REINALDO AZEVEDO COMENTA SOBRE A CANDIDATURA DE MARINA
Da alternativa histérica à alternativa esotérica
Por Reinaldo Azevedo
VEJA Online
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Aqui e ali me pedem que escreva o que penso sobre a candidatura da senadora Marina Silva (PT-AC) à Presidência do Brasil caso ela migre para o PV. Ai, ai… Presidenta do Brasil? Para Marina, é pouco, é falta de ambição! Ela é minha candidata a santa.
Quando eu a vejo com aqueles seus xales, que imagino sempre de fios naturais, tecidos por mãos trabalhadoras que trazem os ecos ancestrais da mãe Terra, não sei se, bom cristão, caio de joelhos, ou, tocado pelo espírito de porco e anticlerical de Voltaire, imito-o quando lia uma obra de Rousseau e, em vez de ficar de joelhos, já começo logo a andar de quatro. Calma lá! Estou apenas me referindo a fases anteriores da evolução a que certo ecologismo parece remeter.
Ah, sei, Marina pode dividir o chamado “campo da esquerda”, tirando votos de Dilma etc e tal… Olhem só: Marina pode até ser boa pessoa e ter as melhores intenções. Mas, como diria Horácio, “est modus in rebus”. As coisas têm limites, medida. Lula precisou perder três eleições e ganhar a quarta para não fazer, digamos assim, besteiras essenciais — já basta as periféricas, as laterais, a que se dedica, que vão significar alguns anos de atraso para o país, coisa que veremos ao longo do tempo, quando baixar a poeira da mistificação.
Imaginem Marina presidente! Não tem jeito. Sentiria, como Voltaire ao ler Rousseau, palpitar em mim as tentações da ancestralidade. O Brasil tem hoje um setor vital para o seu desenvolvimento e para a economia do país, que responde diretamente pela comida barata a que o brasileiro tem acesso (sim, temos hoje uma das comidas mais baratas do mundo), que é satanizado em tudo quanto é rodinha dos progressistas do miolo mole: refiro-me, é óbvio, ao agronegócio. E a Marina da Floresta dos Santos dos Últimos Dias é uma das responsáveis por essa distorção.
Quer sair candidata? Que saia! Vejam só: eu não sou político. Não preciso ficar aqui com receio de tocar o xale da santa. Marina não me diz nada nem me comove. Mais ainda: o preservacionismo de matiz e matriz amazônicos não serve como parâmetro para o resto do Brasil.
“Ih, Reinaldo não está pensando estrategicamente. Marina divide os votos da esquerda, de Dilma…” É… Tio Rei já tem 47 anos e não cai mais em certas ciladas. Digamos que ela ajude a levar a disputa para o segundo turno. Entendo que os votos em Marina estão, ainda que com muitos matizes, à esquerda do eleitorado da própria Dilma. É de gente que acha que a ministra “endireitou” demais. Na hora “h”, boa parte migraria para a candidata do PT. Não acho que as oposições devam contar com essa esperança.
Pensemos ainda em outra hipótese: num eventual segundo turno, ela poria a sua plataforma verde na vitrine e esperaria para ver qual dos dois litigantes abraçaria a sua causa. Bem, muito realisticamente, eu espero que nenhum deles o faça. Marina tem todo o jeitão de ser a Heloisa Helena da vez, só que substituindo o discurso histérico pelo preservacionismo esotérico.
Perdão! Eu não tenho o que fazer com isso.
Por Reinaldo Azevedo
VEJA Online
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Aqui e ali me pedem que escreva o que penso sobre a candidatura da senadora Marina Silva (PT-AC) à Presidência do Brasil caso ela migre para o PV. Ai, ai… Presidenta do Brasil? Para Marina, é pouco, é falta de ambição! Ela é minha candidata a santa.
Quando eu a vejo com aqueles seus xales, que imagino sempre de fios naturais, tecidos por mãos trabalhadoras que trazem os ecos ancestrais da mãe Terra, não sei se, bom cristão, caio de joelhos, ou, tocado pelo espírito de porco e anticlerical de Voltaire, imito-o quando lia uma obra de Rousseau e, em vez de ficar de joelhos, já começo logo a andar de quatro. Calma lá! Estou apenas me referindo a fases anteriores da evolução a que certo ecologismo parece remeter.
Ah, sei, Marina pode dividir o chamado “campo da esquerda”, tirando votos de Dilma etc e tal… Olhem só: Marina pode até ser boa pessoa e ter as melhores intenções. Mas, como diria Horácio, “est modus in rebus”. As coisas têm limites, medida. Lula precisou perder três eleições e ganhar a quarta para não fazer, digamos assim, besteiras essenciais — já basta as periféricas, as laterais, a que se dedica, que vão significar alguns anos de atraso para o país, coisa que veremos ao longo do tempo, quando baixar a poeira da mistificação.
Imaginem Marina presidente! Não tem jeito. Sentiria, como Voltaire ao ler Rousseau, palpitar em mim as tentações da ancestralidade. O Brasil tem hoje um setor vital para o seu desenvolvimento e para a economia do país, que responde diretamente pela comida barata a que o brasileiro tem acesso (sim, temos hoje uma das comidas mais baratas do mundo), que é satanizado em tudo quanto é rodinha dos progressistas do miolo mole: refiro-me, é óbvio, ao agronegócio. E a Marina da Floresta dos Santos dos Últimos Dias é uma das responsáveis por essa distorção.
Quer sair candidata? Que saia! Vejam só: eu não sou político. Não preciso ficar aqui com receio de tocar o xale da santa. Marina não me diz nada nem me comove. Mais ainda: o preservacionismo de matiz e matriz amazônicos não serve como parâmetro para o resto do Brasil.
“Ih, Reinaldo não está pensando estrategicamente. Marina divide os votos da esquerda, de Dilma…” É… Tio Rei já tem 47 anos e não cai mais em certas ciladas. Digamos que ela ajude a levar a disputa para o segundo turno. Entendo que os votos em Marina estão, ainda que com muitos matizes, à esquerda do eleitorado da própria Dilma. É de gente que acha que a ministra “endireitou” demais. Na hora “h”, boa parte migraria para a candidata do PT. Não acho que as oposições devam contar com essa esperança.
Pensemos ainda em outra hipótese: num eventual segundo turno, ela poria a sua plataforma verde na vitrine e esperaria para ver qual dos dois litigantes abraçaria a sua causa. Bem, muito realisticamente, eu espero que nenhum deles o faça. Marina tem todo o jeitão de ser a Heloisa Helena da vez, só que substituindo o discurso histérico pelo preservacionismo esotérico.
Perdão! Eu não tenho o que fazer com isso.
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