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10 março 2010

COCÃO (ATTALEA TESSMANNII)

Uma breve história taxonômica

Attalea tessmannii (foto ao lado) foi descrita pelo botânico alemão Maximilian Burret (1883–1946) e publicada na revista científica Notizblatt des Botanischen Gartens und Museums zu Berlin-Dahlem nº 10, página 538, no ano de 1929.


As amostras botânicas que resultaram na descrição da espécie foram coletadas no Peru pelo etnologista alemão Günther Tessmann (1884-1969).


Tessmann viajou pelo Peru entre 1920 e 1926 realizando estudos antropológicos com índigenas locais e coletando amostras de plantas que foram enviadas para Herbários da Alemanha.


Embora a descrição original da localidade de coleta da amostra 'Tessmann 5167', usada para a descrição da espécie, cite apenas que a mesma foi coletada no Leste do Peru, Alto Amazonas, localidade de 'Soledad', é provável que a mesma tenha sido realizada durante a viagem de Tessmann ao rio Itaya, que desemboca em frente à cidade de Iquitos. Esta afirmação se baseia no fato da coleta 'Tessmann 5256', que resultou na descrição da espécie Scheelea stenorhyncha ter sido coletada na localidade de Soledad, ao longo do rio Itaya (veja mapa abaixo com a provável distribuição geográfica de A. tessmannii).


A amostra 'Tessmann 5167' (holotipo), originalmente depositada no Herbário de Berlim, consiste em rachillas masculinas e femininas, flores e frutos. Duplicatas da amostra original (isotipos) depositadas nos herbários de Field Museum (Chicago) e New York, contém apenas rachilas e flores masculinas (ver imagem abaixo).


De acordo com S. Glassman, em seu artigo Preliminary Taxonomic Studies in the Palm Germs Attalea H.B.K. (Fieldiana Volume 38, No. 5/1977), a descrição original de Burret contém uma discrepância em relação ao número de estames. Segundo Burret, as flores masculinas de A. tessmannii apresentam 12 estames, quando na verdade são apenas seis.


As evidências sugerem ainda que a descrição não foi baseada apenas na coleção 'Tessmann 5167'. Glassmann (1977), indica que Burret afirma que as rachilas femininas e masculinas foram coletadas de dois indivíduos distintos, numerados 5167 and 5167a. Ele cita ainda a amostra 'Tessmann 5395', coletada no médio rio Ucayali, localidade de Yarina Cocha, com flores masculinas e frutos ilustrados.


Glassman afirma ainda que Burret não indicou em qual herbário a espécie-tipo (holotipo) estava depositada, e que apenas o exemplar depositado no herbário do Jardim Botânico de Genebra continha flores masculinas e femininas e a mesma data citada na publicação original de Burret (1929).


A. tessmannii é uma espécie cuja distribuição é, aparentemente, restrita ao Brasil (Acre) e Peru (Loreto, Madre de Dios e Ucayali). No Acre ocorre nos Municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Thaumaturgo, Porto Valter, Feijó e Tarauacá.


Dentre as espécies de palmeiras nativas do Acre, o cocão é uma das mais majestosas, podendo alcançar mais de 25 m de altura total. Seu tronco (estipe) mede até 19 m de comprimento e 40 cm de diâmetro. Suas folhas alcançam 8,5 m de comprimento. Os frutos são muito grandes, podendo medir 13 cm de comprimento e 7 cm de diâmetro.


Mas um aspecto que realmente impressiona na espécie é o tamanho de suas regenerações. Na foto abaixo estamos segurando uma folha fechada de uma planta que ainda não tem estipe visível. Deve medir cerca de 2,5 m de altura, ou mais.

Uma dica para quem quer identificar as regenerações no meio da floresta e das pastagens:

- A face inferior das folhas novas sempre apresenta uma cor acinzentada.

Todas as outras espécies de palmeiras nativas do Acre relacionadas taxonomicamente com o cocão, com por exemplo o uricuri (Attalea phalerata), jaci (Attalea butyraceae), Attalea insignis (não tem nome popular), jaciarana (Syagrus sancona), catolé (Syagrus smithii) apresentam a face inferior das folhas sempre verde.

Tessmann terminou seus dias no Brasil

Uma revelação para mim: Em 1936 Tessmann emigrou para o Brasil e se estabeleceu como um simples colono em um dos muitos assentamentos para imigrantes europeus que foram criados na região sul do país antes da segunda guerra.

Depois de mudar de atividades várias vezes, ele foi finalmente contratado para trabalhar no Museu Paranaense e depois no Instituto de Biologia, em Curitiba. Se aposentou em 1958 e faleceu em 1969 aos 85 anos de idade.

Você leitor deve estar se perguntando porque isso é importante:

Ele deve ser uma das pessoas cujo nome foi mais utilizado para batizar espécies novas de plantas neotropicais. Pesquisadores botânicos usaram o nome de Tessmann para batizar mais de 260 espécies novas, distribuídas em 64 famílias botânicas distintas.