BACURAU
Bacurau e o eleitor pai dégua
Pitter Lucena*
Li dias desses que o cidadão mais que acreano do que nunca, Francisco Augusto Vieira Nunes, o Bacurau, recebeu o título de cidadão acreano. Mesmo sendo amazonense, Bacurau, foi mais acreano do que muitos dos vivem no Acre fazendo estripulias com a coisa pública. Era um cabra honesto, de respeito e valores pessoais que poucos chegam aos pés dele. Dedicou maior parte de sua vida à causas que a maioria dos acreanos nunca quiseram saber. Viveu uma vida clamando por justiça. E, por justiça, morreu afirmando que foi um homem feliz.
Conheci Bacurau nas eleições de 1996. Ele era candidato a deputado estadual. Viajamos por quase o Acre inteiro promovendo reuniões e comícios. Naquela mesma eleição estavam Marina Silva, hoje senadora da República e o filósofo e ex-deputado federal Marcos Afonso. Com seu jeito simples, humanitário e atencioso com as pessoas, Bacurau tinha sua forma peculiar de transmitir seu recado diante da platéia.
Uma vez saímos de um restaurante em Tarauacá, por volta da meia-noite, caminhamos pela rua distraidamente rumo ao hotel conversando sobre a política do Brasil. Ele me dizia que somente um presidente operário poderia mudar a cara do país e a vida da classe trabalhadora. Foi uma conversa um tanto longa. Ele caminhava devagar por causa de suas dificuldades e, eu, sem pressa para chegar a lugar algum.
Nos comícios, Bacurau chamava a atenção do público. Com voz firme e palavras escolhidas Bacurau finalizava seu discurso da seguinte forma: “meus amigos, existem três tipos de eleitores nesse Brasil. O primeiro é o eleitor mama na égua, aquele que vive sempre agarrado no poder; o segundo é o eleitor filho duma égua, aquele que sabe que a situação é complicada mas vota por dinheiro e, o terceiro, é o eleitor pai dégua, aquele que vota nas propostas do PT para mudar o Acre e o Brasil”. Bacurau era ovacionado pelo público porque sabia lidar com a platéia, falava a voz do povo.
Francisco Augusto Vieira Nunes, o Bacurau, nasceu em Manicoré, no Estado do Amazonas, em 1939. Bacurau contraiu hanseníase aos cinco anos de idade, na década de 40. Desde a infância conheceu de perto o preconceito e o isolamento do convívio social. Na adolescência passou a morar no hospital colônia de Porto Velho e lá ganhou o apelido de Bacurau, nome de um pássaro da região.
No início da década de 60 foi internado na colônia Souza Araújo, em Rio Branco, no Acre. Por seu envolvimento efetivo nas questões da comunidade, tornou-se um líder comunitário respeitado. Até a sua morte, em 1997, participou ativamente de várias lutas sociais, foi reconhecido e premiado internacionalmente pelas iniciativas e conquistas. Bacurau foi um dos fundadores do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase – Morhan –, em 1981.
A trajetória humanista e corajosa de Bacurau serve tanto de modelo àqueles que deixam o próprio destino reger suas vidas, como de reforço do espírito de luta daqueles que se empenham em promover transformações sociais. É preciso lembrar sempre de pessoas que não se entregaram diante das dificuldades e das omissões alheias.
Solidariedade
O casal Bacurau e Terezinha não teve filhos biológicos, entretanto, ele criou os cinco filhos dela, de outro casamento, como se fossem seus. Além destes, criou várias outras crianças como filhos, durante toda a vida. Teve época em que abrigou nove pessoas, mas jamais faltou um prato de comida. A casa ficava aberta para qualquer um que necessitasse, fosse amigo, estivesse de passagem ou fosse visitar.
Compositor e escritor
Em 1972, compôs a música “Lapinha na Mata”. Esta música virou um cântico conhecido na Igreja. Tempos depois a editora Irmãs Paulinas registrou em vinil. Bacurau teve várias músicas que são cantadas em celebrações e missas católicas.
O primeiro livro escrito por Bacurau chama “À Margem da Vida: num leprosário do Acre”. A publicação foi patrocinada pela Igreja Católica por expressar os ideais da Teologia da Libertação. Dom Moacyr e o padre Clodovis Boff foram os grandes incentivadores da obra que foi lançada em 1978.
No mesmo ano, Bacurau é convidado pelo Ministério da Educação para participar da coleção “Prosadores do Mobral”. A série foi criada para divulgar o Mobral e os livros eram escritos por antigos alunos do programa. Com isso, foi publicado “Chico Boi”, seu segundo livro, no início de 1979.
Os responsáveis pelo Mobral na região Norte do Brasil decidiram lançar o livro em Manicoré. Em sua cidade natal, Bacurau e a equipe do Mobral foram recebidos com honras e comício. Este evento o marcou porque jamais esqueceu a ironia do poder público e a hipocrisia de muitas pessoas que o receberam. A mesma prefeitura que decretou sua prisão domiciliar na sua infância, agora o homenageava, e algumas pessoas que apertaram sua mão com sorrisos no lançamento de seu livro, ajudaram na sua expulsão da cidade quando ainda era uma criança.
Bacurau gostava de compor músicas que exprimissem a alma e o espírito popular. Sua esposa conta que Bacurau preferia escrever deitado de bruços na cama do casal. Passava noites e noites acordado, lendo, escrevendo e musicando suas poesias. Outras vezes fazia música no banho ou sentado em sua cadeira predileta.
Em janeiro de 1988, a sua composição “João Seringueiro”, venceu o Festival Acreano de Musica Popular – FAMP. Foi uma realização para ele que nunca esqueceu a platéia aplaudindo entusiasmadamente a sua música.
As palavras de Bacurau precisam ser amplificadas e multiplicadas. O sonho de Bacurau precisa ser alimentado, pois o seu sonho é o sonho de cada um que acredita em um futuro melhor.
*Pitter Lucena é jornalista acreano radicado em Brasília
Pitter Lucena*
Li dias desses que o cidadão mais que acreano do que nunca, Francisco Augusto Vieira Nunes, o Bacurau, recebeu o título de cidadão acreano. Mesmo sendo amazonense, Bacurau, foi mais acreano do que muitos dos vivem no Acre fazendo estripulias com a coisa pública. Era um cabra honesto, de respeito e valores pessoais que poucos chegam aos pés dele. Dedicou maior parte de sua vida à causas que a maioria dos acreanos nunca quiseram saber. Viveu uma vida clamando por justiça. E, por justiça, morreu afirmando que foi um homem feliz.
Conheci Bacurau nas eleições de 1996. Ele era candidato a deputado estadual. Viajamos por quase o Acre inteiro promovendo reuniões e comícios. Naquela mesma eleição estavam Marina Silva, hoje senadora da República e o filósofo e ex-deputado federal Marcos Afonso. Com seu jeito simples, humanitário e atencioso com as pessoas, Bacurau tinha sua forma peculiar de transmitir seu recado diante da platéia.
Uma vez saímos de um restaurante em Tarauacá, por volta da meia-noite, caminhamos pela rua distraidamente rumo ao hotel conversando sobre a política do Brasil. Ele me dizia que somente um presidente operário poderia mudar a cara do país e a vida da classe trabalhadora. Foi uma conversa um tanto longa. Ele caminhava devagar por causa de suas dificuldades e, eu, sem pressa para chegar a lugar algum.
Nos comícios, Bacurau chamava a atenção do público. Com voz firme e palavras escolhidas Bacurau finalizava seu discurso da seguinte forma: “meus amigos, existem três tipos de eleitores nesse Brasil. O primeiro é o eleitor mama na égua, aquele que vive sempre agarrado no poder; o segundo é o eleitor filho duma égua, aquele que sabe que a situação é complicada mas vota por dinheiro e, o terceiro, é o eleitor pai dégua, aquele que vota nas propostas do PT para mudar o Acre e o Brasil”. Bacurau era ovacionado pelo público porque sabia lidar com a platéia, falava a voz do povo.
Francisco Augusto Vieira Nunes, o Bacurau, nasceu em Manicoré, no Estado do Amazonas, em 1939. Bacurau contraiu hanseníase aos cinco anos de idade, na década de 40. Desde a infância conheceu de perto o preconceito e o isolamento do convívio social. Na adolescência passou a morar no hospital colônia de Porto Velho e lá ganhou o apelido de Bacurau, nome de um pássaro da região.
No início da década de 60 foi internado na colônia Souza Araújo, em Rio Branco, no Acre. Por seu envolvimento efetivo nas questões da comunidade, tornou-se um líder comunitário respeitado. Até a sua morte, em 1997, participou ativamente de várias lutas sociais, foi reconhecido e premiado internacionalmente pelas iniciativas e conquistas. Bacurau foi um dos fundadores do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase – Morhan –, em 1981.
A trajetória humanista e corajosa de Bacurau serve tanto de modelo àqueles que deixam o próprio destino reger suas vidas, como de reforço do espírito de luta daqueles que se empenham em promover transformações sociais. É preciso lembrar sempre de pessoas que não se entregaram diante das dificuldades e das omissões alheias.
Solidariedade
O casal Bacurau e Terezinha não teve filhos biológicos, entretanto, ele criou os cinco filhos dela, de outro casamento, como se fossem seus. Além destes, criou várias outras crianças como filhos, durante toda a vida. Teve época em que abrigou nove pessoas, mas jamais faltou um prato de comida. A casa ficava aberta para qualquer um que necessitasse, fosse amigo, estivesse de passagem ou fosse visitar.
Compositor e escritor
Em 1972, compôs a música “Lapinha na Mata”. Esta música virou um cântico conhecido na Igreja. Tempos depois a editora Irmãs Paulinas registrou em vinil. Bacurau teve várias músicas que são cantadas em celebrações e missas católicas.
O primeiro livro escrito por Bacurau chama “À Margem da Vida: num leprosário do Acre”. A publicação foi patrocinada pela Igreja Católica por expressar os ideais da Teologia da Libertação. Dom Moacyr e o padre Clodovis Boff foram os grandes incentivadores da obra que foi lançada em 1978.
No mesmo ano, Bacurau é convidado pelo Ministério da Educação para participar da coleção “Prosadores do Mobral”. A série foi criada para divulgar o Mobral e os livros eram escritos por antigos alunos do programa. Com isso, foi publicado “Chico Boi”, seu segundo livro, no início de 1979.
Os responsáveis pelo Mobral na região Norte do Brasil decidiram lançar o livro em Manicoré. Em sua cidade natal, Bacurau e a equipe do Mobral foram recebidos com honras e comício. Este evento o marcou porque jamais esqueceu a ironia do poder público e a hipocrisia de muitas pessoas que o receberam. A mesma prefeitura que decretou sua prisão domiciliar na sua infância, agora o homenageava, e algumas pessoas que apertaram sua mão com sorrisos no lançamento de seu livro, ajudaram na sua expulsão da cidade quando ainda era uma criança.
Bacurau gostava de compor músicas que exprimissem a alma e o espírito popular. Sua esposa conta que Bacurau preferia escrever deitado de bruços na cama do casal. Passava noites e noites acordado, lendo, escrevendo e musicando suas poesias. Outras vezes fazia música no banho ou sentado em sua cadeira predileta.
Em janeiro de 1988, a sua composição “João Seringueiro”, venceu o Festival Acreano de Musica Popular – FAMP. Foi uma realização para ele que nunca esqueceu a platéia aplaudindo entusiasmadamente a sua música.
As palavras de Bacurau precisam ser amplificadas e multiplicadas. O sonho de Bacurau precisa ser alimentado, pois o seu sonho é o sonho de cada um que acredita em um futuro melhor.
*Pitter Lucena é jornalista acreano radicado em Brasília
3 Comments:
Desejo de Natal
"Papai Noel neste Natal eu desejo que a "Paz e a Harmonia" encontre moradia em todos os corações.
Que a Esperança seja um sentimento constante em cada ser que habita este planeta.
Desejo que o Amor e a Amizade prevaleça acima de todas as coisas materiais.
Que as Tristezas ou Mágoas, sejam banidas dos corações,
dando lugar apenas ao Carinho.
Que a "Dor do Amor", encontre o remédio em outro Amor.
Que a "Dor Física", seja amenizada e que Deus esteja ao lado de todos, dando muita força, fé e resignação.
Que a Solidão seja Extinta, e no seu lugar se instale
a Amizade Verdadeira, e o Companheirismo.
Que as pessoas procurem olhar mais a sua "Volta", e não tanto para "Si" mesma.
Que a Humildade e o Respeito residam na Alma e no Coração de todos. "Que saibamos Amar e Respeitar o Próximo como a nós mesmos".
Desejo também que meu pedido se realize não só neste Natal,
mas em todos os dias de nossas vidas!"
Autor: Desconhecido
Texto tirado pelo site: http://www.ziipi.com/result?pesquisa=poemas
Pitter, acho que voce errou o ano da eleiçao. Em 1996 foi quando o Mauri derrotou a maquina e venceu o Marcos Afonso
Caro Leandrius, será mesmo erro de data. Vou lembrar melhor. Obrigado. Pitter Lucena.
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