PROGRAMA 'ITAÚ ECOMUDANÇA': MUITO VERBO E POUCA VERBA
No primeiro semestre de 2008 o lucro do Banco Itaú foi de R$ 4 bilhões. O investimento previsto em seu programa ambiental 'Ecomudança" é de apenas R$ 182.586,63. Este 'risível' investimento equivale a 0,0045% do lucro do primeiro semestre de 2008
Henrique Cortez
Coordenador do EcoDebate
De acordo com o release, o “Itaú lançou o Programa Ecomudança, que tem como objetivo fomentar projetos de redução de emissão de gases de efeito estufa, desenvolvidos por organizações sem fins lucrativos. Para isso, o Programa Ecomudança 2008 repassará, por meio de apoio financeiro, R$ 182.586,63 para até cinco projetos com foco em eficiência energética, energia renovável ou manejo de resíduos, valor correspondente a 30% da taxa de administração dos fundos Itaú DI Ecomudança e Itaú RF Ecomudança, apurada entre 31 de agosto de 2007 e 1º de setembro de 2008. As inscrições para o Programa, gratuitas, estão abertas no período de 15 de setembro a 31 de outubro de 2008, por meio do site.”
Parece uma iniciativa importante e necessária, mas, de forma prática, é apenas marketing verde, o conhecido greenwashing.
O valor, de R$ 182.586,63 para até cinco projetos, significa até R$ 36.517,32 para cada projeto ou seja, apenas apoiará pequenos projetos isolados. Todo projeto é importante, mas os pequenos projetos, em geral, não possuem impactos sistêmicos, não mudando de forma significativa o problema principal. São absolutamente fundamentais para mobilização e conscientização, mas pouco além disto.
Vejamos o que acontece no caso de fixação de carbono ou neutralização de carbono por plantio de árvores nativas da Mata Atlântica. Uma muda plantada e cuidada até a sua maturidade (semente, muda, plantio, irrigação, adubação, etc, ao longo de 3 a 7 anos), sem considerar os custos de mão-de-obra, impostos, encargos, etc., custa R$ 12. Com R$ 36.517,32 é possível plantar 3.043 árvores ou 3 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica.
Continuando a usar a Mata Atlântica, como referência, é bom destacar que ela ocupa hoje apenas 7,26% de sua área original, que era de 1,3 milhão de km². Atualmente, restam 97,6 mil km² do bioma. De 2000 a 2005 foram desmatados 138,8 mil hectares, ou 27.760 hectares ao ano ou, ainda, 76,05 hectares ao dia. A diferença de 76 hectare ao dia contra 3 hectares em um ano dá a real dimensão do greenwashing.
O banco Itaú registrou lucro líquido consolidado de R$ 8,473 bilhões em 2007, mostrando evolução de 96,65% sobre 2006. No primeiro semestre de 2008 foi de R$ 4 bilhões e este risível “investimento” de R$ 182.586,63 equivale a 0,0045% do lucro do primeiro semestre de 2008. Se considerado sobre o lucro de 2007 o valor destinado ao Programa Ecomudança é ainda mais risível.
Ou seja, não é absolutamente nada. Só discurso e marketing.
Qualquer programa socioambiental, minimamente consistente, exige recursos compatíveis com os desafios.
É inaceitável qualquer valor inferior a 1% do lucro e, mesmo assim, ainda seria insuficiente.
Neste caso, como sempre, é apenais mais um programa com muito verbo e pouca verba.
Henrique Cortez
Coordenador do EcoDebate
De acordo com o release, o “Itaú lançou o Programa Ecomudança, que tem como objetivo fomentar projetos de redução de emissão de gases de efeito estufa, desenvolvidos por organizações sem fins lucrativos. Para isso, o Programa Ecomudança 2008 repassará, por meio de apoio financeiro, R$ 182.586,63 para até cinco projetos com foco em eficiência energética, energia renovável ou manejo de resíduos, valor correspondente a 30% da taxa de administração dos fundos Itaú DI Ecomudança e Itaú RF Ecomudança, apurada entre 31 de agosto de 2007 e 1º de setembro de 2008. As inscrições para o Programa, gratuitas, estão abertas no período de 15 de setembro a 31 de outubro de 2008, por meio do site.”
Parece uma iniciativa importante e necessária, mas, de forma prática, é apenas marketing verde, o conhecido greenwashing.
O valor, de R$ 182.586,63 para até cinco projetos, significa até R$ 36.517,32 para cada projeto ou seja, apenas apoiará pequenos projetos isolados. Todo projeto é importante, mas os pequenos projetos, em geral, não possuem impactos sistêmicos, não mudando de forma significativa o problema principal. São absolutamente fundamentais para mobilização e conscientização, mas pouco além disto.
Vejamos o que acontece no caso de fixação de carbono ou neutralização de carbono por plantio de árvores nativas da Mata Atlântica. Uma muda plantada e cuidada até a sua maturidade (semente, muda, plantio, irrigação, adubação, etc, ao longo de 3 a 7 anos), sem considerar os custos de mão-de-obra, impostos, encargos, etc., custa R$ 12. Com R$ 36.517,32 é possível plantar 3.043 árvores ou 3 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica.
Continuando a usar a Mata Atlântica, como referência, é bom destacar que ela ocupa hoje apenas 7,26% de sua área original, que era de 1,3 milhão de km². Atualmente, restam 97,6 mil km² do bioma. De 2000 a 2005 foram desmatados 138,8 mil hectares, ou 27.760 hectares ao ano ou, ainda, 76,05 hectares ao dia. A diferença de 76 hectare ao dia contra 3 hectares em um ano dá a real dimensão do greenwashing.
O banco Itaú registrou lucro líquido consolidado de R$ 8,473 bilhões em 2007, mostrando evolução de 96,65% sobre 2006. No primeiro semestre de 2008 foi de R$ 4 bilhões e este risível “investimento” de R$ 182.586,63 equivale a 0,0045% do lucro do primeiro semestre de 2008. Se considerado sobre o lucro de 2007 o valor destinado ao Programa Ecomudança é ainda mais risível.
Ou seja, não é absolutamente nada. Só discurso e marketing.
Qualquer programa socioambiental, minimamente consistente, exige recursos compatíveis com os desafios.
É inaceitável qualquer valor inferior a 1% do lucro e, mesmo assim, ainda seria insuficiente.
Neste caso, como sempre, é apenais mais um programa com muito verbo e pouca verba.
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