GRÉCIA, A VITÓRIA DOS MERCADOS FINANCEIROS
“A Europa de Bruxelas e do Banco Central escolheu a saída da crise com a recessão, o desemprego, a deflação salarial e não com uma estratégia keynesiana de criação massiva de empregos e de uma política européia solidária de crescimento compartilhado”.
A opinião é de Sami Naïr sobre a crise econômica na Grécia e publicado pelo El País, 08-05-2010. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Sabemos faz tempo que a globalização liberal significa em primeiro lugar a dominação dos mercados de capitais e, portanto, a fragilização da política como instância de regulação do desenvolvimento econômico e social. Também sabemos que um determinado número de grandes países (Estados Unidos; Europa, dirigida de fato pelo eixo franco-alemão e Reino Unido, Japão, e agora China, Índia e Brasil) eram vetores dessa globalização. Agora, sabemos finalmente que o mercado financeiro responsável pela crise que estamos mergulhados também é capaz de colocar de joelhos um Estado da zona do euro e que pode ameaçar outros. A Grécia é apenas o primeiro elo da corrente. Um “teste” que põe a prova a solidariedade e a capacidade da resistência européia.
O ataque contra a Grécia começou com rumores. O mesmo que se vê agora na Espanha com um rebaixamento da qualificação na bolsa da dívida espanhola. O governo espanhol tem qualificado esses boatos de “ridículos”. Esperamos que tenha razão. Mas não há fumaça sem fogo. Os dirigentes dos países do sul da Europa devem levar a sério a situação e, sobretudo, exigir uma resposta coordenada. O que está em jogo é o futuro da moeda única e não sairemos da crise sem mudar a política do euro.
Não é necessário ser um prêmio Nobel da Economia para adivinhar desde que se instaurou a moeda única que os desequilíbrios estruturais da zona do euro (principalmente a desigualdade de desenvolvimento entre os diferentes países) não aguentariam o primeiro terremoto. Mas aqueles que afirmavam isso eram taxados de anti-europeus por parte dos “bem-pensantes” liberais e conservadores. Entretanto, a responsabilidade dos que construíram esta Europa ficou agora escancarada.
A Europa não soube reagir diante da crise mundial de 2008, tampouco defender-se dos ataques contra um dos seus membros e da razão dos mercados financeiros solicitando ajuda do FMI e impondo planos de uma dureza implacável aos países que estão na mira dos investidores-especuladores. Pior ainda: ao acolher a estratégia dos planos de austeridade, a Europa desembocará numa recessão generalizada, em uma crise social duradoura cujas consequências que ninguém pode prever. Por último, atuando desse modo, a União Européia tem estimulado os mercados financeiros para que ataquem outros países.
Tomemos o caso da Grécia. O pacote de 110 bilhões de euros não adiantará nada; é muito provável que este país não conseguirá passar dos 14% atual de déficit para 3% em 2014; o empréstimo se realiza sob condições excessivas (5%, viva a solidariedade européia!); por último, a aplicação das medidas exigidas romperá o crescimento grego nos próximos três anos. Mas não acaba aí. Depois que a Alemanha vacilou durante semanas para o resgate, muitos países europeus, como por exemplo, a Eslováquia, já declararam que não aportaram recursos que prometeram se não tiverem a certeza de que o governo grego agirá com dureza.
Na realidade, a Europa de Bruxelas e do Banco Central escolheu a saída da crise com a recessão, o desemprego, a deflação salarial e não com a recuperação, a colocação em marcha de uma estratégia keynesiana de criação massiva de empregos e de uma política européia solidária de crescimento compartilhado.
O que se quer perpetuar para satisfazer os especuladores é um pacto de estabilidade responsável do desempenho endêmico na Europa; é a falta de coordenação econômica entre os membros da zona euro, deixando as mãos livres ao Banco Central, é a ausência da política fiscal comum; é por último, o aumento das diferenças de desenvolvimento entre os países da zona do euro.
Acreditamos mesmo que os países que não conseguiram superar suas diferenças de convergência com os países mais ricos, apesar dos 25 anos de transferências de fundos de coesão e ajudas de todo tipo, poderão consegui-lo agora em tempos de vacas magras? E quanto tempo levará isto? O caso da Grécia é absolutamente exemplar, em função de que apesar do duro plano europeu, os mercados financeiros se negaram a confiar no governo grego. E a moeda única continua sendo atacada. Deveria a Grécia abandonar a zona euro? Estamos assistindo ao início de uma grande batalha que apenas começou.
Artigo publicado no IHU Online
A opinião é de Sami Naïr sobre a crise econômica na Grécia e publicado pelo El País, 08-05-2010. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Sabemos faz tempo que a globalização liberal significa em primeiro lugar a dominação dos mercados de capitais e, portanto, a fragilização da política como instância de regulação do desenvolvimento econômico e social. Também sabemos que um determinado número de grandes países (Estados Unidos; Europa, dirigida de fato pelo eixo franco-alemão e Reino Unido, Japão, e agora China, Índia e Brasil) eram vetores dessa globalização. Agora, sabemos finalmente que o mercado financeiro responsável pela crise que estamos mergulhados também é capaz de colocar de joelhos um Estado da zona do euro e que pode ameaçar outros. A Grécia é apenas o primeiro elo da corrente. Um “teste” que põe a prova a solidariedade e a capacidade da resistência européia.
O ataque contra a Grécia começou com rumores. O mesmo que se vê agora na Espanha com um rebaixamento da qualificação na bolsa da dívida espanhola. O governo espanhol tem qualificado esses boatos de “ridículos”. Esperamos que tenha razão. Mas não há fumaça sem fogo. Os dirigentes dos países do sul da Europa devem levar a sério a situação e, sobretudo, exigir uma resposta coordenada. O que está em jogo é o futuro da moeda única e não sairemos da crise sem mudar a política do euro.
Não é necessário ser um prêmio Nobel da Economia para adivinhar desde que se instaurou a moeda única que os desequilíbrios estruturais da zona do euro (principalmente a desigualdade de desenvolvimento entre os diferentes países) não aguentariam o primeiro terremoto. Mas aqueles que afirmavam isso eram taxados de anti-europeus por parte dos “bem-pensantes” liberais e conservadores. Entretanto, a responsabilidade dos que construíram esta Europa ficou agora escancarada.
A Europa não soube reagir diante da crise mundial de 2008, tampouco defender-se dos ataques contra um dos seus membros e da razão dos mercados financeiros solicitando ajuda do FMI e impondo planos de uma dureza implacável aos países que estão na mira dos investidores-especuladores. Pior ainda: ao acolher a estratégia dos planos de austeridade, a Europa desembocará numa recessão generalizada, em uma crise social duradoura cujas consequências que ninguém pode prever. Por último, atuando desse modo, a União Européia tem estimulado os mercados financeiros para que ataquem outros países.
Tomemos o caso da Grécia. O pacote de 110 bilhões de euros não adiantará nada; é muito provável que este país não conseguirá passar dos 14% atual de déficit para 3% em 2014; o empréstimo se realiza sob condições excessivas (5%, viva a solidariedade européia!); por último, a aplicação das medidas exigidas romperá o crescimento grego nos próximos três anos. Mas não acaba aí. Depois que a Alemanha vacilou durante semanas para o resgate, muitos países europeus, como por exemplo, a Eslováquia, já declararam que não aportaram recursos que prometeram se não tiverem a certeza de que o governo grego agirá com dureza.
Na realidade, a Europa de Bruxelas e do Banco Central escolheu a saída da crise com a recessão, o desemprego, a deflação salarial e não com a recuperação, a colocação em marcha de uma estratégia keynesiana de criação massiva de empregos e de uma política européia solidária de crescimento compartilhado.
O que se quer perpetuar para satisfazer os especuladores é um pacto de estabilidade responsável do desempenho endêmico na Europa; é a falta de coordenação econômica entre os membros da zona euro, deixando as mãos livres ao Banco Central, é a ausência da política fiscal comum; é por último, o aumento das diferenças de desenvolvimento entre os países da zona do euro.
Acreditamos mesmo que os países que não conseguiram superar suas diferenças de convergência com os países mais ricos, apesar dos 25 anos de transferências de fundos de coesão e ajudas de todo tipo, poderão consegui-lo agora em tempos de vacas magras? E quanto tempo levará isto? O caso da Grécia é absolutamente exemplar, em função de que apesar do duro plano europeu, os mercados financeiros se negaram a confiar no governo grego. E a moeda única continua sendo atacada. Deveria a Grécia abandonar a zona euro? Estamos assistindo ao início de uma grande batalha que apenas começou.
Artigo publicado no IHU Online
1 Comments:
a Eslováquia, já declararam que não "aportaram" recursos que prometeram se não tiverem a certeza de que o governo grego agirá com dureza.
aportaram ou aportarão?
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