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28 julho 2008

AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DESPREPARADOS

Estudo com agentes envolvidos no controle da tuberculose revela que seus conhecimentos e ações são muito falhos. Menos da metade (47,6%) sabia que a transmissão da doença se dá através do ar, a partir de tosse, fala ou espirro de um indivíduo doente

Artigo mostra que é necessário investir na formação de agentes comunitários

Renata Moehlecke
Agência Fiocruz de Notícias

Seja na prevenção ou no combate a doenças como dengue, no auxílio a idosos ou na assistência à saúde materno-infantil, os agentes comunitários de saúde desempenham uma série de atividades que ajudam a estabelecer uma ponte entre os serviços de saúde e a comunidade onde eles mesmos residem. Como as ações desses profissionais podem constituir uma maneira eficaz de controle de doenças infecto-contagiosas, pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo resolveram analisar o conhecimento de 105 agentes participantes do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) no município de Vitória (ES), que apresenta uma das mais altas taxas de incidência da doença no país.

“Pouco se conhece sobre a atuação do agente comunitário de saúde no PNCT em nosso país”, afirmam os pesquisadores em artigo publicado na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. “Os achados desse estudo apontam para a possibilidade de que as oportunidades inicialmente vislumbradas no processo de integração dos agentes ao controle da tuberculose não estejam se concretizando”.

A pesquisa avaliou, com base em questionários, as noções que os agentes têm sobre os aspectos clínicos e epidemiológicos da tuberculose, além da autopercepção desses indivíduos sobre seu próprio nível de informação e sobre sua importância no enfrentamento da doença. “Observou-se que um maior tempo de atividade está relacionado a um aumento do nível de compreensão em torno da tuberculose, bem como das atividades efetivamente realizadas no controle da doença”, destacam os autores. “Contudo, de maneira geral,

Segundo os pesquisadores, os agentes, em sua quase totalidade, têm noção da sua importância no controle da tuberculose e uma percepção realista do seu nível de conhecimento sobre a doença e suas tarefas. Dos entrevistados, que tinham idade média de 34,5 anos, 62,9% atuavam na profissão há um período igual ou inferior a três anos e 37,1% tinham experiência de quatro ou mais. “Um achado interessante é a influência do tempo que eles exercem suas atividades e a resposta dada quanto ao nível de conhecimento que possuem”, explicam. A maioria daqueles que têm quatro anos ou mais de experiência avaliaram seu nível de informação como bom, enquanto aqueles com menos tempo em atividade o classificaram como regular. Esse entendimento, de acordo com os estudiosos, pode estar associado ao próprio acúmulo de experiências em campo, além da maior probabilidade de terem passado por mais treinamentos.

Mas, enquanto a percepção sobre si mesmos parece adequada, os agentes não demonstraram bom conhecimento acerca da tuberculose. Na avaliação de informações sobre os principais sintomas da doença, apesar de a febre ser o indício que recebe menor destaque em cartilhas distribuídas, ela foi a resposta mais notificada, estando presente em 62,9% dos casos. “No controle da tuberculose, espera-se basicamente que esse profissional seja capaz de identificar na comunidade, por meio de visitas domiciliares, aqueles indivíduos que apresentam tosse por três semanas ou mais (sintomático respiratório) e encaminhá-los aos serviços de saúde”, alertam os pesquisadores, acrescentando que essa tosse constante, reconhecidamente o sintoma mais característico e fundamental para a identificação da doença, foi relatado por apenas 26,7% dos agentes. Parte dos entrevistados chegou a assinalar a tosse como sintoma, mas sem referências sobre o período de duração, fundamental para a caracterização da tuberculose.

Quanto à forma de transmissão da doença, menos da metade dos agentes (47,6%) soube responder que a veiculação se dá através do ar, a partir de tosse, fala ou espirro de um indivíduo doente. “Essa lacuna no conhecimento acerca da transmissão possui implicações para além da orientação correta de pacientes”, dizem os autores. “Ainda que na literatura esse risco não tenha sido quantificado entre os agentes comunitários de saúde, a falta de conhecimento acerca da disseminação do agente infeccioso pode estar envolvida com a redução da sua capacidade de proteger-se de maneira adequada, intensificando este risco”.

Os resultados revelaram, ainda, que 84% dos agentes comunitários mostraram saber que a principal forma de diagnóstico da tuberculose é o exame de escarro, mas apenas 15,2% souberam relatar ao menos um dos três medicamentos usualmente utilizados no tratamento da doença. Os pesquisadores também verificaram que 50,5% dos entrevistados souberam citar duas ou mais instruções rotineiramente oferecidas aos pacientes com a doença, como manter o ambiente bem arejado e a falta de necessidade de se separar utensílios. “Sugere-se a necessidade de investimento não apenas em formação didática, mas também em um constante monitoramento das atividades realizadas pelos agentes, no intuito de identificar suas fragilidades”, concluem.

(Agente de saúde em visita domiciliar. Foto: Prefeitura de Amparo/SP)