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21 dezembro 2008

TIÃO VIANA PRESIDENTE DO SENADO

Tião no Senado, uma eleição boa para o Acre e para o Congresso

Leonildo Rosas - leonildorosas@uol.com.br
Jornal Página 20, 21/12/2008

Há um bom tempo, a cena política nacional vem sendo ocupada por um assunto que diz respeito ao Acre e aos acreanos: a eleição para a próxima mesa diretora do Senado Federal. Se tal episódio interessa aos demais Estados da Federação, mais interessadas estão as pessoas que vivem nesta parte da Amazônia, porque, pela primeira vez na história, um político nascido e criado por estas bandas está tendo a oportunidade de disputar um dos cargos mais cobiçados da República.

A candidatura do senador petista Tião Viana para a presidência do Senado contava com todos os ingredientes para navegar tranqüilamente. Afinal, conta com o apoio do seu partido, o PT, de outras legendas aliadas e do presidente Lula.

Ocorre que falar em navegar tranqüilo na selva política de Brasília é algo impensado, principalmente quanto se trata da eleição para um posto que jogará papel preponderante na sucessão presidencial de 2010, quando Lula não poderá concorrer a um terceiro mandato, o PT não apresentou um nome forte para sucedê-lo e o PSDB acredita que pode eleger o governador de São Paulo, José Serra, presidente do país.

Teoricamente, Tião Viana tem encontrando resistência dentro de setores mais fisiologistas da política brasileira, principalmente do PMDB, que tem em expoentes da velha política como o senador alagoano Renan Calheiros os articuladores para impedir que o parlamentar acreano se eleja.

A raiva de Renan Calheiros seria porque Viana trabalhou direito e, quando assumiu interinamente a presidência do Senado, não mandou arquivar os processos em que o alagoano era acusado de cometer irregularidades.

Esse é um argumento frágil demais para ser levado em consideração. Tião Viana não pode ser punido por fazer a coisa certa. Os motivos de o PMDB querer permanecer no comando do Senado são maiores e estão vinculados à sucessão presidencial.

A ambição de jogar papel de destaque em 2010 fica óbvia quando se observa a estratégia peemedebista que está em curso. Fortalecido nas eleições municipais deste ano, o PMDB demonstra que não ficará contente apenas em eleger o paulista Michel Temer para a presidência da Câmara dos Deputados. O Senado, os ministérios e o céu são o limite, pensam eles.

Vendo o que está acontecendo em Brasília, não dá para ficar quieto aqui no Acre. O processo em que Tião Viana está inserido chama a uma reflexão sobre a importância da sua eleição para o nosso Estado e para a o Congresso Nacional.

Antes de entrar no que ora se desenrola, cabe lembrar um pouco da trajetória política do senador acreano. Médico infectologista, candidatou-se a primeira vez nas eleições de 1994. Não disputou um cargo qualquer. Enfrentou uma disputa para o governo contra o então todo-poderoso senador Flaviano Melo, do PMDB, e o forte empresário Orleir Messias Cameli.

Em 1994, foi a última eleição para o governo do Estado que houve disputa em segundo turno. Tião Viana não foi para o turno extra, disputado por Flaviano Melo e Orleir Messias Cameli, que saiu vitorioso.

Naquele ano, no entanto, a derrota não foi total. Saiu das urnas uma senadora que começaria a levar os políticos acreanos para o alto clero da política nacional.

Herdeira dos ideais de Chico Mendes, a também seringueira Marina Silva passou a utilizar o mandato para difundir a importância da preservação da natureza e do desenvolvimento sustentável e com sabedoria dos povos da floresta. O mundo voltou os olhos para a Amazônia.

Enquanto Marina Silva brilhava no Senado, as mudanças começavam a ser operadas no Acre. E foi quatro anos depois, na segunda disputa, que veio a primeira vitória eleitoral de Tião Viana.

Em 1998, a candidatura do jovem médico foi praticamente empurrada pela população, que sempre lhe assegurava vantagem sobre os outros adversários nas pesquisas realizadas.

Tião Viana não concorreu ao Senado porque fez pressão para que isso acontecesse. Sua candidatura surgiu de forma natural, mesmo havendo algumas pessoas contrárias, porque avaliavam que ele poderia atrapalhar a eleição do irmão, Jorge Viana, para governador. Ninguém atrapalhou ninguém. Os dois foram eleitos, e bem eleitos.

A vitória de Tião Viana significou muito mais do que uma vitória. A sua ascensão ao Senado veio casada com a derrota de um dos maiores caciques do Estado: o peemedebista Flaviano Melo.

Se Jorge Viana não fez feio na administração do Estado, Tião Viana não deixou nada a desejar no Parlamento. O desempenho surpreendeu porque seria normal que um jovem recém-chegado à Casa repleta de políticos experientes sucumbisse aos encantos e às armadilhas que são postas à frente de quem não conta com a devida experiência para dela se esquivar. O senador soube sair bem de todas as situações.

O desempenho de Tião Viana conseguiu ganhar destaque a ponto de na segunda metade do seu primeiro mandato passar a ocupar papéis mais relevantes dentro do Congresso Nacional, como líder do PT e vice-presidente do Senado.

Confesso que tenho as minhas divergências na forma como o senador trata algumas questões políticas e pessoais. Acho que, na ânsia e na pressa de acertar, muitas vezes ele comete deslizes e atropelos, quando deveria agir com mais diálogo, respeito e prudência.

As minhas divergências, no entanto, não me impedem de reconhecer que, na história do Acre, é difícil encontrar um senador tão dedicado e obstinado pelas coisas do Estado que representa e pelo país. Tião Viana faz do seu mandato os meios para melhorar e diminuir as mazelas sociais, principalmente na área de saúde. Esse é um fato que não dá para ignorar.

Falta pouco mais de um mês para os senadores elegerem a próxima mesa diretora. Até o fim da semana passada, o senador acreano não tinha um adversário definido. José Sarney, o preferido pela maioria dos peemedebistas, declarou que não aceitaria entrar na disputa. No vácuo, o atual presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (RN), apresentou-se como candidato à reeleição, mesmo a legislação impedindo a eleição para um segundo mandato.

Com adversário definido, Tião Viana poderá se movimentar com maior tranqüilidade e desenvoltura nos próximos quarenta dias, haja vista que não terá que adivinhar os passos que serão dados por um adversário oculto.

Os passos dos acreanos consistem em assegurar votos importantes de peemedebistas insatisfitos e de oposicionistas tucanos e democratas. O caminho da vitória passa por ai.

Independentemente dos passos que serão dados, está claro que a caminhada de Tião Viana para a presidência do Senado não será fácil. As pedras no caminho são empecilhos postos por adversários de 2010.

O PMDB, como um partido “total flex” ideologicamente, posiciona-se em vários flancos, jogando ora com os petistas, ora com os tucanos, que são favoritos para retornar à Presidência da República. Talvez se o PT tivesse um pré-candidato à sucessão de Lula com chances reais de vitória, a situação de Viana seria mais confortável, mas a realizada não é essa, infelizmente para o petista.

O jogo nacional terá desfecho somente em fevereiro, antes do carnaval. Até lá, serão feitas muitas conversas e articulações. O presidente Lula, por exemplo, resolveu sair da imparcialidade e declarou que a provável reeleição de Garibaldi Alves é ilegal, o que revela a possibilidade de o PMDB substituir sua candidatura até o dia da eleição.

Enquanto as coisas transcorrem numa casa cujo eleitorado é de 81 votantes, aqui, as pessoas que amam o Acre seguem torcendo para que Tião Viana consiga sucesso e chegue à presidência do Senado. Ter um político acreano num posto tão importante é a garantia de que o nosso Estado será tratado com maior respeito e atenção em nível nacional e até internacional. É a certeza de que as liberações de recursos acontecerão com maior facilidade.

A eleição de Tião Viana não será boa apenas para o Acre. O Congresso Nacional também sairia ganhando, já que sua imagem sofreu sérios e graves arranhões nos últimos anos, principalmente quando foi presidido por pessoas como Renan Calheiros, que deveria se dar por feliz ao escapar de perder o mandato.

Por fim, vale lembrar que os acreanos estão de olho no comportamento do único senador acreano peemedebista, Geraldinho Mesquita, que obteve o mandato graças, em boa parte, ao empenho do parlamentar petista. Cheio de rancor e ódio, Mesquita vem demonstrando disposição para remar contra os anseios daqueles que o elegeram. Político que joga contra o Acre nós não queremos nunca mais!