PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO EM GRUPOS SUCESSIONAIS PARA ESPÉCIES AGROFLORESTAIS
Fabiana Mongeli Peneireiro*1, Marinelson de Oliveira Brilhante*2
(1) Eng. Agr. – MSc em Ciências Florestais – consultora autônoma – fabiana_agroeco@yahoo.com.br,
(2) Eng. Agr. – consultor autônomo - marinelson.brilhante@gmail.com
RESUMO - Uma proposta de classificação de espécies agroflorestais (herbáceas, arbustivas e arbóreas) em grupos sucessionais foi desenvolvida, considerando o ciclo de vida e a altura relativa das plantas, caracterizando os estratos. As informações foram organizadas a partir de levantamento realizado junto a mateiros, agricultores e pesquisadores envolvidos em trabalhos de pesquisa e extensão no Projeto Arboreto, setor do Parque Zoobotânico (PZ) da Universidade Federal do Acre (UFAC). A proposta de classificação poderá orientar desenhos de sistemas agroflorestais mais complexos, biodiversos e multiestratificado, no sentido de promover maior sustentabilidade do sistema de produção proporcionada pela otimização no uso dos recursos (luz, água, nutrientes) e pelo equilíbrio ecológico. Essa é mais uma forma de organizar a complexidade que é a sucessão, um grande conjunto de espécies distribuídas e organizadas no espaço e no tempo. A classificação das espécies aqui proposta não está consumada, podendo sofrer alterações em função do aprofundamento das informações a respeito das espécies e interações entre as mesmas e delas com o ambiente.
INTRODUÇÃO
O experimento Arboreto, implantado no Parque Zoobotânico/UFAC em 1980, deu indicativos de condições propícias para o desenvolvimento de 138 espécies arbóreas introduzidas em condições de pleno sol e sob capoeira, originando, após 12 anos de acompanhamento, dados importantes com relação ao comportamento dessas espécies, que compuseram, na época, três publicações.
Esse arcabouço de informações, que é tido como um importante referencial teórico, levou, em 1992, à elaboração de um projeto para se trabalhar com pesquisa e educação agroflorestal junto a comunidades, fazendo surgir então um setor do PZ/UFAC, denominado Arboreto, em alusão ao experimento, que até os dias de hoje vem acumulando experiências a partir de trabalhos junto a agricultores. Todo esse repertório de conhecimentos permitiu um amadurecimento da equipe de pesquisadores com relação a sistemas agroflorestais e sua relação com a sucessão natural.
O processo clássico de sucessão envolveria a substituição de grupos de espécies ao longo do tempo, à medida que estas predecessoras fornecessem condições mais favoráveis ao desenvolvimento das espécies já presentes na área, com crescimento lento e estabelecimento de espécies mais tardias (Egler, 1954).
Os estudos sobre sucessão natural e antrópica classificam somente as espécies arbóreas nativas das florestas tropicais, segundo grupos sucessionais, não incluindo espécies agrícolas domesticadas.
Observamos muitas vezes, como evidência da presença humana na zona rural, a convivência de espécies arbóreas exóticas com espécies da mata. Ao pensar sistemas agroflorestais numa abordagem mais complexa, não mais como meros consórcios, mas de forma a apresentar estrutura e função do ecossistema original do lugar, que no estado do Acre, é a floresta tropical úmida, nos remetemos necessariamente a conhecer melhor a floresta e nos fundamentar em seus princípios como a sucessão natural.
Nesses sistemas agroflorestais, elaborados e manejados a partir de princípios da sucessão, é importante conhecer as espécies e seu comportamento em função da interação entre elas. Classificá-las em grupos sucessionais permite que se tenha uma compreensão da dinâmica do sistema no espaço e no tempo. Os consórcios se sobrepõem, sendo que um vai dando lugar ao outro quando determinado consórcio, que se apresentará dominante por determinado período, completa seu ciclo de vida.
Baseado nos trabalhos de Ernst Götsch, agricultor-pesquisador que desenvolve agrofloresta em sua fazenda há aproximadamente 26 anos, no município de Piraí do Norte/BA, e em sua proposta de classificação sucessional das espécies, o Arboreto desenvolveu pesquisa participativa com sistemas agroflorestais junto a agricultores.
A implantação de áreas experimentais (na UFAC e pelos agricultores em seus lotes) foi feita com semeadura direta no campo e manejo da regeneração natural, eventualmente se introduzindo alguma muda. Essas áreas permitiram oportunidade de aprendizado a partir da observação do desenvolvimento dos sistemas de produção.
Embora os sistemas implantados mostrem-se diversificados (alguns com até 25 espécies introduzidas, sem contar as espécies provenientes da regeneração), ainda não apresentam toda a complexidade possível, numa combinação de espécies em espaçamento e estratificação que, hipoteticamente, poderia propiciar uma maior viabilidade dos SAFs ao reduzir mão-de-obra com o manejo, conservar os recursos naturais, além de potencializar um melhor desenvolvimento das espécies introduzidas na agrofloresta, acentuando a sinergia entre elas.
Para facilitar a compreensão e organização da dinâmica agroflorestal no espaço e no tempo, procurou-se a partir da classificação em grupos sucessionais, compor uma lista de espécies potenciais. A partir dessa proposta de classificação, muitas combinações de espécies poderiam ser testadas na implantação de sistemas de produção que buscam uma analogia com a floresta, replicando sua estrutura e função.
METODOLOGIA
A lista das espécies se baseou na sua ocorrência mais freqüente nos sistemas agroflorestais dos agricultores e no interesse econômico a elas associado. Para se classificar as espécies em grupos sucessionais, buscaram-se informações a respeito do ciclo de vida e estratificação das mesmas (quadro 1) a partir de comunicação com três mateiros, agricultores e pesquisadores do Arboreto/PZ/UFAC. Além disso, informações obtidas no acompanhamento de áreas experimentais de SAFs de agricultores parceiros do Arboreto/PZ/UFAC também deram importante contribuição.
Pelo fato do processo sucessional se tratar de um continuum, procuramos agrupar as espécies em 5 grupos sucessionais, a partir de informações aproximadas acerca do ciclo de vida das espécies e de seu estrato no grupo sucessional a que pertence, podendo ser organizados outros, dependendo das espécies que comporão os consórcios.
As espécies apresentam exigências diferentes quanto ao substrato, clima e posição no relevo, o que condicionam a escolha das mesmas para comporem os consórcios.
RESULTADOS
O quadro abaixo apresenta a classificação de grupos sucessionais que formariam consórcios subseqüentes a partir de informações aproximadas acerca do ciclo de vida das espécies e de seu estrato no grupo sucessional a que pertence.
Essa proposta de classificação é das espécies está sujeita a ajustes à medida que informações sobre as espécies tornem-se mais aprofundadas.
No quadro 2 apresentam-se as alturas de algumas espécies em diferentes idades, permitindo a percepção do desenvolvimento relativo das mesmas durante o desenvolvimento do sistema. Os dados de altura resultaram de um consenso entre os informantes.
Do ponto de vista da sustentabilidade, quanto maior a diversidade de espécies, maior a estabilidade do sistema de produção, tanto do ponto de vista ecológico quanto econômico e social (Gliessmann, 1997). A grande biodiversidade e a máxima estratificação no sistema possibilita grande quantidade e qualidade de vida consolidada (Götsch, 1995), o que implica em ótimo aproveitamento da energia luminosa e potencializa a ciclagem dos nutrientes, além de promover complexas redes tróficas.
CONCLUSÃO
Esse trabalho é uma tentativa de organizar as espécies potenciais para comporem sistemas agroflorestais complexos em grupos sucessionais. De maneira alguma se busca aqui ter como consumada essa proposta de classificação. Essa é mais uma forma de organizar a complexidade que é a sucessão, um grande conjunto de espécies distribuídas e organizadas no espaço e no tempo.
Testes e monitoramento de diferentes modelos de sistemas agroflorestais a serem implantados a partir desse referencial teórico proposto poderá amadurecer essa perspectiva de compreender a organização sucessional.
AGRADECIMENTOS
Irío da Silva Rivero, Edílson Consuelo de Oliveira, Ernst Göstch, João Bosco Nogueira de Queiroz, Nilson Alves Brilhante, Renata Zambello de Pinho, que contribuíram com informações presentes no quadro 2, a partir de experiências de campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EGLER, F.E. Vegetation science concepts. Inicial floristic composition, a factor in old-field vegetation development. Vegetatio, v. 4, p. 412-7, 1954.
GLIESSMAN, S. R. Agroecology: ecological processes in sustainable agriculture. Chelsea: Ann Arbor Press, 1997.
GÖTSCH, E. O Renascer da Agricultura. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1995. 22p.
(1) Eng. Agr. – MSc em Ciências Florestais – consultora autônoma – fabiana_agroeco@yahoo.com.br,
(2) Eng. Agr. – consultor autônomo - marinelson.brilhante@gmail.com
RESUMO - Uma proposta de classificação de espécies agroflorestais (herbáceas, arbustivas e arbóreas) em grupos sucessionais foi desenvolvida, considerando o ciclo de vida e a altura relativa das plantas, caracterizando os estratos. As informações foram organizadas a partir de levantamento realizado junto a mateiros, agricultores e pesquisadores envolvidos em trabalhos de pesquisa e extensão no Projeto Arboreto, setor do Parque Zoobotânico (PZ) da Universidade Federal do Acre (UFAC). A proposta de classificação poderá orientar desenhos de sistemas agroflorestais mais complexos, biodiversos e multiestratificado, no sentido de promover maior sustentabilidade do sistema de produção proporcionada pela otimização no uso dos recursos (luz, água, nutrientes) e pelo equilíbrio ecológico. Essa é mais uma forma de organizar a complexidade que é a sucessão, um grande conjunto de espécies distribuídas e organizadas no espaço e no tempo. A classificação das espécies aqui proposta não está consumada, podendo sofrer alterações em função do aprofundamento das informações a respeito das espécies e interações entre as mesmas e delas com o ambiente.
INTRODUÇÃO
O experimento Arboreto, implantado no Parque Zoobotânico/UFAC em 1980, deu indicativos de condições propícias para o desenvolvimento de 138 espécies arbóreas introduzidas em condições de pleno sol e sob capoeira, originando, após 12 anos de acompanhamento, dados importantes com relação ao comportamento dessas espécies, que compuseram, na época, três publicações.
Esse arcabouço de informações, que é tido como um importante referencial teórico, levou, em 1992, à elaboração de um projeto para se trabalhar com pesquisa e educação agroflorestal junto a comunidades, fazendo surgir então um setor do PZ/UFAC, denominado Arboreto, em alusão ao experimento, que até os dias de hoje vem acumulando experiências a partir de trabalhos junto a agricultores. Todo esse repertório de conhecimentos permitiu um amadurecimento da equipe de pesquisadores com relação a sistemas agroflorestais e sua relação com a sucessão natural.
O processo clássico de sucessão envolveria a substituição de grupos de espécies ao longo do tempo, à medida que estas predecessoras fornecessem condições mais favoráveis ao desenvolvimento das espécies já presentes na área, com crescimento lento e estabelecimento de espécies mais tardias (Egler, 1954).
Os estudos sobre sucessão natural e antrópica classificam somente as espécies arbóreas nativas das florestas tropicais, segundo grupos sucessionais, não incluindo espécies agrícolas domesticadas.
Observamos muitas vezes, como evidência da presença humana na zona rural, a convivência de espécies arbóreas exóticas com espécies da mata. Ao pensar sistemas agroflorestais numa abordagem mais complexa, não mais como meros consórcios, mas de forma a apresentar estrutura e função do ecossistema original do lugar, que no estado do Acre, é a floresta tropical úmida, nos remetemos necessariamente a conhecer melhor a floresta e nos fundamentar em seus princípios como a sucessão natural.
Nesses sistemas agroflorestais, elaborados e manejados a partir de princípios da sucessão, é importante conhecer as espécies e seu comportamento em função da interação entre elas. Classificá-las em grupos sucessionais permite que se tenha uma compreensão da dinâmica do sistema no espaço e no tempo. Os consórcios se sobrepõem, sendo que um vai dando lugar ao outro quando determinado consórcio, que se apresentará dominante por determinado período, completa seu ciclo de vida.
Baseado nos trabalhos de Ernst Götsch, agricultor-pesquisador que desenvolve agrofloresta em sua fazenda há aproximadamente 26 anos, no município de Piraí do Norte/BA, e em sua proposta de classificação sucessional das espécies, o Arboreto desenvolveu pesquisa participativa com sistemas agroflorestais junto a agricultores.
A implantação de áreas experimentais (na UFAC e pelos agricultores em seus lotes) foi feita com semeadura direta no campo e manejo da regeneração natural, eventualmente se introduzindo alguma muda. Essas áreas permitiram oportunidade de aprendizado a partir da observação do desenvolvimento dos sistemas de produção.
Embora os sistemas implantados mostrem-se diversificados (alguns com até 25 espécies introduzidas, sem contar as espécies provenientes da regeneração), ainda não apresentam toda a complexidade possível, numa combinação de espécies em espaçamento e estratificação que, hipoteticamente, poderia propiciar uma maior viabilidade dos SAFs ao reduzir mão-de-obra com o manejo, conservar os recursos naturais, além de potencializar um melhor desenvolvimento das espécies introduzidas na agrofloresta, acentuando a sinergia entre elas.
Para facilitar a compreensão e organização da dinâmica agroflorestal no espaço e no tempo, procurou-se a partir da classificação em grupos sucessionais, compor uma lista de espécies potenciais. A partir dessa proposta de classificação, muitas combinações de espécies poderiam ser testadas na implantação de sistemas de produção que buscam uma analogia com a floresta, replicando sua estrutura e função.
METODOLOGIA
A lista das espécies se baseou na sua ocorrência mais freqüente nos sistemas agroflorestais dos agricultores e no interesse econômico a elas associado. Para se classificar as espécies em grupos sucessionais, buscaram-se informações a respeito do ciclo de vida e estratificação das mesmas (quadro 1) a partir de comunicação com três mateiros, agricultores e pesquisadores do Arboreto/PZ/UFAC. Além disso, informações obtidas no acompanhamento de áreas experimentais de SAFs de agricultores parceiros do Arboreto/PZ/UFAC também deram importante contribuição.
Pelo fato do processo sucessional se tratar de um continuum, procuramos agrupar as espécies em 5 grupos sucessionais, a partir de informações aproximadas acerca do ciclo de vida das espécies e de seu estrato no grupo sucessional a que pertence, podendo ser organizados outros, dependendo das espécies que comporão os consórcios.
As espécies apresentam exigências diferentes quanto ao substrato, clima e posição no relevo, o que condicionam a escolha das mesmas para comporem os consórcios.
RESULTADOS
O quadro abaixo apresenta a classificação de grupos sucessionais que formariam consórcios subseqüentes a partir de informações aproximadas acerca do ciclo de vida das espécies e de seu estrato no grupo sucessional a que pertence.
Essa proposta de classificação é das espécies está sujeita a ajustes à medida que informações sobre as espécies tornem-se mais aprofundadas.
No quadro 2 apresentam-se as alturas de algumas espécies em diferentes idades, permitindo a percepção do desenvolvimento relativo das mesmas durante o desenvolvimento do sistema. Os dados de altura resultaram de um consenso entre os informantes.
Do ponto de vista da sustentabilidade, quanto maior a diversidade de espécies, maior a estabilidade do sistema de produção, tanto do ponto de vista ecológico quanto econômico e social (Gliessmann, 1997). A grande biodiversidade e a máxima estratificação no sistema possibilita grande quantidade e qualidade de vida consolidada (Götsch, 1995), o que implica em ótimo aproveitamento da energia luminosa e potencializa a ciclagem dos nutrientes, além de promover complexas redes tróficas.
CONCLUSÃO
Esse trabalho é uma tentativa de organizar as espécies potenciais para comporem sistemas agroflorestais complexos em grupos sucessionais. De maneira alguma se busca aqui ter como consumada essa proposta de classificação. Essa é mais uma forma de organizar a complexidade que é a sucessão, um grande conjunto de espécies distribuídas e organizadas no espaço e no tempo.
Testes e monitoramento de diferentes modelos de sistemas agroflorestais a serem implantados a partir desse referencial teórico proposto poderá amadurecer essa perspectiva de compreender a organização sucessional.
AGRADECIMENTOS
Irío da Silva Rivero, Edílson Consuelo de Oliveira, Ernst Göstch, João Bosco Nogueira de Queiroz, Nilson Alves Brilhante, Renata Zambello de Pinho, que contribuíram com informações presentes no quadro 2, a partir de experiências de campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EGLER, F.E. Vegetation science concepts. Inicial floristic composition, a factor in old-field vegetation development. Vegetatio, v. 4, p. 412-7, 1954.
GLIESSMAN, S. R. Agroecology: ecological processes in sustainable agriculture. Chelsea: Ann Arbor Press, 1997.
GÖTSCH, E. O Renascer da Agricultura. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1995. 22p.
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