No começo de 2006, quando o IMAC promoveu um seminário sobre queimadas no Acre (logo após a temporada desastrosa de incêndios florestais de 2005), Foster Brown, nosso colega do PZ-UFAC, me passou um arquivo com uma coletânea de palestras e artigos científicos indicando que o equilíbrio natural do nosso planeta já tinha sido alterado. Agora, por conta do relatório da ONU, toda a imprensa mundial começa a divulgar e, melhor ainda, a opinião pública mundial finalmente começa a tomar conhecimento do que vem pela frente. Mantidas as tendências atuais a destruição do planeta e quase certa.
Diante da constatação, alguns cientistas, incluindo James Lovelock, autor da Teoria de Gaia, estavam propondo uma série de medidas para diminuir radicalmente os impactos causados pelas ações humanas. Diminuir drasticamente o uso de combustíveis fóssies e a adoção, por exemplo, de energia nuclear. Mesmo assim não existe a garantia de que o planeta vai conseguir se recuperar e retornar ao seu estado de equilíbrio natural.
No início do ano passado foi publicado mais um livro de James Lovelock. Ele deu o sugestivo nome de "A vingança de Gaia". Nele, o autor argumenta que a terra já está lutando para se defender. Segundo o autor "A sociedade humana,através da emissão de gases causadores do efeito estufa e de outras formas de degradação ambiental ,trouxe o mundo natural até a beira de uma crise. As temperaturas irão aumentar, avisa o Professor Lovelock ,o abastecimento regular de água estará inviabilizado,a vida nos oceanos estará comprometida,a produção de alimentos entrará em declínio, e ocorrerão migrações em massa na direção das áreas do planeta que ainda estarão habitáveis. Em face da predominância atual dos combustíveis fósseis como fontes de energia,ele considera que uma mudança em ampla escala na direção da energia nuclear é vital para que o abastecimento de eletricidade continue de forma confiável e para que seja possível reduzir as emissões de dióxido de carbono (Texto retirado do site "James Lovelock, um cientista fora do comum")
A vingança de Gaia
Por James Lovelock. O autor é um dos mais renomados cientistas ambientais do mundo e membro da Royal Society, do Reino Unido. Ele diz que o efeito estufa chegou a um ponto sem retorno e que "bilhões" morrerão neste século. Especial para o jornal inglês 'The Independent'.
Imagine uma jovem policial que se sente totalmente realizada na sua vocação. Então, imagine-a tendo de dizer a uma família cujo filho estava desaparecido que ele foi encontrado morto, assassinado, num bosque vizinho. Ou pense num jovem médico que tem de lhe dizer que a sua biópsia revelou um tumor agressivo em metástase.
Médicos e policiais sabem que muitos aceitam a verdade simples e horrenda com dignidade, mas muitos tentam em vão negá-la. Nós livramos os juízes da terrível responsabilidade de aplicar a pena de morte, mas ao menos eles tinham algum conforto em suas freqüentes justificativas morais. Médicos e policiais não têm como escapar de seu dever.
Este artigo é o mais difícil que eu já escrevi, e pelas mesmas razões. Minha teoria de Gaia diz que Terra se comporta como se estivesse viva, e qualquer coisa viva pode gozar de boa saúde ou adoecer. Gaia me tornou um médico planetário e eu levo minha profissão a sério. Agora, também devo trazer as más notícias.
Boa parte das terras tropicais se tornará caatinga e deserto, e não servirá mais para regulação do clima; isso se soma aos 40% da superfície terrestre que nós já devastamos para produzir nosso alimento.
Curiosamente, a poluição por aerossóis no hemisfério Norte reduz o aquecimento global ao refletir a radiação solar de volta ao espaço. Esse "apagamento global" é transitório e pode desaparecer em poucos dias junto com a fumaça que o carrega, deixando-nos expostos ao calor da estufa global. Estamos num clima de loucos, resfriado acidentalmente pela fumaça, e antes do fim deste século bilhões de nós morreremos e os poucos casais férteis que sobreviverão estarão no Ártico, onde o clima continuará tolerável. |
.Tarefa impossível
Ao não perceber que a Terra regula seu clima e sua composição, nós cometemos a trapalhada de tentar fazê-lo nós mesmos, agindo como se estivéssemos no comando. Ao fazer isso, condenamos a nós mesmos ao pior estado de escravidão. Se escolhermos ser os guardiões da Terra, somos os responsáveis por manter a atmosfera, os oceanos e a superfície terrestre aptos para a vida. Uma tarefa que logo acharíamos impossível - e algo que, antes de termos tratado Gaia tão mal, ela fazia para nós.
Para entender o quão impossível é a tarefa, pense sobre como você regularia a sua temperatura e a composição do seu próprio sangue. Quem tem problemas renais conhece a dificuldade diária inesgotável de de ajustar sua ingestão de água, sal e proteínas. A muleta tecnológica da diálise ajuda, mas não é substituto para rins saudáveis.
Meu novo livro, "A Vingança de Gaia", expande essas idéias, mas você ainda pode perguntar por que a ciência demorou tanto para reconhecer a verdadeira natureza da Terra. Eu acho que é porque a visão de Darwin foi tão boa e tão clara que demorou até agora para que ela fosse digerida. No tempo dele, pouco se sabia sobre a química da atmosfera e dos oceanos, e teria havido pouca razão para que ele imaginasse que os organismos modificavam seu ambiente além de se adaptarem a ele. Se fosse sabido à época que a vida e o ambiente estão tão conjugados, Darwin teria visto que a evolução não envolve apenas os organismos, mas toda a superfície do planeta.
Nós então poderíamos ter enxergado a Terra como um sistema vivo, teríamos sabido que não podemos poluir o ar ou usar a pele da Terra -seus oceanos e sistemas florestais- como uma mera fonte de produtos para nos alimentar e mobiliar nossas casas. Teríamos sentido instintivamente que esses ecossistemas devem ser deixados intocados porque eles são parte da Terra viva.
Talvez o mais triste seja que Gaia perderá tanto quanto ou mais do que nós. Não só a vida selvagem e ecossistemas inteiros serão extintos, mas na civilização humana o planeta tem um recurso precioso. Não somos meramente uma doença; somos, por meio da nossa inteligência e comunicação, o sistema nervoso do planeta. Através de nós, Gaia se viu do espaço, e começa a descobrir seu lugar no Universo.
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