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23 fevereiro 2010

40 ANOS PARA EVITAR O COLAPSO DA AMAZÔNIA

Entrevista: Temos 40 anos para evitar o colapso da Amazônia, diz pesquisador do Inpe

Por Bruno Calixto, do Amazônia.org.br

Se continuarmos no mesmo ritmo de desmatamento que tivemos durante a década de 2000, associado ao impacto das mudanças climáticas, a Amazônia chegará ao seu limite por volta de 2050.

O cálculo foi feito pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) Gilvan Sampaio, um dos participantes do estudo "Assessment of the Risk of Amazon Dieback", do Banco Mundial.

Veja também: Desmatamento, queimadas e mudanças climáticas podem acabar com 95% da Amazônia até 2075, diz estudo

O estudo procurou avaliar os riscos de parte de a floresta amazônica entrar em colapso devido à conjunção de três fatores: desmatamento, mudanças climáticas e queimadas.

Sampaio conversou com o site Amazonia.org.br a respeito do estudo. Confira abaixo, na íntegra.

Amazonia.org.br - O que é o conceito de "Amazon Dieback"?

Gilvan Sampaio - Não tem uma tradução exata para esse termo, mas podemos dizer que é o risco de colapso de parte da floresta. Não de toda a floresta, mas de parte da Amazônia. O nível, o ponto que chega a floresta que, mesmo que você faça reflorestamento ela não retorna. É uma morte de parte da floresta.

Amazonia.org.br - Esse colapso seria causado pela redução de biomassa da floresta?

Sampaio - Exatamente. Em nossos estudos, avaliamos que, principalmente no leste da Amazônia, com a mudança do clima mais a mudança no uso da terra, você não conseguirá mais sustentar ali uma floresta de pé, como é o caso da floresta amazônica. Você teria uma floresta com, digamos, menos biomassa acumulada, que poderia ser semelhante a uma savana. Por isso nós chamamos o processo de savanização.

Amazonia.org.br - E o estudo quantifica esse risco?

Sampaio - O risco é alto. Nós já desmatamos quase 20% da Amazônia, e o ponto limite da floresta é 40%. A partir de 40% de desmatamento, e considerando os efeitos do aquecimento global, você não conseguiria mais recuperar a área que já foi devastada.

O que eu quero dizer: agora a gente já desmatou 20%. Se você parar de desmatar, e quiser recuperar esses 20%, possivelmente conseguiremos recuperar. Até 40%. Esse seria o limite, mais do que disso a gente não consegue recuperar parte da floresta amazônica.

Esse limite já leva em consideração as mudanças climáticas. E esse é o diferencial do estudo. Porque pela primeira vez nós somamos três efeitos simultâneos: o aquecimento global, as mudanças da terra, e - eu estou chamando de terceiro, mas faz parte de mudanças da terra - o fogo. O efeito do fogo também contribui para a degradação da floresta.

Amazonia.org.br - O estudo apresenta estimativas diferentes para a mudança do clima, com cenários mais otimistas ou pessimistas.

Sampaio - Isso. A diferença entre eles é a concentração de gases na atmosfera, sobretudo de CO2. Porque num cenário de mais emissões, a degradação é maior, e também por conta do maior impacto no clima. Embora esse limite, quando se chega a um nível de degradação muito grande, por exemplo mais de 50% de desmatamento, não há muita diferença entre os cenários. Tanto faz os cenários de alta ou baixa emissão, com esse nível de desmatamento alto, a área degradada e a área remanescente de floresta seria muito semelhante.

Se continuarmos o ritmo de desmatamento e de emissões que estávamos na década de 2000, nós atingiremos esse limite por volta do ano de 2050. Quer dizer, nós temos no máximo quarenta anos para reverter esse quadro.

Amazonia.org.br - E nessa estimativa foi considerada as metas de redução de desmatamento do governo?

Sampaio - Ainda não. Esse será o nosso próximo passo.

Amazonia.org.br - O estudo também analisa o impacto em diferentes regiões da Amazônia.

Sampaio - O maior impacto ocorre no leste da Amazônia. É a área mais sensível. O caso do noroeste da Amazônia é totalmente oposto, pois é a área em que se tem o menor impacto.

No Nordeste, não da Amazônia, mas o Nordeste brasileiro, também existe impacto associado ao desmatamento da Amazônia, porque o desmatamento faz com que haja diminuição da área de caatinga, dando lugar a uma área bem grande de semideserto.

Amazonia.org.br - Isso acontece por causa de mudanças no regime das chuvas?

Sampaio - No Nordeste ocorre uma diminuição bastante grande de chuvas na região central, com o desaparecimento da caatinga e o aparecimento de semideserto. Isso, de fato, já está acontecendo, a tendência é se acelerar.

Outro exemplo: no leste da Amazônia, que é a região de maior impacto, há uma diminuição muito significativa das chuvas, por conta principalmente de desmatamento. O impacto é muito negativo no leste, e é justamente a região que sofre mais pressão.

Se você considerar uma projeção para 2025, só no leste da Amazônia seria perdido 75% da área de floresta, em comparação com a área atual. Com os três efeitos combinados. Essa é a região que ha maior mudança do regime das chuvas, alem do aumento da temperatura, que contribui bastante para a mudança de vegetação

Amazonia.org.br - O estudo apresenta propostas para evitar os impactos?

Sampaio - Não, não fizemos recomendações. Na verdade, as recomendações são aquelas que já conhecemos: diminuir as emissões de gases de efeito estufa e controlar o desmatamento.

(Envolverde/Amazônia.org.br)