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13 agosto 2010

RODOVIA MANAUS-PORTO VELHO (BR319)

A rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319), que corta o coração da Amazônia, está prestes a ser revitalizada. Para que sua recuperação não seja um desastre ambiental, é necessário que esferas governamentais adotem medidas que a tornem, de fato, uma rodovia para todos

Rodovia para todos?

Renato Crouzeilles, Priscilla de Paula Andrade Cobra e Luis Renato Bernardo [*]
Ciência Hoje

[A chuva chega na rodovia Manaus-Porto Velho, a BR-319, que está prestes a ser revitalizada. A reativação pode ameaçar a natureza no trecho que corta, no coração da Amazônia (foto: BBC World Service – CC BY-NC 2.0).]

Com seus mitos e lendas, a floresta amazônica continua a ser um mistério para muitos. O maior bioma brasileiro concentra cerca de 50% da biodiversidade conhecida hoje no planeta, mas estima-se que as espécies já registradas na região representem apenas 30% do número real.

O desmatamento é uma das principais ameaças a essa riqueza. Embora a devastação da floresta venha diminuindo desde 2004, estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que entre aquele ano e 2009 a Amazônia perdeu 92,2 mil km2, área pouco menor que a do estado de Santa Catarina.

[Mapa BR-319: As obras são previstas para a parte central da BR-319 (linha tracejada), hoje praticamente intransitável (fotos cedidas pelos autores).]

Além da derrubada das árvores, são ameaças constantes à floresta amazônica a exploração ilegal de madeira, as queimadas, a caça e a construção de rodovias. Esses fatores podem ter efeitos bastante variáveis e influenciam na perda da diversidade de fauna e flora porque afetam as interações ecológicas, os regimes de água e podem levar a alterações climáticas, contribuindo para o aquecimento global.

A BR-319 tem extensão de 880 km – 98% no estado do Amazonas – e atravessa a área central da Amazônia. A rodovia acompanha o curso do rio Madeira e foi planejada como alternativa à rota fluvial entre Manaus e Porto Velho (pelo próprio rio Madeira e pelo rio Amazonas), já que o trajeto de barco pode durar até quatro dias.

A estrada foi aberta na floresta entre 1972 e 1973, na ditadura militar, e chegou a ser asfaltada, mas não recebeu manutenção nos últimos 20 anos. Hoje, são transitáveis normalmente apenas os trechos iniciais, de Manaus (AM) a Careiro-Castanho (AM) e de Humaitá (AM) a Porto Velho (RO), repavimentados em 2001.

Agora, a recuperação da parte central, entre os quilômetros 250 e 655, está em processo de licenciamento ambiental pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT).

[Sagui-de-bigode capturado na Amazônia: Na pesquisa sobre a fauna de mamíferos da parte central da estrada, biólogos encontraram armadilhas como esta: captura acidental de um sagui-de-bigode (‘Saguinus labiattus’) em gaiola destinada a pequenos mamíferos terrestres.]

Fácil acesso à floresta

A reativação da rodovia tem gerado discussões e desentendimentos entre diferentes setores da sociedade, principalmente entre os ministérios dos Transportes e do Meio Ambiente.
Reabertura ligaria o arco do desmatamento em Rondônia à Amazônia Central

Ambientalistas e conservacionistas são contra sua reabertura, que ligaria o arco do desmatamento em Rondônia à Amazônia Central, região onde a floresta ainda é bem preservada e a presença humana é pequena.

O Ministério do Meio Ambiente fez uma série de exigências para a concessão de licença para a obra, algumas não integralmente cumpridas.

Já o Ministério dos Transportes e a maioria dos moradores de Manaus querem a recuperação da rodovia, que reduziria o custo do escoamento da produção industrial da cidade para São Paulo e outros mercados do sul do país, além de facilitar os deslocamentos da população da área.

[Pele de onça caçada: Pele de uma onça-parda ('Puma concolor') morta com um tiro: caça ainda é comum na região.]

Os poucos moradores instalados ao longo da rodovia também têm esperança de que, com o asfalto, venha o progresso, mas receiam perder as terras que ocupam.

O acesso difícil prejudicou a realização de estudos científicos na região, até hoje praticamente desconhecida. Apesar das dificuldades, a pesquisa aqui relatada buscou reunir dados sobre a fauna de mamíferos em diferentes trechos da BR-319 onde estão sendo avaliados seus possíveis impactos ambientais.

Você leu apenas o início do artigo publicado na CH 272. Clique AQUI para baixar a versão integral.

[*] Renato Crouzeilles & Priscilla de Paula Andrade Cobra (Programa de Pós-graduação em Ecologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro); Luis Renato Bernardo (Programa de Pós-graduação em Zoologia – Museu Nacional).