram a ser atacados, porque algumas pessoas desejavam ocupar suas terras, somente o Cimi e o New Tribe defenderam os índios. Se não fosse esse apoio, maus fazendeiros já teriam ocupado algumas dezenas dessas terras.


Estudos Avançados – O Inpa colaborou também para o trabalho de alfabetização na Amazônia?

Warwick Kerr – No primeiro Planejamento Estratégico do Inpa, em fevereiro de 1975, decidimos que este instituto deveria trabalhar em agricultura para o povo, nas doenças mais freqüentes, e em qualquer problema que agredisse a natureza e o povo do Amazonas. Uma professora, chamada Amélia Ramos, informou-se que os alunos do primário tinham alta taxa de reprovação e de abandono da escola. Ela achava que nenhuma cartilha era adequada. Resolvemos, então, ajudá-la nessa atividade, uma vez que as cartilhas utilizadas em Manaus eram feitas em São Paulo ou no Rio de Janeiro.


A cartilha que elaboramos resultou de um trabalho em equipe sob a liderança da professora Geraldina Porto Witter, do Instituto de Psicologia da USP. Ela contou com a minha colaboração assim como também com a do dr. Ozório Menezes Fonseca (biólogo e ótimo desenhista, pesquisador do Inpa), além da professora Maria Amélia Antunes Ramos, técnica da Secretaria de Educação do Amazonas. Os meninos adoraram a Cartilha do Amazonas porque todas as palavras, as frases e os desenhos se referem a animais, fatos e costumes da região. Essa cartilha recebeu um prêmio nacional e duas edições dela já foram lançadas. Os alunos aprenderam rapidamente a ler e também aprenderam conceitos e idéias. Verdades que são perenes, úteis para toda a vida e que são apoiadas em conhecimentos científicos. Essa cartilha começou a ser utilizada em 1976 e milhares delas já foram distribuídas na Amazônia. A sua paralisação foi devida a um grupo de professores que consideravam que essa cartilha exigia muito da professora.


A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Estudos Avançados – Como antigo dirigente da SBPC, como analisa o atual desempenho dessa entidade?

Warwick Kerr Do ano passado para cá houve uma melhoria nas suas atividades em conseqüência da atuação de seu novo presidente, o Prof. Ênnio Candotti. Não votei nele, mas estou muito contente com seu desempenho. E se ele for novamente candidato, agora poderá contar com meu voto. Na última eleição, não o apoiei porque o Candotti deixou uma dívida enorme para o seu sucessor pagar, o Aziz Ab'Saber. Agora, disse-me ele que arranja dinheiro antes de programar as reuniões.


A SBPC está agora com seis mil sócios. É muito pouco, pois quando fui presidente tínhamos dezoito mil, se bem que no meu tempo a militância na entidade possuía outros atrativos, porque era a única organização em que se podia criticar a ditadura.


Algumas opiniões de Warwick Kerr


Zona Franca de Manaus – "Penso que foi útil para o estado do Amazonas e beneficiou Manaus, que hoje está com um milhão de habitantes, o que é algo monumental nos trópicos. Não sei se nela há transações discutíveis, mas parece-me que na Zona Franca a fiscalização é rigorosa."


Preservação da biodiversidade na Amazônia – "Deve ser ampliado o número de áreas de proteção ambiental e de parques federais, estaduais e municipais na Amazônia. Também é indispensável maior presença da polícia e maior atuação da Justiça."


Posições partidárias – "Sou socialista. Em 1945 fui a uma reunião, em Piracicaba, do PCB. Ela era presidida pelo escritor Jorge Amado. Quando critiquei as teses de Lysenko sobre genética, aquele escritor respondeu que um assunto como esse deveria ser discutido somente na direção do partido. Nunca voltei a qualquer reunião comunista. Hoje eles estão francamente mudados. Entrei no Partido Socialista Brasileiro em Piracicaba. Fui eleito Vereador na legenda desse partido, mas quando me mudei para Rio Claro e fui escolhido Diretor Científico da Fapesp, solicitei meu desligamento, porque queria deixar claro que Fapesp não tomaria qualquer posição política partidária. Quando o PT foi fundado, em 1980, ingressei nele, mas agora estão aumentando minhas divergências com esse partido, como no caso da expulsão da senadora Heloisa Helena, na questão da aposentadoria dos professores, na votação do salário mínimo, nas altas taxas de juros etc."


Atuação dos militares na Amazônia – "Eles trabalham muito bem na área da educação, realizam um bom controle nas questões de saúde e preparam nossos soldados para a defesa do país, tendo em vista a situação de cada local na Amazônia."

Transposição das águas do São Francisco – "Estive há pouco tempo naquele rio, inclusive o atravessei a pé. Não há possibilidade de transpor suas águas para o nordeste setentrional. O governo deveria estudar, isso sim, a possibilidade de levar um terço da água do Tocantins para o semi-árido, o seria uma solução definitiva e que resultaria na construção de trinta cidades de alto padrão."