EM DEFESA DO POVO E DA CAUSA PALESTINA: DEFESA DA VIDA E DOS DIREITOS HUMANOS
Os estudantes, professores, técnico-administrativos, poetas, músicos, profissionais liberais, sindicalistas, parlamentares, defensores de direitos humanos e todas as pessoas que subscrevem este manifesto, o fazem por entender que a atual intervenção armada do Estado de Israel na Faixa de Gaza se constitui em franco genocídio ao povo palestino.
Os bombardeios sobre as cidades e as manobras militares israelenses – com o apoio do governo, do aparato bélico e de agências de notícias norte-americanas – violentam os direitos humanos e o direito à vida de milhares de crianças, jovens, mulheres e homens que vivem na Faixa de Gaza e em toda a Palestina.
Tal violência é injustificável, como injustificável é o discurso do Estado Israelense que fala em “defesa” contra os ataques de “terroristas” árabe-israelenses. Essa retórica é a mesma que, não obstante os apelos e protestos do mundo inteiro, foi utilizada pelos EUA de George W. Bush para bombardear e criminosamente destruir a vida, os direitos humanos e o patrimônio artístico e cultural da cidade de Bagdá e do povo iraquiano, em tempos recentes.
Mas o que significa a palavra “defesa” para Israel, quando sabemos que esse Estado invadiu e se apoderou ilegalmente de considerável parte dos territórios palestinos, numa “ocupação” violenta e profundamente discriminatória que teve início em 1948 e se acentuou em 1967?
O que significa a palavra “defesa”, quando se é invasor dos territórios seculares de um povo e, pior ainda, quando a esse povo não resta nada mais que resistir com seus corpos e pedras à opressão e às tentativas de extermínio levadas a cabo por um inimigo que se utiliza de metralhadoras, fuzis automáticos, bombas, tanques, helicópteros e outros armamentos sofisticados para mutilar ou matar crianças, idosos e inúmeros outros inocentes?
Um dos mais respeitados intelectuais palestinos do século XX, Edward Said, destacou que o Estado Israelense que nem sequer tem uma constituição, surgiu para consolidar politicamente a identidade judaica, isolando essa “identidade de tudo o que fosse não-judeu”, ou seja, definindo-se “a si próprio como um Estado de e para o povo judeu”. Desse modo, “Israel instaurou direitos exclusivos de imigração e posse da terra para os judeus”, desconhecendo e estigmatizando as populações árabes e, em especial, palestinas que viviam na região desde tempos imemoriais.
Ao ser implantado, em 1948, o Estado de Israel cerceou direitos e passou a cometer diversas atrocidades e violências contra todos os que viviam na Palestina antes desse período e que, da noite para o dia, foram proibidos de levar uma vida digna e em liberdade, sendo que os refugiados não podem nem sequer “ter acesso à terra como têm os judeus”.
Se no tempo presente a situação ganhou contornos indescritíveis e a violação aos mínimos direitos humanos atraiu a atenção internacional, há pelo menos duas décadas, a palavra de ordem do Estado de Israel tem sido ocupação e cercamento de cidades na Cisjordânia e em Gaza. São verdadeiras “gaiolas” em que as populações árabes locais vivem condenadas a um eterno estado de sítio, com permanentes bloqueios nas estradas e vias de acesso, destruição de redes de instalação elétrica, saneamento e prédios públicos, fechamento das passagens para hospitais, feiras e universidades, detenção de caminhões de transportes de medicamentos e alimentos; em síntese, a intenção tem sido “matar de fome, expulsar e colocar os palestinos de joelhos”. O atual conflito é, portanto, apenas a ponta do iceberg de um processo de lenta agonia e de luta desesperada do povo palestino para continuar vivo.
Ao contrário do que alardeia boa parte dos noticiários da grande mídia, que busca, na maioria das vezes, apenas fazer sensacionalismo, nada informar ou jogar a opinião pública contra o povo e a causa palestina, a guerra atual não é uma guerra entre dois estados: é a guerra de um Estado que é uma poderosa potência militar contra uma população indefesa, sitiada e à mercê de toda sorte de violências.
Nessa direção, mais uma vez, consideramos significativas as observações feitas por Edward Said, em entrevista a David Barsamian, ao afirmar que “1948 e a fundação do Estado de Israel significou que fundamentalmente 78% da histórica palestina árabe se tornou israelense (...) A Cisjordânia e Gaza em conjunto constituem 22% da histórica palestina, e é sobre isso que a atual disputa se dá. Os palestinos não estão lutando por causa dos 78% perdidos. Eles lutam pelos 22% ainda restantes. Desses 22%, os israelenses ainda têm controle sobre 60% da Cisjordânia e 40% de Gaza. Se houvesse um dia um Estado palestino, não haveria um território contíguo. Ele estaria todo entrecortado em pequenos pedaços, controlados pelas estradas construídas pelos israelenses que agora cercam cada área palestina, por isso os palestinos estão hoje sitiados dentro do seu próprio território”.
Destacamos essas observações para colocar em evidência que a problemática palestina, as violências contra populações que vivem prisioneiras em suas próprias casas e territórios, a covardia e o cinismo do Estado e do governo de Israel se constituem em brutal genocídio dos palestinos. Ficar em silêncio, fingir que nada está acontecendo ou dizer que não temos nada a ver com isso significa ser cúmplice do assassinato e da mutilação de inúmeros seres humanos.
Nossa posição é um manifesto contra os assassinatos, contra todas as formas de violência físicas e psicológicas e contra o terror de estado impetrados por Israel na Faixa de Gaza. Tal posição espelha nossa convicção de que esta é uma causa universal e internacionalista: lutamos em defesa da vida, dos direitos humanos e do respeito à diferença e à autodeterminação dos povos no mundo árabe, no Oriente, na África, na América Latina, no Brasil, na Amazônia e em todos os lugares de um mundo contemporâneo profundamente marcado pela intolerância, exclusão e mutilação de milhares de mulheres, crianças e homens.
Este é, ainda, um manifesto contra as injustiças de um mundo repleto de seres humanos que perambulam sem as mínimas condições de existência: moradia, terra para viver, educação, saúde, trabalho, liberdade, condições de igualdade e direito à diferença. Em uma palavra, um mundo de “apátridas” em campos de refugiados, cercamentos, “gaiolas”, acampamentos de trabalhadores sem-terra, acampamentos urbanos de trabalhadores sem-teto, favelados e excluídos de um modo em geral.
Essa é nossa causa e ela não tem fronteira, nem nacionalidade. O mundo é nossa casa e a construção de um outro mundo - com liberdade, igualdade de condições e justiça social – ainda é possível.
Pela criação e reconhecimento do Estado da Palestina!
Pela retirada imediata de tropas israelenses da Faixa de Gaza e territórios ocupados em toda a palestina!
Pelo rompimento diplomático e comercial do governo e Estado brasileiro com o Estado de Israel!
Pelo fim de todos os bloqueios na Palestina!
Viva a luta do povo Palestino!
Viva a solidariedade com a luta e a causa do povo palestino!
Rio Branco, Acre, Amazônia brasileira, 15 de janeiro de 2009.
Comitê Acreano em Defesa da Causa e do Povo Palestino
Os bombardeios sobre as cidades e as manobras militares israelenses – com o apoio do governo, do aparato bélico e de agências de notícias norte-americanas – violentam os direitos humanos e o direito à vida de milhares de crianças, jovens, mulheres e homens que vivem na Faixa de Gaza e em toda a Palestina.
Tal violência é injustificável, como injustificável é o discurso do Estado Israelense que fala em “defesa” contra os ataques de “terroristas” árabe-israelenses. Essa retórica é a mesma que, não obstante os apelos e protestos do mundo inteiro, foi utilizada pelos EUA de George W. Bush para bombardear e criminosamente destruir a vida, os direitos humanos e o patrimônio artístico e cultural da cidade de Bagdá e do povo iraquiano, em tempos recentes.
Mas o que significa a palavra “defesa” para Israel, quando sabemos que esse Estado invadiu e se apoderou ilegalmente de considerável parte dos territórios palestinos, numa “ocupação” violenta e profundamente discriminatória que teve início em 1948 e se acentuou em 1967?
O que significa a palavra “defesa”, quando se é invasor dos territórios seculares de um povo e, pior ainda, quando a esse povo não resta nada mais que resistir com seus corpos e pedras à opressão e às tentativas de extermínio levadas a cabo por um inimigo que se utiliza de metralhadoras, fuzis automáticos, bombas, tanques, helicópteros e outros armamentos sofisticados para mutilar ou matar crianças, idosos e inúmeros outros inocentes?
Um dos mais respeitados intelectuais palestinos do século XX, Edward Said, destacou que o Estado Israelense que nem sequer tem uma constituição, surgiu para consolidar politicamente a identidade judaica, isolando essa “identidade de tudo o que fosse não-judeu”, ou seja, definindo-se “a si próprio como um Estado de e para o povo judeu”. Desse modo, “Israel instaurou direitos exclusivos de imigração e posse da terra para os judeus”, desconhecendo e estigmatizando as populações árabes e, em especial, palestinas que viviam na região desde tempos imemoriais.
Ao ser implantado, em 1948, o Estado de Israel cerceou direitos e passou a cometer diversas atrocidades e violências contra todos os que viviam na Palestina antes desse período e que, da noite para o dia, foram proibidos de levar uma vida digna e em liberdade, sendo que os refugiados não podem nem sequer “ter acesso à terra como têm os judeus”.
Se no tempo presente a situação ganhou contornos indescritíveis e a violação aos mínimos direitos humanos atraiu a atenção internacional, há pelo menos duas décadas, a palavra de ordem do Estado de Israel tem sido ocupação e cercamento de cidades na Cisjordânia e em Gaza. São verdadeiras “gaiolas” em que as populações árabes locais vivem condenadas a um eterno estado de sítio, com permanentes bloqueios nas estradas e vias de acesso, destruição de redes de instalação elétrica, saneamento e prédios públicos, fechamento das passagens para hospitais, feiras e universidades, detenção de caminhões de transportes de medicamentos e alimentos; em síntese, a intenção tem sido “matar de fome, expulsar e colocar os palestinos de joelhos”. O atual conflito é, portanto, apenas a ponta do iceberg de um processo de lenta agonia e de luta desesperada do povo palestino para continuar vivo.
Ao contrário do que alardeia boa parte dos noticiários da grande mídia, que busca, na maioria das vezes, apenas fazer sensacionalismo, nada informar ou jogar a opinião pública contra o povo e a causa palestina, a guerra atual não é uma guerra entre dois estados: é a guerra de um Estado que é uma poderosa potência militar contra uma população indefesa, sitiada e à mercê de toda sorte de violências.
Nessa direção, mais uma vez, consideramos significativas as observações feitas por Edward Said, em entrevista a David Barsamian, ao afirmar que “1948 e a fundação do Estado de Israel significou que fundamentalmente 78% da histórica palestina árabe se tornou israelense (...) A Cisjordânia e Gaza em conjunto constituem 22% da histórica palestina, e é sobre isso que a atual disputa se dá. Os palestinos não estão lutando por causa dos 78% perdidos. Eles lutam pelos 22% ainda restantes. Desses 22%, os israelenses ainda têm controle sobre 60% da Cisjordânia e 40% de Gaza. Se houvesse um dia um Estado palestino, não haveria um território contíguo. Ele estaria todo entrecortado em pequenos pedaços, controlados pelas estradas construídas pelos israelenses que agora cercam cada área palestina, por isso os palestinos estão hoje sitiados dentro do seu próprio território”.
Destacamos essas observações para colocar em evidência que a problemática palestina, as violências contra populações que vivem prisioneiras em suas próprias casas e territórios, a covardia e o cinismo do Estado e do governo de Israel se constituem em brutal genocídio dos palestinos. Ficar em silêncio, fingir que nada está acontecendo ou dizer que não temos nada a ver com isso significa ser cúmplice do assassinato e da mutilação de inúmeros seres humanos.
Nossa posição é um manifesto contra os assassinatos, contra todas as formas de violência físicas e psicológicas e contra o terror de estado impetrados por Israel na Faixa de Gaza. Tal posição espelha nossa convicção de que esta é uma causa universal e internacionalista: lutamos em defesa da vida, dos direitos humanos e do respeito à diferença e à autodeterminação dos povos no mundo árabe, no Oriente, na África, na América Latina, no Brasil, na Amazônia e em todos os lugares de um mundo contemporâneo profundamente marcado pela intolerância, exclusão e mutilação de milhares de mulheres, crianças e homens.
Este é, ainda, um manifesto contra as injustiças de um mundo repleto de seres humanos que perambulam sem as mínimas condições de existência: moradia, terra para viver, educação, saúde, trabalho, liberdade, condições de igualdade e direito à diferença. Em uma palavra, um mundo de “apátridas” em campos de refugiados, cercamentos, “gaiolas”, acampamentos de trabalhadores sem-terra, acampamentos urbanos de trabalhadores sem-teto, favelados e excluídos de um modo em geral.
Essa é nossa causa e ela não tem fronteira, nem nacionalidade. O mundo é nossa casa e a construção de um outro mundo - com liberdade, igualdade de condições e justiça social – ainda é possível.
Pela criação e reconhecimento do Estado da Palestina!
Pela retirada imediata de tropas israelenses da Faixa de Gaza e territórios ocupados em toda a palestina!
Pelo rompimento diplomático e comercial do governo e Estado brasileiro com o Estado de Israel!
Pelo fim de todos os bloqueios na Palestina!
Viva a luta do povo Palestino!
Viva a solidariedade com a luta e a causa do povo palestino!
Rio Branco, Acre, Amazônia brasileira, 15 de janeiro de 2009.
Comitê Acreano em Defesa da Causa e do Povo Palestino
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