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26 abril 2010

ERRADICAÇÃO DA MALÁRIA

Década da erradicação da malária chega ao fim em 2010 com um balanço desanimador

A. Lattus, N. Hauschild, N. Pontes
Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE/EcoDebate (Augusto Valente, revisão)

Em 2001, os países-membros das Nações Unidas fizeram uma promessa: reduzir à metade, no prazo de uma década, o número de mortes provocadas pela malária, doença que atinge 108 países no mundo. Para tanto, cerca de 80% dos que vivem na região de incidência da doença deveriam receber telas de proteção contra o mosquito e medicamentos de emergência.

Tela eficiente

O mosquiteiro é a proteção mais eficaz e econômica contra a transmissão da malária, pois protegendo contra as picadas de mosquitos durante o sono. Há ainda mosquiteiros revestidos com inseticida, que duram até cinco anos, explica Awa Marie Coll-Seck, do Programa Antimalária da ONU. “O mosquiteiro evita 25% das mortes de crianças menores que cinco anos e 50% dos casos mais graves de malária.”

Como parte do programa Década da Erradicação da Malária, a Organização Mundial da Saúde e seus membros despacharam, até 2008, cerca de 140 milhões de mosquiteiros, somente para a África.

Na Etiópia, os resultados foram positivos: graças aos 20 milhões de telas de proteção distribuídas, reduziram-se à metade os casos da doença, no prazo de dois anos. Na Guiné Equatorial e na ilha de Zanzibar, metade das residências está equipada com mosquiteiros, o que igualmente trouxe uma queda significativa do número de casos.

Balanço da década contra a malária

Apesar desses esforços, apenas nove países africanos conseguiram diminuir o número de casos e das mortes provocadas pela doença.

Por vários os motivos a África é a região onde o combate à malária é mais difícil. Um deles está na falta de conhecimento sobre a doença e sobre o uso correto do mosquiteiro, diz Awa Marie Coll-Seck. Muitos usam as telas de proteção como redes de pesca, por exemplo. “Portanto, não podemos simplesmente distribuir mosquiteiros: também precisamos desenvolver estratégias para modificar o comportamento da população local e facilitar a comunicação com a mesma”, declarou a especialista da OMS.

O balanço da distribuição de remédios para pacientes da malária também é pouco alentador. De fato, mais pacientes recebem medicamentos atualmente de que com 2006. No entanto, o acesso aos remédios continua difícil para a maior parte da população. Em 11 dos 13 países pesquisados na África, apenas 15% dos menores de cinco anos infectados receberam medicamentos. A meta da Organização Mundial de Saúde é de 80%.

Sistemas de saúde falhos

Atualmente, os pacientes são tratados com um novo medicamento, ACTs. O princípio ativo, artemisina, é extraído de uma planta chinesa. “Para que as pessoas sejam tratadas, é preciso um bom sistema de saúde. É importante assegurar o acesso a tratamento médico”, ressalta Coll-Seck.

Sobretudo na África, o setor de saúde é falho. Muitos países não têm dinheiro suficiente para investir em hospitais, médicos ou medicamentos. No sul do Sudão, por exemplo, há um médico para cada 100 mil habitantes; e no oeste do Congo praticamente não existem ruas, o que dificulta muito o transporte dos remédios para as clínicas.

Busca de nova estratégia

Por isso, diversas organizações exigem a adoção de novas estratégias que envolvam os habitantes locais. A organização de ajuda humanitária alemã Medeor ensina a moradores de vilarejos do Togo medidas contra a malária como, por exemplo, drenar os pântanos e jogar fora contêineres plásticos, que são viveiros naturais para os mosquitos transmissores.

Segundo Susanne Schmitz, da Medeor, atividades isoladas não bastam, por não ser possível garantir nem sua sustentabilidade nem seu monitoramento a longo prazo. “Por isso, os nossos parceiros aqui decidiram que devemos fazer as comunidades e moradores das aldeias se envolverem ativamente no combate efetivo à malária.”

Apesar de todo o comprometimento, dinheiro ainda é um problema. Segundo as Nações Unidas, são necessários 5 bilhões de dólares por ano para a erradicação da malária. Até hoje, ao longo de dez anos, a OMS recebeu apenas 2,7 bilhões. Isto se deve ao fato de muitos países não cumprirem o prometido. Especialmente as nações industrializadas, que não têm o problema da malária em seu território.

Esperança na vacina

O cientista norte-americano Stephen Hoffmann, que há mais de 25 anos busca uma vacina contra a malária, acredita ter encontrado a solução numa forma atenuada do protozoário causador da doença. A possível vacina desenvolvida por ele já tem um nome: Plasmodium falciparum sporozoites (PfSPZ).

A empresa americana Sanaria conduz, atualmente, testes clínicos em sete países africanos com cerca de 16 mil crianças. “A vacina retarda o tempo desde a infecção com o parasita até o aparecimento dos primeiros sintomas. Ela não exclui totalmente a malária, no entanto, prorrogando o aparecimento dos primeiros sintomas, esperamos influenciar consideravelmente a doença e seu decurso, normalmente fatal”, explica Hoffmann.

O teste inclui três fases: a primeira, já concluída com êxito, é garantir a segurança da vacina a verificar a tolerância à substância. Na segunda, testes irão revelar as doses necessárias para assegurar a máxima proteção possível. A terceira e decisiva fase envolve a fabricação da vacina e sua venda no mercado. O objetivo de Hoffmann é estar com tudo pronto até 2015.

Malária no Brasil

No Brasil, o risco de contrair a doença é maior na Região Norte, especialmente no estado do Amazonas. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2008 foram registrados cerca de 320 mil novos casos, 31% a menos do que o ano anterior.

As crianças de zero a novas anos são as mais atingidas pela doença. O tratamento é gratuito, e não há medicamentos contra a malária à venda nas farmácias.