O DESCRÉDITO DAS INSTITUIÇÕES
Hamilton Octavio de Souza, da Caros Amigos
NovaE
É difícil saber o que tem sido mais danoso ao povo brasileiro: se é o modelo econômico real gerador da desigualdade, que patrocina uma elite privilegiada e deixa a grande maioria distante da riqueza produzida, ou se é o contínuo descrédito moral e político das instituições públicas que deveriam promover o bem estar geral da Nação.
A sucessão de desmandos e escândalos alimenta a descrença generalizada nos partidos políticos, nos governos, nos homens públicos e no papel do Estado como instância e instrumento capaz de enfrentar e resolver os problemas da sociedade. A desmoralização dessas instituições sustenta a apatia coletiva, a baixa estima popular, a desa-gregação social e a individualização das soluções.
Cada vez que um Sarney da vida tem as suas falcatruas escancaradas, massivamente sensa-cionalizadas pela mídia, reforça-se no seio da so-ciedade brasileira que as instituições só servem mesmo para os interesses da bandidagem; reitera-se a incapacidade das próprias instituições em sanar os esquemas de corrupção; reafirma-se a convicção de que a podridão contamina todos aqueles que se aproximam das instituições públicas.
O escândalo Sarney expressa exatamente a dose de descrédito que os donos do capital e defen-sores da supremacia dos mercados, precisam aplicar de tempos em tempos no povo para reforçar, de um lado, a inviabilidade das insti-tuições públicas como instrumentos de transfor-mação, e, de outro, o sentimento popular de re-jeição, asco e apatia diante da estrutura estatal.
A vida pregressa do senador Sarney vem desde os tempos em que ele fustigava os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino e João Goulart; desde os tempos em que ele deu total apoio à Ditadura Militar; desde que ele instalou no Maranhão uma oligarquia sustentada na apropriação das terras, bens e dinheiro públicos, nas negociatas e no empreguismo de parentes e apaniguados. Nada disso é novidade, José Sarney já deveria ter sido varrido da vida pública há muitos anos.
A novidade está no fato de que o velho oligarca está sendo rifado pela sua turma da direita, pelos partidos conservadores que são porta vozes das elites e do capital privado, pela mídia neoliberal; e a novidade está no fato de que o velho oligarca tem sido defendido e preservado pelo presidente Lula e por setores do próprio PT, por pessoas cujas trajetórias políticas foram construídas no campo democrático e progressista.
Portanto, não é a ficha corrida de Sarney que está no momento realimentando a descrença do povo nas instituições públicas; é a posição de Lula e dos parlamentares do PT que causam surpresa, espanto, indignação e, de novo, mais desânimo diante dos partidos, do Congresso Nacional, dos governos e do papel do Estado. A podridão de Sarney contamina um pouco mais a expectativa popular de que as instituições repu-blicanas possam ser instrumentos de trans-formação. As forças conservadoras do sistema sabem muito bem que podem pagar o preço de perder o seu velho aliado oligarca, desde que a contaminação dos setores progressistas atinja diretamente a auto estima do povo. Para elas, um povo desanimado, descrente, apático, é muito mais fácil de ser controlado.
Uma forma de romper esse círculo vicioso da dominação de classe é o povo trabalhador cons-truir instrumentos de luta que não se confundam jamais com os interesses das forças dominantes. Caso contrário, vamos continuar no show nosso de cada dia...
Hamilton Octavio de Souza é editor chefe da revista Caros Amigos e professor de Jornalismo da PUC-SP.
NovaE
É difícil saber o que tem sido mais danoso ao povo brasileiro: se é o modelo econômico real gerador da desigualdade, que patrocina uma elite privilegiada e deixa a grande maioria distante da riqueza produzida, ou se é o contínuo descrédito moral e político das instituições públicas que deveriam promover o bem estar geral da Nação.
A sucessão de desmandos e escândalos alimenta a descrença generalizada nos partidos políticos, nos governos, nos homens públicos e no papel do Estado como instância e instrumento capaz de enfrentar e resolver os problemas da sociedade. A desmoralização dessas instituições sustenta a apatia coletiva, a baixa estima popular, a desa-gregação social e a individualização das soluções.
Cada vez que um Sarney da vida tem as suas falcatruas escancaradas, massivamente sensa-cionalizadas pela mídia, reforça-se no seio da so-ciedade brasileira que as instituições só servem mesmo para os interesses da bandidagem; reitera-se a incapacidade das próprias instituições em sanar os esquemas de corrupção; reafirma-se a convicção de que a podridão contamina todos aqueles que se aproximam das instituições públicas.
O escândalo Sarney expressa exatamente a dose de descrédito que os donos do capital e defen-sores da supremacia dos mercados, precisam aplicar de tempos em tempos no povo para reforçar, de um lado, a inviabilidade das insti-tuições públicas como instrumentos de transfor-mação, e, de outro, o sentimento popular de re-jeição, asco e apatia diante da estrutura estatal.
A vida pregressa do senador Sarney vem desde os tempos em que ele fustigava os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino e João Goulart; desde os tempos em que ele deu total apoio à Ditadura Militar; desde que ele instalou no Maranhão uma oligarquia sustentada na apropriação das terras, bens e dinheiro públicos, nas negociatas e no empreguismo de parentes e apaniguados. Nada disso é novidade, José Sarney já deveria ter sido varrido da vida pública há muitos anos.
A novidade está no fato de que o velho oligarca está sendo rifado pela sua turma da direita, pelos partidos conservadores que são porta vozes das elites e do capital privado, pela mídia neoliberal; e a novidade está no fato de que o velho oligarca tem sido defendido e preservado pelo presidente Lula e por setores do próprio PT, por pessoas cujas trajetórias políticas foram construídas no campo democrático e progressista.
Portanto, não é a ficha corrida de Sarney que está no momento realimentando a descrença do povo nas instituições públicas; é a posição de Lula e dos parlamentares do PT que causam surpresa, espanto, indignação e, de novo, mais desânimo diante dos partidos, do Congresso Nacional, dos governos e do papel do Estado. A podridão de Sarney contamina um pouco mais a expectativa popular de que as instituições repu-blicanas possam ser instrumentos de trans-formação. As forças conservadoras do sistema sabem muito bem que podem pagar o preço de perder o seu velho aliado oligarca, desde que a contaminação dos setores progressistas atinja diretamente a auto estima do povo. Para elas, um povo desanimado, descrente, apático, é muito mais fácil de ser controlado.
Uma forma de romper esse círculo vicioso da dominação de classe é o povo trabalhador cons-truir instrumentos de luta que não se confundam jamais com os interesses das forças dominantes. Caso contrário, vamos continuar no show nosso de cada dia...
Hamilton Octavio de Souza é editor chefe da revista Caros Amigos e professor de Jornalismo da PUC-SP.
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