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22 outubro 2007

NOVAS CASAS E MORADORES DA RESEX DO ALTO JURUÁ

O efeito do crédito-moradia na Reserva Extrativista do Alto Juruá sob a ótica econômica: a evolução das pequenas vilas, como a Restauração, denotam a desarticulação do extrativismo e poderá trazer graves consequências sociais em razão da ausência do poder público e de uma política de incentivo ao extrativismo

Raimundo Cláudio, Doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas e Coordenador do Projeto Análise Econômica dos Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural do Estado do Acre (ASPF) do Departamento de Economia da UFAC deixou o seguinte comentário sobre o texto "Casas novas e novos moradores na Reserva Extrativista do Alto Juruá" de autoria de Mariana Pantoja:

Caro Evandro,

O relato da pesquisadora Mariana Pantoja é extremamente positivo, pois percebe-se que mais pesquisadores das ciências sociais andam "no meio do mato" para verificar a realidade desse povo.

Entretanto, talvez possa auxiliar nas análises da pesquisadora, evidenciando uma das contradições que permeiam a concentração das casas na aludida área. Ora, aparentemente o crédito habitação está delineando a revigoração da vila em torno do seringal Restauração. Contudo, essencialmente, as raízes dessa concentração podem ser percebidas pela desarticulação do extrativismo da borracha.

Constata-se que, atualmente, não se produz mais nenhum quilo de borracha naquela região. Por quê? Porque simplesmente não tem mais ninguém que compre borracha nessa e nas localidades vizinhas!!!! Assim, o que está acontecendo é uma fuga em massa dos centros dos seringais para as margens dos rios e igarapés maiores em busca da sobrevivência.

Ademais, a concentração de casas em torno da conformação de uma vila pode ser considerada, também, uma estratégia de sobrevivência das famílias, notadamente a partir de clãs estabelecidos nas diversas localidades no interior da floresta.

O crédito habitação é uma política importante para o fortalecimento e fixação dos extrativistas na floresta, mas ainda insuficiente para a manutenção dos mesmos na própria floresta, mesmo em vilas - que apresentam os graves problemas sociais (desemprego, prostituição, alcoolismo, entre outros) que assolam os núcleos urbanos das cidades, notadamente nas periferias, porém com contornos piores, haja vista a quase ausência do poder público nessas áreas.

Agora, com o oferecimento de alternativas produtivas concomitantes ao crédito habitacional, entre outras políticas institucionais, tais como, melhorias na infra-estrutura, comercialização etc., tudo indica que, ao invés da formação de vilas no interior das florestas, as comunidades florestais voltem a povoar e produzir em todas as dimensões florestais, garantindo a conservação do meio ambiente e, claro, das próprias comunidades.

Crédito da imagem: Mariana Pantoja