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27 setembro 2008

DESCOBERTA "CHAVE MESTRA" RELACIONADA AO APETITE E REPRODUÇÃO

Cientistas descobrem no cérebro uma "chave mestra" que ativa genes específicos que regulam tanto o apetite como a fertilidade, características intimamente ligadas

Chave da reprodução

Agência FAPESP – Há tempos se sabe que o peso corporal e a fertilidade são características que estão ligadas. Mulheres muito magras, por exemplo, encontram freqüentemente dificuldade de engravidar. Agora, cientistas nos Estados Unidos identificaram uma “chave mestra” que controla tanto o peso como a reprodução.

O trabalho, feito em camundongos por pesquisadores dos institutos Salk e Scripps, foi publicado neste domingo (31/8) no site e sairá em breve na edição impressa da revista Nature Medicine. Segundo os autores, a chave tem funcionamento semelhante em humanos.

O estudo indica que variações no gene que atua como chave mestra, conhecido como Torc1, podem contribuir como um componente genético tanto para a obesidade como para a infertilidade. Tais variações, afirmam, poderiam ser reguladas com novos medicamentos.

“Esse gene é crucial para a cadeia de sinais que circula entre a gordura corporal e o cérebro. Ele deve ter um papel principal em quanto os humanos comem e se terão ou não filhos”, disse Marc Montminy, do Instituto Salk.

Segundo Montminy, o Torc1 é tão importante como a leptina, a proteína que atua diretamente na regulação do apetite. O motivo é simples: a leptina se transforma em Torc1, que, por sua vez, ativa um número de genes conhecidos como atuantes no controle dos processos de fome e da fertilidade.

No estudo, camundongos sem o gene Torc1 nasceram saudáveis e iguais aos demais, mas após oito semanas começaram a ganhar mais peso. Tornaram-se persistentemente obesos na vida adulta, com duas a três vezes mais gordura adiposa do que os outros animais. Também adquiriram resistência à insulina. “Seus hormônios e o açúcar no sangue eram semelhantes aos verificados em humanos com os mesmos problemas”, disse Montminy.

Para surpresa dos cientistas, eles descobriram que camundongos dos dois sexos eram inférteis. Útero e ovários nas fêmeas se mostraram anatomicamente disfuncionais.

O grupo tem estudado nos últimos anos o balanço energético humano e o que pode levar a problemas como obesidade, diabetes e outras síndromes metabólicas. No trabalho agora publicado foram analisados os sinais transferidos entre a gordura corporal e o cérebro, informando o quanto o organismo está alimentado – e quando está saciado.

O hormônio principal que atua nessa função é a leptina, que circula pela corrente sangüínea para o hipotálamo, o centro do apetite, mantendo o cérebro informado a respeito do estado nutricional do indivíduo. A leptina também está envolvida na reprodução, ainda que os cientistas não saibam exatamente como isso ocorre.

“Controlar tanto o apetite como a reprodução resulta em uma grande vantagem evolucionária. Se não há comida, o cérebro acredita que o organismo não deveria reproduzir, porque sem gordura o crescimento do feto seria prejudicado. Alimento insuficiente para suprir as reservas energéticas do corpo implica que não sobrará nada para a gestação dos filhos”, disse Montminy.

O artigo The Creb1 coactivator Crtc1 is required for energy balance and fertility, de Judith Altarejos e outros, pode ser lido por assinantes da Nature Medicine em www.nature.com/nm.

(Ilustração: reprdução do artigo)