DENGUE: COMBATE É PALIATIVO QUE CUSTA CARO
O governo brasileiro gasta R$ 1,2 bilhão por ano com o combate à dengue, mas só a produção da vacina irá controlar de fato a doença, de acordo com Hermman Schatzmayr, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz responsável pelo isolamento do vírus no Brasil
O caminho é a vacina
24/7/2008
Cleide Alves, Agência FAPESP
O governo brasileiro gasta demais com o combate à dengue, mas só a produção da vacina irá controlar de fato a doença, que atingiu 230.829 pessoas entre janeiro e abril deste ano, de acordo com os registros do Ministério da Saúde.
A avaliação foi feita pelo pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Hermman Schatzmayr – que foi responsável pelo isolamento do vírus da dengue 1, 2 e 3 no Brasil. Para a produção da vacina, no entanto, ainda será preciso superar uma série de desafios científicos.
De acordo com ele, a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti custa R$ 1,2 bilhão por ano ao governo federal. “É muito dinheiro”, disse Schatzmayr durante o I Encontro da Rede-Pan Americana de Pesquisa em Dengue, nesta quarta-feira (23/7), em Recife.
Segundo o pesquisador, que abriu o evento com uma palestra sobre a situação da dengue no Brasil, os recursos são gastos com inseticida para combate das larvas, treinamento de pessoal, apoio aos estados, assistência médica, controle do vetor, repasse de material, rede de laboratórios, equipamentos e bolsistas que estudam o problema.
A vacina, de acordo com o pesquisador, é o melhor caminho para o controle da dengue. “O país tem três grandes desafios a enfrentar: diagnóstico rápido da doença, controle do vetor e produção de vacina para imunizar a população. A vacina é o principal deles. É o ideal para o Brasil, por ser um país muito grande, disse Schatzmayr.
De acordo com reportagem realizada pela Agência FAPESP durante a 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas, na semana passada, as pesquisas para o desenvolvimento da vacina estão adiantadas. Uma parceria entre o Instituto Butantan e o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês) está em fase de pesquisas clínicas com humanos e em dezembro uma planta piloto já deverá começar a produzir a vacina.
O Butantan realizará ensaios no interior de São Paulo para testar a eficácia da vacina, mas ainda precisará de dados sobre o número de pessoas contaminadas – o que não está disponível porque a maioria das pessoas que contrai a doença não desenvolve os sintomas.
Na ocasião, Elena Caride Siqueira Campos, da Fiocruz, afirmou que combater a dengue no organismo humano não é fácil, já que existem quatro tipos diferentes de vírus e, para ser eficaz, a vacina terá de ser tetravalente, ou seja, combater os quatro simultaneamente, encontrando um equilíbrio entre atenuação do vírus e a imunogenicidade.
Combate ingrato
Na avaliação de Schatzmayr, os estados brasileiros ainda não estão totalmente estruturados para dar uma resposta rápida diante de uma epidemia. “Em uma situação como essa, é preciso agilidade para providenciar tendas de atendimento e remanejamento de médicos. O índice de mortalidade em decorrência da dengue deveria ser de 0,5% a 1%. Mas já registramos 10%, isso é um absurdo”, destacou.
Schatzmayr cita como exemplo o Estado do Mato Grosso do Sul, que teve uma epidemia séria de dengue no ano passado, apresentou uma resposta rápida e registrou pouquíssimas mortes. “A dengue está avançando no público infantil, os pediatras devem estar alertas para o rápido diagnóstico”, sublinhou.
Ele defende o repasse de informações sobre o mosquito Aedes aegypti para as crianças, em sala de aula. “É primordial mostrar vídeos sobre o inseto, trabalhar o assunto nas escolas, para que elas possam levar a informação para casa. Exibir o mosquito por dez segundos na televisão não surte efeito”, disse.
Em relação ao controle do vetor, o pesquisador reconhece que se trata de um trabalho difícil – até mesmo pela extensão territorial do Brasil – que exige entrar na casa das pessoas, verificar se há larvas e identificar se são do mosquito da dengue.
“Hoje, a ação é municipalizada, por isso é muito variado o interesse e a capacidade de atuação de cada um. Talvez, seja necessário mais foco do Estado junto aos municípios. É preciso repensar a participação do Estado, porque as cidades sozinhas não conseguem dar conta.”
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que entre 50 e 100 milhões de pessoas contraiam dengue todos os anos em mais de cem países de todos os continentes, exceto Europa. Conforme a OMS, foram registrados 900 mil casos de dengue nas Américas no ano passado, dos quais 560 mil (dois terços) no Brasil.
(Foto: Fiocruz)
O caminho é a vacina
24/7/2008
Cleide Alves, Agência FAPESP
O governo brasileiro gasta demais com o combate à dengue, mas só a produção da vacina irá controlar de fato a doença, que atingiu 230.829 pessoas entre janeiro e abril deste ano, de acordo com os registros do Ministério da Saúde.
A avaliação foi feita pelo pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Hermman Schatzmayr – que foi responsável pelo isolamento do vírus da dengue 1, 2 e 3 no Brasil. Para a produção da vacina, no entanto, ainda será preciso superar uma série de desafios científicos.
De acordo com ele, a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti custa R$ 1,2 bilhão por ano ao governo federal. “É muito dinheiro”, disse Schatzmayr durante o I Encontro da Rede-Pan Americana de Pesquisa em Dengue, nesta quarta-feira (23/7), em Recife.
Segundo o pesquisador, que abriu o evento com uma palestra sobre a situação da dengue no Brasil, os recursos são gastos com inseticida para combate das larvas, treinamento de pessoal, apoio aos estados, assistência médica, controle do vetor, repasse de material, rede de laboratórios, equipamentos e bolsistas que estudam o problema.
A vacina, de acordo com o pesquisador, é o melhor caminho para o controle da dengue. “O país tem três grandes desafios a enfrentar: diagnóstico rápido da doença, controle do vetor e produção de vacina para imunizar a população. A vacina é o principal deles. É o ideal para o Brasil, por ser um país muito grande, disse Schatzmayr.
De acordo com reportagem realizada pela Agência FAPESP durante a 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas, na semana passada, as pesquisas para o desenvolvimento da vacina estão adiantadas. Uma parceria entre o Instituto Butantan e o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês) está em fase de pesquisas clínicas com humanos e em dezembro uma planta piloto já deverá começar a produzir a vacina.
O Butantan realizará ensaios no interior de São Paulo para testar a eficácia da vacina, mas ainda precisará de dados sobre o número de pessoas contaminadas – o que não está disponível porque a maioria das pessoas que contrai a doença não desenvolve os sintomas.
Na ocasião, Elena Caride Siqueira Campos, da Fiocruz, afirmou que combater a dengue no organismo humano não é fácil, já que existem quatro tipos diferentes de vírus e, para ser eficaz, a vacina terá de ser tetravalente, ou seja, combater os quatro simultaneamente, encontrando um equilíbrio entre atenuação do vírus e a imunogenicidade.
Combate ingrato
Na avaliação de Schatzmayr, os estados brasileiros ainda não estão totalmente estruturados para dar uma resposta rápida diante de uma epidemia. “Em uma situação como essa, é preciso agilidade para providenciar tendas de atendimento e remanejamento de médicos. O índice de mortalidade em decorrência da dengue deveria ser de 0,5% a 1%. Mas já registramos 10%, isso é um absurdo”, destacou.
Schatzmayr cita como exemplo o Estado do Mato Grosso do Sul, que teve uma epidemia séria de dengue no ano passado, apresentou uma resposta rápida e registrou pouquíssimas mortes. “A dengue está avançando no público infantil, os pediatras devem estar alertas para o rápido diagnóstico”, sublinhou.
Ele defende o repasse de informações sobre o mosquito Aedes aegypti para as crianças, em sala de aula. “É primordial mostrar vídeos sobre o inseto, trabalhar o assunto nas escolas, para que elas possam levar a informação para casa. Exibir o mosquito por dez segundos na televisão não surte efeito”, disse.
Em relação ao controle do vetor, o pesquisador reconhece que se trata de um trabalho difícil – até mesmo pela extensão territorial do Brasil – que exige entrar na casa das pessoas, verificar se há larvas e identificar se são do mosquito da dengue.
“Hoje, a ação é municipalizada, por isso é muito variado o interesse e a capacidade de atuação de cada um. Talvez, seja necessário mais foco do Estado junto aos municípios. É preciso repensar a participação do Estado, porque as cidades sozinhas não conseguem dar conta.”
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que entre 50 e 100 milhões de pessoas contraiam dengue todos os anos em mais de cem países de todos os continentes, exceto Europa. Conforme a OMS, foram registrados 900 mil casos de dengue nas Américas no ano passado, dos quais 560 mil (dois terços) no Brasil.
(Foto: Fiocruz)
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