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02 novembro 2007

CANA-DE-AÇÚCAR EM RONDÔNIA

Deputado Rondoniense critica Ministra Marina por querer proibir plantio de cana na Amazônia. Ela tem que respeitar as "peculiaridades locais", diz o Deputado

“A intenção da ministra Marina Silva de proibir o plantio de cana-de-açúcar em toda a Região Amazônica e também no Pantanal reflete um péssimo hábito de muitos ocupantes de altos cargos em Brasília: tomar decisões gerais, de alcance nacional, sem dar o devido valor às peculiaridades locais”. Essa foi a manifestação do deputado estadual Luiz Claudio (PTN) ao jornal Diário da Amazônia, de Rondônia, diante do noticiário de que o zoneamento agrícola para 2008 excluirá o plantio da cana-de-açúcar em toda a região amazônica.

Imaginem vocês, leitores, se o resto do Brasil nunca tivesse "metido a colher" para tentar controlar a situação naquele Estado. Imaginem se Ibama, Justiça Federal e outras instâncias Federais tivessem deixado Rondônia trilhar, por conta própria, seu "caminho de desenvolvimento". Massacre de índios para poder explorar livremente minerais, ouro e diamantes, esgotamento completo e total da madeira nas florestas das áreas de conservação, floresta em pé só nos lugares onde fosse impraticável qualquer atividade econômica...

Segundo a mesma reportagem, "Luiz Claudio lembra que existem vários tipos de formação vegetal no território rondoniense e o plantio de cana não iria aumentar a pressão por desmate, por utilizar-se prioritariamente de áreas degradadas ou sub-utilizadas. Os atuais investimentos em cana-de-açúcar não afetam um milímetro as áreas de florestas altas daquele Estado."

Nesse ponto, o Deputado tem razão. Pega mal uma usina de açúcar e álcool derrubar milhares de hectares de floresta nativa para fazer o plantio de cana. É mais fácil comprar milhares de hectares de terras degradas abandonadas. Dá até para vender a imagem de que a atividade está "ajudando" a reerguer a economia do Estado, que é "ecológica" porque não derruba floresta nativa.

Doce engano. Os que irão vender as tais áreas degradadas, a maioria especuladores ou empreendores rurais fracassados, irão, com toda a certeza, fazer a única coisa que aprenderam a fazer desde que se instalaram naquele Estado: com o dinheiro no bolso eles irão comprar novas áreas de floresta, derrubar (madeira de lei não deve existir mais), plantar uma ou outra coisa, criar gado por um tempo e logo irão à falência novamente. As áreas recém derrubadas logo serão abandonadas e "colocadas" à disposição das usinas de álcool.

O Deputado Federal Rondoniense, Moreira Mendes (PPS/RO) confirma a prática predatória e insustentável dos produtores rurais daquele Estado. Em declaração para o mesmo Diário da Amazônia, ele afirma que "cerca de 38% da área territorial rondoniense está ocupada pela agricultura e a pecuária, sendo que 20% desse total são de áreas degradadas."

É uma "taxa de abandono" superior a 60%, ou seja, para cada hectare de floresta derrubada em Rondônia, cerca de 0,6 foram "deixadas para lá". Isso significa dizer que para cada 1.000 hectres de cana plantada em áreas degradadas em Rondônia, foram destruidas 1.600 hectares de florestas nativas.

Conclusão: o "dinheiro novo" das usinas de açúcar e álcool que estão se instalando em Rondônia irá, sem a menor dúvida, contribuir de forma indireta para a destruição de milhares de hectares de florestas nativas naquele Estado. E a destruição vai acontecer de forma legal ou ilegal, dentro e fora de áreas de conservação, como sempre aconteceu no passado.

O Deputado Estadual Luiz Claudio está, portanto, equivocado na escala de sua conta matemática. Liberado o cultivo da cana, ela avançará muito mais que um milímetro sobre as florestas daquele Estado. Serão centenas de quilômetros. Pena que restam tão poucas.

Crédito da imagem: Altino Machado