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28 setembro 2009

MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS

Mudanças climáticas são mais rápidas que o esperado

Pnuma/IPAM

O ritmo e a escala das mudanças climáticas podem estar superando até mesmo as previsões mais pessimistas do último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Estudos recentes indicam que são cada vez maiores as chances de aconteceram as previsões mais extremas do IPCC.

Enquanto isso, pesquisas mostram que alguns eventos que poderiam vir a ocorrer em horizontes de tempo de longo prazo, acontecerão mais cedo do que se pensava anteriormente. Os pesquisadores estão cada vez mais preocupados, por exemplo, com a acidificação dos oceanos ligada à absorção de dióxido de carbono na água do mar e com os efeitos sobre os recifes de corais e moluscos.

Perdas de geleiras nas montanhas e nas regiões polares parecem estar acontecendo mais rápido do que o previsto, como a camada de gelo da Groenlândia, por exemplo, que está tendo um derretimento cerca de 60% superior ao recorde anterior, de 1998. Alguns cientistas estão alertando, ainda, que o nível do mar pode subir cerca de dois metros em 2100 e de cinco a dez vezes mais ao longo dos séculos seguintes.

Há também preocupação crescente entre os cientistas de que os limiares ou pontos de ruptura, agora podem ser alcançados em poucos anos ou algumas décadas, incluindo mudanças dramáticas nas monções do subcontinente indiano e da África Ocidental e em sistemas climáticos que afetam ecossistemas críticos como a Floresta Amazônica.

O relatório destaca a preocupação dos cientistas de que alguns desses impactos são irreversíveis, por serem resultado dos gases de efeito de estufa já existentes na atmosfera. Perdas das geleiras das montanhas tropicais e temperadas afetarão entre 20% e 25% da população humana por conta de água potável, irrigação e energia.

Mudanças no ciclo hidrológico resultarão no desaparecimento de climas regionais causando perdas de ecossistemas, espécies e a disseminação de desertos ao norte e ao sul, em reigões longe do Equador.

Estudos recentes sugerem, porém, que ainda é possível evitar os impactos mais catastróficos da mudança climática. No entanto, isso só acontecerá se houver ação imediata e coesa para reduzir as emissões e ajudar os países mais vulneráveis se adaptar.

Essas são algumas das conclusões de um relatório divulgado hoje (24/9) pela Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), intitulada Mudanças Climáticas - Compendium 2009. O relatório, elaborado em colaboração com cientistas de todo o mundo, foi lançado a menos de 80 dias da reunião da Convenção do Clima da ONU em Copenhague, na Dinamarca (COP 15).

No prefácio do documento, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que esta semana recebeu os chefes de Estado em Nova York, escreveu: "Este Compêndio sobre Mudanças Climáticas é uma chamada urgente. O tempo de hesitação acabou. Precisamos mostrar ao mundo, de uma vez por todas, que o momento de agir é agora e temos de trabalhar juntos para enfrentar esse desafio monumental. Este é o desafio moral da nossa geração."

O Compêndio traz cerca de 400 importantes contribuições científicas divulgadas através de publicações especializadas, ou de instituições de pesquisa, nos últimos três anos.

Os resultados da pesquisa e observações no compêndio estão divididos em cinco categorias: sistemas terrestres, gelo, oceanos, ecossistemas e gestão. As principais informações são:

Sistemas terrestres

Um novo sistema de modelagem de clima, com previsão de temperaturas médias de mais de uma década, combinando variações naturais com os impactos das mudanças climáticas induzidas pelo homem, mostra que em pelo menos metade dos 10 próximos anos a temperatura será superior a 2009, o ano mais quente já registrado.

O crescimento nas emissões de dióxido de carbono a partir da energia e da indústria superaram até mesmo os cenários mais pessimistas do IPCC para combustíveis fósseis previstos no final da década de 1990. O aumento das emissões globais foram de 1,1% ao ano entre 1990 e 1999, acelerando para 3,5% ao ano entre 2000 e 2007.

Países em desenvolvimento, que representam 80% da população mundial, foram responsáveis por 73% do crescimento global das emissões em 2004. No entanto, eles contribuíram com apenas 41% do total de emissões, e apenas 23% das emissões acumuladas desde 1750.

O crescimento da economia mundial no início dos anos 2000 e o aumento em sua intensidade de carbono (emissões por unidade de crescimento), combinado com uma diminuição da capacidade dos ecossistemas terrestres e dos oceanos de atuar como sumidouros de carbono, levaram a um rápido aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera. Isto contribuiu para fossem sentidos antes do previsto os impactos do aumento do nível do mar, da acidificação dos oceanos, do derretimento do gelo do Mar Ártico, do aquecimento das massas de terra polar e das mudanças nos padrões de circulação dos oceanos e da atmosfera.

O aumento nas concentrações de gases de efeito estufa faz os cientistas temerem um aquecimento da temperatura entre 1,4º C e 4,3º C acima dos níveis pré-industriais. Isso excede o intervalo entre 1º C e 3º C considerados limite para muitos pontos de não retorno, incluindo o fim do gelo no verão do Mar Ártico.

Gelo

O derretimento do gelo nos topos de montanhas parece estar acelerando, ameaçando a subsistência de um quinto ou mais da população que depende do degelo para abastecimento de água. Para 30 geleiras de referência em nove cadeias de montanhas monitoradas, a taxa média de perdas desde 2000 praticamente dobrou em relação às duas décadas anteriores. A tendência atual sugere que a maioria das geleiras desaparecerá dos Pirineus em 2050, e das montanhas da África tropical até 2030.

Em 2007, o gelo marinho no verão do Oceano Ártico encolheu para sua menor extensão, 24% menor que o recorde anterior, de 2005, e 34% menor do que a extensão mínima média no período 1970-2000. Em 2008, a extensão mínima de gelo foi 9% maior que em 2007, mas continua a ser a segunda mais baixa registrada.

Recentes descobertas mostram que o aquecimento também se estende ao sul da Península Antártica, para cobrir a maior parte do oeste da Antártida, uma zona de aquecimento muito maior do que relatado previamente.

O buraco na camada de ozônio tem tido um efeito de resfriamento sobre a Antártida, e é parcialmente responsável por mascarar o aquecimento esperado no continente. A recuperação do ozônio estratosférico, graças à eliminação gradual das substâncias que agridem a camada de ozônio, deverá aumentar a temperatura da Antártica nas próximas décadas.

Oceanos

Estimativas do impacto combinado do derretimento do gelo da terra e a expansão térmica dos oceanos sugerem ser plausível que o nível do mar suba entre 0,8 e 2,0 metros acima do nível de 1990 até 2100. Enquanto isso, o previsto pelo último relatório do IPCC era de um aumento entre 18 e 59 centímetros, pois não levava em conta as estimativas das mudanças em grande escala no derretimento de geleiras por falta de consenso.

Os oceanos estão se tornando mais ácidos mais rapidamente do que o esperado, comprometendo a capacidade dos moluscos e corais de formar seus esqueletos externos.

Ecossistemas

Desde o último relatório do IPCC de 2007, uma ampla gama de estudos mostraram alterações no comportamento sazonal e na distribuição de grupos de plantas e animais marinhos, aquáticos e terrestres.

Um estudo recente projetou os impactos das mudanças climáticas sobre o padrão de biodiversidade marinha e sugere que mudanças dramáticas estão por vir. Ecossistemas de águas sub-polares, dos trópicos e mares semi-fechados são propensos a sofrer grandes extinções até 2050. Os ecossistemas marinhos como um todo poderão ter uma redução no volume de espécies de até 60%.

No cenário do IPCC que mais se aproxima das tendências atuais - ou seja, com mais emissões - entre 12% e 39% da superfície terrestre do planeta poderia experimentar condições climáticas desconhecidas até 2100. Uma proporção semelhante, entre 10% e 48% verão o clima atual desaparecer. Muitos destes climas "desaparecidos" coincidirão com hotspots de biodiversidade e, com a fragmentação de habitats e os obstáculos físicos à migração, teme-se que muitas espécies vão ter dificuldades para se adaptar às novas condições.

Secas perenes já foram observadas no sudeste da Austrália oriental e sudeste da América do Norte ocidental. Projeções sugerem que a persistente escassez de água vai aumentar em algumas regiões nos próximos anos, incluindo a África do Sul e do Norte, o Mediterrâneo, a maior parte do Oriente Médio, uma parte da Ásia Central e no subcontinente indiano.

Gerenciamento

Uma rápida mudança climática pode fazer com que iniciativas convencionais para conservação e restauração dos habitats se tornem ineficazes. Medidas drásticas, como a translocação em grande escala ou colonização assistida de espécies precisarão ser consideradas.
Sistemas agroflorestais, em que as paisagens são gerenciados para sustentar uma gama de serviços do ecossistema, incluindo a produção de alimentos, poderão ter de substituir a segregação atual de uso da terra entre a conservação e produção. Isso poderia ajudar a criar resiliência dos ecossistemas agrícolas mais capazes de se adaptar às condições do clima em mudança.

Especialistas concordam que a proteção das florestas tropicais é um meio econômico de reduzir as emissões globais. Um mecanismo internacional de redução de emissões do desmatamento e degradação florestal (REDD) pode surgir como um componente central de um novo acordo em Copenhague. No entanto, muitas questões precisam ser resolvidas, como a forma de verificar as reduções e assegurar um tratamento equitativo das comunidades florestais locais e indígenas.

Veja o relatório completo: http://www.unep.org/compendium2009/

Foto: Antônio Cruz/ABr