Google
Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

13 julho 2009

TRABALHOS DA UFAC/INPA-ACRE NA SBPC

C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

AÇÕES ANTRÓPICAS E A QUALIDADE DAS ÁGUAS DO IGARAPÉ DIAS MARTINS EM RIO BRANCO, ACRE, BRASIL

Rosângela de Araújo Pereira de Holanda e Souza (1) (rosaholanda@yahoo.com.br)
Cleto Batista Barbosa (2) Evandro José Linhares Ferreira (1), (3)

1. Herbário do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre-UFAC
2. Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da UFAC
3. Núcleo de Pesquisas no Acre do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA

INTRODUÇÃO:

O igarapé Dias Martins, afluente do igarapé São Francisco, integra a maior bacia de drenagem da zona urbana de Rio Branco, Acre. Em razão da crescente pressão urbana, a qualidade da água e as condições ambientais da micro bacia hidrográfica do Dias Martins estão sendo ameaçadas por um crescente processo de degradação ambiental que está se acelerando nos últimos anos. Embora exista uma tendência de se creditar grande parte dos problemas ambientais do Dias Martins ao excessivo número de habitantes na sua parte urbana, o seu trecho na zona rural apresenta situação igualmente preocupante, pois a maioria da mata ciliar, incluindo a de proteção das nascentes, já foi destruída, resultando em um gradual assoreamento do mesmo. Esta situação ambiental crítica remonta aos anos 70, quando o Governo Federal fomentou uma política desenvolvimentista no Estado que resultou na implantação de numerosos empreendimentos agropecuários que causaram desmatamento, degradação ambiental e um processo de migração rural intensa que resultou na expansão urbana desordenada de Rio Branco e adjacências. O objetivo do presente trabalho foi analisar parâmetros físicos, químicos e biológicos do igarapé Dias Martins para diagnosticar a qualidade de sua água e contribuir para o correto manejo de sua bacia.

METODOLOGIA:

A bacia do igarapé Dias Martins ocupa uma área de 47,3 km² e abriga uma população estimada em 16 mil habitantes e um rebanho bovino estimado em 20 mil animais. Suas nascentes, estão a cerca de 18 km a NE de Rio Branco (09º56’S; 67º52’W) e no trecho inicial se constitui na principal fonte de abastecimento de água, onde de numerosas propriedades rurais. No seu curto trecho urbano, com menos de 3 km de extensão, ele corta zonas residenciais e industriais, recebendo um volume indeterminado de lixo domiciliar e industrial, e esgoto não tratado. Para a realização das análises foram utilizados os dados contidos no diagnóstico sócio-ambiental do igarapé Dias Martins. Para a determinação do grau de poluição da água, foram selecionados 4 pontos pré-estabelecidos ao longo do canal principal do igarapé, desde a nascente até a foz. As coletas foram realizadas durante a estiagem (seca), em setembro de 2007, e durante o período da cheia (chuvas), em janeiro de 2008. Em cada ponto foram feitas 5 coletas sub superficiais, a 30 cm de profundidade e 1,5 m da margem, totalizando quarenta amostras. As análises foram realizadas no laboratório da Unidade de Tecnologia de Alimentos (UTAL) e no Laboratório de Limnologia e Ficologia da UFAC. Os dados foram analisados com o programa Bioestat 5.0.

RESULTADOS:

Foram avaliads as variáveis: pH, Alcalinidade, Sólidos Totais, Óleos Graxas (OG), Oxigênio Dissolvido (OD), Demanda Bioquímica Química de Oxigênio (DBO e DQO), Coliformes Fecais, Nitrogênio Total e Fósforo Total. Dessas, OG e OD foram as principais indicadoras de poluição no igarapé. Para OG os valores oscilaram entre 0,07 mg/l e 0,27mg/l no período de seca, e entre 0,27mg/l e 1,41 mg/l na cheia. Este aumento pode ser atribuído ao arraste de substâncias lixiviadas pela chuva pois sua presença em mananciais geralmente decorre de lançamento de despejos e resíduos domésticos e industriais. Isso foi comprovado pelo menor Coeficiente de Variação (CV=44,48) na seca, frente ao CV de 64,42 na cheia. A variável OD apresentou-se com valores inferiores a 6 mg/l em quase todo o periodo avaliado, abaixo do recomendado pela resolução Conama 357/05. A maior alteração negativa ocorreu na época seca, com valores entre 0,08 mg/l e 5,00 mg/l. O CV para o período seco foi de 91,02. Nas chuvas ela oscilou entre 4,60 mg/l e 6,40 mg/l, com um CV=40,72. Isto pode ser atribuído à elevação do nível das águas do igarapé e da diluição da matéria orgânica, uma vez que na seca, com o nível das águas mais baixo, há uma maior concentração da matéria orgânica e a consequente redução de oxigênio dissolvido.

CONCLUSÕES:

Apesar do uso intensivo da bacia, a qualidade da água do igarapé Dias Martins tem sido pouco afetada no período da cheia. Alterações preocupantes são observadas apenas no período mais seco. Os resíduos da atividade agropecuária e esgoto da zona urbana são os principais influenciadores da qualidade da água. A sazonalidade hidrológica é importante fator de controle da alteração da qualidade do manancial e a variabilidade espacial e sazonal do pH, óleos e graxas observada indica que o manancial consegue manter uma uniformidade na qualidade de suas águas. As concentrações de nitrogênio total (NT) e fósforo total (PT) são proporcionais à vazão e são influenciadas pela cheia. As outras variáveis limnológicas, que se mantiveram dentro dos padrões no período chuvoso, parecem ser controladas pelo aumento do volume da água, que amplia a diluição da matéria orgânica e intensifica os processos físicos e químicos, contribuindo para a restauração da qualidade da água. No período seco essa tendência se inverte e os padrões se distanciam daqueles constantes da Resolução CONAMA n.º 357/05, principalmente pelo aumento da concentração pontual dos efluentes. Recomenda-se o monitoramento das águas da bacia do Igarapé Dias Martins bem como a imediata recuperação e a conservação de suas matas ciliares.

Instituição de fomento: Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre

Palavras-chave: recursos hídricos; degradação ambiental; Acre.