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25 setembro 2007

MONOPÓLIO NO MERCADO MUNDIAL DE ALIMENTOS

Os donos do mercado de alimentos

Por Gustavo Capdevila, da IPS

Genebra, 25/09/2007 – A indústria de alimentos e bebidas vive uma fase de concentração, com 10 companhias distribuidoras controlando 24% do mercado mundial, afirma um estudo que está sendo examinado esta semana por representantes de trabalhadores, empresários e governos, convocados pela Organização Internacional do Trabalho. A mesma tendência existente nas vendas também é verificada em outras fases dessa atividade, nos setores de fabricação e transformação de produtos alimentares, disse o autor do estudo, Andrew Bibby, ao apresentá-lo aos 70 participantes da “Reunião tripartite sobre a incidência das cadeias mundiais de alimentação no emprego”. Bibby explica que não é nova no setor a estratégia de diversificação de fontes de abastecimento de alimentos, um fenômeno estreitamente ligado à globalização das relações econômicas e comerciais.

A novidade é o surgimento dessas cadeias mundiais de alimentação integradas, que empregam cerca de 22 milhões de pessoas no mundo e são, portanto, motivo de preocupação da OIT. O setor de empresas produtoras de alimentos e bebidas é encabeçado pela suíça Nestlé, com 260 mil empregados, seguida da anglo-holandesa Unilever com 179 mil, e das norte-americanas PapsiCo (157 mil), Sara Lee (137 mil) e Coca-Cola (132.300). No último elo das empresas dedicadas à venda no varejo, a norte-americana Wal-Mart figura em primeiro lugar com 1,8 milhão de empregados, vindo a seguir a francesa Carrefour com 440.500, a norte-americana Kroger com 290 mil, a britânica Tesco com 273 mil e a norte-americana Albertson’s com 234 mil funcionários. Uma configuração dessas características quase monopólicas nasce do processo de fusões e aquisições de empresas de grande envergadura que se acentuou nos últimos anos.

O informe da OIT afirma que, embora as maiores empresas realizem volumes de negócios astronômicos, a indústria mundial da alimentação “ainda tolera, por suas dimensões e diversidade, uma consolidação ainda maior”. No ano passado a Nestlé realizou negócios no valor de US$ 74,659 bilhões, a Unilever chegou a US$ 49,581 bilhões, a PepsiCo a US$ 32,562 bilhões, Sara Lee a US$ 19,277 bilhões e Coca-Cola a US$ 41,810 bilhões. Em outra especialidade, as vendas do Wal-Mart em 2004 somaram US$ 28,989 bilhões, enquanto o Carrefour vendeu US$ 99, 110 bilhões. Mas, tanto esplendor empalidece na hora de comparar com a distribuição dos benefícios.

Um produtor da variedade de feijão denominada tirabeques recebe em sua plantação do Zimbábue apenas 12 centavos de dólar por esses legumes vendidos por um supermercado de um país industrializado. Apenas dois centavos a mais para cada dólar recebe em uma operação semelhante o produtor de hortaliças frescas do Quênia. Um estudo da banana exportada pelo Equador para a Grã-Bretanha demonstrou que o dono dessas plantações obtinha um décimo dos lucros gerados pela venda da fruta. Dessa quantia, os trabalhadores das plantações de banana receberam apenas 1,5%.

O informe da OIT estima que os processos em marcha dentro da indústria incidirão também nas relações trabalhistas e no diálogo social no setor. Existe potencial para melhorar nessas relações e elevar o grau de cumprimento das normas fundamentais do trabalho, do qual se beneficiarão tanto as empresas quanto os trabalhadores, prevê a pesquisa. Em especial, esse fenômeno se produzirá mediante a maior intervenção e participação das empresas líderes em todos os elos da cadeia de fornecimento de alimento, afirmou entusiasmado o autor do trabalho. No mesmo tom, o documento da OIT afirma que os interlocutores sociais da indústria de elaboração de alimentos têm um histórico de negociações coletivas que deram frutos em empresas de todo o mundo.

Como exemplo citou o caso da Nestlé para a Ásia e o Pacifico, que assinou em vários países convênios coletivos aplicáveis a direitos sindicais, igualdade de oportunidades, ausência de discriminação por idade, sexo, raça ou religião, entre outros temas. Mas esta afirmação do informe da OIT foi refutada pelo porta-voz dos trabalhadores, Klaus Schroeter, do sindicato da alimentação da Alemanha, o qual afirmou que os contratos mencionados pelo documento “são contrários” às legislações nacionais dos países aos quais se refere. Schroeter qualificou o informe de “muito ruim” e disse que “é muito pouco satisfatório”. Não é o caso de a OIT fazer propostas de acordo com as opiniões das empresas, acrescentou.

O sindicalista também criticou o trecho do documento que prevê aumento na demanda desses produtos na Ásia e na América Latina, e deduz que “estas tendências preocupam os analistas, temerosos de que o aumento global do consumo de alimentos provoque carestia em nível mundial. Parece desnecessário dizer isso quando milhares de crianças morrem de fome. Creio que o autor do informe teria que dar conta disso”, afirmou Schroeter. Em três reuniões tripartites às quais assistiu nunca havia visto um documento da OIT tão ruim, ressaltou o sindicalista alemão. Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) mostram que 854 milhões de pessoas, 17% da população mundial, sofrem fome e que esses números continuam aumentando.

(Envolverde/ IPS)