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19 setembro 2007

ÁREAS PROTEGIDAS NA AMÉRICA LATINA

O dilema das áreas protegidas na América Latina

Por Marcela Valente, da IPS

Buenos Aires, 18/09/2007 – Muitas reservas naturais da América Latina se debatem entre a degradação e o isolamento. Para definir formulas de superação do problema e valorizar a contribuição desse patrimônio à luta contra a pobreza a Argentina será sede, no final deste mês, de um congresso internacional de ampla participação. “Nossa maior expectativa é ampliar a participação de todos os envolvidos. Não apenas acadêmicos, conservacionistas ou administradores de parques. Queremos ouvir os indígenas, os pescadores, as comunidades locais, o setor do turismo”, disse à IPS o coordenador do II Congresso Latino-americano de Parques Nacionais e Outras Áreas Protegidas, Victor Inchausteguy.

“Temos de criar um espaço plural de intercâmbio de idéias e acordar princípios de conservação. É necessário transcender ao grupo dos tradicionalmente comprometidos com estes temas”, insistiu Inchausteguy, membro do escritório regional da América do Sul da União Mundial para a Natureza (UICN-Sul). O encontro acontecerá entre o próximo dia 30 e 6 de outubro em San Carlos de Bariloche, 1.500 quilômetros a sudoeste de Buenos Aires, na província de Rio Negro. Do encontro participarão cerca de duas mil pessoas de 20 países da América Latina, Europa, Canadá e Estados Unidos.

Dados da Rede Latino-americana de Cooperação Técnica em Parques Nacionais, Outras Áreas Protegidas, Flora e Fauna Silvestre (Redeparques), mostram que sua superfície na região duplicou entre 1992 e 2002. A América Latina, com uma extensão total de quase 21 milhões de quilômetros quadrados, conta com mais de 2,1 milhões de quilômetros declarados áreas protegidas. Também aumentaram as reservas co-administradas por governos e comunidades. Os especialistas afirmam que é cada vez mais evidente o vínculo estreito entre as reservas e sue entorno.

A partir de um informe regional que será apresentado na abertura do congresso, os participantes discutirão sobre pobreza, impacto da mudança climática e estratégias para combatê-la, e a criação de uma rede de áreas marinhas protegidas para sustentar a pesca. Também serão examinadas as contribuições do conhecimento de comunidades indígenas na conservação destas áreas e o impacto dos projetos de infra-estrutura em ecossistemas críticos. Além disso, serão debatidos mecanismos novos de financiamento para as áreas e será feita uma avaliação da efetividade no manejo.

“É muito importante que o conceito de conservação esteja incluído nas políticas de desenvolvimento e integração de nossos países, porque, se ficar de fora, as áreas protegidas podem acabar se transformando em ilhas”, alertou Inchausteguy em conversa telefônica com a IPS desde Quito, onde fica a sede da UICN-Sul. A proteção da biodiversidade – acrescentou o especialista – é uma questão que deve estar na agenda quando se discute investimentos ou quando se planeja e se destina recursos. Nesse sentido, destacou que os governos locais são os que têm mais consciência sobre este aspecto. Mas, há muito por fazer, ressaltou Inchausteguy.

A idéia desta reunião surgiu pela primeira vez durante o IV Congresso Mundial de Parques Nacionais realizado em Caracas em 1992. Nessa oportunidade se decidiu realizar um congresso latino-americano na metade do período entre as reuniões mundiais que acontecem a cada 10 anos. O primeiro encontro regional foi em Santa Marta, na Colômbia, em 1997. Suas conclusões foram uma grande contribuição para o V Congresso Mundial de 2003 em Durban, na África do Sul, e agora o escritório para a América do Sul da UICN deu sua colaboração para esta segunda reunião regional.

Também estão convocados, em ter outros, a Administração de Parques Nacionais da Argentina, o Escritório Regional para a América Latina e o Caribe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Redeparques, que opera na órbita da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. O objetivo é avaliar, valorizar e projetar a contribuição das áreas protegidas da região para a conservação da biodiversidade. Mas, também se busca analisar quais serviços são prestados por estas áreas, o uso sustentável em seu interior e no entorno e as estratégias de alivio da pobreza dentro delas.

O lema do encontro é “Conservação, Integração e Bem-estar para os Povos da América Latina”. Em conferencias, simpósios e painéis de debate e intercâmbio de experiências serão debatidos quatro temas: conservação da biodiversidade, os avanços e desafios no conhecimento sobre manejo de áreas, fortalecimento de capacidades e governabilidade, igualdade e qualidade de vida. Os participantes do congresso divulgarão uma declaração política ao término do encontro e redigirão as recomendações da América Latina para a próxima reunião mundial.

“De Santa Marta a Bariloche, melhorou muito a participação social, mas as áreas protegidas são parte de um contexto”, explicou Inchausteguy. Ele se referia aos projetos de infra-estrutura viária, represas, gasodutos e expansão da monocultura, que podem contribuir para degradar as reservas ou isolá-las completamente. Também a mineração, o uso da madeira, a pesca e o turismo podem ser uma ameaça para as áreas protegidas. Por isso Inchausteguy considera fundamental a participação no congresso do setor privado, das comunidades e dos governos, para que todos estejam envolvidos em projetos de desenvolvimento sustentável.

Envolverde/ IPS

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