A SAGA DOS BANDEIRANTES: A COLONIZAÇÃO DO PIAUÍ
Piauí de paulista. No rastro dos índios, bandeirantes chegaram à região antes das fazendas de gado
Reginaldo Miranda da Silva
Revista de História da Biblioteca Nacional
A colonização do Piauí se deu na “pata do boi”. A pecuária extensiva dos sertões da Bahia e de Pernambuco expandiu-se rumo ano norte a partir de 1676, com a concessão de sesmarias na região.
Mas onze ou doze anos antes do surgimento das primeiras fazendas, um grupo de paulistas já se encontrava estabelecido na bacia do Parnaíba, em poderoso arraial às margens do riacho de Santa Catarina, de onde saíam em busca pedras preciosas e de índios para serem escravizados. Desde sua fundação, o Arraial de Paulistas foi governado por Domingos Jorge Velho (1641-1703), típico bandeirante descendente de índios tupiniquins e tapuias cruzados com sangue lusitano.
Fundado com índios trazidos de São Paulo e outros capturados no Piauí, o arraial tornou-se o flagelo do gentio que vivia desde o Rio Grande do Norte até o Maranhão. Seus moradores falavam a língua geral (tupi) e viviam amasiados com muitas índias, daí a conhecida reserva do bispo de Olinda, D. Francisco Lima, quando se encontrou com Domingos Jorge Velho, em 1697: “Este homem é um dos maiores selvagens com que tenho topado [...] porque nem falar [português] sabe, nem se diferencia do mais bárbaro tapuia [...], e não obstante o haver-se casado de pouco, lhe assistem sete índias concubinas, e daqui se pode inferir como procede no mais; tendo sido a sua vida [...] até o presente, andar metido pelos matos à caça de índios, e de índias, estas para o exercício de suas torpezas, e aqueles para os granjeios dos seus interesses”.
Não havia a preocupação em estabelecer fazendas e cultivar a terra, senão para a subsistência. O que importava era capturar índios e vendê-los para as capitanias do Nordeste, Minas Gerais e São Paulo.
Em 1687, tendo de se afastar para combater o quilombo de Palmares, em Alagoas, a pedido do governador de Pernambuco, Domingos Jorge Velho deixou o arraial sob o comando do capitão-mor Francisco Dias de Siqueira (1640-1704), seu conterrâneo, conhecido como Apuçá. Mas o arraial logo entraria em declínio, pois Jorge Velho o esvaziou levando consigo para a guerra 1.300 índios, além de 80 brancos e mamelucos.
O Arraial de Paulistas foi o único centro urbano do Piauí no século XVII, e sucumbiu ante a escassez de índios para serem capturados como escravos. Mas a ação desses paulistas foi tão implacável que em meados do século XIX já não existiam mais índios no Piauí. Nos escombros da povoação foi erguida a atual cidade de Valença do Piauí, no centro leste do estado.
Reginaldo Miranda da Silva é advogado e historiador, autor do livro A ferro e fogo – vida e morte de uma nação indígena no sertão do Piauí (Teresina, 2005).
Saiba Mais - Bibliografia:
CARVALHO, Pe. Miguel. Descrição do sertão do Piauí (comentários e notas do Pe. Cláudio Melo). Teresina: IHGP, 1993.
NUNES, Odilon. Devassamento e conquista do Piauí. Teresina: COMEPI, 1983.
NUNES, Odilon. Pesquisas para a História do Piauí. Teresina: FUNDAPI/FCMC, 2007.
* Artigo originalmente publicado na edição 34 da Revista de História da Biblioteca Nacional
Reginaldo Miranda da Silva
Revista de História da Biblioteca Nacional
A colonização do Piauí se deu na “pata do boi”. A pecuária extensiva dos sertões da Bahia e de Pernambuco expandiu-se rumo ano norte a partir de 1676, com a concessão de sesmarias na região.
Mas onze ou doze anos antes do surgimento das primeiras fazendas, um grupo de paulistas já se encontrava estabelecido na bacia do Parnaíba, em poderoso arraial às margens do riacho de Santa Catarina, de onde saíam em busca pedras preciosas e de índios para serem escravizados. Desde sua fundação, o Arraial de Paulistas foi governado por Domingos Jorge Velho (1641-1703), típico bandeirante descendente de índios tupiniquins e tapuias cruzados com sangue lusitano.
Fundado com índios trazidos de São Paulo e outros capturados no Piauí, o arraial tornou-se o flagelo do gentio que vivia desde o Rio Grande do Norte até o Maranhão. Seus moradores falavam a língua geral (tupi) e viviam amasiados com muitas índias, daí a conhecida reserva do bispo de Olinda, D. Francisco Lima, quando se encontrou com Domingos Jorge Velho, em 1697: “Este homem é um dos maiores selvagens com que tenho topado [...] porque nem falar [português] sabe, nem se diferencia do mais bárbaro tapuia [...], e não obstante o haver-se casado de pouco, lhe assistem sete índias concubinas, e daqui se pode inferir como procede no mais; tendo sido a sua vida [...] até o presente, andar metido pelos matos à caça de índios, e de índias, estas para o exercício de suas torpezas, e aqueles para os granjeios dos seus interesses”.
Não havia a preocupação em estabelecer fazendas e cultivar a terra, senão para a subsistência. O que importava era capturar índios e vendê-los para as capitanias do Nordeste, Minas Gerais e São Paulo.
Em 1687, tendo de se afastar para combater o quilombo de Palmares, em Alagoas, a pedido do governador de Pernambuco, Domingos Jorge Velho deixou o arraial sob o comando do capitão-mor Francisco Dias de Siqueira (1640-1704), seu conterrâneo, conhecido como Apuçá. Mas o arraial logo entraria em declínio, pois Jorge Velho o esvaziou levando consigo para a guerra 1.300 índios, além de 80 brancos e mamelucos.
O Arraial de Paulistas foi o único centro urbano do Piauí no século XVII, e sucumbiu ante a escassez de índios para serem capturados como escravos. Mas a ação desses paulistas foi tão implacável que em meados do século XIX já não existiam mais índios no Piauí. Nos escombros da povoação foi erguida a atual cidade de Valença do Piauí, no centro leste do estado.
Reginaldo Miranda da Silva é advogado e historiador, autor do livro A ferro e fogo – vida e morte de uma nação indígena no sertão do Piauí (Teresina, 2005).
Saiba Mais - Bibliografia:
CARVALHO, Pe. Miguel. Descrição do sertão do Piauí (comentários e notas do Pe. Cláudio Melo). Teresina: IHGP, 1993.
NUNES, Odilon. Devassamento e conquista do Piauí. Teresina: COMEPI, 1983.
NUNES, Odilon. Pesquisas para a História do Piauí. Teresina: FUNDAPI/FCMC, 2007.
* Artigo originalmente publicado na edição 34 da Revista de História da Biblioteca Nacional
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